Ler O Marido Malvado – Capítulo 43 Online

Os cavaleiros do Grão-Duque nutriam, há muito tempo, profundo desprezo pelo casal Elrod.

O Barão Elrod, notório por seu vício em álcool, jogos e devassidão, nunca foi um aliado. Sua esposa, a senhora Elrod, outrora babá de Cesare, compartilhava a mesma indiferença. Exibia um orgulho excessivo de sua antiga posição, uma atitude comum entre aqueles que, incapazes de encontrar realização própria, buscam valor apenas pela associação com os poderosos. Via as conquistas de Cesare como se fossem suas, uma ilusão que apenas alimentava ainda mais o desprezo dos cavaleiros.

A princípio, viam a senhora Elrod como mais uma aduladora ávida de prestígio. Porém, ao conhecer a pequena Eileen, filha dos Elrod, e criarem laços com a criança, começaram a dedicar maior atenção também à mãe.  

Esse interesse recém-despertado, no entanto, teve consequências desastrosas. Dominada por um ciúme sufocante, a senhora Elrod não suportava que o afeto de Cesare fosse direcionado à sua filha, e não a ela. Sua inveja cresceu, se transformando em ressentimento contra a própria inocente criança.

Cesare também não ignorou o comportamento cada vez mais instável de Lady Elrod. As discussões, antes esporádicas, entre o casal tornaram-se frequentes e violentas. Preocupado, Cesare passou a se questionar: Poderiam os Elrod oferecer um ambiente saudável para Eileen?

Para protegê-la da influência dos pais, Cesare e os cavaleiros estudaram várias alternativas. Cogitou-se até a adoção por outra família nobre. Mas separar Eileen à força causaria apenas sofrimento e traumas. 

Assim, Cesare optou pela solução mais pragmática: matricular Eileen em uma universidade distante. Desde pequena, ela demonstrava fascínio pela botânica e, apesar da pouca idade, já possuía conhecimento suficiente para ingressar no ensino superior. Cesare plantou discretamente a ideia em sua mente, esperando despertar seu interesse naturalmente.  

 Eileen ficou encantada com a possibilidade de estudar plantas e ervas medicinais, mas hesitou, intimidada pelos custos e por ser ainda tão novinha. Cesare, então, a encorajou a não desistir, mencionando bolsas de estudo e assegurando que seu conhecimento a tornava apta insuficiente para admissão tão antecipada. Suas palavras reacenderam sua confiança e determinação.

Eileen, confiando plenamente em Cesare, seguiu suas instruções com disciplina: preparou sua apresentação pessoal e um plano acadêmico. Pensava que Cesare lhe daria apenas uma carta de recomendação, o que ela não sabia era que, nos bastidores, ele havia feito uma doação generosa à universidade, garantindo-lhe a vaga e até criando uma bolsa em seu nome.

  Aceita na universidade, Eileen enfrentou dificuldades iniciais, mas rapidamente se destacou graças à inteligência e dedicação. Seu desempenho cresceu a níveis extraordinários, surpreendendo até a si mesma. Professores que, a princípio, a receberam com desconfiança por ser uma protegida do príncipe, logo se encantaram por sua perspicácia, disputando a oportunidade de orientá-la em seus laboratórios, especialmente os voltados à botânica e farmacologia.

Tudo apontava para um futuro brilhante se não fosse a tragédia familiar.

O barão Elrod, em sua irresponsabilidade, arruinou a família. A senhora Elrod, em meio ao desespero, escreveu a Eileen, implorando que voltasse. Dividida entre o dever e seus sonhos, Eileen abandonou os estudos e retornou, apenas para ser tragada pelo caos que a aguardava.  

No dia de seu retorno, os cavaleiros do Grão-Duque se reuniram em uma taverna, afogando a frustração na bebida. Reconheciam com pesar que o imenso potencial de Eileen havia sido esmagado. Ainda que desejassem ajudá-la financeiramente, suas ofertas foram rejeitadas, deixando Cesare e os cavaleiros impotentes diante da situação.

A verdade era clara: o casal Elrod arruinaram a vida de Eileen de forma irreversível. Quando a mãe faleceu, não houve luto nem júbilo, apenas o reconhecimento sombrio do sofrimento que havia semeando.  

— … Parece que houve também agressões físicas.

Confidenciou Diego a Senon, revelando detalhes inquietantes que ouvira de Eileen.  

 Ele sabia de suas inseguranças quanto à aparência, mas não imaginava o quanto se odiava. A revelação de que quase perdeu um olho pelas mãos da mãe fez Diego estremecer de horror. As atrocidades cometidas por aquela mulher eram tão repugnantes que lhe causavam náusea só de pensar.

— Nossa menina… que razão havia para odiá-la? Era ainda tão pequenina, só uma criança… — murmurou, rangendo os dentes de raiva.

Senon, embora contido, também ardia em indignação. Ambos compartilharam histórias sobre Lady Elrod com raiva contida.  

Quando o Grão-Duque retornou, encontrou-os fumando. Os dois o saudaram com respeito, apagando os seus. O Grão-Duque, no entanto, os autorizou a continuar e acendeu o seu próprio, aceitando o fósforo oferecido por Diego. Foi até à janela, fixando o olhar na laranjeira do pátio, e tragou lentamente, em silêncio. Cesare não tinha gosto pelo tabaco, fumar era, para ele, sinal de que algo o perturbava.

Entre os cavaleiros, havia murmúrios: Cesare parecia mais impulsivo, mas também mais contido. Suas atitudes em relação a Eileen eram incompreensíveis, enigmáticas. Ele já não a via como uma criança, mas como uma companheira de vida. No entanto, ao invés de protegê-la como antes, muitas vezes a expunha ao mundo e suas durezas.  

Exemplo disso foi o episódio recente com a filha do Duque de Farbellini. Cesare poderia ter evitado qualquer constrangimento, mas preferiu deixar que os fatos seguissem seu curso. Também não interveio diante dos rumores e calúnias na imprensa e conspirações contra ela, nem diante das armadilhas que buscavam manipular Eileen.

— Pode falar o que está pensando Senon — disse ele, recostado, soltando a fumaça devagar.

— Vossa Graça… não compreendo por que continua expondo a senhorita Eileen a tantas situações.

Quando Senon questionou sua abordagem, a resposta veio imediata, mas intrigante:

— Porque ela está evoluindo além do que eu previa.

Senon se confundiu ainda mais, sem saber como prosseguir.

— O sequestro jamais deveria ter acontecido. Diante das mudanças, precisamos ajustar nossas estratégias. Esse é o modo mais eficaz de identificar, com precisão, quem representa perigo para Eileen.

— Então é para protegê-la?

— Sim.

Senon, emocionado, insistiu:

— Acredito que Vossa Graça deseja a felicidade da senhorita Eileen. Mesmo que exija paciência, certamente há meios mais seguros e humano—

— Claro que há, — interrompeu Cesare, esmagando o charuto com firmeza. Seus olhos carmesins brilhavam intensamente. — Podemos acorrentá-la na mansão no ducado, proibindo-lhe qualquer contato com o mundo. Prefere isso? 

Senon se calou. A resposta de Cesare não parecia uma solução, e sim um aviso. Algo mais profundo se passava na mente do Grão-Duque, e nem seus cavaleiros mais leais conseguiam decifrá-lo.

Continua…

Tradução: Elisa Erzet