Ler O Marido Malvado – Capítulo 39 Online
A vida nos ensina que não podemos ter tudo. Cada conquista vem com um sacrifício.
Eileen, determinada a não se arrepender, fez sua escolha. Mesmo assim, uma pontada de perda persistiu pelo caminho não seguido.
Sentada à mesa familiar, diante dele, ela pegou um sanduíche. Com uma mordida generosa, devorou não apenas a comida, mas também os pensamentos vazios e sem sentido que ameaçavam dominá-la.
O sanduíche estava delicioso. Apesar de ter sido preparado com os mesmos ingredientes e da mesma forma de sempre, seu sabor parecia surpreendentemente mais rico do que quando o comia sozinha. Enquanto mastigava, Eileen refletia sobre essa diferença tão marcante no paladar.
A única coisa que havia mudado era a presença do homem à sua frente. Por um momento, perguntou a si mesma se o motivo foi Cesare ter cortado o pão com uma delicadeza até então desconhecida. Mas, lá no fundo, ela sabia, o verdadeiro ingrediente secreto era a presença encantadora dele.
Haveria alegria maior do que saborear uma refeição ao lado da sua pessoa favorita, no lugar mais aconchegante e íntimo do mundo?
— Está delicioso.
Eileen devorava o sanduíche, o apetite enfim despertado. No entanto, uma leve inquietação capturou sua atenção, e sua mão tocou instintivamente o rosto. Teria ficado alguma migalha?
Ela lançou um olhar para Cesare, que a fitava com intensidade, um leve sorriso brincando nos lábios.
Cesare riu baixinho, sem desviar o olhar caloroso do rosto dela.
— Não tem nada aí. De verdade.
— Então por que…?
— Faz tempo que quero olhar nos seus olhos. — Disse estreitando ligeiramente os seus. — Se eu soubesse, teria tirado antes.
Por um breve instante, Eileen franziu a testa, confusa. Óculos? Roupas? Só podia ser os óculos.
— Vossa Graça…— repetiu, num sussurro quase imperceptível. — Se você prefere assim… bem, talvez eu devesse considerar abandonar os óculos de vez. Quem sabe dessa forma eu não pareça tão… sombria.
Mesmo insegura com seus olhos desprotegidos, Eileen endireitou a postura. As palavras dele ecoaram em seu peito, trazendo um calor inesperado. Afinal, usar um vestido de noiva brilhante com cabelo despenteado e óculos seria ridículo.
‘E se o vestido for muito chamativo, vai desviar a atenção do meu rosto. Talvez eu deva pedir um véu discreto, para não atrair olhares para ele…’
Imaginando a reação das costureiras, Eileen lançou um olhar para o sanduíche intocado de Cesare.
Ao notar que Cesare sequer tocou, Eileen perguntou, envergonhada:
— Você não gostou do sanduíche? Achei que estava bom, mas…
Perguntou, com um leve toque de constrangimento. Ela o saboreava com tanta confiança, certa de que a simplicidade, a mera combinação dos ingredientes bastaria. No entanto, a hesitação de Cesare parecia sugerir o contrário. Talvez ela não fosse tão boa na cozinha quanto imaginava.
Ao verificar se havia molho escorrendo, Eileen sujou os dedos. Praguejou em silêncio sua falta de jeito, quando percebeu Cesare fazer um gesto em sua direção. Sem saber o que ele queria, ofereceu-lhe o sanduíche, mas ele não o pegou. Em vez disso, indicou a mão dela, coberta de molho, fazendo com que Eileen a estendesse, hesitante.
A mesa não era larga, então Cesare alcançou seu pulso com facilidade. Eileen esperava que ele a limpasse, mas o que aconteceu a seguir foi além de qualquer expectativa.
Um gritinho de espanto escapou de seus lábios.
Ele lambeu seus dedos.
Eileen estremeceu quando a língua do homem deslizou pelo molho, passando pelas unhas pintadas de rosa antes de soltá-la. O molho se foi, mas marcas de dentes restaram. Eileen olhou para elas, atônita, e depois para Cesare, que, como se nada tivesse acontecido, começou enfim a comer o seu sanduíche.
— Também achei delicioso. Você fez um bom trabalho. — comentou com naturalidade.
Ao ouvir o elogio, o rosto de Eileen corou instantaneamente. Mexeu nos dedos mordidos e voltou a comer com cuidado. Mas agora, o sabor não era mais o mesmo. Mastigava mecanicamente, evitando olhar para os próprios dedos.
Toda vez que Cesare agia assim, uma onda de sensações desconhecidas a invadia. Seu coração acelerava, um frio na barriga, um calor no peito. Era excitante e perturbador.
A sensação persistia, um calor sob a pele. Quando ele lambeu seus dedos, tudo se intensificou, tirando-lhe o fôlego.
‘O que eu faço…’
Eileen fechou os olhos com força. O calor em seu corpo dificultava qualquer outro pensamento. Seu sanduíche ficou esquecido no prato. Ao olhar para Cesare, viu que ele já terminara o dele e a observava com intensidade.
Desviou o olhar rapidamente. Sentia como se ele pudesse ler todos os pensamentos indecentes que rondavam sua mente.
— Eileen.
— S-Sim?!
Perdida nos pensamentos, Eileen se sobressaltou. Sua voz, aguda, quebrou o silêncio da casa de tijolos.
— No que está pensando?
O silêncio se instalou. Quando ela não respondeu, ele perguntou novamente, como se questionasse o sabor de um lanche:
— Pensamentos safados?
Eileen congelou. Sabia que deveria negar, mas já era tarde demais.
‘O que eu faço? O que eu faço?’
Acabou abaixando a cabeça, envergonhada.
Lágrimas ameaçavam brotar dos seus olhos. Aquela era ela? Nem conseguia cortar o próprio cabelo ou fazer um sanduíche decente, e agora tinha “pensamentos impuros”.
Cesare cobriu os lábios com a mão abafando um sorriso. Seus olhos, cintilavam de divertimento. Sem entender o motivo do riso, Eileen olhou tristemente para o sanduíche pela metade. Sentia falta da franja e dos óculos para se esconder.
— O seu quarto ainda é o mesmo?
Ela levantou a cabeça lentamente e olhou para ele. O homem sorria de um jeito que dava margem a interpretações.
— Mostra para mim, Eileen.
— …
Era inútil. Tudo estava completamente arruinado. Qualquer coisa que o homem dissesse agora a levava a pensamentos safados.
Envergonhada, Eileen se levantou de súbito, agarrando o prato vazio como se fosse uma tábua de salvação. Fugir para a cozinha era tudo em que conseguia pensar. Mas Cesare estava um passo atrás.
— O segundo andar não tem nada de especial… mas se quiser tanto ver, vamos subir.
Ela tentou argumentar. Mal conseguiu virar em direção à escada, mas antes que pudesse dar um passo foi levantada do chão. Cesare a carregou nos braços.
— Ah! Vossa Graça!
— Lá vem você de novo.
— Ah, desculpe… Cesare, por favor, me coloca no chão.
— Seus pés são pequenos, é perigoso.
Apesar dos protestos, ele a carregou escada acima, alegando que seus “pés delicados” justificavam. A desculpa era frágil, mas ele não cedeu. Em pouco tempo, Eileen estava no segundo andar, ainda em seus braços.
O andar superior abrigava apenas o quarto de Eileen, um depósito e um pequeno escritório. Mesmo assim, Cesare observava o espaço com interesse. Ao chegar à porta do quarto, ele suspirou suavemente.
— … Ah!
O homem respirou profundamente, o ar impregnado do cheiro aconchegante do quarto de Eileen. Seus olhos percorreram a cama, a mesinha perto da janela, o sofá gasto, o guarda-roupa e, por fim, a porta do banheiro. Só então voltou a olhar para ela, ainda aninhada em seus braços.
Eileen, muito ciente da proximidade, se remexeu desconfortável. Seus olhares se cruzaram, e um tremor melancólico pareceu brilhar nas profundezas vermelhas dos olhos do homem.
— Tudo aqui… é você. — ele sussurrou, quase inaudível.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet
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Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️