Ler O Marido Malvado – Capítulo 38 Online
De alguma forma, a voz parecia zangada.
Poderia ser que, pela primeira vez em sua vida, Cesare estivesse bravo com Eileen?
Sentindo-se completamente intimidada, Eileen respondeu em voz baixa:
— Não…
Ela encolheu o corpo ligeiramente, mordendo o lábio em apreensão. Então, Cesare estendeu a mão e, com ternura, enxugou os olhos de Eileen.
— É por causa da Baronesa Elrod?
Eileen nem confirmou, ou negou suas palavras.
Na verdade, ela sabia, sua mãe a amava, mas dedicava um afeto ainda maior ao Príncipe. A distância entre o amor que sua mãe lhe dava e o que direcionava ao Príncipe só aumentava com o tempo.
À medida que essa distância crescia, sua mãe se tornava cada vez mais fria. Eileen tinha consciência da sua condição anormal e se esforçava continuamente para superar.
Mas, quando já não conseguia mais se conter, ela simplesmente perdia o controle. A primeira vez que a mulher explodiu foi quando Eileen tinha doze anos.
Aconteceu poucos dias após ela ter sido sequestrada, e posteriormente resgatada, graças a Cesare. Sua mãe a repreendeu sem piedade, provavelmente influenciada por boatos ou histórias que ouviu.
“Foi sua culpa, tudo por sua causa!!!”
Aquela foi também a primeira vez que ela gritou para que Eileen não a olhasse com aqueles olhos repulsivos. Quando a raiva passou, Eileen chorou com a mãe, abraçando-a com força, mesmo com suas perninhas inchadas e sangrando.
A partir daquele dia, a mulher não conseguia mais conter seus acessos de fúria. Chegou a tentar perfurar os olhos de Eileen com uma tesoura e descontava nela a raiva acumulada pelo marido.
Mas nem sempre foi assim. Também havia momentos de carinho e de alegria.
Memórias das duas cozinhando juntas, lavando a louça lado a lado e trocando risadas. Lembranças de pulseiras feitas com flores que Eileen havia colhido. Da mãe acariciando seus cabelos suavemente até ela adormecer…
Mesmo que fosse apenas um pouco de amor, aquelas memórias persistiam.
Que fossem apenas sobras do afeto que ela dedicava ao Príncipe, se pudesse receber um pouco desse carinho, Eileen suportaria tudo.
Enquanto mordia o lábio, perdida nas lembranças, Cesare franziu a testa. Ele pressionou seus lábios com os dedos, depois os afastou e falou:
— A opinião da sua mãe não é tudo no mundo.
— Mas… mesmo assim, minha mãe não diria essas coisas sem motivo…
— Então, minhas palavras não importam?
— Ah, não, Vossa Graça… quero dizer… Cesare, você também…
Quanto mais falava, mais sentia que estava cavando a própria cova. Eileen disse a coisa mais segura que conseguiu pensar:
— Me desculpe.
Não sabia exatamente o porquê, mas pediu desculpas mesmo assim. No entanto, Cesare não era um oponente fácil de se lidar.
— Por quê?
Diante da pergunta curta, Eileen caiu novamente em reflexão. E encontrou outra resposta segura:
— Acho que você ficou bravo… por minha causa.
— Por sua causa? — A resposta incrédula de Cesare indicava que ele jamais havia considerado tal pensamento.
Ele soltou uma risada seca e beliscou a bochecha de Eileen. Sentindo-se culpada, ela não protestou e deixou que ele a beliscasse docemente.
Felizmente, ele soltou sua bochecha logo em seguida. Enquanto Eileen esfregava levemente a bochecha dolorida, ele murmurou suavemente
— Infelizmente não posso ressuscitar os mortos.
— O quê?
Sem entender bem, Eileen perguntou, mas Cesare apenas desviou o assunto e a ajudou a se levantar.
— Está na hora de ir para casa.
Já era hora de voltar. O tempo havia passado rápido demais. Mesmo sabendo que precisava partir para não incomodar Cesare, ela hesitava em ir. Queria ficar mais um pouco com ele.
Percebendo sua hesitação, Cesare lhe ofereceu outra opção:
— Ou você pode simplesmente ficar e dormir aqui hoje de novo.
— E-Eu vou para casa! Você deve estar ocupado…
A resposta, que antes parecia difícil de dizer, saiu repentinamente. Cesare a conduziu com naturalidade até a porta da frente. A princípio, ela achou que ele apenas a acompanharia, mas não foi isso que aconteceu.
Ele abriu a porta do carro que aguardava, colocou Eileen dentro e então assumiu o banco do motorista.
— Você vem comigo?
Ao ver os olhos de Eileen arregalados de surpresa, Cesare estreitou os seus levemente e respondeu:
— Você pretende ir sozinha, então?
Ele ligou o carro e completou:
— Já que sou seu marido, nada mais justo do que eu te levar, vamos juntos.
Já fazia muito tempo desde que ele visitou aquela casa de tijolos.
Eileen secretamente esperava que Cesare mencionasse alguma mudança sutil na casa, como o crescimento da laranjeira, por exemplo.
Mas os olhos de Cesare estavam indiferentes. Ele parecia tratar o lugar excessivamente familiar como se já o tivesse visitado inúmeras vezes antes. Ele parou brevemente em frente à laranjeira, mas foi tudo.
— Obrigada por me trazer.
Enquanto Eileen o agradecia à porta, Cesare a olhou de cima com os braços cruzados. Foi então que reparou na diferença de altura entre eles.
— Só um agradecimento?
— Bem… então…
— Acho que mereço, no mínimo, um jantar em troca.
(Elisa: Ou te jantar em troca )
— Ah…
Ele se encostou no batente da porta, inclinando-se em sua direção. Sua mão grande se aproximou e tocou levemente sua franja curta. Eileen piscou, surpresa.
— Eu te ajudei com o cabelo, lembra?
Ela achava que não precisava dizer nada, mas ao que tudo indicava, ele havia guardado mentalmente aquele jantar pendente. Sentindo-se um pouco em dívida, Eileen resolveu convidá-lo.
— Hum… quer entrar, então? Eu não preparei nada, pode ser um pouco simples…
Enquanto falava, abriu a porta. Cesare entrou sem recusar. Eileen o observava com olhos estranhamente atentos.
A casa de tijolos tinha uma atmosfera aconchegante e pitoresca. A presença de Cesare parecia estranha ali.
Ainda assim, como se fosse o dono do lugar, ele olhou ao redor com naturalidade. Seu olhar repousou por um instante no quarto do pai dela.
Rapidamente, Eileen foi até lá, bateu na porta e girou a maçaneta. A porta se abriu com facilidade, revelando o quarto vazio.
— O barão continua vagando por aí, não é?
— Sim. Mas parece que não vai mais até a Rua Fiore.
— Provavelmente não consegue.
O sorriso de canto e o comentário de Cesare eram certeiros. Ele passou pela sala de jantar e olhou casualmente a cozinha.
— Se quiser que o barão fique em casa, é só dizer. Eu dou um jeito.
— Ah, não! Está tudo bem.
Eileen o seguiu até a cozinha. Enquanto ela mexia na despensa, Cesare a observava em silêncio.
Por sorte, achou que conseguiria preparar sanduíches simples. Bastava montar os ingredientes, mesmo que não ficassem saborosos, talvez passassem despercebidos.
Claro, comparado ao que gostaria de oferecer a ele, era bem pouco…
‘Será que devo sair correndo e comprar algo?’
Com uma baguete nas mãos, Eileen lançou um olhar furtivo para Cesare. Ele levantou uma sobrancelha e perguntou casualmente:
— Vai fazer sanduíches?
— … Como você sabe?
Assustada, quase deixou o pão cair. Cesare pegou a baguete de sua mão e a colocou sobre a tábua de corte.
— Está escrito no seu rosto… que é sanduíche.
— Não sou boa na cozinha. Com os ingredientes que tenho, só tenho confiança para fazer sanduíches — admitiu.
Instintivamente, tentou ajustar os óculos, mas acabou tocando a testa. Ainda era cedo para se adaptar a uma vida sem óculos e franja.
— E se você tivesse os ingredientes certos, teria confiança?
— Não. — respondeu com sinceridade, temendo que ele a desafiasse. Só depois percebeu que era uma piada, quando ele sorriu.
‘Mas é difícil perceber quando ele está brincando…’
Ela sempre teve dificuldade em distinguir seriedade e brincadeira. Pensando que deveria continuar vivendo com sinceridade, arregaçou as mangas até os cotovelos e começou a lavar as mãos. Cesare também tirou as luvas de couro, e fez o mesmo. Então, colocou a baguete na tábua e pegou a faca grande de pão com destreza.
— Pode me passar isso?
— A faca?
Com um sorriso discreto, ele cortou a baguete ao meio com precisão. Mesmo com tudo na cozinha sendo pequeno e baixo para ele, manuseava a faca com elegância.
Eileen arregalou os olhos diante do corte perfeito, como se tivesse sido feito com régua.
‘Seria ótimo se Vossa Graça pudesse me ajudar a dividir os materiais de pesquisa em pequenas porções.’
Ela sentiu um desejo primitivo por seu talento, mas Cesare era excepcional demais para manusear uma faca no laboratório.
Decepcionada por perder a chance de uma grande ajuda em pesquisa bem diante dela, Eileen engoliu o desapontamento e empilhou cuidadosamente os ingredientes na baguete cortada para montar o sanduíche
Salame, capocollo, azeitonas pretas, alface, cebola roxa, tomate, diversos tipos de queijo… e a outra metade do pão por cima. Era mais uma montagem do que um prato.
Enquanto Cesare cortava o sanduíche comprido em pedaços menores, Eileen se deu conta, de repente:
‘Esse era o casamento que eu queria.’
Momentos simples e tranquilos, compartilhando a vida cotidiana. Mas ao decidir tornar-se Grã-Duquesa, esse sonho jamais poderia se realizar.
Continua…
Tradução Elisa Erzet
Ler O Marido Malvado Yaoi Mangá Online
Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️