Ler O Marido Malvado – Capítulo 64 Online
O motivo era que Cesare estava desperdiçando um tempo precioso com uma mera criança.
É claro que a menina era inegavelmente fofa. A mistura única de verde e dourado em seus olhos tinha algo de místico, e sua vozinha tagarela soava tão doce quanto o canto de um rouxinol.
Mas, ainda assim, era apenas uma criança. Por mais encantadora que fosse, era difícil compreender por que Cesare lhe dedicava tanta atenção, especialmente considerando que ela era filha de uma simples babá, de uma família sem qualquer prestígio.
Cesare nascera destinado a trilhar um caminho glorioso. A mera ideia de que aquela menina pudesse ser um empecilho despertava em alguns o impulso de arrancá-la de sua vida como uma erva daninha.
Até mesmo Lotan e Diego, que geralmente gostavam de crianças, partilhavam de sentimentos semelhantes. Eles achavam Eileen fofa, mas concordavam com a visão de Senon de que Cesare estava desnecessariamente preocupado e ocupado com ela.
Durante dias, Senon e os outros refletiram sobre como afastar aquela criança incômoda da vida do príncipe.
“Quantas vezes eu já disse que o Quinto Príncipe é uma causa perdida!”
Seu pai arremessou os documentos que segurava contra Senon. As folhas voaram e se espalharam, enquanto ele, com expressão frustrada, batia no próprio peito e dizia:
“O trono será reivindicado por outro príncipe. Pensar que você realmente se tornou o cavaleiro daquele tolo. Que idiota.”
Como segundo filho, Senon jamais herdaria um título. A solução que encontrou para assegurar seu futuro foi Cesare. Após jurar lealdade e se tornar um cavaleiro, Senon nunca se arrependeu da sua escolha, pelo contrário, quanto mais confiava e o seguia, mais forte se tornava sua convicção.
No entanto, seus pais criticavam veementemente Senon. Eles ficavam repetidamente furiosos por ele não ter feito uma escolha que beneficiasse a família, mas sim ter agido de forma insensata.
Senon esperava que ao apresentar um relatório bem organizado sobre a recente e monumental vitória de Cesare pudesse amolecer seus corações, mas o efeito foi o oposto.
Abatido, Senon entrou no Palácio Imperial. No momento em que pisou na residência do Príncipe, lágrimas repentinamente lhe brotaram nos olhos. Levantou a cabeça tentando contê-las, correu para o jardim querendo evitar ser visto. Em um canto isolado, longe de olhares curiosos, desabou no chão, e as lágrimas contidas irromperam incontrolavelmente.
Ugh, soluços… sniff…
Havia se convencido que não precisava da compreensão dos pais, bastava acreditar nas próprias escolhas e seguir em frente. No entanto, uma parte infantil ainda ansiava por reconhecimento e elogios. Até uma pequena repreensão podia fazê-lo chorar. Enojado com sua própria fraqueza, Senon não sabia como conter as lágrimas. Escondido num canto do jardim, chorou em silêncio, sentindo-se profundamente miserável.
Foi nesse momento, que ouviu um farfalhar entre as folhas. Enxugou apressadamente as lágrimas com as costas da mão e se virou bruscamente, viu uma garotinha de pé, de olhos arregalados. Seus cabelos e roupas estavam cobertos de folhas, como se tivesse acabado de brincar por ali.
De todas as pessoas possíveis, tinha de ser justamente a menina irritante que o flagrara chorando.
Ao ver o brilho dourado-esverdeado de seus olhos sob a luz do sol, Senon desviou o olhar, constrangido. Estava aliviado por não ser Cesare ou um de seus companheiros cavaleiros, mas não pôde evitar o desconforto.
Ele esperou silenciosamente que ela não dissesse nada e fosse embora rapidamente, e continuou a encarar a grama.
Mas, em vez disso, uma mãozinha estendeu um lenço branco que pousou suavemente em seu colo, como uma borboleta.
Foi só isso. Eileen não disse uma palavra, simplesmente colocou o lenço e depois desapareceu silenciosamente entre os arbustos.
Senon olhou para o tecido simples em seu colo. Era um lenço barato, mal costurado, com as bordas desfiadas e sem nenhum bordado, mais parecido com um retalho do que com um lenço de verdade. Ainda assim, estava limpo. Num gesto de teimosia infantil, Senon assoou o nariz e limpou suas lágrimas com ele.
Naquele mesmo dia, Senon lavou o lenço da criança e comprou um novo. E também uma caixa de biscoitos, embrulhou com cuidado, juntamente com o lenço.
Alguns dias depois, quando Eileen visitou a residência do Príncipe, ele lhe entregou o lenço e os biscoitos. Com um tom deliberadamente frio, perguntou:
— Por que você me deu o lenço?
Eileen olhou para Senon com os lábios levemente entreabertos. Confusa, murmurou:
— O-O s-senhor sempre foi tão gentil comigo…
‘Gentil com você?’ Senon, que só se lembrava de zombar da menina, ficou surpreso. Apesar de seu comportamento sarcástico e debochado, Eileen havia sido alheia a tudo isso.
Eileen sorriu radiante enquanto abraçava os presentes que Senon lhe dera.
— Então agora o senhor gosta de mim, não é? Me deu tantos presentes.
Seu sorriso inocente irradiava uma ternura sincera por Senon, essa garotinha não tinha apenas essa rara cor de seus olhos, mas uma bondade genuína, algo difícil de encontrar no palácio, na alta sociedade e até mesmo nos campos de batalha.
Aos poucos, Senon começou a entender por que Cesare valorizava tanto aquela criança.
Quando Eileen foi convidada novamente à residência do Príncipe, ela procurou por Senon antes mesmo de encontrar Cesare.
Assim que o avistou no corredor, sorriu e correu até ele com seus passinhos apressados. Trazia algo nas mãos e gritou de longe:
— Senhor Senon! São flores secas que fiz… oh!
Mas antes que Eileen pudesse alcançar, tropeçou e caiu.
Senon correu para ajudá-la, mas ela já estava à beira das lágrimas. As flores secas espalharam-se pelo chão, restando apenas um caule quebrado em sua mãozinha.
Os olhos grandes de Eileen se moveram entre o caule e os fragmentos de flor destruídos, e logo ela começou a chorar incontrolavelmente de frustração.
— E-Eu só queria retribuir o presente que o senhor me deu… mas…
Segurando apenas o caule, Eileen deu um tapinha na própria bochecha, irritada, e se agarrou a Senon. Enquanto segurava a pequena figura soluçante em seus braços, ele não pôde evitar cair na risada. Apesar de estar lá para consolá-la, ele se viu rindo incontrolavelmente.
Riu tanto, por tanto tempo, que lágrimas voltaram a brotar de seus olhos. Foi então que percebeu: a muralha emocional que construiu para manter distância daquela criança desabou por completo.
Daquele momento em diante, ele tratou Eileen com o máximo respeito, usando linguagem formal para uma nobre dama. Ansiava pelos dias em que ela visitava o palácio, sempre lhe dava pequenos presentes, disfarçando o entusiasmo com uma indiferença forçada.
Cada vez que via o rosto sorridente da menina, sentia como se tivesse o mundo inteiro. Quando percebeu que seu coração acelerava ao vê-la, ele já estava profundamente apaixonado por ela. Senon tornou-se um cavaleiro que prezava e estimava Eileen mais do que qualquer outro.
— Parece que foi ontem que ela chorava com apenas um caule de flor na mão.
Senon, perdido em suas memórias, olhou para Lotan.
Lotan, apagou o cigarro, sorriu levemente.
— Agora ela é uma Arquiduquesa.
Senon, também com o cigarro pela metade, limpou a cinza de suas roupas e perguntou:
— E então, descobriu alguma coisa?
— Nenhuma pista — respondeu Lotan.
Trocaram sorrisos amargos. Observações recentes do comportamento estranho de Cesare os fizeram perceber agudamente a gravidade da situação. Apesar de tentarem compreender o que estava acontecendo, se sentiam como se estivessem se debatendo em meras ilusões.
No entanto, chegaram a uma conclusão perturbadora sobre a situação atual: parecia que Cesare estava operando com um conjunto diferente de memórias.
Se qualquer outra pessoa tivesse agido como Cesare, eles poderiam suspeitar de doença mental. Mas conhecendo tão bem o seu senhor, os cavaleiros estavam convencidos de que seu julgamento era mais do que mera ilusão.
— Isso definitivamente está relacionado à Senhorita Eileen.
Senon fez uma pausa, estremecendo brevemente. A memória vívida das íris vermelhas de Cesare quando ele falou sobre a execução e aquela trágica noite na taverna ainda o assombrava, enviando calafrios pela sua espinha sempre que a recordava.
Enquanto especulavam sobre as razões por trás da mudança de Cesare, eles não podiam ignorar a possibilidade de influências sobrenaturais, como magia negra.
No entanto, isso parecia muito distante do homem que ele era.
Dado que Cesare desprezava qualquer coisa não científica devido à obsessão de sua mãe com práticas ocultistas, era difícil acreditar que ele se envolveria com superstições tão triviais.
A menos que algo verdadeiramente trágico tivesse acontecido… algo capaz de alterar dramaticamente toda a sua vida.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet
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Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️