Ler O Marido Malvado – Capítulo 58 Online
O comentário de Cesare fez a expressão do Conde Domenico se contorcer em descrença. Era o mesmo olhar de surpresa estupefata que Eileen exibiu antes, quando ele mencionou o “cão”.
O Conde permaneceu imóvel, sem palavras. Já Eileen corou, lançando um olhar a Cesare. Não esperava revê-lo naquele dia, embora soubesse que ele havia ido ao palácio.
Vê-lo ontem e hoje parecia um sonho. Mais ainda, o homem veio especificamente para encontrá-la.
‘Estou tão feliz por ter me tornado a Arquiduquesa,’ —pensou.
Era surreal estar numa relação daquelas com ele. Suprimindo a vontade de se beliscar, Eileen finalmente falou.
— Me disseram que você está ocupado.
— Estou, — respondeu ele descontraidamente, alisando o cabelo de Eileen, despenteado pelo vento, com sua mão enluvada. O contato do couro frio contra a pele fez ela prender a respiração por um instante. Cesare riu docemente, de maneira brincalhona tocou o nariz de Eileen com a ponta do dedo.
— Ainda tenho tempo para visitar minha esposa. Você não gosta?
Eileen não conseguiu conter o sorriso. O rubor em suas bochechas intensificou com a sensação leve e divertida. Ela respondeu com sua voz suave:
— Estou feliz que você veio.
Satisfeito com a resposta, Cesare beijou a face corada de Eileen. O toque dos lábios, ao mesmo tempo, carinhoso e embaraçoso, a fez encolher os ombros.
— Por que está aqui fora se não se sente bem?
— Ah, sim…
A pergunta de Cesare a fez despertar de seu devaneio. Olhando para o Conde Domenico, notou que Michelle já o havia conduzido a certa distância. Estavam longe o suficiente para não ouvirem a conversa. Então, Eileen ficou na ponta dos pés e sussurrou no ouvido do marido:
— Ele disse querer ser meu cachorro…!
Cesare não conteve a gargalhada com essa revelação. O riso profundamente intenso a surpreendeu, até que ela percebeu o seu erro. Estava tão ansiosa para finalmente ter alguém a quem perguntar aquilo, que deixou escapar a parte mais peculiar de tudo. Rapidamente, completou em sussurros:
— Pois é… No começo não percebi, mas o Conde era o cliente que costumava comprar os remédios que faço. Quando cheguei à estalagem, ele estava a minha procura, e preocupada que algo grave tivesse acontecido, acabei revelando que era a farmacêutica.
Nesse momento, fez uma pausa para se desculpar por revelar sua identidade sem permissão. Felizmente, Cesare gentilmente a tranquilizou, afirmando que era perfeitamente aceitável agir conforme ela julgasse adequado.
Mais aliviada, Eileen continuou sua explicação.
— Obrigada, Vossa Graça. Então, depois disso, o Conde subitamente declarou que precisava se tornar o cão da Arquiduquesa. É claro que nunca pedi algo assim! Será algum tipo de código social que desconheço? Sabe o que significa?
— Já somos casados, e ainda me chama de “Vossa Graça”.
Eileen lançou um rápido olhar ao Conde antes de responder:
— Pensei que não seria apropriado chamá-lo pelo nome na frente dos outros. De agora em diante, só o chamarei de Cesare. Enfim, se sabe o significado, por favor, me fala. Michelle também parece não saber…
Contudo, ao contrário da seriedade de Eileen, Cesare não parava de rir. Após um momento, ainda sorridente, respondeu.
— Parece que o Conde quer apenas demonstrar sua gratidão.
Embora a curiosidade de Eileen permanecesse não totalmente satisfeita, as palavras de Cesare foram suficientemente claras, ela assentiu em compreensão.
— Se for isso, então fico aliviada.
— Se você não quiser um cachorro velho, devo arranjar um filhote?
— O quê? Ah, eu gosto de todos os cães. Mas, se está perguntando se desgosto do Conde Domenico, não é o caso…
Enquanto Eileen e Cesare continuavam a sua conversa, o conde, que os observava em silêncio, piscou pensativamente. Lançou um olhar ao casal, depois a Michelle, questionando silenciosamente a situação com uma sobrancelha arqueada.
Michelle, absorta em vasculhar o saco de papel, encontrou o olhar do conde com uma expressão que parecia dizer: ‘O que está acontecendo?’ Não havia qualquer indício de surpresa em seus olhos, como se estivesse acostumada àquela a proximidade.
— Hã…
O conde soltou uma risada seca. Sempre acreditara que Cesare nutria profunda afeição pela esposa. O beijo na cerimônia de casamento demonstrava total devoção, assim como sua capacidade de compelir o Presidente do Senado a se tornar o “cão” da Arquiduquesa. O Conde supunha que se tratava apenas do valor que Cesare atribuía à sua bela esposa.
No entanto, testemunhar um homem que parecia tão cruel quanto ferro e pólvora olhar para alguém com tamanha ternura era inesperado. Qualquer nobre que presenciasse a cena ficaria profundamente surpreso.
O riso de Cesare, tão espontâneo e genuíno, era algo que se poderia acreditar existir apenas em sonhos.
A imagem pública do Arquiduque Erzet era marcada por contrastes, muitos o viam como o próprio deus da guerra, não apenas por sua aparência extraordinária, mas também por sua força incomparável.
Cesare era universalmente admirado. Mesmo quando seu olhar se tornava feroz, isso era interpretado como a intensidade rude de um soldado, uma qualidade apreciada por muitos.
Porém, aqueles que haviam vislumbrado mesmo uma fração da verdadeira natureza do homem sabiam que não deviam se enganar por sua bela aparência. Ele era desprovido de emoções humanas, incapaz de sentir piedade, amor, tristeza ou arrependimento.
A nobreza geralmente acreditava que, embora a crueldade de Cesare tivesse origem em sua essência, era em grande parte moldada por suas circunstâncias.
A mãe biológica dos príncipes gêmeos nutria ódio profundo por Cesare. Ela o culpava por perder o favor do Imperador e, se tornou obcecada por superstições, acreditava que amaldiçoar a criança, conseguiria recuperar sua posição.
Ela submeteu o pequeno Cesare a todo tipo de feitiçarias terríveis. O bebê ficava coberto com sangue fresco de animais enquanto permanecia deitado em círculos mágicos. Certa vez foi obrigado a dormir dentro da barriga de um bode preto, vivo recém-aberto. Também forçado a ingerir ervas alucinógenas, inclusive afrodisíacos. O pequeno Cesare ficava trancado por dias em um quarto escuro, sem comida e água. Apesar dessas torturas, ele sobreviveu milagrosamente. Quando toda essa crueldade parecia falhar, sua mãe enviou o jovem príncipe ao campo de batalha.
Geralmente, os filhos de nobres de alto escalão eram mantidos em segurança na retaguarda para ganhar experiência. No entanto, devido à influência da mãe, o pequeno Cesare foi jogado na linha de frente, onde vivenciou os horrores da guerra em primeira mão.
Sobreviveu a inúmeras campanhas e acumulou feitos e honra. E assim, Cesare chamou finalmente a atenção do Imperador.
Contudo, isso marcou apenas o início de novos infortúnios para a pobre criança. Orgulhoso do príncipe capaz, o imperador passou a enviá-lo às missões mais perigosas. O garoto para sobreviver no campo de batalha, matou muitos soldados, assim a vida do homem foi sustentada pelo sangue alheio, era natural que Cesare crescesse com disposição cruel.
Quando os príncipes gêmeos venceram a guerra civil e tomaram o trono, o Conde Domenico ficou enormemente aliviado por ser Leone, e não Cesare, coroado Imperador.
Não importa quão habilidoso seja como comandante, um homem desprovido de emoções humanas não pode ser um governante que verdadeiramente cuida do povo do Império. Felizmente, Cesare até então demonstrava pouco interesse em política.
Mas isso mudou. Após causar alvoroço no Senado com a exigência da construção do Arco do Triunfo, Cesare expandiu rapidamente sua influência, sustentado pela lealdade inabalável do exército imperial. A nobreza se tornou, cada vez mais, cautelosa com ele…
Observando Cesare rindo alegremente com sua esposa, o Conde Domenico sentiu que talvez compreendesse a razão dessa transformação.
Era um reflexo dele próprio. Ele também se tornou espião de Kalpen por amor à esposa. A diferença era que se tratava de Cesare, tornando tudo absurdamente inacreditável.
Após observar o casal por algum tempo, o Conde Domenico soltou um leve suspiro. Estava grato pela chance de retribuir sua benfeitora. A lembrança de quase tê-la prejudicado ainda fazia um calafrio percorrer sua espinha.
Se tivesse seguido as ordens do rei Kalpen, sua esposa enferma já estaria morta.
Mas o destino lhe concedeu uma oportunidade de redenção. E ele jurou que pagaria sua dívida com toda a força que lhe restava.
Por Eileen, a Arquiduquesa Erzet.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet
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Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️