Ler O Marido Malvado – Capítulo 56 Online

Modo Claro

O Conde Domenico prendeu a respiração. Incerto sobre qual expressão seu rosto revelava, Cesare acrescentou com um sorrisinho:

— É brincadeira, Conde.

Mas, apesar da tentativa de Cesare soar descontraído, um lampejo inconfundível brilhou nas íris vermelhas que pareciam sangrar. É claro… aquilo foi intencional.

A mente do Conde Domenico retrocedeu aos eventos da noite anterior.

Ele havia comparecido ao casamento do Arquiduque e desfrutou o banquete até altas horas. Embriagado por uma agradável sensação provocada pelo vinho, já se preparava para voltar para casa quando um problema inesperado surgiu: a carruagem, que deveria aguardá-lo, havia simplesmente desaparecido.

Ao vasculhar os arredores com ansiedade, o Conde Domenico avistou uma carruagem negra que se aproximava. Ela parou diante dele, e um cavaleiro desceu, adornado no peito com o brasão do Arquiduque.

Metade do rosto daquele homem era marcada por profundas cicatrizes de queimadura. Sem expressão, ele encarou o conde e disse com voz grave e autoritária:

— Eu o levarei de volta, senhor.

O conde engoliu em seco. O homem era fisicamente imponente, sua voz grave, bastava para intimidar.

— Posso ir sozinho — tentou responder, numa vã demonstração de firmeza.

— Por favor, entre — disse o cavaleiro, sem espaço para objeção.

Apesar de sua fraca resistência, o cavaleiro a ignorou e abriu prontamente a porta da carruagem. Diante de um olhar que parecia pronto para forçá-lo caso não obedecesse, o Conde Domenico entrou obedientemente no veículo militar.

O trajeto seguiu em silêncio absoluto. A embriaguez se dissipou num instante, o conde passou a observar, com cautela, o homem sentado ao seu lado. O cavaleiro do Arquiduque permaneceu em silêncio, olhando fixamente para a frente, enquanto a tensão crescia como espinhos na pele de Domenico, que só pensava em chegar logo à residência.

Quando a carruagem finalmente parou, o Conde Domenico fez uma pausa, pronto para se despedir.

— Obrigado. Então, eu já vou…

— Conde.

Mãos grandes, como pratos, surgiram diante dele, segurando um envelope lacrado.

— O Arquiduque pediu que isto fosse entregue a Vossa Senhoria.

Domenico desceu da carruagem, acompanhando com os olhos o veículo que se afastava. Com as mãos trêmulas, abriu o envelope. Papéis grossos deslizaram por seus dedos. Ele folheou cada página, e seus olhos se arregalaram conforme lia o conteúdo.

Os detalhes estavam meticulosamente registrados: a forma como o Marquês Menegin e seu genro haviam sido “tratados”. A passagem que descrevia como o próprio Marquês arrancou o olho que ainda restava foi suficiente para fazer o sangue gelar.

Mesmo que o marquês tivesse confessado seus crimes, aquele ato extrapolava qualquer limite. As punições deveriam ter sido julgadas e executadas dentro da lei. No entanto, eliminar adversários daquela forma brutal…

O conde passou a noite em claro. Assim que o dia nasceu, correu até a residência do Arquiduque. Porém, quando se viu frente a frente com Cesare, todas as palavras ensaiadas ficaram presas em sua garganta. Com a voz vacilante, murmurou:

— … O que o senhor quer?

Por que revelar algo que poderia se tornar uma fraqueza para o próprio Arquiduque? Aqueles documentos poderiam ser usados contra ele, até mesmo para tirá-lo do poder.

O Conde, que sempre se mantivera distante dos jogos políticos, não conseguia entender por que Cesare, tendo mostrado pouco interesse pela política até agora, de repente havia decidido exterminar seus adversários tão repentinamente. Enquanto tentava decifrar as intenções por trás de tudo, Cesare bateu levemente os dedos sobre a mesa.

Outro documento deslizou em sua direção. Um instinto percorreu o corpo do velho homem, uma premonição de que aquilo lhe dizia respeito. Se armou de coragem e começou a ler, sua compostura se desfazendo enquanto as páginas passavam sob seus dedos trêmulos. Seu rosto perdeu toda a cor.

Era um registro detalhado de sua colaboração com o reino de Kalpen, um crime grave o suficiente para custar-lhe a cabeça.

O peso de suas ações caiu sobre ele. Havia traído seus princípios, um único lapso cometido unicamente por sua esposa gravemente doente. Durante os momentos mais críticos da guerra, Kalpen explorou essa vulnerabilidade, oferecendo um remédio secreto, exclusivo da família real, em troca de informações.

Cego por aquela fagulha de esperança, o conde cedeu. Agora, enquanto encarava a prova irrefutável do seu crime, a sombra de Cesare pairava sobre o papel. Ao levantar a cabeça, viu o Arquiduque saboreando calmamente seu chá, entregue pelo servo.

— O senhor já deve saber por que poupei a sua vida. — disse Cesare, em tom como se tudo não passasse de um detalhe trivial.

Quando o filho mais novo de Kalpen morreu no campo de batalha, o rei nutriu o desejo de fazer Cesare sofrer a mesma dor. Ele planejou incriminar a jovem nobre salva pelo Arquiduque, mobilizando os nobres de Traon para agir, incluindo o próprio Domenico contra ela.

Mas quando recebeu a ordem do rei de Kalpen, Domenico hesitou. Apesar de ter cometido atos indignos de um súdito do Império, não conseguiu dar o passo final para prejudicar uma jovem inocente.

Além disso, à medida que os efeitos do remédio em sua esposa começavam a desaparecer, a decisão de recusar ficou mais fácil. Ele passou a considerar buscar ajuda de um boticário habilidoso dentro do Império.

Após a ascensão de Cesare ao poder, as relações com Kalpen foram cortadas. Com a morte do rei, ele acreditou que seu passado seria silenciosamente enterrado. Jurou a si mesmo dedicar o resto da vida a Traon.

O silêncio entre os dois prolongou, tenso, um contraponto pesado para o farfalhar dos papéis. Finalmente, ele levantou a cabeça, e uma pergunta escapou de seus lábios:

— O senhor deseja cooperação, Vossa Graça?

Um lampejo divertido brilhou nos olhos de Cesare. Uma risada baixa, um som sombrio e estranhamente cativante, escapou de seus lábios.

— Com uma esposa ao meu lado… — ele disse, arrastando as palavras, — não seria útil ter um cão de guarda leal na casa?

O Conde cerrou o maxilar. O insulto queimava, mas não podia negar a verdade nas palavras de Cesare, sua vida pendia por um fio, um peão no tabuleiro do Arquiduque. Um lampejo de desafio brilhou em seus olhos, rapidamente extinguido por uma onda de desespero. O estado frágil de sua esposa e a promessa de uma nova chance de cura oferecia a ele um vislumbre de esperança, ainda que precário.

— Aparentemente…. — Cesare prosseguiu, seu tom relaxado em nítido contraste com o peso de suas palavras, — minha esposa planeja lançar um novo medicamento em breve.

Os olhos do Conde Domenico se arregalaram de surpresa, um brilho de desespero cintilando em suas profundezas. Cesare apoiou o queixo em uma das mãos, seu olhar firme enquanto estudava o rosto do Conde.

— É uma medicação verdadeiramente notável — acrescentou, com um sorrisinho. — Eu mesmo tenho grandes expectativas. No entanto, parece haver um pequeno inconveniente.

— Se é apenas um inconveniente… — Domenico sussurrou, quase sem voz.

— Nada que afete a eficácia — respondeu Cesare, um traço de divertimento dançando em seus olhos. — Seria uma pena enterrar um medicamento tão valioso. Então, que tal o senhor, como presidente do Senado, proteger a esposa do Arquiduque?

Cesare sorriu seus lindos cílios se curvando.

— O cão de guarda da Arquiduquesa Erzet.

Pouco depois de dizer que voltaria logo, Cesare demorou mais do que o esperado. Eileen tomou o café da manhã sozinha e lançou um breve olhar para o jornal que havia dobrado e deixado de lado.

Hesitou, mas decidiu não abrir novamente. Levantou da cama, não queria começar sua primeira manhã como recém-casados sendo preguiçosa. Mas, assim que se levantou, gritou de dor e colapsou de volta no colchão. Pensou que seu corpo já estava melhor, mas a realidade estava longe disso.

Permaneceu deitada por mais alguns minutos, antes de pedir ajuda a uma criada para finalmente conseguir levantar. Cambaleou até o banheiro e mergulhou em uma banheira de água morna. O calor aliviou a dor.

Enquanto a água aquecida a envolvia, pensamentos que vinha evitando, invadiram sua mente. Decidiu não reviver a noite de núpcias, quanto mais pensava, mais envergonhada e constrangida se sentia, com vontade de fugir de volta para sua casa de tijolos. Tentou desviar os pensamentos.

Silenciosa, olhou para a aliança em seu dedo anelar esquerdo. Ocasionalmente, notara comportamentos estranhos em Cesare. Atribuía suas mudanças à guerra, e mesmo Leone não sabia a razão clara por trás delas.

As dúvidas de Eileen se intensificavam cada vez que observava o anel de casamento que até recentemente existia apenas em seu diário.

— Devo perguntar a Cesare sobre isso? — murmurou.

Mas logo se lembrou: se ele quisesse falar, já teria feito isso. Perguntar não garantiria resposta alguma. Quando saiu do banho, ainda não havia tomado uma decisão.

Já vestida, resmungou baixinho, saiu do quarto e encontrou Michelle esperando por ela na sala.

— Michelle!

— Parabéns pelo casamento — disse ela, com um sorriso genuíno.

Ela prosseguiu, trazendo uma boa notícia.

— Vossa Graça autorizou a abertura do laboratório.

A alegria de Eileen foi tão grande que chegou a encarar a novidade como um presente de casamento. Por um instante, esqueceu da dor e simplesmente se deixou levar por aquela felicidade. No entanto, Michelle manteve a compostura, consciente de suas responsabilidades.

— Mas será difícil instalar tudo naquela rua antiga — explicou. — Vamos preparar um espaço novo na mansão. Que tal visitar o local hoje?

— …

— Quer que eu providencie alguém para transportar os equipamentos ou prefere supervisionar pessoalmente? — sugeriu Michelle. — Especialmente se houver algo importante.

Eileen, que já pretendia conversar com o dono da estalagem sobre as vendas dos medicamentos, decidiu que seria prático visitar o laboratório depois. Tomaria um analgésico quando chegasse lá.

— E Vossa Graça? — perguntou, com um leve tom de expectativa.

— Ele teve um compromisso urgente no palácio — respondeu Michelle.

Originalmente, Cesare deveria acompanhá-la, mas Michelle tomou seu lugar. Embora tivesse esperado passar o dia com ele, Eileen escondeu sua decepção.

Assim, partiram para o laboratório, esperando por um dia tranquilo. No entanto, seus planos tomaram um rumo inesperado quando se depararam com alguém.

Michelle franziu profundamente a testa ao ver um homem parado em frente à estalagem. Se posicionando rapidamente à frente de Eileen, a protegendo, chamou o homem:

— … Conde Domenico?

Surpreso pela voz de Michelle, o homem se virou rapidamente. Mas ficou completamente chocado quando seu olhar se fixou em Eileen.

Com uma voz vacilante, o Conde Domenico perguntou: 

— Por que a Arquiduquesa está aqui…?

 

Continua…

Tradução: Elisa Erzet 

Ler O Marido Malvado Yaoi Mangá Online

Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage 
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️

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