Ler O Marido Malvado – Capítulo 55 Online
Eileen fitava o jornal sem expressão, seus olhos presos à foto estampada na capa, uma imagem do casamento deles no dia anterior. Fechou os olhos com força e os abriu novamente, na esperança de que a manchete tivesse magicamente mudado.
— Essa sou eu? — murmurou.
Era difícil de acreditar. Eileen continuou encarando o jornal, imóvel. Cesare, que saboreava seu chá fortemente infusionado enquanto percorria as manchetes, lançou-lhe um olhar. Percebendo, com um gesto sereno, pegou o exemplar de La Verita sobre a mesa e estendeu para ela.
Sem encontrar seus olhos, Eileen hesitou em aceitar o jornal que ele lhe oferecia. Cesare aguardou com paciência, compreendendo sua relutância.
Por fim, ela reuniu coragem e aceitou o jornal das mãos dele.
Talvez tenha apertado demais, porque o papel se amassou sob seus dedos. As mãos trêmulas seguravam o jornal enquanto ela encarava a foto.
A imagem mostrava Cesare exatamente como estava no casamento, embora, para ser sincera, não lhe fizesse justiça. Ele era infinitamente mais impressionante pessoalmente.
Embora a foto retratasse um homem de traços inequívocos e nobres, era incapaz de transmitir aquela presença única, perigosa, magnética e ainda assim irresistivelmente hipnótica. A impressão em preto e branco falhou em capturar a intensidade de suas íris vermelhas.
‘Seria tão bom se pudessem ver a cor dos seus olhos’.
Pensou, com um misto de lamento e desejo, sabendo que o povo do Império jamais testemunhariam a verdadeira beleza daquele detalhe. Lentamente, desviou o olhar.
Ela observou a mulher desconhecida que estava ao lado de Cesare. Usava um vestido de noiva delicadamente bordado, com cachos que caíam em cascata sobre os ombros, a figura exalava uma serena elegância. Um sorriso tímido, quase inocente, adornava o rosto da noiva na fotografia desbotada.
Traços de porcelana, olhos grandes e um nariz delicado, uma beleza inegável. Eileen não conseguia distinguir a cor do cabelo ou dos olhos, mas isso pouco importava. Aquela mulher não era ela.
Um nó de confusão apertou o peito. Só podia ser um erro na revelação, alguma falha que sobrepôs o rosto de outra mulher ao seu. O choque inicial deu lugar a um alívio estranho. Aquela criatura etérea, um complemento perfeito para Cesare, parecia uma arquiduquesa muito mais adequada do que ela, com toda a sua desajeitada simplicidade.
A única dor era saber que não havia um registro verdadeiro daquele momento tão significativo. Tantas fotos tiradas, e nenhuma parecia capturar a memória que deviam partilhar. Eileen suspirou, derrotada, e dobrou o jornal.
Cesare, ainda absorto em seu próprio exemplar, pousou a xícara de chá na mesa com um leve tilintar. O olhar atento encontrou o corpo encolhido de Eileen.
— Eileen? — chamou, a voz carregada de preocupação.
Ela tentou sorrir, mas o gesto vacilou sob o peso do olhar dele. Sem dizer nada, empurrou o jornal pela mesa. A mão tremia levemente.
— A foto do casamento… — conseguiu finalmente dizer a voz quase um sussurrou. — Parece que houve algum erro.
Cesare arqueou uma sobrancelha, examinando o jornal. Fitou Eileen por um instante, soltando então um breve —Hum, e disse:
— É verdade, essa foto não faz jus a você. Especialmente aos seus lindos olhos.
Apontou as deficiências da fotografia e estendeu o jornal de volta a Eileen. Surpreendida, ela alternou o olhar entre o papel e o marido.
— Mas… está estranho…
— Está chateada porque não ficou boa?
— O quê? Não é esse o problema, a pessoa na foto é linda, como uma fada.
Mordeu o lábio, tentando conter a frustração. Por que ele não entendia? Aquela mulher na fotografia não era ela. Ou, talvez, ele simplesmente não se importasse.
Já triste por não ter uma foto de casamento que reconhecesse como sua, o comentário aparentemente casual de Cesare fez com que se sentisse ainda pior. Eileen desdobrou cuidadosamente o jornal amassado e mostrou a ele mais uma vez.
— Olha… não é o meu rosto. Parece que imprimiram a foto com o de outra pessoa.
Tentou falar com cuidado, sem soar infantil ou queixosa, apenas afirmando um fato. Cesare ficou em silêncio por um instante, os olhos fixos nela.
— Eileen.
— Sim?
Enquanto ele se acomodava ao seu lado, Eileen respondeu com uma vozinha quase abatida.
O robe se abriu levemente, revelando parte do seu peitoral, uma visão ousada demais para aquela hora do dia. Brevemente, se perdeu naquele detalhe, mas voltou à realidade quando sentiu o toque quente dele em seu rosto.
— Você é minha esposa — disse Cesare, com firmeza e doçura na voz.
A obviedade da frase a deixou confusa, mas ela assentiu, hesitante.
— No dia do nosso casamento, você prometeu obedecer ao seu marido, e eu jurei confiar em você plenamente. Lembra?
Outro pequeno aceno tímido de Eileen foi recebido com um olhar carinhoso de Cesare. Sua mão grande permaneceu em sua bochecha enquanto ele continuava:
— Então, me responda, Eileen… em quem você deve confiar? No seu marido, que está aqui vivo ao seu lado, ou uma voz do passado?
Eileen refletiu por um momento, mas logo deu a resposta que Cesare esperava.
— No meu marido…
Cesare, então, concluiu sem rodeios:
— A foto do casamento no jornal é sua.
As palavras morreram na boca dela. Queria protestar, insistir na diferença que via, mas o olhar carmesim dele a paralisava, carregado de uma certeza inabalável. Sua voz, de um tom baixo e agradável, deslizou pelos ouvidos dela como um sussurro suave:
— Você é linda, Eileen. Não só para mim, mas para todos. É um fato, não uma opinião.
Um leve sorriso pairou em seus lábios.
— Não foi você mesma quem disse, que parecia uma fada.
Um rubor subiu pelo pescoço de Eileen, um contraste gritante com a mulher da foto.
— Eu só disse isso porque… pensei que fosse outra pessoa — gaguejou, tentando se explicar.
Sorrindo, o homem estendeu a mão, beliscou suavemente sua bochecha e se levantou.
— Termine de ler o artigo. Eu volto já.
Sozinha, Eileen ficou com o eco da voz dele no ar. O olhar voltou ao jornal, o café da manhã esquecido sobre a mesa, um testemunho de sua desorientação.
‘É mesmo eu?’ —pensou outra vez.
Se Cesare dizia que era ela, só podia ser verdade. Ainda assim, a confusão latejava como uma dor de cabeça incômoda. Virou a página, tentando escapar da foto da capa, e a tensão diminuiu um pouco.
Decidindo seguir as instruções de Cesare, Eileen começou a ler o artigo na segunda página com atenção.
[Pode-se dizer, sem exagero, que foi uma cena digna saída diretamente do mito fundador do Império Traon.
O Arquiduque Erzet e sua esposa cativaram todos os convidados com sua beleza inimaginável…]
Aquele elogio efusivo do artigo, comparando o casamento ao próprio mito fundador do Império Traon, fez Eileen se arrepiar. O escritor descreveu sua aparência com tantos detalhes que pareceu intrusivo, quase fabricado. Será que ela e Cesare realmente compareceram à mesma cerimônia?
‘O jornal deve ser pró-Império.’
Pensou, tentando se convencer.
Ainda assim, precisava confiar nas palavras de Cesare. Ele nunca mentia. Embora nem sempre revelasse a verdade completa, jamais a enganou.
‘Mas pensar que eu… sou a mulher desta foto…’
Respirou fundo, tentando assimilar a ideia, e voltou a encarar a imagem da capa. A dor de cabeça retornou, agora misturada com o cansaço que ainda sentia da noite de núpcias, uma manifestação física do desconforto que a corroía.
Por fim, Eileen decidiu parar de pensar por um tempo e clarear a mente encontrando e lendo um artigo sem relação ao casamento. Após uma longa busca, ela finalmente encontrou um artigo político e começou a ler devagar.
[O Conde Domenico, como novo Presidente do Senado, prevê mudanças no Parlamento de Traon… Buscando mediar entre a família real e a nobreza…]
No dia seguinte à cerimônia de casamento, a mansão do Arquiduque permaneceu tão serena quanto sempre. A única diferença eram as flores espalhadas pelo salão de recepção. Lírios exalavam um perfume doce, preenchendo o ambiente. Mas o Conde Domenico parecia alheio às flores. Agitado, andava nervosamente de um lado a outro, com uma expressão ansiosa, como um rato encurralado. Cesare, recostado, observava seu estado com um sorriso torto.
— Conde Domenico.
— Vossa Graça! — exclamou o homem, apressando-se em sua direção.
Cesare gesticulou levemente que se sentasse. O Conde, com o rosto agitado, sentou-se no sofá oposto.
Recostando-se nas almofadas, com um ar quase brincalhão, comentou:
— Logo no primeiro dia da minha lua de mel? Não podia esperar? Estou sendo obrigado a deixar minha esposa sozinha no quarto.
Diante dessa brincadeira, o semblante do conde se contorceu.
— Foi Vossa Graça quem criou essa situação — rebateu, com um olhar severo. — Desde quando o senhor se interessa tanto por política? Assumiu o controle militar… está de olho no trono agora?
Apesar da observação direta, Cesare não respondeu. Apenas torceu os lábios em um sorriso de canto. Por fim, a impaciência do Conde veio à tona, e ele tremia de indignação.
— Vai exterminar todos os nobres? Se for esse o desejo de Vossa Graça, diga logo!
Em resposta, o Arquiduque riu, quase divertido.
— Está equivocado, conde. Se eu quisesse, já teria tomado o trono. Afinal, somos irmãos muito… afetuosos.
Os olhos dele, tingidos de um vermelho intenso, se curvaram num sorriso sereno. Seus lábios bem desenhados se moveram lentamente.
— E quanto à nobreza do Império… — fez uma pausa, como quem saboreia o momento interceptando as palavras do conde. — Mesmo que todos fossem eliminados, meus desejos ainda assim não seriam realizados.
Continua…
Tradução Elisa Erzet
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Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️