Ler O Marido Malvado – Capítulo 46 Online
Até a apresentação dos músicos parou, como se congelada por magia. No tempo suspenso do salão do banquete, apenas o lamento confuso de um pássaro ecoava suavemente.
Eileen apertou o buquê com força, usando-o para esconder os dedos trêmulos. Seu olhar permaneceu fixo à frente, concentrado apenas no caminho que deveria percorrer.
A viagem de carruagem já havia sido tensa. Apesar de todos os esforços para se manter firme, sentia enjôo provocado pelas reações desconfortáveis dos convidados. O fino véu que lhe cobria o rosto parecia pesar toneladas, intensificando o desconforto.
Ela teria aceitado até mesmo risadas, ainda que de escárnio. Qualquer coisa teria sido melhor do que aquele silêncio sufocante que ninguém ousava quebrar.
O que tornava a situação ainda mais miserável era saber que Ornella estava testemunhando tudo. Como ela devia estar rindo por dentro, triunfante. Eileen podia facilmente imaginá-la soprando fumaça em seu rosto e perguntando com sarcasmo: “Aproveitando o casamento?”
Na noite anterior, ela havia se preocupado com a possibilidade de violência no local do casamento, após o aviso de Lotan. Mas agora, achava que talvez até isso fosse preferível a seguir adiante com o matrimônio.
‘Não, pare. Esse tipo de pensamento…’
Mesmo com todas as garantias de que a protegeriam a qualquer custo, Eileen sabia que não podia se entregar a tais pensamentos, por mais difícil que fosse a situação. Sacudiu a cabeça em silêncio e concentrou-se em dar um passo após o outro.
Os músicos, que haviam ficado imóveis por um tempo, finalmente retomaram a melodia. Mesmo assim, os convidados permaneceram em silêncio, sua expectativa contida era palpável.
Finalmente, Eileen alcançou o ponto onde seu pai a esperava. Ele estava em um terno ligeiramente amassado, com um leve odor de álcool ainda pairando, mas ela preferiu ignorar. Só o fato de não estar embriagado já era suficiente.
— Você está linda. — disse ele, emocionado, ao se aproximar.
Eileen murmurou um breve agradecimento, mas manteve a boca fechada. Seu pai então pegou sua mão e posicionou-se com ela no início do corredor branco.
Com os olhos fixos no tecido imaculado, Eileen levantou levemente a cabeça. Desejava tanto ver Cesare… apenas um vislumbre seria o bastante para lhe dar forças de suportar o restante da cerimônia.
Se havia alguém capaz de achá-la encantadora, não importando a aparência, era ele.
Talvez ele não se importasse com os adornos pesados que a sufocavam. Com esperança cautelosa, levantou a cabeça e avistou, ao fim do corredor branco, a figura do homem à sua espera.
Fazia uma semana desde que o viu pela última vez. Cesare estava trajado com o uniforme de comandante supremo do Exército Imperial. Sem o chapéu ou a capa do traje, trazia no peito uma flor de lírio-branco, adornado por medalhas e fitas.
Ali estava ele, aguardando Eileen da maneira que ela mais amava: como o noivo deste casamento.
No instante em que seus olhos encontraram os de Cesare, uma onda de alívio a inundou. O cenário da cerimônia ao ar livre, adornado por milhares de flores, finalmente ganhou nitidez diante dela.
O perfume intenso e fresco das flores, a bela marcha executada pelos músicos e os aplausos dos convidados… de repente, Eileen percebeu o mundo vibrante ao seu redor, que até então lhe havia passado despercebido. Tudo isso a envolveu, trazendo cor de volta à sua existência antes cinzenta.
De pé sobre o caminho coberto de pétalas, Eileen sentiu sua tensão e medo dissiparem-se lentamente, substituídos por uma nova comoção que enchia seu peito.
Naquele momento, não pôde evitar recordar-se da primeira vez em que o encontrou em um campo de lírios.
Naquele momento, não pôde evitar recordar a primeira vez que o viu, em um campo de lírios. Ouviu novamente a voz que, quando tinha apenas dez anos, lhe disse: “Você deve ser a Lily.”
Foi amor à primeira vista. A pequenina e ingênua Eileen, que nada sabia do mundo, havia se apaixonado pelo Príncipe do Império. Cesare retribuía seu amor em abundância. Cuidando dela como se fosse sua própria filha, acompanhando cada etapa de seu crescimento e mimando-a com um afeto maior até que a de muitos pais.
Por ele, Eileen existia. Cesare era seu mundo inteiro.
Havia passado de sua protegida querida a sua amada esposa, mas, contanto que pudesse permanecer ao seu lado em qualquer condição…Eileen estava disposta a pagar qualquer preço.
Olhando para o homem que amava, Eileen deu um passo adiante. Seu pai, um tanto atrapalhado, apressou-se em acompanhá-la.
Antes com os olhos fixos no chão, agora Eileen só enxergava Cesare. Quanto mais se aproximava dele, menos o resto importava.
Finalmente, parou diante dele. De frente para Cesare, Eileen piscou lentamente. O homem à sua frente não era uma ilusão, por mais que piscasse, ele continuava ali, sólido e real.
Ainda assim, mesmo com sua presença tangível, tudo parecia surreal, como um sonho. Ela quase desejou beliscar o próprio braço para ter certeza. A ideia de que aquele homem estava prestes a se tornar seu marido era quase inacreditável. Se alguém irrompesse no local e gritasse “Você não é a noiva!”, ela talvez acreditasse.
Seu pai colocou sua mão na de Cesare, que a aceitou em silêncio. Cumprido seu papel, o pai se afastou, mas Eileen nem percebeu. Toda a sua atenção estava concentrada no noivo.
O aperto firme de sua mão transmitia uma realidade inegável, mesmo com a leve dor que causava. Com voz trêmula, Eileen chamou por ele:
— Cesare…
Desejava, desesperadamente, ouvi-lo responder, pronunciar seu nome, confirmar que aquele momento era real. Através do véu embaçado, olhou-o com urgência, suplicando por um sinal.
Mesmo através do tecido difuso, as íris vermelhas de Cesare eram inconfundíveis, límpidas e cheias de Eileen. Em um gesto inesperado, ele soltou sua mão e, para seu espanto, levantou o véu.
Quando sua visão clareou, seus olhares se encontraram. O som de seu coração batendo forte ecoou em seus ouvidos, abafando tudo ao redor. Diante dela, estava o homem incrivelmente belo, e, involuntariamente, seus lábios entreabriram.
Havia uma expressão inédita no rosto de Cesare. O homem de olhar sempre claro e penetrante agora parecia absorto, como se ele próprio estivesse em um devaneio. Fascinado, seus olhos se prenderam a ela refletindo seu próprio êxtase.
A intensidade daquele olhar queimava, como se cada centelha fosse chama viva. Após uma eternidade silenciosa, Cesare abriu finalmente os lábios:
— Eileen.
Sua voz, levemente trêmula, sussurrou seu nome novamente, carregado de uma ternura indescritível.
— Eileen…
Suspirou o nome, como se fosse a própria respiração, e então deixou o véu cair suavemente atrás dela.
Perdida no momento com Cesare, Eileen lembrou subitamente do oficiante à espera no altar. O sumo sacerdote do templo olhava para eles com os olhos arregalados, sua expressão alternando entre ela e o noivo.
‘Será porque ele levantou o véu antes da hora?’
Tradicionalmente, o véu era levantado apenas no momento dos votos. Embora fosse uma ação incomum, não era exatamente incorreta. Não deveria ter causado tanto alvoroço… Talvez, por se tratar do casamento de um Grão-Duque, exigisse um rigor maior. Eileen não tinha certeza. Ainda assim, ali permaneceram, firmes diante do sacerdote, prontos para prosseguir com a cerimônia.
O velho sacerdote pareceu perdido em pensamentos até que Cesare franziu levemente as sobrancelhas, fazendo-o iniciar a cerimônia com um sobressalto.
Enquanto recitava a oração nupcial, Eileen mexia nervosa nos dedos entrelaçados aos de Cesare. Percebendo seu nervosismo, ele apertou sua mão com firmeza, transmitindo segurança, e só então a soltou suavemente.
Após a prece do oficiante, Cesare foi o primeiro a pronunciar seus votos:
— Eu, Cesare Traon Karl Erzet, como Grão-Duque do Império Traon, juro, em nome dos Deuses: amor eterno que jamais mudará, confiança verdadeira que nunca vacilará e serei o leão alado que protegerá nossa nova família… — Fez uma breve pausa após o trecho reservado apenas à nobreza, e então completou: — … brandirei minha espada sem hesitação por minha senhora.
As palavras finais ecoavam a prece tradicional dos soldados. Do mesmo modo, o voto de Eileen refletiu a devoção de uma mulher que se casava com um guerreiro.
— Eu, Eileen Elrod, representando a família do Barão Elrod, juro em nome dos Deuses: amor eterno que jamais mudará, obediência sem falsidade, e que a paz floresça em nossa nova família como a oliveira. — Com sinceridade profunda, Eileen completou sua prece: — … tecerei a coroa de louros para o meu cavaleiro.
Assim rogava aos deuses que Cesare fosse sempre abençoado com a glória da vitória.
Continua…
Tradução Elisa Erzet
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Cesare Traon Karl Erzet, o Comandante-Chefe Imperial.
Após três anos de serviço na guerra, ele voltou para propor casamento a Eileen.
Eileen lutou para acreditar que a proposta de casamento de Cesare era sincera.
Afinal, desde o momento em que se conheceram, quando ela tinha dez anos, o homem afetuoso sempre a tratou como uma criança.
— Eu não quero me casar com Vossa Alteza.
Por muito tempo, seu amor por ele não foi correspondido.
Ela não queria que o casamento fosse uma transação.
Foi por causa da longa guerra?
O homem, que normalmente era frio e racional, havia mudado.
Suas ações impulsivas, seu desejo desenfreado por ela — tudo isso era muito estranho.
— Isso só deve ser feito com alguém que você ama!
— Você também pode fazer isso com a pessoa com quem planeja se casar.
Eileen ficou intrigada com essa mudança.
E, no entanto, quanto mais próxima ela ficava de Cesare…
Ela descobriu coisas que desafiavam a razão ou a lógica.
Eileen soube das muitas ações malignas de seu marido pouco tempo depois.
— Eu não pude nem ter o seu corpo, Eileen.
Tudo o que ele fez foi por ela.
Ele se tornou o vilão, apenas por sua Eileen.
Nota: Mesma autora de Predatory Marriage
Ps: Cesare é o maridinho dessa tradutora aqui ❤️❤️❤️