Ler Zodíaco: Asas do Juízo e Desejo – Capítulo 08 Online

Capítulo 8 – Entre Pecado e Profecia

Os corredores da Torre de Gêmeos eram um labirinto de espelhos e ecos. Quem entrava ali com segredos saía exposto. Quem entrava com verdades saía em pedaços.

Elian sabia disso.

Mesmo assim, ele entrou.

Os guardiões de prata se curvaram diante dele, mas não com a reverência de antes. Havia uma tensão no ar. Um burburinho nas entrelinhas do Zodíaco. O beijo com Scorvan, embora não anunciado, havia deixado rastros no tecido cósmico.

E todos sabiam: quando Libra vacila, o universo treme.

— Está atrasado — disse Gêmeos, em uníssono.

Os dois irmãos — Castor e Pollux — surgiram diante dele em um jogo de reflexos. Idênticos, mas não iguais. Um sorria com deboche, o outro, com melancolia.

— Atrasado para quê? — Elian perguntou, frio.

— Para conhecer o seu fim.

Pollux estendeu um tomo antigo, coberto de poeira cósmica. Um livro que não deveria mais existir: As Escrituras Negadas do Céu. Textos escritos por signos que enlouqueceram ao tentar prever o futuro.

— Isso está proibido. — A voz de Elian vacilou.

— E mesmo assim você veio, não é? — provocou Castor.

O livro se abriu sozinho, páginas virando como se sopradas por um vento sagrado. Até parar em uma folha marcada com sangue antigo.

“Quando o Julgador cair e o Escorpião tocar seu coração, o ciclo será quebrado. A balança se tornará carne, e a carne desejará o que a justiça teme. Nesse dia, o céu se partirá.”

Elian sentiu o corpo gelar.

— Isso é uma profecia falsa. Uma lenda feita para desacreditar meu signo.

— Ou um aviso para você não se apaixonar pelo único que pode destruir tudo que defende — disse Castor.

Pollux fechou o livro com um estalo que pareceu um trovão.

— Está sentindo, não está? O coração. A dúvida. O desejo. Está se tornando carne, Elian.

Ele apertou os olhos.

— Eu sou justiça. Não posso ser carne.

— Mas já é. — Castor sorriu. — E carne ama.

Elian saiu da torre cambaleando, sufocado. Os ecos das palavras perseguiam sua mente.

O Escorpião tocará seu coração…

—

Na Cidade Baixa dos Signos, Scorvan caminhava entre sombras, onde os astros não brilhavam. Ali viviam os esquecidos — signos menores, fragmentados, considerados indignos de ascender ao céu.

Entre eles, uma figura de pele fosca e olhos sem íris o esperava.

— Você beijou o juiz — disse a criatura, chamada Orun, uma espécie de oráculo rejeitado.

— Como todos parecem saber disso? — resmungou Scorvan, acendendo um cigarro feito de éter.

— Porque você brilhou, Scorvan. E quando Escorpião brilha, é porque está ferido.

Scorvan riu, mas sem humor.

— Estou fadado a ser o vilão dessa história, não é?

— Talvez seja o herói. Ou o catalisador da queda.

O oráculo abriu a palma da mão. Um fragmento de estrela morta girava ali, vibrando com energia profética.

— Há algo que precisa ver.

O fragmento pulsou, e uma visão o invadiu: ele e Elian, de mãos dadas, mas cercados por caos. Signos em guerra. Céus rasgados. E, no centro, a balança quebrada.

— O que é isso? — perguntou Scorvan, engasgado.

— O possível. Não o certo.

— E como mudo isso?

— Você não muda. Você decide. O amor é uma decisão. Mas o preço da decisão… é tudo.

—

Na Câmara do Julgamento, Elian retornou com o corpo em conflito e os olhos mais escuros do que nunca. A balança tremia, cada vez mais sensível às emoções que ele tentava calar.

Mas era tarde.

Scorvan já morava ali, entre os pesos e contrapesos do seu coração.

O som de passos ecoou. Elian se virou — e lá estava ele.

— Você não devia estar aqui — disse o juiz.

— E você não devia ter me beijado — rebateu Scorvan, com um sorriso de canto.

Elian fechou os olhos.

— Há uma profecia…

— Sempre há. Mas sabe o que não há? Paz.

Scorvan se aproximou, devagar.

— Eu não sou bom, Elian. E você é mais do que bom. Você é o equilíbrio. Mas nós dois juntos… somos uma ameaça.

— Então por que veio?

Scorvan o encarou.

— Porque eu preferia cair do céu a viver mais um dia sem saber o que é ser tocado sem medo.

O juiz estremeceu.

— Isso não pode continuar. Vamos destruir tudo.

— Talvez. Mas e se a destruição for o preço da verdade?

Elian o empurrou — não com força, mas com desespero. Suas mãos tocaram o peito de Scorvan e tremeram ali, incapazes de soltar.

— Estou com medo — confessou ele.

Scorvan segurou seus pulsos.

— Eu também.

Ficaram assim, próximos demais, cercados pelo peso do universo e pelo silêncio de algo que crescia entre eles.

Não era apenas desejo.

Era destino.

E, naquele instante, pela primeira vez em eras, a balança parou.

—