Ler Rosas e Champanhe – Capítulo 09.2 Online

No dia seguinte, pouco depois das 9 horas, Caesar saiu da mansão e logo compreendeu melhor os planos de Yiwon. Quando estava prestes a entrar no carro, o som desagradável do motor de uma máquina velha chegou aos seus ouvidos. Ele desistiu de entrar no carro, virou a cabeça para ver uma scooter se aproximando. Todos que estavam ao lado de Caesar voltaram imediatamente os olhos para ele. Enquanto os olhos da multidão estavam fixos nele, a scooter que estava prestes a quebrar fez um barulho ruidoso, correndo apressadamente, e chegou ao portão da frente da mansão exatamente às 9 horas da manhã.

Acompanhado de um silêncio sufocante, o homem de terno barato tirou o capacete.  De repente, ouvi um pequeno som de suspiro. Caesar olhou para Yiwon, que desceu da scooter sem dizer uma palavra.  Que diabos é esse lixo? Então Yiwon disse a Caesar, o encarando.

— São 9 horas.

Ele passou por Caesar como se nada tivesse acontecido. No meio da tensão, Yiwon caminhava com orgulho. Apesar da hostilidade aberta dos Russkiye em relação aos estrangeiros, ele não mostrou qualquer sinal de hesitação, muito menos desespero. Ao parar na frente da porta da mansão, os homens que o olhavam com olhos ferozes pareciam cansados. Yiwon virou a cabeça e olhou para o mordomo com um rosto calmo.

— Você pode me guiar?

Confuso, o mordomo olhou alternadamente para Caesar e Yiwon. Como se estivesse preocupado em ver o proprietário sair para o trabalho. Então Caesar deu uma ordem simples.

— Guie-o.

— Sim, Czar.

O mordomo correu apressadamente até Yiwon, abriu a porta e o conduziu para dentro. Caesar, então, permaneceu olhando para as costas do advogado sem dizer uma palavra. Um sorriso apareceu de repente no rosto de Caesar, enquanto observava Yiwon entrar ansiosamente na sala seguindo o mordomo. Todos que estavam em volta naquele momento ficaram pasmos e pararam completamente de respirar.

Czar está rindo.

Era a primeira vez que viam o rosto de olhos vorazes suavizando-se com um sorriso confortável nos lábios. Enquanto todos olhavam com espanto, Caesar imediatamente virou a cabeça e entrou no carro. Entre os subordinados, o primeiro homem a cair em si rapidamente baixou a cabeça em reverência, seguido pelos outros homens. O sedã saiu do jardim com um suave som de motor, deixando para trás os homens pálidos, suando frio. Caesar, que estava enterrado profundamente no banco de couro, não pegou o umidor como de costume, mas silenciosamente mergulhou em pensamentos.

   Uma scooter.

— É irritante.

O homem, que dirigia silenciosamente, olhou para o rosto do chefe pelo espelho retrovisor. Mas Caesar não disse mais nada.

***
— Bem-vindo.

O mordomo cumprimentou educadamente Yiwon, que vinha trabalhar exatamente na mesma hora de sempre a alguns dias. No primeiro dia de trabalho, Yiwon experimentou em primeira mão que o que Caesar havia dito era verdade. O material é vasto e, se tivesse sido levado para sua casa, nem mesmo o corredor do prédio teria sido suficiente: ele teria que sair para dormir na rua.

Como ficou claro durante a investigação, o homem morto era tão corrupto quanto a quantidade de riqueza que possuía. Não havia nada que ele pudesse dizer para descrever as coisas horríveis que esses homens corruptos fizeram. Yiwon não pode evitar pensar que o homem mereceu morrer. Mas, logo, mergulhou friamente em seu trabalho, deixando seus sentimentos de lado.

Caesar saía no mesmo horário diariamente e não voltava até que Yiwon deixasse o trabalho. O que mais o preocupava ainda não havia acontecido. A única vez que Yiwon chegou a ver o homem foi naquela manhã, quando passou pelos portões. Graças a isso, Yiwon conseguiu se concentrar em seu trabalho com tranquilidade.

— Isso é tudo.

Em um caminho que poderia ter sido facilmente percorrido sozinho, Yiwon seguiu a liderança do mordomo. Ao contrário da maioria dos russos comuns, o mordomo de olhos finos, não falava com facilidade. Ele sempre dava o melhor de si em suas tarefas, mas isso era tudo. Além disso, todos os homens da organização que mostravam abertamente hostilidade em relação a Yiwon todas as manhãs agiam de forma semelhante.

   Esse cara também é Russkiye?

Yiwon pensou de repente. Embora haja muito terrorismo e conflitos na Rússia, o problema racial também é grave. Russkiye muitas vezes caluniavam e brigaram entre si, que dirá então com alguém de fora. É uma ilusão muito grande pensar que toda a humanidade deve se dar bem. Quando entrou na mansão no primeiro dia, Yiwon pôde sentir a hostilidade para com ele na própria pele.

Ele soube, mesmo sem ter que perguntar, que eles eram um grupo formado por extremistas que excluíam completamente os estrangeiros.

Yiwon não entendia porque o líder de um grupo como esse decidiu convidá-lo para trabalhar em sua primeira casa.  Felizmente, ele nunca se sentiu ameaçado, mas era extremamente inconveniente entrar e sair da fortaleza de um grupo que expressava explicitamente seu descontentamento por ele. Mesmo o mordomo que cuidava de Yiwon revelou sinais de antipatia e não escondeu o fato de que não tinha outra escolha senão fazer o que lhe foi ordenado. Mais uma vez ele seguia o homem que mantinha a boca firmemente fechada, exceto por poucas palavras que eram absolutamente necessárias. Assim, Yiwon prometeu a si mesmo terminar seu trabalho rapidamente e nunca mais se aproximar desta casa.

— Se precisar de algo, chame.

O mordomo, que guiou o advogado até o escritório, disse educadamente e saiu. Yiwon abriu casualmente a porta e entrou. A espaçosa sala de estudo estava repleta de documentos que ele havia espalhado no dia anterior. Ele passou pelas pilhas de documentos, tirou o terno, colocou-o no chão em cima da bolsa. Em seguida, encontrou um assento qualquer e se sentou.

Bem, vamos começar.

Na pilha de papéis espalhados, Yiwon pegou todos os documentos que não havia terminado no dia anterior de uma só vez e imediatamente se concentrou nas letras. Eram documentos que traçavam o processo de apropriação da fortuna do homem morto. E por mais que fossem muitos, ele avançou bastante na pesquisa em apenas três dias.

Com certeza vou terminar hoje.

Yiwon decidiu e ergueu as sobrancelhas seriamente.

O mordomo olhou para a porta fechada do escritório e caminhou pelo corredor. Era hora de executar as ordens recebidas de seu mestre pela manhã. Com uma expressão de desagrado, ele abriu a porta e saiu da mansão. Não muito longe da porta da frente, uma scooter em mal estado estava estacionada. O mordomo olhou para o veículo com desdém.

**

— Uhhhh.

Yiwon respirou fundo e virou a última página. Seus olhos estavam rígidos e seu corpo estava exausto. Achou que ia enlouquecer, mas conseguiu cumprir seu objetivo. As ações destacadas por si só já eram o bastante, mas o advogado conseguiu as informações que precisava de qualquer maneira.

A questão é como obter legalmente propriedades obtidas por meio de tanta corrupção.

No momento em que levantou a cabeça, Yiwon piscou, observando o cenário do lado de fora da janela. Ele começou a pesquisar quando a lânguida luz do sol entrava pela janela, mas agora já estava completamente escuro lá fora. Surpreso, ele rapidamente verificou a hora e ficou paralisado. Não percebeu porque o candelabro iluminava o interior do escritório, mas já passava da meia-noite.

   O Trem.

Foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Yiwon se levantou rapidamente, mas se comportou como sempre. Mesmo diante da hora apertada ele passou através dos papéis sem espalhar os documentos. Assim que abriu a porta do escritório e saiu, se chocou violentamente com um corpo.

— Oh.

O homem que abraçou Yiwon, que estava prestes a cair, disse.

— De algum modo seu corpo sempre cai sobre o meu.

Quando ele olhou para a voz risonha, lá estava Caesar com um leve sorriso o observando.

Devido ao impacto, Yiwon não conseguiu reagir imediatamente.  Talvez ele ainda estivesse intrigado com a situação inesperada.  Mesmo assim, ele olhou para Caesar com uma expressão vazia no rosto sem dizer uma palavra.

De repente, o sorriso desapareceu do rosto de Caesar. O olhar de Caesar estava fixo nos lábios entreabertos. Os olhos do homem que olhavam para Yiwon perderam sua luz afiada habitual e se suavizaram infinitamente.

Por um tempo eles apenas se entreolharam dessa maneira e não disseram nada. Eles apenas olharam um para o outro em silêncio, de modo que mesmo o som de um piscar de olhos podia ser ouvido.

De repente, Caesar baixou a cabeça. O braço do homem, segurando a cintura de Yiwon gentilmente, aproximou os corpos e os longos cílios prateados caindo suavemente estavam excepcionalmente focados nos olhos do outro. No momento em que a respiração de Caesar roçou em seus lábios molhados e levemente entreabertos, Yiwon rapidamente voltou a si.

Caesar, que estava atento a Yiwon, percebeu a pressão da mão que empurrou seu ombro por reflexo, o soltou. Os dois se entreolharam com olhos surpresos, embora o motivo de cada um fosse bem distinto. Inesperadamente, Yiwon abriu a boca, envergonhado pela sensação de vazio em sua cintura.

— Estou com um pouco de pressa…

Yiwon, que gaguejou involuntariamente, fechou a boca novamente. Em outras ocasiões, o mordomo sempre lhe dizia as horas. Será que eu estava tão concentrado ao ponto de não ouví-lo? Caesar olhou para ele, reflexivo, franzindo a testa e com uma sensação de constrangimento. Sua mão permaneceu intacta no ar após ser empurrada por Yiwon. Caesar, então, começou a falar, abaixando a mão.

— Você parece muito ocupado. Aconteceu algo?

O rosto de Caesar, carregando um leve sorriso, era o mesmo de sempre. Graças a isso, Yiwon recuperou a razão e pensou por um tempo em como resolver a situação. Ficou claro que os trens já haviam parado. Seus olhos escureceram quando pensou que teria que voltar para casa em sua velha scooter.

Ele estava tão exausto que mal conseguia mover o corpo até o jardim.

Yiwon reteve um suspiro de frustração. Mal sabia ele que seus problemas foram resolvidos de uma forma absurda.

***

Yiwon saiu apressado da mansão. Ao ver onde sua scooter estava estacionada, parou. Oque se encontrava ali não era uma moto. Em vez disso, o que costumava ser uma ‘scooter’ agora era apenas ‘sucata’. Yiwon ficou ali, sem palavras, enquanto o banco mau pairava sobre as rodas quebradas. A scooter havia sido destruída ao ponto dele não reconhecer sua forma.

— Ah, deve ter sido um acidente. — Caesar, que o seguiu lentamente, acrescentou insignificantemente ao observar o olhar desconfiado de Yiwon, que imediatamente o fitou. — Talvez tenha sido um gato que pulou em cima. O que faremos?

Caesar, que havia proferido as palavras como se estivesse fazendo uma piada, disse com um sorriso debochado.

— Você vai ter que ficar aqui até conseguirmos uma Scooter nova.

Yiwon o encarou silenciosamente e cerrou os punhos.

Este mafioso, bastardo, sem vergonha……!

Yiwon sentiu a cabeça ferver com o fim trágico de seu único meio de transporte, que havia conquistado com o dinheiro que não tinha. Ele queria ir embora a pé, mas a razão o impediu. Mesmo que saísse do jardim, não havia trem nem bonde. Ele estava de mãos atadas.

Yiwon, que estava contando para se acalmar, apertou o punho e só olhou para trás depois de contar de 1 a 5. Quando seus olhos se encontraram, Caesar piscou, agindo de forma inocente, como se não soubesse de nada. Yiwon respirou fundo tentando conter a raiva e abriu a boca.

— O pagamento das minhas horas extras será adicionado à sua conta. Tenho que te recordar?

Quando perguntado sarcasticamente, Caesar sorriu brevemente.

— Não, isso eu já sei.

Filho da puta, você deve saber até quantas pintas eu tenho no meu corpo.

Yiwon pensou consigo mesmo e imediatamente entrou na mansão. O som dos passos lentos de Caesar foram abafados pelos passos apressados e pesados de Yiwon, que lutava para conter sua raiva.

°

Continua…