Ler Pequeno Cogumelo – Novel – Capítulo 49 Online

Lily sussurrou: “Desculpe, senhora. Eu só estava preocupada com Sinan”.
“Tem alguma coisa que você não pode me contar?” A senhora Lu estendeu a mão para ela e Lily obedientemente deixou An Zhe nos braços da senhora Lu.
Da última vez que se encontraram no Farol, a senhora Lu usava uma máscara e An Zhe só conseguia ver seus olhos. Desta vez, ele finalmente viu as feições da senhora. As linhas de seu rosto eram suaves, suas sobrancelhas eram arqueadas, mas seus lábios finos não sorriam. Ela apertou ligeiramente os olhos, o que acrescentou um pouco de firmeza à sua expressão gentil. Lu Feng não se parecia em nada com ela.
No entanto, inexplicavelmente, An Zhe sentiu que as características faciais dela eram semelhantes às de Lily. Se todas as pessoas na base fossem cultivadas a partir de embriões do Éden e todos os embriões fossem das mulheres do Éden, então Lily poderia realmente ser a filha mais nova da senhora Lu.
Dessa forma, o comportamento de Lily quando viu a senhora Lu era compreensível. Afinal, ela era filha da senhora, não dele. Nesse mundo, só o esporo nunca tomaria a iniciativa de deixá-lo.
A senhora Lu observava-o e An Zhe não sabia o que ela faria com ele. Ele ouviu a senhora Lu perguntar: “Ele é seu amigo? Você estava procurando por ele na escada?”
Lily e An Zhe trocaram olhares e os olhos astutos de Lily se voltaram para a senhora Lu. “Ele não quer voltar. Posso convidá-lo para nos visitar?”
Ela acrescentou: “Podemos jantar com An Zhe. É delicioso.”
An Zhe sabia que a menina estava tentando ajudá-lo a se esconder das pessoas que o procuravam lá embaixo, mas ele não achava que a senhora Lu concordaria. Afinal, sua aparição repentina ali era muito estranha.
Para sua surpresa, a senhora Lu assentiu. “Tudo bem.”
Lily soltou um “uau” e disse: “Senhora, hoje você está muito boa”.
A senhora Lu abaixou a cabeça e tocou o cabelo de Lily. “Eu sempre te amei”.
Lily esfregou-se carinhosamente na mão da senhora. “Eu também gosto de você”.
An Zhe foi levado para o 22º andar do Jardim do Éden. O clima era tranquilo. Uma música suave tocava no corredor e as paredes brancas estavam cheias de imagens de flores, borboletas, abelhas e nuvens. Era como outro mundo em comparação com o exterior.
No corredor espaçoso, An Zhe também encontrou outras mulheres. Todas usavam vestidos brancos longos, tinham cabelos escuros ou castanhos e rostos tranquilos. Sempre que viam a senhora Lu, cumprimentavam-na amigavelmente.
Em uma cabine da cantina pública, An Zhe jantou. Era leite com açúcar, meio frango assado e uma tigela de sopa de milho com vegetais.
Depois do jantar, a senhora Lu disse: “É hora de mandar seu amigo embora”.
Lily agiu de forma sedutora. “Deixe-o ficar um pouco mais”.
A senhora atendeu ao pedido dela. “Então venha comigo regar as flores”.
Assim, Lily pegou a mão de An Zhe e eles atravessaram o corredor branco e chegaram a outra sala redonda. An Zhe viu as cores vermelhas e verdes exuberantes na sala. No centro da sala havia um canteiro de vários metros quadrados onde cresciam rosas vermelhas exuberantes.
“Meu amante costumava me trazer algumas sementes do campo”, disse a senhora Lu a An Zhe. “Mais tarde, Lu Feng fazia o mesmo. Lembro-me que você ficou com ele naquele dia.”
An Zhe acenou com a cabeça.
“Ele raramente quer ficar perto de outras pessoas.” A Sra. Lu pegou o regador de prata que estava na prateleira de flores. Naquele momento, algo brilhou na visão de An Zhe. Ele inconscientemente virou a mão e viu a tela da TV na sala. Ninguém tinha apertado o controle remoto. Ela tinha ligado automaticamente.
“Esta é uma mensagem do departamento de resposta a emergências.” O locutor falava muito mais rápido do que o normal. Ao mesmo tempo, uma foto de An Zhe foi exibida na tela. “Este suspeito precisa ser capturado com urgência. Se houver alguma testemunha que possa fornecer sua localização, entre em contato conosco imediatamente.”
O corpo de An Zhe ficou um pouco tenso. A paz de uma hora parecia ter sido só uma ilusão e o mundo ainda era uma crise para ele, enquanto olhava para a Sra. Lu.
Então, ele ouviu a Sra. Lu sussurrar: “Não tenha medo.”
O comportamento da Sra. Lu foi inesperado. Ele inicialmente pensou que ela era uma defensora ferrenha das regras da base, mas isso não parecia ser o caso.
An Zhe murmurou: “Você…”.
A Sra. Lu sorriu. “Não vou te ajudar a fugir, mas não vou te entregar por enquanto”.
An Zhe se perguntou: “Por quê?”.
“Eles sempre têm muitos motivos para prender uma pessoa”. A Sra. Lu desviou o olhar da tela. Ela abaixou a cabeça e regou suas roseiras, gotas de água cristalina rolando pela borda das pétalas vermelhas, caindo das folhas verdes para o solo. “Por exemplo, eles prenderam minha mãe há 40 anos.”
An Zhe não sabia o que ela queria dizer, mas ela parecia querer contar uma história. Ele havia conhecido muitas pessoas que queriam lhe contar uma história, como se todos tivessem algum passado memorável escondido em seus corações.
Por isso, ele não falou nada. Apenas ouviu em silêncio, com a fragrância das rosas envolvendo-os. Lily se abaixou e arrancou algumas pétalas, segurando-as nas mãos antes de jogá-las no ar. As pétalas caíram como chuva, salpicando seu cabelo e corpo. Uma pétala caiu no cabelo da senhora Lu.
“Nas quatro bases humanas, 23.371 concordaram com a seguinte declaração, sem nenhum voto contra: Eu dedico voluntariamente minha vida ao destino da humanidade, aceito experimentos genéticos e todas as formas de reprodução assistida para continuar a causa da luta pela sobrevivência da raça humana.” A Sra. Lu repetiu a Declaração da Rosa que An Zhe ouvira de Lily em um tom muito leve. No entanto, sua voz parecia mais clara e alegre do que a da menina.
“Essa declaração tinha um pré-requisito. Era baseada na premissa de ter direitos humanos básicos. Eles aceitariam experiências genéticas e todas as formas de reprodução assistida. Além disso, o autor da declaração chegou a um consenso com as bases de que as mulheres administrariam as mulheres.”
Seus dedos tocaram as bordas macias da rosa. “No entanto, isso foi há quase 70 anos. Naquela época, tudo parecia promissor. O futuro da humanidade estava diante de nós. Enquanto continuássemos, as coisas iriam melhorar. Se eu fosse uma das 23.000 mulheres da época, teria concordado sem hesitar. Todas estavam se sacrificando e eu estaria disposta a contribuir o máximo que pudesse para o bem da humanidade.”
“Naquela época, a tecnologia de cultura in vitro de embriões não era madura e as crianças tinham que ficar no corpo da mãe por pelo menos sete meses. A base esperava uma grande população, então o tempo de descanso uterino não deveria exceder 15 dias.” A Sra. Lu olhou para o teto de aço. “A tarefa de ter filhos era muito pesada. A vida inteira das mulheres era destruída e a vida passava por elas. Elas esperavam que a base relaxasse os requisitos, mas ninguém concordou.”
“As mulheres que assinaram voluntariamente a Declaração Rosa e as meninas que nasceram depois disso assumiram a dedicação a essa declaração como algo natural. Precisamos muito de uma grande população. O Farol e os militares pensam assim, a maior parte da cidade principal e da cidade exterior pensa assim e até mesmo as mulheres que gerenciam outras mulheres pensam assim.”
Seu tom era tão gentil que evocava uma ressonância emocional. An Zhe ouvia em silêncio e viu Lily sentada imóvel na beira do canteiro de flores.
“Para lutar pela proteção dos direitos humanos básicos, algumas mulheres lançaram um movimento de protesto. Há 40 anos, minha mãe foi a iniciadora desse movimento de protesto, embora fosse uma das primeiras iniciadoras da Declaração Rosa.” A senhora Lu sorriu. “No entanto, todas as imagens e textos do protesto foram destruídos. Eu era muito jovem para me lembrar de muitas coisas. Só me lembro de uma noite em que os soldados da Frente Unida invadiram a casa. Minha mãe me trancou no meu quarto e então ouvi um tiro… Vi sangue escorrendo pela porta do meu quarto. Mais tarde, fui enviada para o Jardim do Éden.”
“Mais tarde, eles encontraram a maneira mais eficaz de manter os recursos reprodutivos firmemente em suas mãos e excluíram uma frase da declaração. A nova geração de meninas foi reunida e não teve permissão para sair, sendo ensinada apenas sobre suas responsabilidades pelo Jardim do Éden, nada mais. Dessa forma, a base não precisa se preocupar com o declínio da fertilidade, nem as meninas conhecem a dor de perder seus direitos humanos devido a partos ininterruptos.”
Ela olhou para as paredes ao redor e parecia estar vendo toda a base humana através das paredes. “Sinto dor por isso, mas também sei que minha dor é apenas uma parte trivial. Neste lugar, alguém morre a cada segundo. A única maneira dos humanos sobreviverem nesta era é se transformando em uma criatura. Pessoas com responsabilidades diferentes são órgãos diferentes dessa criatura. O Farol é o cérebro, os militares são as garras e os dentes, as pessoas da cidade externa são a carne e o sangue, os edifícios e as paredes são a pele e o Éden é o útero.”
An Zhe olhou para ela e ela pareceu ler os olhos de An Zhe. “Nunca senti ressentimento por este lugar.”
Ela se inclinou e pegou Lily, que enterrou a cabeça no ombro da senhora Lu.
“Só fico um pouco confusa às vezes.” Ela acariciou o cabelo de Lily com os dedos. “Resistimos a monstros e espécies heterogêneas. Resistimos a genes estranhos que contaminam os genes humanos e queremos evitar que nossa força de vontade única seja governada por feras… mas, para alcançar esse objetivo, tudo o que fazemos viola as regras da natureza humana. O coletivo que formamos, tudo o que ele faz — obter recursos, fortalecer-se e procriar — apenas reflete a natureza das feras. Os humanos, na verdade, não são diferentes dos monstros. É apenas que a flexibilidade de nossos cérebros nos fez enganar a nós mesmos. Os humanos são apenas um dos animais. Nascemos como toda a vida e morreremos como toda a vida.”
Os olhos da Sra. Lu tinham um olhar morto. “A civilização humana é tão inútil quanto sua ciência e tecnologia.”
Ela parou de falar e ficou olhando para o teto por um longo tempo. An Zhe viu suas palmas pressionarem um botão escuro e, em seguida, girá-lo levemente.
O metal à prova de radiação no teto foi aberto. Este era o último andar do Jardim do Éden e havia um céu infinito do lado de fora do vidro. À noite, o vento solar parava temporariamente e o crepúsculo silencioso e a Via Láctea se derramavam juntos.
An Zhe sussurrou: “Haverá dias melhores”.
Talvez houvesse um dia em que os juízes não precisariam matar seus semelhantes, os soldados não precisariam morrer na selva e as meninas do Jardim do Éden seriam livres novamente.
“Não”, ele ouviu a Sra. Lu dizer. “Está chegando a hora em que o mundo estará completamente destruído.”
“Lily.” Ela se virou para a menina em seus braços. “Você quer voar?”
An Zhe viu seu perfil gentil, ouviu essas palavras e de repente sentiu um arrepio.
Ele ouviu Lily perguntar com uma voz clara de onde estava segurando o pescoço da senhora Lu: “Posso? Como Sinan?”
“Sim.”
Nesse momento, An Zhe finalmente entendeu as intenções de Sinan ao enviar Lily de volta ao Jardim do Éden. Era o contrário do que eles imaginavam na época.
Voltar ao Éden — não porque era seguro.

Continua…