Ler No c* da Cobra – Capítulo 17 Online
— Não. Não posso me permitir entender mal outra vez… — Hilde balançou a cabeça rapidamente. — Da última vez, quase arruinei tudo com minhas ilusões.
Aquela absurda fantasia de que seu mestre a salvara do monstro, seguida pela confissão imprudente desse pensamento, o havia ofendido profundamente. Não podia repetir o mesmo erro e irritar novamente o homem que tinha sua vida nas mãos.
Então, seu olhar, que vagava entre os cavaleiros, deteve-se em uma figura específica. O homem que parecia a própria personificação da arrogância e da crueldade. Mesmo nas primeiras horas da manhã, mantinha-se impecavelmente composto.
De repente, ela se lembrou do instante em que ele apertou seu pescoço.
Ele era um predador. O alfa da matilha, soberano supremo. Inúmeras vítimas deviam ter sido dilaceradas por suas presas ocultas.
‘Ele é assustadoramente… bonito.’
O pensamento a surpreendeu. Ela sacudiu a cabeça, tentando afastar a ideia inapropriada, mas seus olhos, traidores, voltaram à janela. Jurava nunca ter visto alguém tão lindo.
Cabelos negros como o céu noturno, sobrancelhas marcantes, nariz imponente e lábios sensuais. Um maxilar definido e afiado. Porém, o mais cativante e aterrorizante no homem, eram seus olhos dourados.
Ela ficou hipnotizada pela intensidade brilhante do ouro, observando as pupilas levemente estreitas. Então, ele virou a cabeça em direção à carruagem. Seus olhares se encontraram.
— …!
Ela se sobressaltou, desviando rapidamente os olhos. O coração acelerou. ‘Será que… ele percebeu?
Esperou que ele abrisse a porta e a repreendesse por ousar encará-lo. O medo fez seu corpo tremer.
Mas os segundos passaram, a carruagem voltou a se mover… e nada aconteceu.
O grão-ducado de Oaklien assemelhava-se a uma fortaleza colossal. Os altos muros de pedra, estendendo-se além do portão externo, eram a primeira prova disso.
Hilde cerrou as mãos enquanto a ponte levadiça descia lentamente. Sentia o suor acumular em suas palmas.
Então este é o território dos Bertolph…
Provavelmente jamais deixaria aqueles portões — pelo menos não até o dia de sua morte. Uma sombra de tristeza cruzou seu rosto.
Não guardava apego sentimental ao seu reino caído. Não havia criado laços significativos ali. Sua vida sempre fora uma luta constante, cada lembrança mais dolorosa que a anterior.
Com exceção de uma…
Uma pontada aguda no peito a fez segurar o colar antigo escondido sob as roupas. A dor fantasma desapareceu tão rápido quanto viera, como se fosse apenas um sonho.
‘Vai ficar tudo bem. Este é só mais um lugar onde as pessoas vivem… não é?’
Falou consigo mesma. Não houve resposta, como sempre, mas decidiu acreditar. Era também seu mais fervoroso desejo.
Mesmo que agora seja difícil e doloroso… com o tempo, tudo vai ficar bem.
A carruagem, que havia parado, voltou a avançar, cruzando a ponte e seguindo em direção à residência ducal. Hilde apertou o colar com força, rezando por um destino que não podia prever.
Que pudesse viver por pelo menos mais um dia. Que lhe fosse concedida, ainda que mínima, uma migalha de felicidade.
Era o dia do retorno vitorioso do Arquiduque de Oaklien, senhor das terras férteis e prósperas de Bertolph.
Pouco depois do toque da trombeta nos muros externos, a criadagem, alertada, alinhou-se diante do portão principal.
— Bem-vindo de volta, Vossa Graça.
Alois, o idoso mordomo responsável pela propriedade, fez uma reverência profunda enquanto o Arquiduque desmontava de seu imponente cavalo negro. Os demais serviçais imitaram o gesto.
— Parabéns pela vitória.
— Apenas fiz um favor a todos.
Apesar da resposta sarcástica do mestre, Alois replicou com calma:
— Vossa Graça é um herói para o Império e para Bertolph.
— Chega de bajulação.
O Arquiduque interrompeu, virando-se para a porta aberta da carruagem.
‘Ele trouxe alguém consigo?’ Alguém importante o bastante para compartilhar sua carruagem.
— Saia.
O mordomo, sem ousar perguntar, ajustou discretamente o monóculo e sinalizou para Moritz, que estava atrás do mestre. Porém, o homem, que deveria explicar a situação, fingiu ignorância, desviando o olhar.
‘Hmm?’
Alois estranhou ainda mais. Seus olhos se arregalaram quando viu quem descia da carruagem.
Ele trouxe… uma mulher?
Era inédito. O Arquiduque nunca se aproximou de uma mulher. Houve um noivado arranjado na juventude, mas fora rompido quando ele abdicou do título real. Desde então, permaneceu absolutamente só. Enquanto nobres de sua idade já tinham filhos, ele mantinha-se inflexivelmente solteiro. Aquilo, portanto, era excepcional.
— Vossa Graça, a pessoa que o acompanha é…?
Alois usou um título respeitoso ao se dirigir a Hilde.
— Minha escrava.
— Perdão?
— Um achado útil entre os prisioneiros.
Alois ficou internamente perturbado.
Mas… em todas as guerras, ele nunca demonstrou interesse por prisioneiros. Além disso, a “escrava” não vestia trapos. Seu vestido de seda fina envolvia-lhe o corpo delicado com luxo incomum.
Tentando decifrar as intenções do mestre, ele perguntou:
— Vossa Graça, por escrava, quer dizer…?
— Você não vivia dizendo que precisava de alguém para me servir?
Alois já sugerira um jovem de confiança para a função, mas fora recusado na hora.
Ah, talvez…
O velho mordomo cogitou a possibilidade: escravas belas costumavam servir a um propósito específico entre a nobreza.
— Providenciarei o treinamento dela.
Enquanto Alois refletia, o olhar do duque pousou sobre Greta, a governanta.
— Onde ela vai ficar?
— O quarto adjacente está vago?
A resposta foi imediata.
O mordomo se espantou. Até Greta, imperturbável, arqueou ligeiramente as sobrancelhas.
— Refere-se ao aposento ao lado do seu quarto principal?
— Há outro adjacente? — retrucou o homem, franzindo a testa.
— Não, Vossa Graça. Prepararei como ordena.
Greta recuou para providenciar os preparativos, e Alois voltou-se respeitosamente para o mestre.
— O jantar e o banho estão prontos. Por favor, descanse da viagem.
O Arquiduque começou a caminhar, mas, antes, virou ligeiramente a cabeça e deu uma ordem:
— Me siga.
A pequena mulher hesitou, mas seguiu-o apressadamente.
Definitivamente, não é uma nobre. Alois observou sua postura e trocou um olhar significativo com Greta e Moritz.
— Cuidarei do jantar de Sua Graça. Deixo o resto com você.
— Falaremos dos detalhes depois.
Ele assentiu brevemente e seguiu às pressas para o salão de entrada. Servir a primeira refeição do mestre após o retorno era um dever que ele jamais negligenciaria — e, talvez, uma oportunidade para descobrir mais sobre aquela nova “escrava”.
Assim que o mordomo entrou na mansão, os criados se dispersaram como a maré recuando. Greta virou-se para Moritz.
— Senhor Lemon, preparei uma refeição para os cavaleiros no salão de banquetes.
Na verdade, as tropas enviadas para aquela guerra não eram a elite do Arquiduque. Ele pretendia partir sozinho, mas as súplicas insistentes por uma escolta mínima o fizeram ceder.
Ainda assim, todos os cavaleiros da Casa Oaklien retornaram vivos, sem uma única baixa. E, enquanto o duque esteve fora, o imperador não ousou tocar em Bertolph — o resultado perfeito.
— Todos trabalharam duro. Graças a vocês, Sua Graça está a salvo e o território permanece em paz.
Moritz se inclinou num cumprimento militar, seguido pelos cavaleiros atrás dele.
— Obrigado, senhora.
Os homens seguiram para a refeição. Quando Moritz se preparava para acompanhá-los, Greta interceptou o homem discretamente.
— Senhora Greta?
— Vai me dizer a verdade agora.
— O que quer dizer…? — ele tentou disfarçar, mas não podia escapar do olhar experiente da governanta.
— Senhor Lemon.
O simples tom calmo com que pronunciou seu nome gelou-lhe a espinha. Greta já servira a mãe do duque e, em sua juventude, fora dona de uma casa viscondal. Ele não era páreo para ela nem em experiência, nem em anos.
— Mesmo eu, que pouco entendo dos assuntos externos, sei que não se traz uma escrava comum numa carruagem.
Moritz engoliu em seco. Enfrentar as perguntas afiadas dela era mais assustador que marchar para o campo inimigo.
— Especialmente uma mulher de um reino derrotado… Sua Graça deve ter tido um motivo muito forte para trazê-la. — Ela cruzou os braços, pressionando-o. — Então… qual é?
Seguindo Benedict, Hilde parou subitamente ao alcançar a entrada escancarada da mansão. O interior era grandioso, imponente.
Sua elegância fazia empalidecer o luxo que ela vira quando, anos atrás, entrara na casa de um conde como criada.
Será que eu deveria entrar?
Parecia errado que uma escrava de origem humilde pisasse naquele chão imaculado. Temeu deixar marcas de sujeira. Hesitou.
— O que está esperando? — Benedict, já bem à frente, virou-se com a sobrancelha arqueada.
Hilde correu para alcançá-lo.
— Perdão por fazê-lo esperar.
— Não precisaria se desculpar se não causasse atraso. — O tom cortante fez Hilde encolher-se.
— Desculpe… vou ter mais cuidado.
Sob o olhar avaliador dele, ela se enrijeceu. Após um momento, ele indicou, com o queixo, algo junto ao peito dela.
— Por que trouxe isso?
— Ah… — ela olhou para a capa que carregava. — Achei que fosse… preciosa.
A um gesto dele, uma criada se aproximou e tomou a peça de suas mãos. A súbita ausência do tecido macio e quente deixou-a estranhamente vazia, mas reprimiu a sensação.
Ele desviou o olhar e retomou o passo. Ela apressou-se para acompanhá-lo.
Ainda bem… ele não disse mais nada.
Mas Hilde se enganava ao pensar que estava livre. O verdadeiro problema começou quando, ao chegar ao salão de jantar, Benedict deu uma ordem seca aos criados:
— Todos, saiam.
Alois, que acabara de entrar para supervisionar a refeição, arregalou ligeiramente os olhos.
— Mas, Vossa Graça, então não haverá quem o sirva…
— Haverá.
O olhar do duque pousou na pequena mulher parada sozinha. Hilde estremeceu ao sentir uma dúzia de olhares se voltarem para ela.
— Quem mais serviria ao mestre, senão a escrava?
Mas uma escrava de nascimento humilde, estrangeira, dificilmente conheceria os costumes do Império ou a etiqueta à mesa da nobreza sem treinamento prévio.
Por isso, Alois tentou mais uma vez:
— Vossa Graça…
— Não me faça repetir.
Foi interrompido antes que pudesse concluir. Sem alternativa, conduziu os criados para fora do salão.
Hilde, a princípio, achou que tinha entendido errado. Mas, quando ficou sozinha com Benedict, não restavam dúvidas.
— O que está esperando? Me sirva.
A boca ficou seca, e ela mal conseguiu pronunciar:
— Mestre, e-eu…
— Não disse que não preciso de uma escrava inútil?
Continua…
Tradução Elisa Erzet
Ler No c* da Cobra Yaoi Mangá Online
Sinopse:
Ele falhou em salvar Hilde 999 vezes. Isso significava que o coração de Benedict havia sido dilacerado 999 vezes. Implorando por uma última chance, ele voltou no tempo, mas perdeu todas as lembranças sobre ela — a mulher que sempre esteve gravada em cada uma de suas memórias, emoções e alma. Isto é, até que ele capturou uma escrava, uma prisioneira de um reino caído.
— Eu… eu pensei que talvez seu ferimento fosse em parte culpa minha, mestre.
A mulher era absurdamente irritantemente gentil. É por isso que o incomodava, por isso que permanecia encrustada em seus pensamentos, ela estava tão estranhamente, persistentemente cravada em sua mente.
— Existe sempre um preço para um acordo. Não é?
— Qualquer coisa. Eu farei o que você pedir…
— Isso não é muito atraente. Um escravo obedecendo ao seu mestre é um dado adquirido.
Ele queria fazer aqueles olhos cor-de-rosa chorarem até ficarem inchados. No entanto, ao mesmo tempo, queria desesperadamente abraçar e beijar a mulher.
Mesmo assim, Benedict não se lembrava. Ele não recordava do quanto a amava, o quão desesperadamente ansiava que ela vivesse.
Ela era sua linda e preciosa escrava, exercendo poder divino e curando os outros. Um dia, ele decidiu que daria tudo a ela. Foi então que o passado esquecido desabou sobre ele.