Ler No c* da Cobra – Capítulo 16 Online

Modo Claro

Por um breve instante, uma expressão ferida cintilou em seu rosto. Desapareceu tão rapidamente quanto surgiu, como se ela tivesse consciência disso, mas não rápido o bastante para que Benedict deixasse de notar.

“Uma escrava, com sentimentos feridos? Absurdo.”

Ele zombou em silêncio. Será que ela pensava que ele ficaria grato e a estimaria por usar seu magnífico poder divino para curá-lo? Nem pensar.

Ela ofereceria sua habilidade até a última gota, querendo ou não. Ele se certificaria disso.

— Você não quer? — perguntou o homem.

Ela balançou a cabeça, os lábios firmemente cerrados como se contivesse as lágrimas. Um momento depois, uma luz dourada floresceu na ponta de seus dedos, espalhando-se até cobrir toda a mão. Era uma luz cálida, como o estalar de um fósforo no inverno.

Benedict observou com satisfação, acompanhando do início ao fim o fluxo do poder divino saindo do corpo dela. Pouco se sabia sobre tal poder.

Aqueles que o manifestavam eram raríssimos, surgindo apenas uma ou duas vezes por século, e a maioria tentava esconder seu dom.  

Agora, ele tinha o sujeito perfeito para extrair todas as informações. Sua condição de escrava, incapaz de desafiá-lo, sua natureza ingênua e excessivamente compassiva… tudo seria útil.

— … Mestre.

A voz de Hilde, fraca e cansada, chegou até ele quando terminou de curá-lo. Seu rosto estava visivelmente mais pálido.

— Parece que seu magnífico poder divino não é infinito. 

 Se tivesse limites, seu valor diminuía. Benedict avaliou mentalmente o valor de sua escrava.

— Posso… continuar a curá-lo. Porém… quanto mais cansada eu ficar… mais tempo vai levar… — disse ela, arfando. O peito subia e descia rapidamente. — Por favor… não se machuque de propósito.

— Por quê? É demais para você?

— Não é isso… — Seus lábios pálidos e ressecados se entreabriram. — Se a cura… demorar, o senhor… terá que suportar a dor por mais tempo…  

Naquele instante, ao ver a piedade e a preocupação refletidas em seus olhos cor-de-rosa, um único pensamento passou pela mente de Benedict: ‘Como ousa?’

O rosto dele se contorceu em uma careta. Uma onda insuportável de desagrado o inundou. ‘Você… com pena de mim?’

— Argh! — 

Ele puxou bruscamente seus cabelos prateados, arrancando um leve gemido. Aproximou o rosto do dela e ameaçou com voz carregada: 

— Você sabe qual é a expectativa de vida de uma escrava?

— Ai…

— Saiba qual é o seu lugar. — Uma escrava podia ser descartada a qualquer momento, caso desagradasse ao mestre. Benedict continuou, em um tom baixo e assustador:

— Quer eu rasgue sua carne ou quebre seus ossos, você continuará a usar diligentemente esse seu talento medíocre. — Ele apertou ainda mais seus cabelos. — Porque essa é a sua única chance de sobreviver.

A soltou de repente, seu corpo esguio balançou perigosamente. Ela se firmou com as mãos no chão, respirou fundo e, trêmula, assentiu fracamente.  

— Se entendeu, sente-se direito. Não seja um incômodo. 

 Benedict vestiu uma camisa limpa e chutou com a ponta da bota a caixa de medicamentos no chão. Os frascos colidiram uns contra os outros.  

— E-Eu vou arrumar iss—

Hilde apressou-se a recolher os frascos e os panos ensanguentados. O dorso de suas mãos estava ressecado e esbranquiçado, marcado por incontáveis horas de trabalho.  

Benedict olhou para elas com expressão indiferente, logo em seguida voltou seu olhar para a janela. Os pequenos ferimentos de uma escrava insignificante não lhe diziam respeito.  

Depois que os feridos foram tratados e os preparativos para a partida concluídos, Hilde ficou sozinha na carruagem. O Duque preferiu seguir a cavalo.  

Por isso, ela se remexia ansiosa. Dobrando cuidadosamente a capa rasgada de Benedict, aguardou que a carruagem parasse. Ao anoitecer, avistou-o por perto. Segurando a capa, aproximou-se.

— Mestre.

Benedict, que dava instruções para a programação do dia seguinte, voltou-se para olhá-la.

— Perdoe-me o incômodo. Eu… eu irei a pé, por favor, volte para a carruagem.  

A reação dele, no entanto, foi fria.

— Eu disse que você podia sair assim como bem entendesse?

— E-Eu…

— Cale a boca e fique quieta. Não seja um estorvo.  

Sua postura, mais do que fria, tratava-a como uma pedra no caminho. Hilde perdeu toda coragem de falar mais.  

Derrotada, voltou para a carruagem, ainda com a capa nas mãos. Logo depois, ouviu a porta ser trancada por fora.  

‘Devo tê-lo desagradado com o que disse.’

Só então percebeu o quanto foi presunçosa ao pedir que não se ferisse mais.  

— Eu só… estava preocupada… 

 O arrependimento corroía-a por falar demais. Uma escrava, destinada a obedecer sem questionar, ousara incomodar o grande Duque. O medo apertou-lhe o peito, antecipando as consequências.  

Mas Hilde sabia a verdade: ‘Mesmo assim… eu não poderia deixar de dizer.’ Mesmo se pudesse voltar no tempo, falaria novamente. No fim, simplesmente não conseguia evitar.

Apenas o ritmo da respiração suave preenchia o silêncio da carruagem. Benedict observava a mulher encolhida adormecida profundamente. A luz do luar, caindo sobre seus cabelos prateados, criava um brilho tênue.  

Pálida.

Os cabelos, como fios de prata finamente tecidos, sua pele, tão clara que as veias azuladas apareciam sob ela. As únicas cores em seu rosto vinham do rosa de seus olhos, e do leve rubor nos lábios.

Ele segurou seu pescoço com delicadeza, virando-o de lado com uma pressão quase imperceptível. O ferimento estava curando, mas uma linha tênue permanecia.  

Em seguida, removeu a bandagem do ombro para inspecionar o ferimento da flecha. Estava cicatrizando lentamente, sem mudança significativa. Benedict inclinou levemente a cabeça.  

— Ela não se cura… mesmo depois que seu poder divino foi revelado… — murmurou, já sabendo a resposta.

— Honestamente… — Um sorriso torto surgiu em seus lábios. O olhar, observando algo tão frágil e patético, carregava apenas diversão fria. — Que habilidade tão conveniente de explorar.  

Benedict tinha certeza: ela não podia usar seu poder divino em si mesma.

Apesar de não intencional, Hilde passou os dias seguintes sozinha na carruagem, experimentando um conforto jamais conhecido.  

— Café da manhã.

— Obrigada. 

Hilde recebeu a refeição do ajudante, fazendo uma reverência.

— Não precisa trazer para mim todas às vezes…

— Ordens de Sua Graça. 

 Moritz interrompeu-a secamente, fechando a porta e deixando-a novamente sozinha. 

Hilde encarou a comida fumegante e sussurrou:

 — Será que… isso é permitido?  

Toda a sua vida foi preenchida com trabalho incessante, do nascer ao pôr do sol. Suas mãos viviam cheias de bolhas, e o cansaço a fazia dormir dolorida.  

A ociosidade era estranha, perturbadora. E não apenas isso. As refeições chegavam sempre no horário, e também, água e toalhas para se lavar. Duas ou três vezes ao dia, durante paradas necessárias ou descanso dos cavaleiros, ela podia sair para respirar ar puro.

Ao anoitecer, dormia na carruagem, protegida do vento, da chuva e do orvalho. Encolhida nas almofadas macias, envolta em um cobertor grosso, caía num sono sem sonhos. O balanço constante da carruagem não a incomodava.

Mas o conforto do corpo era inversamente proporcional à inquietação no coração.  

‘Isso é… demais.’

Era tudo excessivo para uma escrava. Não se surpreenderia se fosse arrastada para fora a qualquer momento, amarrada e forçada a caminhar.

O olhar de Hilde desviou para a janela. Observou os cavaleiros que saíam do alojamento da noite anterior, tomando seu café da manhã.

— Espero que a estalagem desta noite seja melhor. 

O alojamento anterior mal merecia o nome de estalagem. Sua carruagem era muito mais luxuosa.  

Talvez por isso se sentisse tão constrangida ao receber aquela refeição.

‘… Será que ele está… considerando meu bem-estar?’

A princípio, a ordem para permanecer na carruagem a deixou assustada. Mas, no fim, ela era quem mais se beneficiava.

Continua…

Tradução Elisa Erzet 

Ler No c* da Cobra Yaoi Mangá Online

Sinopse:
Ele falhou em salvar Hilde 999 vezes. Isso significava que o coração de Benedict havia sido dilacerado 999 vezes. Implorando por uma última chance, ele voltou no tempo, mas perdeu todas as lembranças sobre ela — a mulher que sempre esteve gravada em cada uma de suas memórias, emoções e alma. Isto é, até que ele capturou uma escrava, uma prisioneira de um reino caído.
— Eu… eu pensei que talvez seu ferimento fosse em parte culpa minha, mestre.
A mulher era absurdamente irritantemente gentil. É por isso que o incomodava, por isso que permanecia encrustada em seus pensamentos, ela estava tão estranhamente, persistentemente cravada em sua mente.
— Existe sempre um preço para um acordo. Não é?
— Qualquer coisa. Eu farei o que você pedir…
— Isso não é muito atraente. Um escravo obedecendo ao seu mestre é um dado adquirido.
Ele queria fazer aqueles olhos cor-de-rosa chorarem até ficarem inchados. No entanto, ao mesmo tempo, queria desesperadamente abraçar e beijar a mulher.
Mesmo assim, Benedict não se lembrava. Ele não recordava do quanto a amava, o quão desesperadamente ansiava que ela vivesse.
Ela era sua linda e preciosa escrava, exercendo poder divino e curando os outros. Um dia, ele decidiu que daria tudo a ela. Foi então que o passado esquecido desabou sobre ele.

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