Ler Lamba-me se puder – Capítulo 98 Online

— Fui proibido de jogar?

A voz de Ashley se elevou involuntariamente diante da notícia repentina. O treinador soltou um suspiro com expressão séria antes de continuar.

— As regras mudaram há poucas semanas. Qualquer alfa ou ômega que tenha se manifestado não pode mais competir, seja no júnior ou no profissional.

— Por que… de repente?

Enquanto Ashley lutava para falar, um rosto surgiu em sua mente. O treinador respirou fundo novamente e ofereceu palavras de conforto.

— De qualquer forma, é a nova regra. Sinto muito. Vou sentir muita falta de você em campo, mas…

Ashley permaneceu em silêncio por um tempo até finalmente abrir a boca com dificuldade.

Ashley ficou em silêncio por um momento antes de finalmente perguntar:

— Então… a partir de quando?

O treinador fez uma pausa antes de responder.

— A partir do próximo ano.

Logo seria o Dia de Ação de Graças. Até o Ano-Novo não haveria jogos. Depois disso, viriam as finais da temporada. ‘E agora, depois de ter chegado tão longe, ser afastado da partida…’

— …Haah.

Ashley respirou fundo tentando conter a raiva que borbulhava em seu peito. Não poderia descontar sua frustração injustamente no treinador. Afinal o Buffalo não era o único time afetado com essa mudança nas regras.

— …Entendido. Então, a próxima partida será a minha última.

— Ah… é que… — O treinador coçou a sobrancelha enquanto falava. — Já encontrei um substituto para ocupar a sua posição, e como ele precisa de tempo para se adaptar ao time… decidimos que ele começará a jogar já na próxima partida. Seria arriscado colocá-lo diretamente nas finais, não acha?

Ashley ficou sem palavras e apenas encarou o rosto do treinador. Ser cortado assim, de repente? O time de hóquei no gelo do colégio nem sequer era profissional, era mais como um hobby. Mas ele havia se dedicado de corpo e alma até agora. Toda aquela rotina pós-aula, que parecia tão natural, desapareceria de um dia para o outro.

O rosto dos amigos com quem jogava juntos surgiu diante de seus olhos, fazendo com que ele cobrisse ambos com uma das mãos. Uma enxurrada de emoções o invadiu, mas todas pareciam inúteis. Então, respirando fundo, Ashley abaixou lentamente a mão.

— …Então, não tem o que fazer.

— …Sinto muito.

O treinador abaixou a cabeça, pedindo desculpas. ‘Deve estar tão desolado quanto eu. A temporada está em pleno andamento e perder o jogador principal…’ Ashley não quis mais atormentá-lo e apenas se afastou.

— Obrigado por tudo até agora.

Quando Ashley se despediu, o treinador se levantou e estendeu uma mão. Ele apenas trocou um aperto de mãos rápido e saiu da sala.

Então foi por isso que hoje não teve treino.

Ao lembrar dos amigos que haviam ido animados para casa mais cedo, sentiu um gosto amargo. Quando disseram para que ele aguardasse, pensou vagamente que o treinador teria algum comentário específico sobre a próxima partida. Mas ser cortado de repente? ‘Será que alguém imaginava que isso ia acontecer?’

A resposta veio logo. Assim que o toque do celular soou, Ashley conferiu o identificador da chamada e sua expressão se fechou.

— A conversa com o treinador correu bem?

Do outro lado, a voz fria e profissional soou. Ashley demorou alguns segundos antes de abrir a boca.

— …Foi o pai, não é? Quem mudou as regras.

A secretária de seu pai respondeu de forma indiferente:

— De qualquer jeito, não planejava parar de competir a partir do próximo ano?

‘E então, por que diabos ele precisou mudar as regras só para me forçar a parar?’

Ashley sabia a resposta. ‘Aquele homem só queria bagunçar a minha vida do jeito que bem entendesse.’

‘Como se quisesse exibir que eu estou na palma da mão dele.’

— Deveria ter mandado flores no Dia dos Pais? — Ashley ironizou.

Mas a secretária respondeu com a mesma calma de sempre:

— Se pensar assim te consola, podemos considerar que foi isso mesmo.

Ashley conteve o desejo de gritar e, em vez disso, cerrou os punhos. Aquela mulher só estava fazendo o trabalho ordenado do pai dele. A pessoa para quem ele queria gritar e descarregar sua raiva era o próprio pai. Mas Ashley não faria isso. Encontrar-se com ele seria a coisa mais desnecessária de todas. Em vez disso, reprimiu as emoções e abriu a boca de forma o mais fria possível.

— De qualquer forma, diga a ele que deu tudo certo, exatamente como queria. Embora eu saiba muito bem por que não pôde esperar até o fim da temporada.

— Entendido. Precisa de mais alguma coisa?

Diante da resposta mecânica, Ashley perguntou com sarcasmo:

— Me coloque de volta no time de hóquei.

— Não é possível, como já deve saber.

Ela recusou de imediato e então perguntou:

— Mais alguma coisa?

Soava como se estivesse zombando dele, mas Ashley também sabia que ela apenas cumpria o papel que lhe fora dado.

— Não.

— Entendido. Então, até mais.

A ligação foi encerrada primeiro do outro lado. Ashley ficou olhando o celular por um instante antes de guardá-lo no bolso da calça novamente. Seus passos ecoavam pelo longo corredor e, de repente, lhe pareceram incrivelmente solitários.

***

— Ash!

Como de costume, após o treino da equipe de líderes de torcida, Koy correu ofegante até ele. Ashley, que o esperava encostado no carro, abriu os braços e Koy se atirou naturalmente contra seu peito. Como polos opostos de um ímã, os dois se uniram com força.

— Senti sua falta. — Ashley sussurrou.

Koy o abraçou com todas as forças, esfregando a bochecha contra o peito largo dele.

— Eu também.

Ashley sorriu e esfregou o rosto nos cabelos do topo da cabeça dele. Queria ficar assim para sempre. Mas, se não partissem logo, alguém poderia acabar descobrindo-os.

— Esperou muito? Disseram que hoje não teria treino hoje. Podia ter ido embora antes.

Subindo apressado no banco do passageiro, Koy esperou que Ashley se sentasse ao volante antes de falar. Sentia um pouco culpado por tê-lo feito esperar, mas Ashley respondeu ligando o carro:

— Não esperei tanto assim. O treinador queria conversar comigo.

— Ah, é? E como foi?

Koy pensou que fosse algo relacionado à partida, mas Ashley abriu a boca:

— Eu não vou poder jogar a partir da próxima.

— O quê? Por quê?

As palavras saíram tão naturalmente que Koy chegou a duvidar dos próprios ouvidos. Seus olhos se arregalaram, mas Ashley continuou olhando fixamente para a frente enquanto falava:

— Mudaram as regras. Jogadores que se manifestaram como alfa ou ômega não podem mais participar das partidas. Parece que isso só vale aqui e em alguns outros estados, mas, de qualquer forma, estou fora, porque vai contra o regulamento.

— Isso é…

Koy parou de falar,  sem sabier o que dizer. Ele sabia mais do que ninguém o quanto Ashley amava o hóquei no gelo. Sempre que entrava em campo, ele brilhava mais do que em qualquer outro momento e transbordava felicidade. E agora, não poderia mais vê-lo assim.

— Mas por que criaram uma regra dessas de repente? Até agora estava tudo bem.

— Bom… — Ashley fingiu prestar atenção ao semáforo para ganhar tempo antes de responder: — Também não sei.

— Isso é demais, de verdade. — Koy murmurou, sentindo-se sinceramente revoltado. Era uma regra absurda. ‘Que diferença fazia ele ser alfa ou ômega para o jogo?’

— Isso é discriminação! — Koy explodiu, algo nada comum para ele. Normalmente aceitava as injustiças quieto, mas quando se tratava de Ashley, não conseguia ficar calado. Aquilo era simplesmente revoltante.

— Ash, você não pode processar? Impedir alguém de jogar só porque se manifestou… isso não faz sentido algum!

Pela primeira vez desde que recebera aquela notícia maldita do treinador, Ashley deixou escapar uma risada.

— Poder, eu posso…

Ele achava Koy tão fofo e adorável por se indignar por sua causa que não conseguiu evitar o sorriso. E, num tom suave, completou:

— Mas até sair o resultado, eu já vou ter mais de quarenta anos e ainda não vou ter me formado no ensino médio.

— Ah… —

As palavras de Ashley fizeram Koy se sentir desanimado novamente. Ashley, por sua vez, sentiu o coração aliviar-se um pouco graças a ele, mas ficou em silêncio. Queria continuar vendo Koy se esforçar desse jeito.

Então, depois de pensar por alguns segundos, Koy de repente virou a cabeça e perguntou:

— Quer apertar minha bunda?

— Pfft.

Ashley não conteve a risada e quase pisou no freio bruscamente. Assustado, Koy perguntou depressa:

— Vo-você está bem?

Ashley reduziu a velocidade para evitar um acidente, mas o sorriso em seu rosto não desapareceu nem um pouco.

— Será que, se eu apertar a sua bunda, vou me sentir melhor?

Com a voz ainda carregada de riso, Koy o olhou com cautela.

— A-ah, não vai?

‘Claro que iria me sentir melhor’, Ashley pensou. Mas havia uma maneira ainda mais divertida.

— E se você pegar na minha anaconda?

Koy ficou sem palavras. Apenas arregalou os olhos como se fossem rasgar, e Ashley acrescentou num tom leve:

— Brincadeira.

Dizendo isso, soltou a mão de Koy e a levou até a cintura dele. Koy levantou discretamente um dos quadris, facilitando o toque, e Ashley começou a apertar devagar o bumbum que se encaixava perfeitamente em sua mão.

— E aí, como se sente? — perguntou Koy com cautela.

— Bem. — respondeu Ashley.

Na verdade, o que ele mais queria era encostar o carro na beira da estrada e encher Koy de beijos. Mas não podia recusar a iniciativa rara do namorado. Beijos poderiam esperar.

Enquanto isso, Koy tinha pensamentos completamente diferentes. Já estava acostumado a Ashley apertar sua bunda, a ponto de achar que aquilo não era problema nenhum. Mas a repentina menção à “anaconda” o deixou atordoado. ‘Como pude esquecer disso? Ashley só está se controlando.’

‘Talvez, agora, aquilo fosse até mais reconfortante para ele…’

Enquanto pensava nisso, Ashley falou de repente:

— Koy.

— Hm. — respondeu apressado.

Ainda com os olhos fixos na estrada, Ashley continuou:

— Você quer ir para a na minha casa no Dia de Ação de Graças?