Ler Lamba-me se puder – Capítulo 75 Online

Um silêncio pesado, como nunca havia sentido antes, caiu entre eles. Koy apenas arregalou os olhos, encarando Ashley. Com as mãos nos bolsos, mantendo certa distância, Ashley disse:

— Você gosta de mim. Por isso ficou com ciúmes.

— N-não, não, não é isso, não…

Koy se apressou em negar, repetindo a mesma frase como um disco arranhado e balançando a cabeça desesperadamente. Ashley franziu o cenho diante daquela reação, mas não pretendia recuar.

— Tá na cara. Não adianta negar.

— N-não é! Eu já falei que não é! C-como você pode saber? Como?!

Diante da audácia de Koy em virar o jogo e gritar com ele, Ashley soltou uma bomba:

— Foi você quem escreveu aquele post no fórum da escola.

Mais uma vez, o silêncio caiu. Agora, Koy realmente congelou. Nem mesmo balançava a cabeça ou levantava as mãos. Apenas arregalava os olhos em choque. Depois de um tempo, conseguiu finalmente falar:

— O-o-o q-quê… q-que fórum?

Ashley respondeu com frieza, observando a maneira como ele gaguejava:

— “Me apaixonei pelo capitão do time de hóquei, que tira notas máximas nas provas e faz aulas avançadas.” Todo mundo na escola sabe. Nem tente negar.

Koy não disse nada, mas seus olhos tremiam tanto que por si só já entregavam tudo. Com uma voz fraca e trêmula, ele conseguiu perguntar:

— T-todo mundo sabe… mesmo?

Ashley respondeu sem hesitar:

— Todo mundo sabe que sou eu o cara.

— N-não fui eu que escrevi!

Koy respondeu imediatamente, balançando a cabeça com força, insistindo na negação. Ashley, então, crispou o rosto.

— Koy, lembra do que eu te disse?

Ele perguntou com uma voz calma. Koy apenas balançava a cabeça. Ashley continuou:

— Eu não vou esperar para sempre.

Koy parou. Aquelas palavras, ditas em tom sereno, o atingiram com mais força do que qualquer grito. Ele olhava para Ashley, quieto, com os olhos arregalados. Ashley prosseguiu:

— A partida de abertura da temporada tá chegando.

Não havia nem carros passando por perto. No meio daquele silêncio profundo, a voz de Ashley soava nítida aos ouvidos de Koy.

— Se vencermos esse jogo… não importa qual for a sua resposta. Eu vou tomar minha decisão.

Ashley olhava para baixo, para o garoto que não conseguia se mover.

— Entendeu, Koy? Essa é sua última chance.

Depois de encará-lo mais uma vez, Ashley se virou e começou a andar de volta para o carro. Koy o observava impotente, então, com esforço, conseguiu chamar:

— E o… baile…?

Ashley, já com a porta do carro aberta, olhou para trás e respondeu com um sorriso amargo, franzindo o cenho:

— Isso já não importa mais.

Koi só conseguiu ficar parado, olhando Ashley entrar no carro. O som do motor ligando foi seguido pela partida do veículo.

Em um piscar de olhos, ele desapareceu de sua vista. Enquanto dirigia de volta para a mansão, Ashley repetia mentalmente o que tinha dito. Não se arrependia de nada. Conhecendo o quanto Koi era indeciso, essa era a melhor forma. Além disso, quando disse que era a última vez, estava sendo completamente sincero.

De um jeito ou de outro, ele ia agir. A qualquer custo.

***

Koy ficou parado, olhando sem expressão para onde o carro havia desaparecido. A rua estava completamente deserta, nem sombras de carros passavam. Uma rajada de vento frio soprou, fazendo-o voltar a si. Ele se virou às pressas e correu para casa. Precisava tomar banho antes que o pai chegasse.

Não sabia se Ashley havia deixado feromônios em seu corpo, mas mesmo que fosse espancado pelo pai, ele não se afastaria de Ashley. Ainda assim, o melhor era evitar riscos.

Por precaução, deixou todas as janelas e portas do trailer abertas e correu para o chuveiro. Precisava terminar tudo antes do pai chegar. Também não se esqueceu de lavar as roupas que havia usado. Debaixo do chuveiro, esfregou com força a camiseta e a calça, lavou o cabelo, ensaboou o corpo duas vezes e, finalmente, vestiu roupas limpas e saiu.

Depois de pendurar as roupas molhadas no varal do lado de fora, sentiu-se finalmente aliviado. Agora só precisava se deitar na cama e ficar quieto até o seu pai chegar.

Mas assim que terminou tudo e se deitou, o silêncio que tomou conta do ambiente parecia esmagador. Koy fechou os olhos e se encolheu todo. E então, inevitavelmente, Ashley ocupou completamente seus pensamentos.

Foi aí que ele entendeu. O motivo pelo qual correu para casa, tomou banho e lavou roupas com tanta urgência era porque estava tentando adiar os pensamentos que o atormentavam. Mas agora, sem mais desculpas para se distrair, seus pensamentos foram invadidos pelas palavras que ele mais queria evitar.

“O que o Ashley quis dizer com aquilo?”

Koy fechou os olhos com força e relembrou tudo. Ashley nunca havia sido tão sério. E também, quem em sã consciência diria algo assim como uma piada?

“As pessoas se cansam em algum momento.”

Esse pensamento surgiu de repente. Koy abriu os olhos.

“Será que ele quis dizer que não gosta mais de mim?”

Talvez estivesse cansado de tudo isso. Mesmo depois de se declarar tantas vezes, Koy não acreditava, e o relacionamento dos dois não evoluía. E mais — Ashley era Ashley Miller. Ele podia ter qualquer pessoa aos seus pés.

“Fui eu que disse que ele estava enganado.”

Então, se ele parasse de gostar… e voltasse para Ariel… não seria natural? Por que eu não pensei nisso antes? Na mente de Koy, voltaram as lembranças de quando viu os dois tão próximos. Tudo se encaixava agora.

‘Se ganharmos o jogo, ele vai desistir de mim.’

‘Se vencermos essa partida, não importa sua resposta. Eu vou tomar minha decisão’.

As palavras de Ashley ecoavam dentro de sua cabeça.

“Entendeu, Koy? Essa é a última chance”.

“’É isso…” — pensou Koy. “Ele vai dizer que não gosta mais de mim.’

Ao chegar nessa conclusão, seu coração doeu tanto que parecia que ia explodir. “Faz sentido. Por isso ele disse que não se importa mais com o baile. Agora ele entende que sair comigo era uma ideia absurda.”

Com a respiração tremendo, Koy engoliu o choro. “Eu sabia que isso ia acontecer. Foi por isso que eu não quis acreditar quando ele dizia que gostava de mim. Foi por isso que recusei.”

Ele cobriu a boca com as mãos para abafar o som da própria respiração e fechou os olhos com força.

“Mesmo sabendo que era um engano… por que eu…”

Finalmente, os sentimentos que ele havia tentado enterrar começaram a vir à tona. Ele não teve escolha a não ser admitir.

“Por que eu achei que o Ashley ia continuar gostando de mim para sempre?”

Seu nariz ficou quente, os olhos se encheram de lágrimas. Koy segurou o choro o máximo que pôde.

Naquele momento, Ashley, recém-saído do banho, enchia um copo de gelo e servia uma Coca de manga, com um semblante sério.

“Em qual cômodo será melhor trancar o Koy?”

(adoro um psico)

***

— Você está muito desanimado ultimamente.

Durante um intervalo no treino, Ariel o repreendeu de repente. Koy piscou surpreso e a encarou.

— E-eu?

— É, você.

Ela o encarou com os olhos arregalados.

— Você sabe o que é ser líder de torcida, né? Como espera que os jogadores se empolguem se o líder de torcida está sem energia? Nós temos que ser mais animados que os próprios atletas! A ponto de contagiar até a torcida!

Ela apontou o dedo bem no nariz de Koy e o advertiu:

— Faz sua pimentinha arder até murchar e sumir, entendeu?

— A-entendi…

Depois de ouvir a resposta, ela se virou e foi falar com a vice-capitã que estava descansando. Koy soltou um longo suspiro e finalmente relaxou.

O treino continuava. Ariel trocava o nome dos vegetais com os quais se referia a ele, mas nunca escolhia algo grande e firme, como uma berinjela — nem mesmo um aspargo.

“Hoje sou uma pimenta…”

Koy limpou o suor e pensou. Ainda era melhor do que “brócolis”. Quando o chamou de brócolis pela primeira vez, ele ficou tão confuso que errou a batida da música. Claro que não significava nada. Ela só falava por falar.

Haa…

Desde aquele dia, Ashley não viera mais buscá-lo. Só tinha mandado uma mensagem curta: [Não vou poder passar aí por causa do treino. Desculpa. — Ash]

Antes, ele ia e voltava de bicicleta sozinho todos os dias, mas agora, passados apenas alguns dias, Koy já achava o caminho até a escola desolador.

Claro, Ashley via de outro jeito. Achava que, caso precisasse sequestrar Koy de vez, era melhor deixá-lo livre por um tempo antes. Mas Koy entendeu tudo errado.

“Acho que ele nem quer me ver mais…”

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Continua….

Tradução:  Ana Luiza

Revisão:  Thaís