Ler Lamba-me se puder – Capítulo 118 Online

Modo Claro

— Ash! Bill!

Koy gritou, pálido de pânico. Os dois garotos grandes estavam caídos no chão, sem forças, em uma cena deplorável. Koy hesitou por um momento, sem saber o que fazer. Devia ir até Ash? Mas Bill também parecia estar em péssimo estado. Ele tossia violentamente, curvado, como se tivesse usado até a última gota de energia que lhe restava. Se continuasse assim, algo terrível poderia acontecer.

Apavorado, Koy olhou de um lado para o outro, tentando desesperadamente pensar. ‘Devo ligar para o 911?’ Não, isso seria um desastre. Se chamasse a emergência, poderiam descobrir que Ash era um alfa dominante — e isso traria um problema enorme. ‘Mas não posso deixá-los assim… Tenho que ajudar o Bill. Pelo menos tirá-lo daqui primeiro…’

Nesse momento, Ash se levantou, com uma expressão assustadora, e lançou um olhar furioso para Bill. Então Koy percebeu que não havia mais tempo para hesitar.

— Ash, não!

Koy se colocou na frente deles, impedindo-o de atacar. E então, de repente, uma sensação estranha, que ele nunca havia sentido antes, cobriu todo o seu corpo.

Era como se uma corrente elétrica fraca o percorresse, ao mesmo tempo em que um arrepio gelado lhe subia pela espinha. Era uma sensação totalmente desconhecida, que o deixou paralisado por um instante. ‘O que… o que é isso?’ Sua mente ficou confusa, e ele ficou imóvel.

Ash o empurrou com força.

— Ah!

Koy cambaleou violentamente e soltou um grito involuntário, mas Ash o ignorou completamente e partiu para cima de Bill. Recuperando o fôlego, Koy correu e o agarrou pela cintura, tentando detê-lo.

— Não! Para, Ash!

— Me solta!

Ash rosnou, agarrando os braços de Koy, tentando se livrar à força. Koy o segurou com todas as suas forças e gritou:

— Você não pode fazer isso, Ash! É o Bill! Ele é seu amigo!

— Eu disse para me soltar, droga! — Ash berrou, fora de si. — Está mesmo defendendo outro cara na minha frente? Como se atreve?!

Foi a primeira vez que Koy o viu tão furioso. Aquela fúria cega, quase irracional… e, de repente, uma lembrança dolorosa atravessou sua mente.

Ele já conhecia uma pessoa assim.

Aquele olhar, aquelas palavras cuspidas com raiva, aquele gesto violento.

Era o mesmo do homem que um dia lhe lançara socos e insultos sem piedade.

Seu pai.

Ash empurrou Koy com facilidade — ele, pálido como um fantasma, não conseguiu resistir e acabou caindo pesadamente no chão, sentando-se com um baque seco.

— P-para com isso! Não! — gritou ele, a voz trêmula.

Por um momento ele ficou atordoado, mas não havia tempo para pensar. Quando viu Ash agarrar Bill pela gola, prestes a socá-lo, Koy empalideceu ainda mais e correu até eles.

— N-não faz isso! Ash, para! — gritou, a voz já embargada.

E então, incapaz de conter a emoção, Koy começou a chorar.

— Não seja como o meu pai… por favor…!

Naquele instante, Ash congelou. Atrás dele, o som abafado do choro de Koy ecoava baixinho. Aos poucos, sua visão pareceu clarear, e a cabeça começou a esfriar.

Ele olhou para a própria mão, ainda segurando a gola de Bill, e depois levantou o olhar. Bill, com metade da consciência perdida, pendia diante dele, respirando com dificuldade.

Haa… haa…

O som áspero das respirações ecoava no silêncio, o único som naquele espaço pesado. Ash ficou imóvel, apenas tentando recuperar o ar.

Aos poucos, o punho cerrado desceu. Logo depois, a força em sua mão se dissipou, e ele soltou a gola de Bill. O corpo do rapaz desabou no chão, sem forças.

Ash virou-se devagar e viu Koy ali — agarrado à sua cintura, chorando, sem soltá-lo.

Foi então que Ash percebeu o que havia feito. E, num instante, sua mente ficou completamente em branco.

 

***

 

Ash perdeu a consciência pouco depois, quando uma mulher — que havia sido chamada — chegou acompanhada por alguns homens corpulentos.

Ela avaliou a cena num piscar de olhos e deu ordens rápidas: Bill deveria ser levado imediatamente ao hospital. Depois, colocou Ash no carro com a ajuda dos outros.

Só então ela se virou para Koy.

— Venha também. Eu mesma aviso à escola o que aconteceu.

— E-eu também? — gaguejou ele, surpreso com o convite.

A mulher assentiu, mantendo o tom firme, mas gentil.

— A menos que prefira ir ao hospital. Seria bom verificar se está tudo bem com você também…

— A-ah, não, eu quero ir. Por favor, me deixe ir com ele! — disse Koy depressa, percebendo tarde demais que havia interrompido. Constrangido, baixou um pouco o tom. — Quero ficar com o Ash…

Mais precisamente, ele queria ver com os próprios olhos se Ash estava bem.

Ao lembrar que Ash havia dito que voltaria para casa apenas por um tempo, mas acabou desaparecendo por quase um ano inteiro, o coração de Koy se apertou.

Ele não queria que eles se separassem assim de novo — de um jeito tão repentino e doloroso.

Ao ver a expressão aflita de Koy, a mulher assentiu levemente. Logo em seguida, um dos homens que esperava próximo abriu a porta do passageiro do carro e se afastou respeitosamente.

Koy subiu no veículo depois dela, e só quando a porta se fechou atrás deles teve coragem de perguntar:

— E-eu… desculpe, mas… quem é você?

O que ele realmente queria saber era qual a relação dela com Ash. A mulher respondeu de maneira calma, quase indiferente:

— Essa é uma pergunta que você devia ter feito antes de entrar.

O rosto de Koy ficou vermelho de vergonha. Ela, sem dar muita importância, continuou:

— Sou a secretária do senhor Miller.

Ele levou um momento para processar o que aquilo significava, e então ela acrescentou:

— Dominique Miller, o pai do Ashley.

— A-ah… — murmurou Koy, surpreso.

De repente, percebeu que o nome “Dominique” lhe soava familiar — afinal, era o nome do meio de Ashley. Assim que compreendeu isso, o carro arrancou.

O que aconteceu depois foi um turbilhão.

Ao chegarem à mansão, um médico e uma enfermeira já os aguardavam. Eles rapidamente cercaram Ash, retiraram uma amostra de sangue e em seguida conectaram-lhe uma injeção intravenosa. O mesmo foi feito com Koy — o que o deixou completamente atordoado.

Ash que permanecia inconsciente, foi levado para o quarto e deitado na cama. A equipe médica se moveu com eficiência e logo deixou o cômodo, restando apenas Koy, a secretária e o corpo inerte de Ash.

— Haa… — suspirou ela, exausta, cruzando os braços e olhando para o rapaz deitado.

Koy hesitou diante do som daquele suspiro, sem saber se devia perguntar algo.

— Já esperávamos que algo assim pudesse acontecer… — murmurou ela, mais para si mesma.

Koy engoliu em seco, esperando que ela continuasse, mas o silêncio se prolongou até ele não aguentar mais.

— C-com licença… o que aconteceu, exatamente? O Ash vai ficar bem, não vai? — perguntou, a voz trêmula.

A mulher manteve o olhar fixo em Ash quando respondeu:

— Vai ficar tudo bem. Por enquanto.

As palavras soaram como um aviso sombrio. Koy abriu a boca para perguntar mais, mas ela retomou a fala antes que ele pudesse.

— Foi uma instabilidade de feromônios. Ele ainda não sabe controlar bem. A falta de controle emocional também deve ter contribuído.

— Então… a mudança na cor dos olhos dele foi por causa disso? — perguntou Koy, lembrando-se da cena.

Ela assentiu.

— Quando um alfa extremo libera feromônios em excesso, a cor dos olhos muda. Acontece durante o rut ou quando há uma liberação forçada. Desta vez, pelo que parece, o senhor Miller não fez de propósito. Provavelmente foi um caso de liberação excessiva por falta de controle.

— Entendo… — respondeu Koy em voz baixa, assimilando a explicação.

Mas então a secretária o encarou e devolveu a pergunta.

— Agora é a minha vez de perguntar. O que exatamente vocês três estavam fazendo lá? O que aconteceu antes disso?

Era uma pergunta natural, mas Koy encolheu os ombros, visivelmente desconfortável. Ainda assim, começou a explicar tudo, com a voz trêmula. Durante toda a narrativa, ela permaneceu em silêncio, escutando atentamente.

Quando ele terminou, a mulher ficou pensativa por alguns segundos, depois soltou outro suspiro profundo.

— Então, no fim, foi por sua causa, não foi?

— …Sim. — respondeu ele, a voz quase inaudível.

Não havia como negar. Tudo havia  acontecido por causa dele — por causa de um erro seu. O peso da culpa o fez abaixar a cabeça, os punhos cerrados no colo.

Mas, nesse momento, o toque de um telefone rompeu o silêncio.

A secretária pegou o celular, conferiu o nome do remetente e atendeu imediatamente. Depois de algumas palavras curtas, encerrou a ligação e voltou-se para Koy.

— Era do hospital. Seu amigo está bem.

— O Bill? — perguntou Koy, os olhos brilhando de alívio.

A secretária confirmou.

— Ele foi afetado pelos feromônios do Sr. Miller, mas estão removendo com injeções e disseram que não deve haver grandes problemas. É uma sorte, não?

— Sim, realmente.

Enquanto ele soltava um suspiro de alívio, a secretária de repente estreitou os olhos.

— Mas por que você não foi afetado?

— Hã? — Ele piscou, confuso com a pergunta repentina.

A mulher franziu o cenho e prosseguiu:

— Da outra vez quando o senhor Miller passou pela manifestação, você também estava por perto, não estava? E, ainda assim, não sofreu nenhum efeito. Agora, novamente — seu amigo, outro beta, teve reações fortes o bastante para desmaiar e vomitar, mas você…

Ela olhou para Koy da cabeça aos pés e então fixou o olhar em seu rosto novamente, perguntando:

— Você está perfeitamente bem, não acha?

— Eu… — Koy hesitou, sem saber o que responder.

Isso era algo que o próprio Koy não sabia explicar. Por que ele não era afetado pelos feromônios de Ashley? De repente, Koy se lembrou de que, assim que chegaram à mansão, seu sangue foi coletado.

— A propósito… meus exames… como saíram? Foi por isso que tiraram meu sangue, não foi?

— Sim. — Um sorriso torto e breve surgiu no rosto dela, com um tom quase irritado.

— Você continua sendo um beta. Nenhum sinal de manifestação. Nenhuma mudança. E me diga… qual  é o motivo disso?

Koy ficou em silêncio, balançando a cabeça, incapaz de dar uma resposta. A secretária, então, lançou outra pergunta inesperada:

— Será que, no fundo, você não gosta mesmo de Ashley Miller?

Diante da declaração inesperada, Koy ficou instantaneamente alerta. A secretária, ainda de braços cruzados, continuou:

— Quer dizer, você está rejeitando com todo o seu corpo, porque no fundo você não quer o Ashley Miller.

— O quê? Isso não é verdade! — exclamou ele, indignado

— Não minta. Você não gosta do Ashley Miller.

O tom dela era frio, quase zombeteiro.

— Seu pai é um alcoólatra que te espanca, não é? Sua mãe te abandonou depois do divórcio e nunca mais procurou saber de você. E até agora, você viveu sem amigos, sempre sozinho. Estou errada?

Koy congelou. ‘Como ela sabe tudo disso?’

Aterrorizado, percebeu que haviam investigado sua vida pessoal. Um arrepio lhe percorreu o corpo.

A mulher sorriu de leve, como se tivesse adivinhado seus pensamentos.

— Você está se enganando. O que sente não é amor. Você só não quer perder a única pessoa que te tratou com carinho.

— Não! Eu… eu realmente gosto do Ash… — tentou argumentar Koy, a voz trêmula.

— Se realmente o amasse, já teria se manifestado há muito tempo. —

A afirmação dela o atingiu como um golpe. Ele insistiu, quase chorando:

— Isso não tem nada a ver!

Mas ela continuou, implacável:

— As pessoas sempre querem se parecer com quem amam. Querem partilhar gostos, hábitos… Se até uma simples mania pode ser copiada, imagine algo tão profundo quanto a manifestação. Quando o outro se manifesta, é natural desejar o mesmo — querer estar à altura, compartilhar o mesmo mundo. E você teve várias oportunidades, Koy. Várias. Mas nunca aconteceu. Por quê?

Pela primeira vez, Koy sentiu uma mistura intensa de injustiça e raiva. ‘Como ela podia dizer isso?’ Como podia negar o que ele sentia, apenas porque não tinha se manifestado?

— Se fosse possível conter uma manifestação só com força de vontade… então eu seria um caso de estudo, não é?! — gritou, a voz embargada.

A mulher arqueou uma sobrancelha, com um sorriso frio.

— Exatamente. Então, não acha que você é um tanto… peculiar?

Koy não conseguiu dizer mais nada. Ele apenas mordeu o lábio com força, com os olhos marejados de lágrimas. Por mais que negasse, a realidade não mudava. No final, as lágrimas começaram a cair, uma após a outra, e logo ele chorava baixinho, impotente diante das palavras cruéis dela.

 

°

°

Continua….

 

Tradução:  Ana Luiza

Revisão:  Thaís

 

 

 

 

Ler Lamba-me se puder Yaoi Mangá Online

Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can

Gostou de ler Lamba-me se puder – Capítulo 118?
Então compartilhe o anime hentai com seus amigos para que todos conheçam o nosso trabalho!