Ler Lamba-me se puder – Capítulo 107 Online
‘Estou enjoado.’
‘Foi a primeira coisa que senti. Assim que essa sensação ganhou vida, meu corpo inteiro gritou. Parecia que algo estava subindo pelas minhas veias, roendo cada parte dos meus órgãos. Um mau cheiro vinha do meu nariz, minha cabeça latejava como se fosse se partir e a tontura aumentava. Meu estômago embrulhava e eu me sentia enjoada, e um som engasgado, misturado a gemidos incômodos, escapava sem parar.’
— Haa… haa…
Respirando com dificuldade, ele conseguiu erguer as pálpebras, mas não conseguia enxergar nada com clareza. Piscou várias vezes, desesperadamente, antes que seus olhos finalmente se focassem.
A primeira coisa que viu foi um quarto familiar. Demorou um pouco para reconhecê-lo como o seu. Lentamente, moveu os olhos e viu um soro intravenoso pendurado na lateral da cama. Seguiu a linha e percebeu que estava recebendo uma injeção de alguma substância desconhecida. Distraidamente, estendeu a outra mão para tocar o braço que recebia a injeção, quando uma voz falou de repente.
— Deixe isso. A não ser que queira perder o braço.
A voz fria como gelo, de repente, trouxe sua consciência ainda nebulosa de volta ao foco. Ashley, com os olhos arregalados, virou a cabeça na direção de onde vinha o som e congelou. Um homem estava sentado em uma cadeira a alguma distância, olhando para ele.
Dominique Miller.
Ele repetiu o nome do pai mentalmente. Assim como ele, tinha cabelos loiro-platinados beirando o prateado, e uma altura que beirava os dois metros. Estava, como sempre, impecavelmente vestido em um terno, mas o corpo forte e musculoso que se escondia sob o tecido não deixava dúvidas: era realmente ele. O homem lembrava Ashley em muitos aspectos. Ou melhor, era Ashley quem se parecia com ele. Afinal, sua origem estava naquele homem.
E agora até mesmo os olhos roxos.
Ao se dar conta disso, Ashley sentiu uma vontade súbita de gritar. Ele o encarou com um olhar cheio de ódio, culpando-o por tê-lo deixado naquele estado. Mas o homem apenas torceu os lábios em um sorriso frio e zombeteiro.
— Continue tentando. Eu gostaria que você também me divertisse tanto quanto o outro “Ashley”.
Ashley fechou e abriu a mão do braço onde o soro estava preso, sem dizer nada. Ele suportou, uma e outra vez, o impulso de atacar o homem. Mas agora, aquilo era ainda mais insuportável. Justamente neste momento, quando estava tão debilitado.
Ao perceber que toda a resistência física que havia construído com tantos exercícios não servia para nada agora, até sentiu nojo de si mesmo. Tudo o que Ashley conseguia fazer era ficar ali deitado, olhando para ele. Exatamente como o outro Ashley fazia.
‘O outro Ashley também só podia fazer isso.’
Dominique, que observava o filho em silêncio por um tempo, soltou uma risada fria. Às vezes Ashley sentia que ele era como uma cobra. Isso acontecia especialmente quando ele o encarava fixamente, levantando apenas o canto da boca. Quando Ashley estremeceu ao sentir aquele arrepio percorrer a espinha, talvez por causa de sua reação, Dominique falou.
— Que visão agradável, esse seu estado deplorável.
As palavras seguintes foram ditas lentamente, como se ele quisesse enfatizar o estado deplorável de Ashley. Ashley sabia como seu pai conseguia usar linguagem erudita para degradar as pessoas. Ele nunca xingava ou proferia palavras vulgares. Ele se ofendia mesmo quando os outros usavam uma linguagem tão áspera. Por que se dar ao trabalho de usar tal linguagem quando você poderia esmagar alguém até o chão com elegância — por que usar palavras grosseiras, então?
Claro que Dominique também sabia que esse tipo de fala irritava ainda mais a outra pessoa. Era por isso que ele a empregava com tanto prazer.
Mesmo tendo presenciado aquilo incontáveis vezes e vendo tudo bem diante dos seus olhos, Ashley sentiu a raiva crescer. Sabia que aquilo era exatamente o que Dominique desejava — e, ainda assim, não conseguiu conter-se.
Ashley se esforçou para conter as emoções que ameaçavam transbordar, abrindo e fechando o punho repetidamente. Parecia que a sensação estava voltando lentamente, embora seu estado físico ainda estivesse uma bagunça.
Ele precisava, a qualquer custo, acertar aquele homem com pelo menos um soco. Uma voz racional, lembrando como ele vinha resistindo até agora, murmurou fracamente que este era um péssimo momento. Mas, por outro lado, justamente porque vinha aguentando até ali, não suportava mais. Ashley reprimiu o desejo de cravar um punho na cara orgulhosa daquele homem e conseguiu, com esforço, abrir a boca.
— O que… você… fez… comigo?
Diante das palavras que saíam com dificuldade, Dominique lançou um olhar para o soro.
— Estou retirando seus feromônios, meu filho.
O tom afetuoso realmente não combinava com ele. Ninguém no mundo chamaria o filho com uma voz tão fria.
‘Será que todos os filhos de um alfa extremo pensam como eu?’
Ashley não sabia. A única certeza era que seu pai, mesmo que não tivesse se manifestado como Alfa, provavelmente teria sido a pior das pessoas assim mesmo.
Para Dominique, que já estava acostumado com olhares de desprezo e repulsa dirigidos a si, o olhar de Ashley não era nem novidade nem doloroso. Ao contrário, parecia que ele se divertia com a resistência do filho. Pisotear e destruir aqueles que se rebelavam contra ele era seu passatempo favorito.
‘Foi assim que ele conseguiu dominar o outro “Ashley”.’
Mas agora, Ashley estava curioso com outra coisa. Retirar feromônios… com uma injeção? Isso era possível?
Enquanto piscava, confuso, Dominique se levantou de repente. O movimento inesperado fez Ashley estremecer sem querer, mas seu corpo continuava preso à cama. Sem poder se mover, ele só podia observar, impotente, seu pai se aproximar, passo a passo.
— Existem várias maneiras de extrair feromônios.
Dominique parou ao lado da cama e olhou para o soro. Ashley, deitado, acompanhava o pai sorrindo com desdém diante das pequenas bolhas que se formavam a cada gota que caía.
— Mas agora você sabe por que não tentei retirar com uma injeção, não é?
‘…O quê?’
Ashley piscou, atônito. Tontura e dor de cabeça embaralhavam sua mente, mas a voz dele soava clara. Como se quisesse provar que não estava enganado, o pai o fitou de cima.
— Se você tivesse retirado os feromônios corretamente na festa, não estaria nessa situação agora.
Não havia nem um pingo de pena ou compaixão na sua voz. Pelo contrário, ele parecia tão satisfeito que era estranho não estar rindo alto. Além do desprezo e aversão que sentia por aquele homem, Ashley sentiu medo profundo.
De repente, lembrou-se do motivo pelo qual nunca pôde enfrentá-lo antes. O medo incutido desde a infância tornava impossível até sonhar em se rebelar. O temor de que ele pudesse se tornar como o outro “Ashley”. A sensação de que aquele homem, seria completamente capaz de fazer isso. Essa percepção agora dominava novamente seu corpo.
‘Eu não passo de uma propriedade deste homem.’
‘Assim como o outro “Ashley”.’
Assim como marcava a posse de um escravo, o homem marcou o filho com o próprio nome. Qualquer um que o conhecesse já teria adivinhado, mas o fato de ser seu nome do meio, e não o primeiro, era incomum. Era surpreendente que um homem tão egocêntrico colocasse o nome de outra pessoa em primeiro lugar em vez do seu. O único nome pelo qual aquele homem cruel e implacável poderia dizer: “Eu te amo”.
‘Mesmo que fosse apenas de sua própria maneira terrivelmente egoísta.’
Ashley fechou e abriu a mão novamente. Havia muito mais força voltando. De alguma forma, ele precisava acertar aquele rosto orgulhoso com um soco. Só mais um pouco, só mais um pouquinho.
— Por que você ficou tão chateado? Eu só disse para você se livrar dos feromônios.
Dominique inclinou a cabeça de lado.
— Não é como se você fosse inexperiente.
Ele perguntou como se realmente não entendesse. E, de fato, não entendia. Para o pai, aquilo era apenas retirar feromônios. Quantos alfas dominantes reconheciam isso como algo sexual? Talvez soubessem e ainda assim usassem como desculpa. De qualquer forma, não era da conta de Ashley.
— É porque… eu tenho… alguém que gosto.
Ashley murmurou com dificuldade, e Dominique estreitou os olhos.
— Aaah…
Ele soltou um suspiro, como se tivesse compreendido, mas o tom prolongado soou sinistro. Olhando para Ashley, que o encarava impotente, Dominique esboçou um sorriso sutil.
— Está falando daquele vira-lata?
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Continua….
Tradução: Ana Luiza
Revisão: Thaís
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Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can