Ler Lamba-me se puder – Capítulo 106 Online
Ashley não percebeu de imediato o que tinha acabado de ouvir.
Ofegante, arfando sem parar, ele ergueu a cabeça com dificuldade e logo cruzou o olhar com a secretária que o observava de cima. Ela abriu a boca com a mesma expressão gélida de sempre.
— Lembra-se de ter feito o exame de sangue?
Ashley apenas escutava, ainda arfando. A secretária continuou:
— A quantidade de feromônio se acumulou a um nível perigoso. Até agora o senhor nunca tratou isso adequadamente, não é? Era natural que o rut viesse.
— Então, isso é… afinal…
Ele não conseguia raciocinar. Feromônios que pareciam semelhantes aos seus, mas ao mesmo tempo diferentes, misturados a um aroma estranho, flutuavam por todo o ambiente. Acima de tudo, aquele cheiro desconhecido tornava impossível manter a razão. O peito ardia, e sua região pélvica latejava. Respirando pesadamente, Ashley conseguiu, com grande esforço, emitir um som. A secretária disse:
— É uma festa de feromônios. Para alfas dominantes.
No começo, ele não entendeu o que aquilo significava. Apenas encarava a secretária, e então ela voltou a falar:
— Vou transmitir as palavras do senhor Miller.
Ashley ficou hipnotizado, observando os lábios vermelhos que se moviam lentamente. Era como assistir a uma cena em câmera lenta.
— Júnior.
‘Júnior.’
A voz fria do homem ressurgiu em seus ouvidos. A secretária, em tom rígido, prosseguiu:
— Livre-se de todo o feromônio acumulado.
Ela sorriu para Ashley. Um aroma enjoativamente doce reviveu na ponta do seu nariz, junto com o cheiro forte de charuto
‘É o seu presente de Ano-Novo.’
— Não… não diga… essas merdas.
Ashley soltou um palavrão e tentou deixar o local. Mas, no instante em que reuniu todas as forças para se erguer, cambaleou e desabou novamente. Dois seguranças que vigiavam o corredor se aproximaram e se colocaram a seu lado, prontos para contê-lo caso fosse necessário. Entre eles, a secretária abriu a boca:
— Você sabe qual é o efeito dos feromônios dos alfas dominantes no cérebro, não é? E também o que acontece quando eles se acumulam. Por isso organizamos encontros assim regularmente, para liberar os feromônios antes que seja tarde demais.
Ela falava de maneira clara, mas Ashley simplesmente não conseguia entender. Feromônios… o quê? Seu rosto continuava atônito, e a secretária percebeu seu estado, embora já esperasse por isso. Assim, limitou-se a continuar:
— Existem muitas maneiras de remover feromônios, mas nada é mais confiável e eficaz do que isso: sexo.
A secretária olhou propositadamente ao redor do salão, como se estivesse mostrando todo o ambiente. Como que enfeitiçado, Ashley repetiu o gesto. Pessoas estavam entrelaçadas em completa desordem. A secretária falou novamente:
— Há bastante ômegas, vá resolver isso com um deles. É para isso que todos estão reunidos aqui. Não se preocupe, senhor Miller, de qualquer forma, em breve perderá totalmente a consciência por causa dos feromônios. Então seu corpo se moverá por instinto.
Haa, haa… Ashley só conseguia respirar pesadamente. Ela vinha falando sem parar, mas ele não entendia nada. A cada respiração, aquele cheiro sufocante enchia-lhe os pulmões e o enlouquecia pouco a pouco. Observando-o de cima, a secretária acrescentou com leveza:
— Ouvi dizer que há até mesmo um ômega dominante aqui. Você sabe bem o quanto é raro encontrar um. Aproveite essa oportunidade.
— Espere, não…
Ashley tentou desesperadamente agarrá-la. Mas toda a força havia deixado seu corpo, e ele não conseguiu sequer estender a mão. Tudo o que podia fazer era lutar para não perder a razão. A secretária o observou de cima mais uma vez e acrescentou, por fim:
— Desejo-lhe um tempo agradável.
Ela então virou as costas e se afastou. Como se fosse um sinal, os seguranças seguraram Ashley pelos dois lados e o empurraram para dentro do salão.
— Não…!
Ashley gritou, mas a porta se fechou com firmeza atrás dele. E assim, ele foi deixado para trás, imerso no aroma de feromônios que preenchia completamente o ambiente.
***
— Mmm, mmm, mmm, mmm…
Koy cantarolava enquanto limpava com entusiasmo. O Ano-Novo estava se aproximando. Ele já havia avisado ao pai que não voltaria para casa por causa do trabalho de meio período. Claro, seu pai não pareceu muito satisfeito, mas também não chegou a reclamar em voz alta.
‘Se os dias pudessem ser sempre assim, tudo estaria perfeito’
Pensando nisso, Koy bateu as almofadas com força para tirar o pó. Tudo estava em paz. A renda do trabalho havia aumentado, os estudos para o vestibular seguiam bem. Koy vivia os dias mais satisfatórios de toda a sua vida. Exceto por um único detalhe.
‘Ash não está aqui.’
Ao lembrar dele, a animação que sentia até então sumiu de imediato. Havia até mentido para o pai, dizendo que não poderia ir para casa, apenas para esperar por Ashley na mansão, pensando que talvez ele aparecesse hoje. Mas, como sempre, suas esperanças foram em vão.
‘Ele disse que só viria depois do Ano-Novo, seu idiota.’
Ele tinha falado com Ashley ao telefone, mas ainda assim criou essa expectativa ridícula. Koy se sentia patético. Quando parou de se mexer, a imensa mansão mergulhou em um silêncio absoluto. Era a primeira vez que ficava ali sozinho àquela hora, e uma estranheza tomou conta dele.
‘Esse lugar é tão silencioso assim…’
Ao se lembrar de todas as vezes em que deixara Ashley sozinho ali, seu coração se apertou.
‘Ash ficava sempre sozinho aqui… o quanto ele deve ter se sentido solitário…’
O aperto no peito aumentou, arrancando-lhe um suspiro. Ainda bem que, ao menos, ele está com a família agora. Ashley nunca falava bem da própria família, mas certamente era melhor do que ficar sozinho naquela mansão. Claro, se estivesse aqui, teria passado o Natal e o Ano-Novo juntos, mas em todos os outros dias teria permanecido solitário.
‘Lá, pelo menos, ele está todos os dias com outras pessoas…’
Por outro lado, Koy ficou sozinho durante todo o tempo em que Ashley esteve fora. Ele continuou mantendo amizade com os rapazes do time de hóquei no gelo e com a equipe de líderes de torcida, mas eles sempre passavam as férias com suas famílias. Então, Koy não teve escolha a não ser passar o tempo sozinho.
‘Ash e eu somos iguais…’
Ao tomar consciência disso, a solidão o atingiu de forma ainda mais intensa. No fim, ele deixou escapar um sussurro em voz baixa:
— Sinto sua falta, Ash.
Assustou-se com o próprio som da sua voz, que lhe pareceu alto demais, e fechou a boca às pressas. Nesse instante, o toque estridente do celular ecoou pelo cômodo silencioso. Koy levou um susto, sacou o aparelho apressado e seus olhos se arregalaram.
— Ash?
***
Ao ouvir a sua voz favorita e tão calorosa, Ashley fechou os olhos. Sua respiração ofegante o impedia de pensar com clareza. Não, não era apenas por causa da falta de ar. Os feromônios que ele já tinha acumulado, reagiram ao cheiro de ômegas e entraram em descontrole, desencadeando o rut. O ventre queimava, a respiração estava ofegante, e ele não conseguia formar um pensamento coerente. Encolhido em um espaço apertado, quase esmagado contra si mesmo, respirava com dificuldade quando conseguiu finalmente falar:
— Koy…
Ao murmurar o nome dele com dificuldade, Ashley ouviu do outro lado a voz de Koy, alegre:
— Ash! O que aconteceu? Ligou para me desejar feliz Ano-Novo?
‘…O quê?’
Ashley afastou o celular do ouvido e verificou a hora. Logo depois, Koy perguntou:
— Você deve estar muito cansado… Ajustou pela hora daqui? Aí agora são três da manhã.
Ah…
Só então Ashley compreendeu. Respirou fundo algumas vezes e respondeu:
— Sim, você tem razão.
Entre suspiros pesados que aos poucos diminuíam, Ashley murmurou:
— Feliz Ano-Novo, Koy.
— Feliz Ano-Novo!
A voz de Koy estava repleta de alegria. Ao escutá-la, Ashley também sentiu como se fosse envolvido por felicidade. Sua mente estava dominada pelos feromônios, tomada pelo impulso de despejar aquilo em algum lugar, mas o desejo de ouvir a voz de Koy era mais forte e o mantinha sob controle.
— …Ainda bem… que você não está aqui agora.
— O quê?
Koy perguntou confuso, claramente duvidando do que havia escutado. Ashley quis sorrir, mas não tinha forças para isso.
— Comprei… um anel… Koy.
A voz, entrecortada por respirações ofegantes, atravessou a linha e fez Koy perguntar, com cuidado:
— Um anel?
— Sim…
Huuuu… a respiração trêmula fazia o microfone do celular vibrar.
— Aquela proposta da última vez… foi realmente um desastre, não foi?
Através de sua consciência nebulosa, Ashley se lembrou. Ele não se lembrava bem quando tinha sido. Era estranho, tinha sido há tanto tempo assim?
— Desta vez, quando eu te encontrasse, planejava me ajoelhar e fazer a proposta oficialmente.
— Ash…?
Koy chamou seu nome, hesitante. Mesmo alguém distraído perceberia que havia algo estranho naquele tom. A preocupação também era evidente na voz de Koy, que parecia querer perguntar o que estava acontecendo. Mas Ashley foi mais rápido e falou primeiro:
— Koy…
— Sim?
Com a respiração ofegante, Ashley continuou:
— Case-se comigo, Koy.
Sua voz tremia, fora de controle, e a cada suspiro parecia quebrar-se um pouco mais. Koy engoliu em seco antes de responder:
— Sim.
— …Ótimo, que bom que aceitou, Koy.
— Eu gosto de você.
Koy disse com firmeza:
— Não, eu te amo, Ashley Miller.
Então, finalmente, Ashley deixou escapar uma risada fraca e sem forças. Koy quase não se conteve e ia perguntar o que havia acontecido, mas antes que pudesse abrir a boca, Ashley desligou o telefone. Não conseguia mais suportar.
Haa… haa…
Ele cambaleou, tentando erguer o corpo. Com dificuldade, estendeu a mão e tocou algo que parecia um vaso sanitário. Ashley inclinou-se e começou a vomitar dentro dele.
Cerca de trinta minutos depois, a secretária o encontrou inconsciente, amontoado e em completo desastre, dentro da cabine suja de um banheiro isolado em um posto de gasolina abandonado.
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Continua….
Tradução: Ana Luiza
Revisão: Thaís
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Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can