Ler Dragão de Prata: 不道德的修炼之路 – Capítulo 06 Online
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O tambor cerimonial soou três vezes antes do assobio longo que indicava um ataque à capital. Esse chamado não acontecia com frequência, ao ponto das gerações recentes nunca terem presenciado. Parecia tão longe da realidade que o “sopro do leão da morte”, como os eruditos nomearam o som desse apito, era visto por muitos como uma lenda.
Os instrumentos de alerta foram enfeitiçados por selos mágicos que o transmitiam para toda a cidade, desde o portão até os campos além dela, facilmente encarado como um sinal de devastação. MuYin podia estar em paz há alguns séculos, mas não extinguiu a possibilidade de ocorrerem pequenos conflitos armados de vez em quando.
Infelizmente para a população comum, o alerta não acompanhava o motivo do ataque, apenas indicava a importância de iniciar a evacuação das ruas.
Dentro da Cidade Imperial, no entanto, o clima continuava exatamente igual, silencioso, frio e com uma tensão invisível que deixava todos os seus moradores em estado constante de alerta. A única diferença estava na movimentação silenciosa dos guardas, que reorganizavam suas posições para defender as entradas e saídas.
Os eunucos e servas permaneceram em prontidão na porta de seus mestres, assim como cada personagem secundário à existência do Imperador se mantinha na posição predeterminada por ele, assim Vossa Majestade Imperial não se sentiria ainda mais estressado pela mudança brusca em sua rotina.
No Grande Salão Ministral, a reunião matinal que ocorria naquele momento teve uma pausa durante a emissão do alerta de ataque. Quando o som cessou, seguiu-se um minuto completo de silêncio, até o Imperador determinar a continuidade da discussão como se nada estivesse acontecendo. Os ministros deram seguimento à pauta com suas melhores expressões “distantes dos assuntos mundanos¹”, embora todos estivessem claramente nervosos.
Wang Zhiyuan manteve a coluna ereta, o rosto erguido e o olhar firme de sempre, interiormente se divertindo com o pânico dos demais. Não se sentia preocupado, ansioso ou temeroso com aquele alerta, pois confiava que os soldados treinados de seu exército conseguiriam lidar tranquilamente com qualquer ameaça emergente. Se eles estavam em tempos de paz, era resultado de muito trabalho sujo para suprimir os catalisadores de conflito prematuramente.
Portanto, limitou-se a contribuir com a sua habitual presença silenciosa. Essas reuniões aconteciam todos os dias pela manhã, algumas mais breves que as outras, só precisava sentar no assento destinado a ele e se comportar dignamente frente ao Filho do Céu² até este decidir encerrar a discussão.
Para ele, que estava familiarizado com as principais pautas dessas reuniões, era tedioso, mas ouviu atentamente a leitura do pergaminho que ditava a situação conflitual no mercado externo que impactava a exportação de produtos locais para as regiões de Huanjing e Mingzhu. Era um problema antigo que apenas se reinventava, pois a rota mercantil que passava por dentro do território de Lixue sempre foi um tabu a ser quebrado por eles, só mudava o motivo de tempos em tempos.
Em MuYin, havia uma cordilheira que cortava o continente quase pela metade e tornava difícil para o povo de Weiqi transitar para outras regiões, principalmente com cargas pesadas. Existia apenas um caminho que ligava o oeste a Shaiming, no sul, mas era uma rota montanhosa perigosa, usada apenas em emergências. Desse modo, a melhor rota de viagem passava por Lixue, que se conectava às estradas que levavam à Mingzhu e Huanjing.
Apesar de Weiqi também ser litorânea, era o único país cuja costa era totalmente banhada por Da Yüer, cuja navegação era impossível na maior parte do ano. Eles conseguiam mandar barcos nos períodos de lua cheia, quando a maré acalmava, mas não era o suficiente para suprir as demandas do mercado. Essa situação os obrigava a enviar os produtos manufaturados para serem exportados na Costa Leste, onde havia embarcações que se conectavam a Shaiming mais rápido e também levavam cargas para o Além-Mar.
Nesse ponto, o atrito com Lixue se transformava em uma dor de cabeça inevitável, que nasceu há tantos séculos que se tornou habitual.
Quando a família Li subiu ao poder após a queda da Dinastia Rou, Weiqi já existia como grande potência comercial. Durante a guerra entre os Rou e os Li, a família imperial Wang não se envolveu no conflito por não acreditar em nenhum dos lados, essa neutralidade foi o que determinou o vencedor, uma vez que os Rou não tinham soldados capacitados para ganhar um confronto armado.
Quando a guerra acabou, os Li tiveram muitas dificuldades financeiras devido ao gasto excessivo de recursos durante a guerra, então pediram ajuda a Weiqi para estabelecerem seu império. O negócio envolvia o fornecimento de alimentos e itens de uso comum, já que Shaiming ficava muito distante e o resto do território, que fazia parte do derrotado império Rou, teve toda a safra destruída durante a guerra. A extrema pobreza do país forçou os Li a venderem parte de suas terras para a família Yang, que mais tarde fundou Huanjing.
Contudo, o Imperador Wang da época estabeleceu uma oferta ambiciosa que colocou os Li em profunda desvantagem. Em troca de fornecer alimentos e itens básicos de vestuário, os Li deveriam vender parte do território recém conquistado, mais especificamente ao leste, no litoral de Da Yu.
Entende-se que os Li estavam em situação crítica e não tinham fundos para sustentar o império, já tinham vendido parte do território e precisavam pagar seus crimes de guerra para o povo que sobreviveu. Eles nunca quiseram negociar as terras que sobraram ao leste porque também planejavam usá-la para construir os próprios portos, mas ficaram completamente sem outra alternativa, pois a população estava morrendo de fome e naquele ritmo, não sobraria povo para governar.
O Imperador Wang não abriu espaço para negociação e isso garantiu a compra das terras que, mais tarde, seriam Mingzhu, a cidade-estado pertencente à Weiqi. Foi construído um grande porto mercantil para facilitar a rota marítima, mas a rota terrestre ainda precisava atravessar Lixue.
Rancorosos por terem sido pressionados a um acordo injusto em seu momento de maior fragilidade, a família imperial Li começou a prejudicar as cargas enviadas por Weiqi para o leste das mais variadas formas, a fim de boicotar seus negócios. O problema mais recente foi a criação de pedágios com valores irrisórios.
Weiqi era um país com terras férteis que proporcionavam o plantio, a criação de gado e rebanho, porém o que movia a economia local eram as produções manufaturadas, principalmente de tecido, vestuário em geral e cosméticos, além de terem negócios voltados principalmente a produção de itens mágicos que poderiam ser usados por cultivadores sem tanto prejuízo a curto prazo, já que roupas comuns costumavam ficar danificadas rapidamente em contato direto com o qi.
Era um mercado muito bem organizado e envolvia os investimentos de muitas pessoas importantes, incluindo a própria família imperial Wang. Então, quando algo saía do controle e causava prejuízo, todo o sistema era revisado até encontrarem e solucionarem o problema. Obviamente, as tramóias de Lixue não eram motivadas unicamente por rancor, envolviam outros assuntos de dominância e poder tão complexos, que não eram postos nas pautas das reuniões porque não podiam ser facilmente resolvidos.
Antes do relatório chegar ao fim, Zhiyuan já tinha pensado em cinco maneiras de resolver essa questão, quatro delas passando longe do ideal pacifista tão característico das decisões do Imperador. Era algo atrelado a postura de todos os imperadores que Weiqi já teve e o que os colocava sempre no ponto neutro dos confrontos e garantiam a paz que tanto se prezava nessas terras. O que era interessante, a julgar pelas coisas nada neutras que os soldados faziam na surdina em prol do mesmo ideal.
A reunião continuou, alguns dos ministros expuseram suas perspectivas após a leitura da pauta e o Filho do Céu observava tudo com a severidade inerente à sua persona. Qualquer um que o encarasse, mesmo de longe, se sentiria intimidado com a aura pesada que o rodeava. Era um homem de altura mediana, cabelos grisalhos e corpo magro, mas seus ombros largos e postura altiva garantiam o ar de soberania de sua figura. Ele era e parecia um homem inescrupuloso que faria qualquer coisa para que seu império fosse perfeito. E a perfeição começava com as pessoas que estavam ao redor dele, em cada detalhe que as constituía.
Ele tinha um olhar afiado e apontava até o menor defeito, fosse ele nas roupas, na postura, no olhar, na atitude, na fala ou até no andar daqueles que compunham a cidade imperial. Tudo deveria estar impecável, sempre digno e alinhado, não importava o quanto fosse necessário treinar, mentir e fingir para alcançar as expectativas do Imperador, não havia outra alternativa além de obedecê-lo ou morrer tentando.
Isso podia ser observado facilmente, na forma como o Imperador sentava no trono elevado do Grande Salão Ministral, joelhos levemente separados, uma mão no braço do assento e outra segurando uma bengala de jacarandá, cujo topo metálico tinha o formato da cabeça de um dragão, talhado em ouro. Os olhos do dragão eram dois rubis, da mesma cor que o robe externo do mianfu³, bordado ricamente com os doze ornamentos⁴ que se destacavam no tecido. A parte superior da vestimenta interna era preta com bordados dourados na gola cruzada e seu cinto fora decorado com um jade branco quase translúcido. Em sua cabeça, um mian guan⁵ preto com doze borlas milimetricamente organizadas evidenciava seu status elevado.
Comparado a ele, todos pareciam ordinários.
O Grande Salão era amplo, e organizado para que o trono fosse o local de maior destaque. Os assentos eram esteiras de bambu cobertas com lã e seda dispostas em um semicírculo frente ao Filho do Céu, em três fileiras bem espaçadas e com ordens claras de hierarquia: os Ministros à frente, os príncipes e nobres no meio, e demais autoridades atrás. Eles se acomodavam durante as reuniões em posições de meditação variadas, vestidos de maneira padronizada e previamente determinada. Os Ministros, por exemplo, vestiam robes externos azul-índigo e adereços de cabelo de ouro.
Zhiyuan estava sentado na ponta da segunda fileira, trajando um hanfu de duas peças sem mangas esvoaçantes, cujos punhos se ajustavam aos pulsos sob a pressão do par de braceletes de prata que usava o tempo todo. Sua roupa completamente preta era como o traje de todos os oficiais, mas por ainda ter sangue imperial correndo nas veias e precisar exibir-se como tal, seu cabelo foi preso pela metade no topo da cabeça com um shufa guan⁶ de prata cravejado por esmeraldas e lápis-lazuli, a outra metade escorria por suas costas elegantemente até o meio da coluna. Sua espada cerimonial estava apoiada horizontalmente sobre as coxas, o cabo brilhante se destacava sobre a aljava de couro escuro, lembrando-os que ele estava ali não apenas como nobre, mas como um oficial cultivador.
O que era interessante, porque seu irmão, gerado no mesmo ventre, nascido sob a mesma lua e com quem dividia o mesmo karma, encontrava-se em um posição muito mais elevada que a sua apenas por ter vindo ao mundo um minuto antes dele.
Wang Yiran, o Príncipe Herdeiro, sentava-se no trono abaixo do Imperador encarando-os com a expressão plácida de um imortal que conhece todas as coisas. Olhar para ele era como encarar um espelho, onde o reflexo apresentava uma imagem distorcida do original. Era incapaz de aceitá-lo como um igual, porque a diferença entre os dois era como o céu e a terra – e Yiran com certeza se sentia da mesma forma.
Vestindo-se com uma roupa cerimonial azul royal, o mianfu de três peças era menos extravagante que a vestimenta do Filho do Céu, mas igualmente rica em detalhes. O robe externo e parte superior era de um vermelho escuro como sangue seco, cujos bordados feitos com fios da mais pura seda delineavam elementos que remetiam à sabedoria, pureza e elevação de espírito. Em sua cabeça, o mian guan de oito borlas reforçava sua posição hierárquica e à frente dele, em uma mesa de carvalho escuro, repousava um par de livros que simbolicamente remetiam às expectativas que as pessoas tinham sobre ele.
As mãos do Príncipe Herdeiro eram grandes, mas tinham a pele límpida e clara, tendo como únicas marcas pequenos calos causados pelo uso excessivo de pincéis. Seu rosto era como o de qualquer nobre que nunca precisou cavalgar por dias sob o sol escaldante do verão ou dormir no relento nas noites congelantes do inverno. Era alto e esguio, como o esperado para alguém que tinha as refeições controladas obsessivamente por suas servas.
Por outro lado, Zhiyuan tinha as mãos calejadas pela espada e pelo treinamento excessivo, a pele oliva colorida pelo sol, corpo moldado pela firmeza dos músculos que foi obrigado a desenvolver durante o cultivo e que se mantinham precariamente pela alimentação desleixada que os soldados tinham por natureza.
Estes corpos já foram iguais como reflexos um do outro, mas o tempo e a experiência os transformaram em dois estranhos.
— Com isto, termino o relato diante de Vossa Majestade Imperial, Da Tianzi*! — o Ministro em questão enrolou o pergaminho e se curvou em kowtow⁷ sobre o assento ao encerrar a exposição da pauta.
O silêncio se seguiu após a declaração, olhos voltados para baixo enquanto esperavam o posicionamento do Imperador. Zhiyuan, que estava longe do foco de atenção, lançou um olhar de esguelha não para o soberano, mas para o trono abaixo dele. Por algum motivo, o Príncipe Herdeiro já o estava observando, como se aguardasse essa troca de olhares. Yiran semicerrou os olhos e apertou a mandíbula tão ligeiramente que outra pessoa não teria notado, no entanto, Zhiyuan perceberia até alterações invisíveis no outro.
Estudou esse rosto incansavelmente por muitos anos, até aprender a controlá-lo totalmente, por isso era tão inexpressivo e estoico, escondendo suas emoções, pensamentos e reações das pessoas ao seu redor, diferente de seu irmão, cujos olhos delatavam todas as verdades escondidas em seu coração. Os dois herdaram os olhos exóticos da família da mãe deles, levemente amendoados, grandes, com um círculo preto ao redor de suas íris como um halo. Zhiyuan tinha os olhos cinzentos como prata derretida, enquanto Yiran tinha uma cor dourada incandescente tal qual o sol da manhã.
Quando se encaravam em momentos como aquele, como se procurassem a existência um do outro para que as coisas fizessem sentido, essas cores inflamavam por alguns segundos, até se apagarem como chamas atingidas pela neve.
Yiran estava nervoso porque sabia o que viria a seguir, Zhiyuan podia identificar o sentimento facilmente no outro. Isso o fez querer sorrir, uma diversão cruel e rancorosa que borbulhava em seu interior sempre que enxergava através dos defeitos do Príncipe Herdeiro, nessas falhas que ninguém mais via além dele.
Ele estava perdido, porque diferente de Zhiyuan que pensou em uma saída para o problema com Lixue em poucos minutos, montando estratégias completas do que fazer, como fazer e quem sacrificar no caminho, Yiran ainda hesitava. O Imperador não era alheio à hesitação do Príncipe Herdeiro, pois era um traço de sua personalidade que todos os dias, quase religiosamente, criava situações para extinguir tal falha de caráter.
Yiran não era o tipo que mataria alguém sem ter peso na consciência ou que dormiria tranquilo sabendo que famílias inteiras foram destruídas em prol do bem comum de Weiqi. A sabedoria que o Príncipe Herdeiro possuía tinha um preço, este consistindo em ver além do objetivo e resultado de uma missão, ponderando sempre sobre o bem estar de pessoas que ele nem conhecia. Era isso que o tornava fraco e incapaz, o fato de ter um coração compassivo demais.
Se ele fizesse como Zhiyuan, fechasse os olhos, escutasse as batidas do próprio coração e contasse até dez, poderia controlar facilmente tais sentimentos inúteis. A cada batida, uma a uma, mataria essas emoções até que nada restasse. Abandonaria a moralidade até deixar de ser humano, só então conseguiria se tornar um Filho do Céu.
Alheio ao conflito silencioso entre os dois príncipes, o tom barítono do Filho do Céu chamou a atenção de todos.
— A este assunto, delego o Príncipe Herdeiro para sua resolução imediata e determino de prévio, sem espaço para alteração, o tempo de um mês para extinção de todas as problemáticas apresentadas — determinou de forma clara e concisa, para que todos fossem capazes de ouvir sem espaço para dúvidas.
O som suave do pincel do relator da reunião batendo no pergaminho foi o único ruído preenchendo a sala por um instante. Ninguém se opôs, obviamente, embora houvesse um certo clima de tensão sobre os ministros. Muitos recorriam ao Príncipe Herdeiro para mediar conflitos e esclarecer suas ideias em determinados assuntos, mas era conhecido que economia política era algo que ele não dominava totalmente, por envolver artimanhas nada éticas em sua resolução.
Contudo, ninguém seria louco de discordar do Imperador, então na ausência de novas colocações, a reunião foi dada como encerrada. O gongo acima do Grande Salão foi tocado quando o Imperador e sua comitiva deixaram o pavilhão, seguidos do Príncipe Herdeiro e seus servos, este parecia sereno ao se afastar, não expondo para os demais suas fragilidades ou dando espaço para boatos maldosos.
Logo após, os demais começaram a se levantar para partir também, desta vez sem a obrigatoriedade de seguir uma ordem hierárquica porque a maioria possuía relevância política semelhante dentro da corte imperial. A reunião matinal demorou bastante naquele dia, mas ainda estava cedo e ele tinha outras obrigações para cumprir, então também foi embora do pavilhão assim que o fluxo de pessoas diminui na entrada.
A Cidade Imperial era extensa, tendo como construção principal o Palácio do Olhar Divino pertencente ao Imperador, que ficava no centro da área delimitada pelos muros altos. Ao redor dele, ficava o Palácio da Harmonia Pacificada, onde residia a Imperatriz Viúva; o Palácio da Dança da Lua, que pertenceu à Imperatriz falecida, primeira esposa do Imperador; o Palácio que Brilha sob o Céu, onde residia o Príncipe Herdeiro; e o Palácio Coração de Jade, onde ficava a Imperatriz Consorte.
Existiam outros anexos, sendo os principais o Salão da Névoa Esmeralda, lar das concubinas; o Pátio das Tulipas, onde residiam os outros filhos do Imperador; e o Pavilhão do Imortal Santificado, sendo este último o local de habitação e treinamento dos artistas marciais responsáveis pela guarda da família imperial e seus interesses.
Zhiyuan se dirigiu para este último.
Ele caminhou sozinho até lá, evitando os trajetos principais para não ter a necessidade de cumprimentar ninguém. Quando adentrou o pavilhão, cuja a entrada tratava-se de um pórtico de madeira que atravessava o rio que ali havia, apenas acenou para os soldados que faziam a guarda do portão. Era um anexo com entrada limitada apenas a soldados em treinamento, seus superiores e artistas marciais. Por ser considerado perigoso, nobres não tinham acesso às instalações sem uma autorização do próprio Imperador, e os servos não podiam sair e entrar livremente.
Por tratar-se de um lugar usado para cultivar, treinar e discutir táticas de guerra, suas atividades eram consideradas secretas e não podiam ser abertas para além dos interesses do Filho do Céu. Àquela altura, Zhiyuan tinha um passe especial por ser Príncipe de Primeira Ordem⁸ e precisar participar diariamente das reuniões matinais, mas também não tinha liberdade incondicional de ir e vir.
Apressou-se até os dormitórios, onde despiu-se das roupas cerimoniais e vestiu um conjunto simples, para treinamento. Trocou a espada falsa pela verdadeira e certificou-se de que os braceletes estavam bem colocados. Já no caminho para o campo de treinamento, prendeu seus cabelos em um coque apertado no topo da cabeça, segurando-os com um simples grampo de osso.
Conseguiu chegar a tempo para a prática com espada, juntando-se aos seus companheiros mais próximos sob o olhar de desagrado dos demais. Embora todos conhecessem seu status e obrigações, desprezavam-no por ter essas “regalias”, embora Zhiyuan não visse a responsabilidade para além de um fardo pesado demais. Se de fato fosse privilegiado, não precisaria arriscar a própria vida todos os dias para provar seu valor.
— Hoje quero que vocês usem seus elementos espirituais para intensificar a força de suas espadas — a voz do professor era alta, um grito estridente e impaciente que agredia os ouvidos. Ele caminhava entre eles com as mãos para trás e um ar de superioridade que alguém como ele, que era apenas um guarda comum, não deveria possuir. — Escolham um parceiro para treinar e tente derrotá-lo, mas fiquem atentos. Uma aplicação errada de poder espiritual pode resultar na morte de um dos envolvidos. Comecem!
Enquanto os demais começavam a procurar duplas, Zhiyuan ficou parado e foi rodeado por duas pessoas. Dois pares de olhos o encararam fixamente como se pudessem ver através dele, mas o príncipe manteve a expressão indiferente de sempre, esperando o que eles tinham a dizer.
— Você parece estar contente, aconteceu algo legal na reunião de hoje? — Feng Yunze, que era uma cabeça mais alto que ele, franziu as sobrancelhas com curiosidade, observando-o de cima a baixo várias vezes como se procurasse algo. — Roubou alguma coisa?
Um soco foi desferido com força no braço de Yunze, um ruído alto ecoando do impacto, mas ele mal se mexeu, apenas encarou o agressor com desagrado.
— Como se atreve a acusar o Príncipe de roubo, está louco? — Su Xuelin, cuja compleição física era a mais esguia entre os três, passou as mãos nervosamente pelos cabelos enquanto olhava ao redor. Por sorte, ninguém parecia prestar atenção neles. — Perdoe-o, Vossa Alteza Imperial! Feng Shixiong⁹ é estúpido, não sabe o que diz.
Se pudesse rir, Zhiyuan o teria feito. Era sempre cômico observar a interação desses dois, que agiam como se fossem inimigos mortais na maior parte do tempo, mas não se desgrudavam para nada. Ele não estava muito distante disso também, afinal, os três se conheciam desde muito pequenos, tendo entrado no centro de treinamento na mesma época e por terem idades semelhantes, criaram um senso de irmandade que curava a solidão silenciosa que advinha de suas histórias.
Apesar de não ser capaz de demonstrar o que sentia, Zhiyuan tinha esses dois amigos como seres mais estimados que a família.
— Vamos treinar — Zhiyuan disse simplesmente, desembainhando a própria espada. Xuelin e Yunze se estapearam um pouco enquanto tentavam decidir quem treinaria com o príncipe, mas o instrutor os separou e os colocou com outras duplas.
Durante o treinamento, Zhiyuan manteve a concentração no topo, mas o poder utilizado na base. Esta era uma lição que já havia aprendido, mas precisava passar pelas lições novamente por causa de sua faixa etária. Para ele, essas separações não faziam o menor sentido, pois pulou todas as etapas do que deveria ser considerado “infância” e não podia recuperá-la mesmo que quisesse muito – e não queria.
Tinha onze anos de idade, mas já havia experimentado todo tipo de evento traumatizante ao ser enviado para missões externas perigosas que colocaram sua vida em risco mais de uma vez. Suas mãos estavam tão sujas de sangue que lhe impressionava que a pele não estivesse perpetuamente vermelha, incapaz de esconder o monstro que se tornou sob o instinto de dever que foi incutido em seu peito.
Ele não podia ser humano, porque ser humano significava ser fraco e não há espaço para alguém assim no mundo que conhecia.
Os fracos deviam morrer.
Por ser o segundo filho do Imperador, Wang Zhiyuan recebeu o menor pedaço da torta geracional que lhe competia como herança, o que o obrigou a seguir um caminho bem diferente de seu irmão mais velho, o Príncipe Herdeiro.
Enquanto Wang Yiran teve a educação voltada exclusivamente para substituir o Imperador no futuro, Zhiyuan foi jogado em campos de treinamento no momento em que conseguiu ficar de pé sem ajuda. Educado para se tornar um soldado, viveu e foi criado pelos soldados e foi forçado a cultivar quando seu corpo sequer tinha força para empunhar uma espada. Lembrava-se de como doeu modificar o seu corpo tão prematuramente para que tivesse contato com o qi, expandindo os meridianos ao ponto de quase morrer tentando suportar o poder absurdo que era colocado dentro de si.
Ninguém pensou que ele era muito jovem para isso naquela época, apenas o jogaram sobre o perigo e não lhe deram outra alternativa além de fazer qualquer coisa para sobreviver. Não conseguia lembrar com exatidão quando matou pela primeira vez, mas tinha certeza que tinha a altura da perna de uma mesa de jantar quando segurou um punhal e rasgou o estômago de um nobre estrangeiro.
Às vezes, sentia que era colocado em risco de propósito, não para fortalecê-lo, mas na esperança de que seu corpo alcançasse o limite e o matasse finalmente. Todos pareciam cada vez mais decepcionados quando ele retornava com vida dessas missões, mas Zhiyuan estava disposto a sobreviver e devolver o favor a todos os “benfeitores” que moldaram tão carinhosamente o seu caráter.
Afinal, o olhar opaco do Imperador sempre que se deparava com o segundo filho não deixava espaço para dúvida: enquanto Zhiyuan existisse, a ordem natural das coisas nunca estaria equilibrada.
Alguns diziam que isso era resultado da maldição dos gêmeos, onde o mais forte estava destinado a devorar o mais fraco ainda no útero e, quando isso não acontecia, em algum momento durante suas vidas, destruiriam um ao outro. De certo modo, todos acreditavam que era questão de tempo até Zhiyuan matar Yiran.
E eles mesmos deram para Zhiyuan as armas necessárias para se defender das armadilhas que criaram para ele. Como seu pai sempre quis, para o bem ou para o mal, ele era intocável.
A mãe de Yiran e Zhiyuan era Sinkai Annchi, uma princesa estrangeira primogênita de um rei muito poderoso nas misteriosas terras do Além-Mar. Em uma negociação político-comercial, a família Sinkai a enviou para ser concubina do Imperador Wang, mas Annchi conquistou o Filho do Céu em pouco tempo com sua beleza incomparável e sabedoria sem precedentes. Ele a tomou como Imperatriz não muito tempo depois e apesar das represálias na época, a ela foi confiado poder político na tomada de decisões referentes ao império.
Naquele contexto, o país estava passando por transição após a destituição do antigo Imperador, cuja a morte estava cercada por teorias e conspirações que acusavam o atual Imperador de matar o próprio pai para assumir o trono. Independente dos boatos, as mudanças começaram a acontecer de maneira positiva e rapidamente a popularidade do Imperador e da Imperatriz conquistou os nobres e a população comum.
Zhiyuan não poderia afirmar, mas as histórias diziam que o Imperador amou Sinkai Annchi e foi fiel a ela desde sua chegada na Cidade Imperial, o que causou uma grande revolta nas concubinas e suas famílias. Após o casamento, o casal reinou durante sete anos prósperos e pacíficos, mas o Imperador não tocou em outra mulher que não fosse a Imperatriz.
Apesar de toda a boa sorte, o fato de não haver um herdeiro nascido após tanto tempo da coroação do Imperador, começaram a surgir rumores maldosos contra a Imperatriz. Alguns mais conspiracionistas alegavam que ela era uma bruxa que sacrificou a própria fertilidade em troca de sabedoria, o que era um pecado terrível.
Os conselheiros do Imperador começaram a pressioná-lo para que se deitasse com as concubinas e tivesse um filho logo, pois era um período auspicioso para ele. Recusando-se a ter outra mulher, o Imperador manteve sua lealdade à Imperatriz, que também foi cobrada de todos os lados, ao ponto de se tornar insustentável.
Devido a toda essa situação e temendo pela integridade da honra de seu marido, a Imperatriz tomou muitas ervas para aumentar a fertilidade até conseguir engravidar, mas estas enfraqueceram muito a sua saúde. Apesar de confirmar a gravidez, o que foi recebido com alegria por alguns e rancor por outros, as cobranças não paravam de chegar. Na verdade, devido ao agravamento da saúde de Sinkai Annchi, a gravidez foi encarada como mau agouro.
Na intenção de restaurar a saúde da Imperatriz, o Filho do Céu enviou mensageiros para buscar os melhores remédios, médicos e parteiras do continente. Foram feitos tratamentos contínuos para mantê-la estável até o parto que, infelizmente, deixou muitas sequelas irreversíveis.
Quando ela deu à luz, todos se surpreenderam ao verem dois bebês idênticos no colo das parteiras, dois meninos separados por apenas alguns minutos entre um nascimento e outro. O Imperador não olhou para os filhos após o nascimento, mas para a esposa, e ficou ao lado dela obsessivamente até se certificar de que ela estava bem. Em paralelo, a própria Imperatriz nomeou suas crianças sem consultar os conselheiros do rei, ao primogênito chamou de Wang Yiran, aquele cuja virtude elevada existe naturalmente¹⁰; e ao segundo príncipe conferiu o nome de Wang Zhiyuan, que possui um ideal que se estende além do horizonte¹¹.
Então, como uma profecia que se cumpre aos olhos de todos, Wang Yiran se tornou um erudito notável que detinha uma sabedoria superior à de seus professores, enquanto Wang Zhiyuan abriu um caminho exitoso nas fileiras do exército, apesar das adversidades.
Infelizmente, essa história não possuía apenas superação e esperança.
Um ano após o nascimento dos príncipes, a Imperatriz Sinkai Annchi foi encontrada morta em seu palácio. As servas que foram acordá-la para começar o dia a viram sentada na cadeira de balanço perto da janela de seu quarto, uma roupinha de bebê tecida pela metade sobre seu colo e os dedos rigidamente ao redor das agulhas de tricô. Elas só perceberam que ela estava morta ao notarem a frieza de sua pele e a cor roxa de seus lábios.
Alguns conspiravam que a mesma fora envenenada por seus rivais, mas nada nunca foi comprovado e não existiam meios o suficiente para descobrir a causa da morte, já que não foram encontrados sinais de luta ou violência em seu quarto ou em seu corpo. Sinkai Annchi foi enterrada na Cripta Imperial com todos os ritos funerários e como última prova de amor, o Imperador fechou o Palácio da Imperatriz para todos, com exceção da serva de confiança de Sinkai Annchi que entrava regularmente para realizar a limpeza do local.
Os anos passaram, os príncipes cresceram, o Imperador foi pressionado a um novo casamento e nomeou uma Imperatriz Consorte para ter um pouco de paz, com quem teve uma filha e, mais tarde, teve outro par de gêmeos com sua concubina mais estimada. Em toda essa trajetória, o palácio que pertenceu à Imperatriz Annchi permaneceu intocado até mesmo para seus filhos, que sequer lembravam do rosto da mãe.
Zhiyuan lembrava de um momento na infância, quando foi severamente castigado por um dos eunucos do Imperador, e este lhe disse em tom de repulsa que olhar para ele era como ver o fantasma de “Sinkai”. Talvez esse fosse o motivo para todos os olhares severos que o Imperador lançava sobre os filhos mais velhos e se os boatos estavam certos e a Imperatriz Annchi foi a única detentora do amor do Imperador, justificava a incapacidade do Filho do Céu em punir pessoalmente os dois príncipes.
A educação em Weiqi é muito severa, seja entre os nobres ou entre a população comum. Os castigos físicos eram parte da tradição familiar dos nativos, que usavam esse método para corrigir as crianças sob a crença de que quando a palmada vinha do pai, o entendimento era mais rápido. Apesar disso, o Imperador nunca foi capaz de bater nos filhos mais velhos, ordenando que os eunucos o fizessem em seu lugar, longe de seus olhos.
Só teve uma exceção, quando eles tinham sete anos de idade.
Apesar de terem sido criados separados, constantemente afastados pelos servos responsáveis por seus cuidados, ainda procuravam formas de se encontrar por ainda terem afeto um pelo outro na época. Faltavam poucos dias para o aniversário de falecimento da Imperatriz Annchi e, daquela vez, eles queriam descobrir como ela parecia para realizarem os ritos com algum rosto em mente, já que não haviam retratos dela em outros lugares da Cidade Imperial.
Juntos, enganaram os servos e saíram escondidos durante a noite para invadir o Palácio da Imperatriz Annchi, onde procuraram por quadros com o rosto dela. Eles viram muitas coisas, pois o interior do local era como uma galeria, com jóias expostas em caixas de cristal, roupas exibidas em manequins, pinturas enormes pendendo nas paredes, entre outros itens dispostos estrategicamente nos móveis e prateleiras.
Por serem crianças e estarem curiosos, os príncipes mexeram em algumas coisas e se perguntaram se tudo pertenceu à mãe deles em vida. Era como conhecer um pouco de quem ela era, do que ela gostava e, quem sabe, como a personalidade dela poderia ter sido. Encontraram conjuntos de costura, novelos de lã, roupas de bebê, vidros de perfume pela metade, escovas de cabelo e espelhos de mão. Zhiyuan espirrou o pouco de um dos perfumes em seu pulso e estava com o vidro na mão quando a porta de entrada abriu com um baque violento.
Eles não conseguiram encontrar os quadros da Imperatriz antes de serem pegos.
O Imperador os pegou no flagra, então não houve tempo para pedir desculpas ou tentar fugir, ele pegou a primeira corda que achou, o brocado pesado de uma cortina, e bateu neles ali mesmo. Por Zhiyuan ter espirrado o perfume, foi jogado no chão e apanhou severamente, mas Yiran se meteu na frente para defendê-lo e acabou se tornando o alvo. O Imperador estava totalmente fora de controle, então não ponderou a própria força e só parou de bater em Yiran quando Zhiyuan jogou um vaso de cerâmica na cabeça dele ao notar que o irmão estava inconsciente.
O Imperador parou de agredi-los, mas não tentou socorrer o primogênito, se limitou a arrastar ambos para fora e os jogou ali antes de se trancar no palácio e entrar em isolamento.
Naquela noite, Zhiyuan usou toda a força que lhe restava para carregar seu irmão para o quarto dele e o deixou sob os cuidados das servas, que quase desmaiaram ao ver seu estado. Zhiyuan não estava tão mal, então apenas passou um unguento nas feridas e voltou para os seus aposentos no Pavilhão do Imortal Santificado, de onde prometeu não sair nos próximos dias.
Os boatos sobre a saúde do Príncipe Herdeiro começaram a se espalhar na manhã seguinte, mas ninguém falava o que ele tinha e o que tinha acontecido, apenas murmuravam que este estava tão doente que não conseguia levantar da cama. Zhiyuan se esforçou para ignorar os sentimentos de culpa e piedade que tinha pelo irmão, mas principalmente tentava se livrar do ódio animalesco que passou a sentir por seu pai imperial.
Até aquele momento, tinha deixado de lado o tratamento frio que recebia do Imperador porque sabia que ele era assim com todos, o via como alguém inalcançável que de fato sacrificou a si mesmo para se colocar em um patamar acima dos homens. Contudo, naquela noite, Zhiyuan viu um lado dele que preferia não ter conhecido, porque entrou em seu corpo como um parasita que se prolifera muito rápido. A expressão de completa angústia e desespero no rosto do Imperador enquanto espancava seu irmão foi perturbadora, a ausência de arrependimento e o desdém como se ele odiasse a existência dos próprios filhos mais do que tudo no mundo eram inesquecíveis.
Zhiyuan passou a odiá-lo também.
Sentia-se envergonhado por ter sido defendido por Yiran, que era fisicamente mais fraco do que ele, mesmo que não pudesse ser páreo para o Imperador naquela época. Já estava treinando entre os soldados, já tinha conhecido a morte, já tinha se familiarizado com o cheiro de sangue, mas percebeu que perto do Imperador e de outros adultos, ele não era nada além de um alvo fácil.
Após isso, o comportamento problemático dos três começou a se agravar e a distância emocional se transformou num abismo. Yiran tentou se aproximar do irmão, mas todas as suas tentativas foram frustradas, até ele trocar a esperança pela raiva e desistir de Zhiyuan para sempre. O pequeno conflito entre os gêmeos, antes instigado pelos servos para delimitar quem era o melhor entre eles, passou a ser fortalecido também pelo Imperador, que propiciava de todas as formas o distanciamento entre os dois príncipes mais velhos. Mas, principalmente entre os príncipes e ele.
Colocando Wang Yiran como sua prioridade, passou a enterrá-lo em obrigações e tarefas políticas complexas, que nem os eruditos conseguiam resolver, apenas para menosprezá-lo e ridicularizá-lo na frente dos outros nobres. Wang Zhiyuan, por sua vez, era tratado como um estorvo, uma mancha incômoda em um tecido outrora alvo, porque sua existência irritante apagava o brilho do Príncipe Herdeiro.
No fim, nem um dos dois estava à altura das expectativas, sempre tratados como incapazes e indignos, o destino premeditado pela mãe deles na escolha de seus nomes foi sendo apagado pouco a pouco pela insensatez do Imperador.
Yiran era de fato muito inteligente, mesmo sendo jovem, possuía a sabedoria adequada para superar momentos de crise e tinha o temperamento fácil que tranquilizava e atraía as pessoas. Quase todos os servos gostavam dele e sua mera existência causava inveja nos ministros e seus herdeiros, mas faltava nele a dureza e o punho de ferro necessários para governar o império.
Zhiyuan era aquele cuja personalidade austera e postura estoica era vista com desagrado. De voz firme e poucas palavras, olhar severo e observador, era articulado e sorrateiro como um assassino – como o criaram para ser. Era difícil de se aproximar, de lidar e de ler, o que eram atitudes terríveis em um soldado, que precisa baixar a cabeça para seus superiores e atender suas ordens. Lhe faltava a adaptatividade de um mercenário.
Alguns diziam que era o destino dos dois se chocando, onde eventualmente um destruiria o outro para que houvesse equilíbrio, como na história dos oceanos Da Yu e Da Yuër. Outros alegavam que o fato de serem gêmeos idênticos havia dividido a alma original no ventre e, ao nascerem, as características que deveriam pertencer ao Príncipe Herdeiro foram divididas entre os dois.
Ignorando todas essas crenças, Zhiyuan tinha certeza de apenas uma coisa: independente do motivo que os fez nascer assim, iria provar que ele era o deus do próprio destino.
[1] “Distante dos assuntos mundanos” — 超然于世事 (chāo rán yú shì shìuma); Diz respeito a quem observa o mundo “de fora”, quase como se vivesse acima dele. Pode indicar alguém que se comporta de maneira indiferente e superior aos demais.
[2] “Filho do Céu” — 天子 (Tiānzǐ); título do Imperador, muito utilizado em histórias de alta fantasia chinesa. Seria como a releitura da concepção de que “o rei é a figura de deus na terra”. Neste caso, o Imperador é a representação do dao, o céu dentro da filosofia taoísta.
[3] “Mianfu” — Estilo de hanfu cerimonial usado por imperadores em ocasiões importantes, pode ter três peças (com robe externo, interior com gola cruzada e a parte inferior semelhante a uma saia) ou duas peças (com o robe superior com a gola cruzada e manga larga, e a parte inferior semelhante a uma saia).
[4] “Os Doze Ornamentos” — São doze símbolos da cultura chinesa que representam autoridade, poder e carregam boa sorte. Os símbolos tem significados individuais e tem um hierarquia própria que determina em que parte da vestimenta devem ser bordados.
[5] 冕冠 (miǎn guàn) — Coroa de doze borlas usada por imperadores, outra variação inclui a coroa de oito borlas, que costuma ser usada por príncipes e duques. Havendo variações com nove e sete borlas, voltadas para outros nobres.
[6] Shùfàguān (束发冠) — Tipo de coroa para prender o cabelo, tem o formado de um pequeno gorro fixado por um grampo comprido no centro.
*“Da Tianzi” — Significa “Grande Filho do Céu”. Lembre que “Tianzi” significa “Filho do Céu”, o título do Imperador.
[7] “kowtow” — Diz respeito ao ato de prostrar-se ao ponto da cabeça tocar no chão, indica profundo respeito e servidão.
[8] “Príncipe de Primeira Ordem” — Um título dado ao filho do Imperador que não tem direito ao trono.
[9] “Shixiong” — Irmão cultivador mais velho.
[10] “Wang Yiran” — 王懿然 (Wáng Yìrán)
懿 (Yì) = excelente, virtuoso, de alta moral
然 (rá) = assim, natural
[11] “Wang Zhiyuan” — 王志远 (Wáng Zhìyuǎn)
志 (Zhì) — vontade, ambição elevada, propósito
远 (Yuǎn) — distante, vasto, profundo
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Jiang Lu era um garoto como qualquer outro, nascido em berço de ouro, nunca experienciou os labores da vida. Então, ao acordar em um mundo totalmente diferente do seu numa manhã inexplicável, perguntou-se que tipo de deus, cruel e sanguinário, o colocaria em tamanha desvantagem.
Poderia alguém como ele, jovem e inexperiente, sobreviver aos desafios desse universo impiedoso?