Ler Dragão de Prata: 不道德的修炼之路 – Capítulo 03 Online
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O despertar não foi tão doloroso quanto os anteriores, mas aconteceu de forma igualmente desconfortável.
A pesadez de seus membros e o amargor em sua boca eram sinais de que ainda permanecia no mundo dos vivos, insistentemente preso à esperança de assistir mais alguns amanheceres. Ao abrir os olhos, desta vez, foi cumprimentado pela penumbra. Estava em um lugar diferente, com uma janela entreaberta, por onde a luz da lua adentrou o espaço para criar algumas sombras.
Era um quarto compacto, com uma porta e uma janela, um armário pequeno, um criado mudo, uma mesa de chá e a cama onde estava repousando. Ao notar isso, Jiang Lu foi atingido pela percepção de que passou tempo o suficiente no cativeiro para se acostumar com o frio, pois estar aconchegado em uma cama macia com cobertores quentes lhe causou um sentimento angustiante de inadequação.
Sentou com letargia, resmungando pela dor pulsante em seus membros e o buraco em seu estômago. Também estava morrendo de sede, ao ponto de quase não conseguir abrir a boca pela secura nos lábios. Não sabia onde estava, mas podia supor a maneira como chegou ali.
Apesar dos eventos recentes terem sido absurdamente traumáticos, lembrava-se com exatidão de tudo que tinha acontecido. Os rostos das pessoas que o resgataram também eram claros em sua mente e se não fossem eles os responsáveis por levá-lo a um lugar seguro, não poderia supor ninguém mais.
Enquanto tateava a mesa de cabeceira, ponderou sobre as características daquelas pessoas, tentando lembrar em quais lugares da China ainda se vestiam com roupas tradicionais, mas não conseguia pensar em nenhum. Obviamente, havia eventos locais onde as pessoas se vestiam assim por uma questão cultural e geracional, porém tinha certeza de que esse não era o caso. Estava fora da época de qualquer festival.
Não conseguia entender porque eles estavam vestidos daquela maneira como se fosse tão natural. Descartou a ideia de que poderiam ser atores, porque atores não andariam por aí com espadas e muito menos as usariam tão perfeitamente no dia a dia.
Encontrou uma lamparina em cima do criado mudo, um modelo rústico e antigo que só tinha visto em filmes. Quase não acreditava que alguém ainda usasse algo assim, porque mesmo as comunidades mais remotas da China tinham acesso à luz elétrica nos tempos atuais. Tocou na coisa de metal como se fosse uma relíquia e decidiu acendê-la após achar uma caixa de fósforos na gaveta. Pouco familiarizado com isso, demorou para fazer a chama arder no pavio de algodão, iluminando um pouquinho ao seu redor.
Ficou de pé na intenção de ir buscar água para beber e riu baixo ao notar que parecia uma assombração naquele cenário. Enquanto estava inconsciente, alguém tirou a bata de seu corpo e o vestiu com um camisolão branco de mangas compridas, que chegava até seus tornozelos. Andando meio curvado vestido dessa maneira e segurando a lamparina, viu a si mesmo como um personagem caricato de terror infanto-juvenil.
Seu roleplay não durou muito, no entanto. Na mesinha de chá no centro do quarto havia uma bandeja redonda com um jarro d’água e um pote com biscoitos. Seus olhos quase brilharam quando os viu. Com rapidez, sentou-se no chão perto da mesa e deixou a lamparina de lado, serviu-se de um copo d’água com as mãos trêmulas, derrubando um pouco em si mesmo, tão ansioso estava.
Bebeu tanto ao ponto de secar o jarro e embora não se sentisse particularmente satisfeito, conseguiu amenizar bastante a secura da garganta. Sentindo-se confiante, abriu o pote de biscoitos e o colocou no colo, provou um primeiro, o sabor explodindo na boca como se fosse um manjar dos deuses, a massa doce dissolvendo na língua conforme mastigava. Estava faminto, então mesmo que tenha tentado manter os bons modos comendo devagar e sem fazer bagunça, logo se viu enchendo a boca de biscoitos ao ponto de ter dificuldade para mastigar.
Seu estômago rugiu quando se alimentou pela primeira vez em tantos dias.
Lu quase chorou de felicidade, satisfeito de que não estava mais acorrentado, que poderia voltar a dormir em uma cama, ter acesso irrestrito à água e à comida. Coisas tão simples, das quais nunca sentiu falta porque tinha em abundância, de repente se tornaram bênçãos inestimáveis.
Bem que os filósofos dizem que a liberdade é a essência do viver, pensou.
Quando encontrasse seus pais novamente, abraçaria-os bem forte e compraria todos os presentes que LiXiao quisesse. Sentia muitas saudades de seu irmãozinho, assim como de toda sua família. Como eles estariam? Será que ainda estavam muito preocupados? Precisava entrar em contato com eles o mais breve possível, mas ao lançar um olhar para a lamparina que clareava sua silhueta, ponderou se alguém nesse lugar teria um celular.
Esvaziou o pote de biscoitos em alguns minutos, sentindo-se tão cheio que poderia vomitar. Levantou-se novamente, sentindo-se revigorado apesar da dor que fazia com que seus músculos pulsassem a cada passo. Não queria perder mais tempo.
Foi até a porta do quarto e abriu bem devagar, receoso de fazer muito barulho. Parecia ser bem tarde da noite e ainda não tinha certeza de onde e com quem estava, por isso queria evitar ser um estorvo. Contudo, as dobradiças da porta pareceram criar vida própria e gemeram tão alto que acordariam qualquer pessoa em um raio de oitenta metros.
Assustado, olhou para o corredor semi-iluminado à sua frente, haviam outras portas tanto à esquerda quanto à direita, o que poderia indicar a presença de outras pessoas no mesmo local. Com certeza tinha acordado umas três delas nessa brincadeira, e não demorou muito para que passos ecoassem em sua direção.
Se preparou para voltar para dentro e fingir que nada tinha acontecido, mas foi surpreendido quando a porta frente à sua foi aberta de par em par. Reconheceu a pessoa por trás dela de imediato, porque mesmo que ele estivesse com o cabelo solto e vestindo roupas diferentes, reconheceria as feições pouco amigáveis daquele homem a quilômetros de distância.
— O que você pensa que está fazendo? — o tom hostil o fez se sobressaltar, se encolhendo como um animal ferido. Bing Dao, seu salvador, o encarava como se pudesse virá-lo do avesso com o poder da mente. — Está tentando fugir?!
Jiang Lu arregalou os olhos ao ouvir tal acusação, bufando para a ideia mirabolante. Fugiria para onde? Do que diabos esse cara estava falando?
— Eu só queria um pouco d’água — disse em tom baixo, tentando apaziguar o humor azedo do outro. — Estou com sede…
E com fome e com vontade de tomar banho e querendo muito ir pra casa e…
— Tem água no seu quarto — ele disse isso da maneira mais acusatória possível. Parecia em alerta, como se o garoto fosse correr a qualquer momento.
Lu controlou a vontade de revirar os olhos.
— Eu bebi tudo.
Bing Dao continuou parado ali o analisando como se esperasse a verdade por trás dessas palavras. Parecia um louco.
— Por que está com medo que eu fuja? — perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Está agindo mais como um sequestrador do que como um salvador.
Isso fez o homem ficar tenso de repente, ao ponto de ranger os dentes e cerrar os punhos. Parecia mortalmente ofendido.
— Heróis marciais jamais cometeriam tal atrocidade! Como ousa me acusar dessa maneira?!
O adolescente absorveu as palavras dele como se estivesse bebendo vinagre. Até torceu o nariz, incapaz de controlar as próprias reações.
— Heróis marciais…? O quê? Você é…? — “Um lunático?” quis perguntar, mas se calou antes de criar uma situação ainda mais desconfortável. — Apenas responda minha pergunta, ok? Não precisa ficar tão ofendido se não é verdade.
— Pessoas como você não conseguem se defender sozinhas — foi categórico, fechando a porta atrás de si para sair de uma vez e se aproximar do garoto. — É perigoso andar sozinho por aí. A não ser que queira ter uma morte horrível, não fuja.
Lu engoliu em seco, sentindo as pernas tremerem. Se sentiu particularmente amedrontado pela forma soturna e ameaçadora com a qual ele proferiu essas palavras.
— Os sequestradores ainda estão atrás de mim?
— Certamente.
— Não deveríamos ligar para as autoridades? Se eles são tão ameaçadores, ainda estamos em perigo!
Bing Dao bufou, concentrando-se apenas no final da frase.
— É impossível que eles me superem em batalha — aparentemente farto de falar sobre isso, o homem apontou para o corredor e o chamou com certa impaciência: — Venha comigo, vou te acompanhar até a cozinha.
Jiang Lu não teve tempo de retrucar ou discutir, apenas deixou seus ombros caírem em uma expressão derrotada, seguindo-o com passos apressados para conseguir acompanhá-lo.
Olhando ao redor, percebeu que não estavam em uma casa qualquer, mas uma espécie de hostel. Passaram por diversos quartos, provavelmente com a mesma configuração que o seu, esbarraram em duas pessoas no caminho e estas sequer lançaram um olhar para eles, alheias. Lu notou que elas também se vestiam de maneira tradicional, misturando características do estilo de hanfu simples com as vestimentas ocidentais que viu inúmeras vezes em comics históricas.
Não havia iluminação artificial em nenhum lugar, apenas velas colocadas em pontos estratégicos, onde muitas já haviam apagado. Ao descerem as escadas, precisou ter cuidado, pois não enxergava os degraus muito bem e Bing Dao não parecia interessado em ajudá-lo a descer. Era bem rústico, tão rústico que não parecia intencional…
Quando chegaram no andar de baixo, este parecia mais acolhedor. Tratava-se de um grande salão com várias mesas de madeira escura rodeadas por cadeiras simples, também haviam alguns assentos individuais próximos às paredes. Estava silencioso, mesmo que houvesse pessoas aqui e ali concentradas nos próprios assuntos; tão quieto que parecia uma biblioteca. Enquanto caminhava atrás de Bing Dao para atravessar o salão em direção à um corredor lateral, sentiu alguns olhares, mas estava envergonhado demais para devolvê-los.
De repente, se sentiu dolorosamente consciente das próprias roupas.
— Bing-Ge — chamou-o assim que adentraram o corredor largo que os afastou do salão. Quase não prestou atenção nas pinturas que enfeitavam aquelas paredes. Eram lindas paisagens primaveris.
— Hum? — o homem não o olhou ao responder.
— Onde posso conseguir roupas? Não quero abusar da sua boa vontade, mas é um pouco desconfortável andar por aí assim… — pigarreou, desconfortável porque finalmente recaiu sobre si a percepção de que estava completamente nu sob aquele camisolão. Na verdade, não lembrava-se da última vez que usou uma cueca desde que foi internado no hospital.
— Só poderia emprestar minhas próprias roupas, mas acho que todas ficariam grandes demais em você — interpôs, meio pensativo. — Quando chegarmos na cidade, comprarei algo do seu tamanho.
Ao ouvir falar da “cidade”, Lu quase vibrou de animação.
— Sim! Isso seria ótimo! Talvez a gente consiga sinal de celular por lá também… Aqui não tem nem telefone fixo ou algo assim? Ou fax? Queria mandar ao menos um sinal de vida pra minha família, eles devem estar morrendo de preocupação.
Bing Dao parou de caminhar de repente.
— Do que você está falando? — perguntou ao virar-se para o garoto, suas sobrancelhas franzidas em uma carranca impaciente.
— Precisamos ligar pra minha família! — Lu gesticulou com a mão como se segurasse um celular invisível, levando-o até a orelha. — Ligar e avisar que estou bem.
Por alguns instantes, o homem o encarou como se ponderasse o quão forte Jiang Lu bateu a cabeça quando desmaiou após ser resgatado.
— Não importa o quanto eu te escute, não consigo entender sobre o que você está falando.
O adolescente bufou, irritando-se com a atitude indiferente do homem.
— Em que mundo você vive?! Estou falando de um celular! Por acaso você nunca viu um? — foi irônico, revirando os olhos como só um adolescente no auge da puberdade faria. — Quer que eu desenhe pra você?
Apesar da atitude desrespeitosa do garoto, Bing Dao não o repreendeu. Ao contrário disso, um olhar estranho passou pelo rosto dele.
— Talvez a loucura seja um traço genético dos gers… — Bing-Ge murmurou para si mesmo, desviando o olhar para um ponto imaginário na parede mais próxima.
Foi a vez de Jiang Lu franzir o cenho ao encará-lo com uma expressão confusa, sentindo que seus ouvidos estavam sujos ao ponto de impedi-lo de ouvir corretamente as coisas que saíam da boca alheia. Porque era impossível que ele estivesse usando a palavra “ger” em um contexto sério. Meio estatelado, titubeou antes de perguntar:
— Do que você me chamou…?
Bing Dao cruzou os braços e lhe deu as costas, voltando a caminhar sem qualquer interesse em responder. Ele adentrou o cômodo seguinte, que parecia ser a cozinha, mas Lu não prestou atenção em nada depois disso. Após alguns segundos de choque, correu em direção a ele e o segurou pelo braço com brusquidão.
— Não me ignore! Mas que porra! — esbravejou, tão nervoso que jogou a cordialidade pros ares.
O corpo daquele homem era como uma rocha firme, apesar do puxão que recebeu do garoto, não se moveu um só milímetro do lugar. Ao contrário disso, as ações o fizeram retribuir a rispidez. Bing-Ge segurou no adolescente pela nuca e o empurrou com o próprio corpo, encurralando-o contra a parede. Forçou Lu a olhar para cima e, olhos nos olhos, o cumprimentou com uma expressão cheia de algo sombrio e reprimido.
Jiang Lu se arrepiou de medo da cabeça aos pés.
— Fale comigo assim novamente e me certificarei de arrancar suas cordas vocais — o tom era baixo, quase um sussurro, mas atingiu o adversário como mil facas apontadas contra ele. — Tenha respeito, não há nada que um ger possa fazer em um mundo como esse além de ser dócil e cooperativo. Você parece estar confuso quanto à própria situação, então irei deixar as coisas bem claras.
Com horror, Lu arregalou os olhos ao sentir como o homem encaixou uma das pernas dele entre suas coxas, fazendo-o quase montar sobre ele. Houve fricção, deveria ser algum tipo de provocação, mas tudo que o garoto conseguia sentir era repulsa. A bile subiu para a garganta na mesma velocidade em que seu corpo inteiro estremeceu, lágrimas encheram seus olhos e, com lividez, observou o sorriso sádico do outro homem.
— Talvez você esteja confuso devido a quantidade de drogas que aqueles bandidos aplicaram em você, então escute com atenção — se aproximou do ouvido do adolescente, respirando próximo à pele sensível de seu pescoço. Jiang Lu engoliu a onda de vômito. — Você iria se tornar um prostituto se continuasse naquela fazenda, fodido por todos os homens e até pelos animais do senhor daquelas terras. Eu te salvei do destino cruel que te aguardava, agora você só precisará servir a mim. Será apenas meu e de mais ninguém. Não sei do que porra você estava falando e pouco me importa sua família, pois eles nunca mais o verão. Então, se quiser viver bem, me respeite acima de tudo. Se for bonzinho, um dia posso conseguir te amar.
Bing Dao disse a última frase de maneira lasciva, mordiscando a orelha do garoto provocativamente. Ele o soltou após isso, parecia de bom humor quando viu a expressão aterrorizada nas feições elegantes, os olhos lacrimejantes, a postura acuada, o aspecto pálido e fácil. Pensou que Jiang-Dìdi era muito mais adorável daquela maneira, pequeno e inofensivo.
— Agora venha comer de uma vez, você não me serve de nada se tiver o aspecto de um morto-vivo.
Jiang Lu não se moveu, não reagiu, não o seguiu. Apenas se encolheu ainda mais contra a parede enquanto encarava aquele homem como se o Diabo estivesse vestindo a pele dele. Sua mente estava tão confusa e emaranhada com seus pensamentos, que os alertas de perigo o fizeram congelar e ser incapaz de racionalizar qualquer coisa. Engoliu em seco, ainda com o amargor da bile na boca, prendendo a respiração.
Que merda foi essa?!
Embora quisesse continuar negando, era impossível permanecer cobrindo seus olhos com ignorância, pois a verdade foi violentamente esfregada em seu rosto. Os sinais estavam todos ali e querendo ou não, precisava aceitá-los.
O sotaque estranho de Bing Dao, a caligrafia confusa nas paredes, a falta de tecnologia, os trajes das pessoas, as espadas, o ódio de Mei Ting por seu sobrenome e, finalmente, o termo “ger”… Se esta não era uma materialização do enredo da novel “Príncipe Sombrio”, era um conjunto de coincidências muito bem articuladas pelo universo.
Havia consumido romances históricos o suficiente para ser familiarizado com muitos aspectos desse tipo de trama e sabia que fosse realidade ou alucinação, caso tenha transmigrado para o mundo de “Príncipe Sombrio” como um ger, seria muito melhor ter morrido naquele cativeiro.
Em um lampejo da própria consciência, lembrou de si mesmo implorando para qualquer deus salvá-lo pelo preço que fosse. Naquela época, não imaginou que seria testado dessa maneira, pois olhando para a situação atual, não sabia se valia a pena viver assim.
Na novel, gers eram uma espécie de seres gerados pela miscigenação entre humanos e feras mágicas, onde todos nasciam com aspecto masculino, mas que detinham a capacidade de engravidar através de cios esporádicos. Parecia apenas uma forma de incrementar o harém do protagonista, pois foi uma espécie descrita de forma rasa. Dizia que eram bonitos como os deuses e atraentes como os demônios, liberando feromônios que “induziam os bons homens ao pecado”.
Quando leu sobre isso, Jiang Lu pensou que uma espécie tão sexualizada estava destinada à marginalização. Nunca imaginou que sua opinião era tão acertada, muito menos que se tornaria um deles.
Essa conclusão caiu sobre ele como um banho de água fria.
Fora de sua mente, Bing Dao, que não se importava com a crise interna do adolescente, o agarrou pelo braço e o puxou.
— Mesmo que sua expressão de completo horror seja adorável, me irrita que você não me obedeça. Anda logo, quero voltar a dormir depois de te alimentar.
Enquanto era forçado a andar junto a ele, Lu recobrou a consciência e começou a se debater, tentando se soltar.
Como se eu fosse conseguir comer depois disso!
Não estava em sua genética abaixar a cabeça e aceitar qualquer merda que tentassem impôr sobre ele. Mesmo que estivesse morrendo de medo das represálias e soubesse que nem em seus sonhos mais loucos seria capaz de lutar contra Bing Dao, não desistiria tão fácil. Frente à realidade onde foi colocado como um mero objeto sexual, sabia o que lhe aguardava.
Jiang Lu nunca teve contato íntimo com ninguém, apenas alguns beijos com garotas de quem ele se tornou amigo depois. O ápice de intimidade que alcançou foi tocando a si mesmo enquanto explorava a própria sexualidade. Não tinha experiência, era verdade, mas não era um completo idiota. Estava plenamente consciente das coisas que aquele homem planejava fazer com seu corpo, não precisava ler livro nenhum para entender isso.
— Me larga! Não vou a lugar nenhum com você! — chutou a perna dele, frustrado de que o ápice de sua força não causasse a menor reação no outro. — Socorro! Socorro! Esse homem está…!
Interrompido pela mão alheia sobre sua boca, o mundo de Lu virou em cento e oitenta graus quando o homem o jogou sobre o ombro como um peso morto. Ofegou, surpreso; nunca se sentiu tão impotente quanto naquele momento. Lágrimas de frustração escaparam abundantemente, enquanto suas mãos passaram a socar o outro.
— Me solta!!! — gritou mais alto, mas ninguém parecia ter qualquer reação sobre isso. Ao contrário do esperado, ouviu alguns sussurros nada discretos das pessoas que estavam ao redor.
— Onde esse cara conseguiu um ger? — Alguém perguntou com admiração.
— Que barulhento! Se fosse meu, já teria… — outro comentou, sorrindo diabolicamente.
— Ah, os casais jovens… Sempre expressando seu amor em público — a voz feminina surpreendeu o adolescente. Nunca imaginou que uma mulher encararia uma situação como essa e acharia normal.
Se nem as mulheres desse mundo tinham empatia pelos gers, não havia esperança.
Derrotado, Jiang Lu chorou ainda mais forte. Estava soluçando desconsoladamente quando foi colocado em uma cadeira no lugar mais afastado da cozinha, sentado na penumbra. A visão embaçada pelas lágrimas o impedia de ver qualquer coisa à sua frente e se recusou a dar ouvidos ao que Bing Dao dizia.
De repente, todos os sentimentos que reprimiu para manter a compostura, apareceram e transbordaram. A dor, a humilhação, a saudade, o desespero, a incredulidade, a desesperança e, principalmente, a raiva e a injustiça. Odiou Bing Dao, odiou os gers, odiou esse mundo estranho, odiou estar longe de casa e quase odiou a si mesmo.
Com olhos injetados de fúria, enquanto Bing Dao, exasperado, andava de um lado para o outro sem saber como consolá-lo (sem nocauteá-lo), Jiang Lu se levantou e arremessou a cadeira contra ele. Isso pegou a todos de surpresa. Os outros hóspedes encararam, com assombro, como o jovem ger, tão frágil, jogou uma cadeira após a outra contra o artista marcial que o detinha.
O adolescente estava com a mente completamente vazia, jogando tudo que podia contra o outro. Ouviu vagamente algum xingamento proferido em sua direção, mas não parou. Atirou cadeiras, potes, luminárias, virou as mesas e arrancou os quadros decorativos das paredes para arremessá-los também. O próprio Bing Dao demorou alguns segundos para reagir, pois jamais havia conhecido um ger tão arisco e descontrolado quanto esse.
Queria puni-lo por fazê-lo passar vergonha, ao mesmo tempo, não queria machucá-lo. O garoto chorava, gritava, parecia completamente fora de si, mas era lindo. Apesar de descabelado e com o rosto inchado, era adorável como uma flor de lótus desabrochando. Se o quebrasse, ele perderia esse brilho e o artista marcial não queria que isso acontecesse. O que tornaria esse ger ainda mais valioso, seria essa beleza selvagem guardada naquele par de olhos azeviche.
O homem ficou perdido em pensamentos, hipnotizado pela beleza desconcertante que de repente se sobressaiu. Agiu como um feitiço poderoso, a imagem do garoto era deslumbrante, a pele parecia lisa e brilhante como uma peça de seda, seus movimentos graciosos como as folhas de pessegueiro que balançam sob a brisa da primavera.
Ele não foi o único seduzido, pois as demais pessoas naquele cômodo se encontravam na mesma situação. Olhares fixos e vidrados na linda bagunça raivosa dessa criatura. Era como se o tempo tivesse congelado para eles que, pateticamente, permaneciam encarando-o como se fosse uma pintura.
Jiang Lu só se deu conta da situação quando acertou um saleiro no meio da testa de Bing Dao e ele nem se moveu. Parou, ofegante e o encarou com estranheza.
— O que…?
Antes de conseguir externalizar sua confusão, uma risadinha feminina atraiu sua atenção. Seu olhar rapidamente se virou em direção a entrada, onde reconheceu a mulher que estava com Bing Dao quando o tiraram do cativeiro.
— O poder de sedução da sua espécie é mais forte do que imaginei — ela disse em tom divertido, passando pelas pessoas do salão como se passeasse entre estátuas de gesso. — Nunca vi alguém tão jovem exercer tamanha influência sobre os outros.
— Mei Ting-Jiē… — murmurou com receio. Não podia esquecer que ela era cúmplice de Bing Dao.
A julgar pela expressão dela, Mei-Jiē sabia exatamente por qual caminho os pensamentos dele estavam indo. Ela começou a agir mais cautelosa, mas não parou de se aproximar.
— Acho que Xiao Dao não foi gentil com você, não é mesmo? — seu tom era lamentoso, mas ela não tinha a aparência de alguém que sentia muito. — Deixe-me corrigir os erros dele, que tal?
— Ahn?
Rápida como uma flecha, em um movimento de seus pés, a mulher cortou a distância entre eles e segurou Jiang Lu pelo pulso. Ela sorriu e antes que ele pudesse ter qualquer reação, os dois desapareceram no ar. Apenas um suave aroma de flores ficou para trás.
Com o desaparecimento do ger, a hipnose foi interrompida como um estalar de dedos. Bing Dao franziu o cenho ao notar o que tinha acabado de acontecer e mais furioso ficou ao notar que o garoto havia desaparecido.
Uma forte intenção assassina emanou dos seus poros, ódio borbulhando em seu estômago enquanto encarava o espaço vazio onde seu ger estava apenas um momento atrás. Se sentia ainda mais perturbardo por não entender como aquilo aconteceu, pois havia apenas um apagão em sua memória.
Cheio de rancor por ter sido enganado, desembainhou a espada e começou a procurar. Precisava encontrá-lo rápido, antes que alguém o roubasse. Ou pior, antes que alguém o usasse.
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Jiang Lu era um garoto como qualquer outro, nascido em berço de ouro, nunca experienciou os labores da vida. Então, ao acordar em um mundo totalmente diferente do seu numa manhã inexplicável, perguntou-se que tipo de deus, cruel e sanguinário, o colocaria em tamanha desvantagem.
Poderia alguém como ele, jovem e inexperiente, sobreviver aos desafios desse universo impiedoso?