Ler Dragão de Prata: 不道德的修炼之路 – Capítulo 02 Online
Encontre o autor no twitter/X:
Também estou no wattpad:
Quando acordou, Jiang Lu teve dificuldade para abrir os olhos. Suas pálpebras pareciam pesadas e os cílios grudaram uns nos outros pelo frio, que fazia todos os ossos do seu corpo tremerem. Com os dentes batendo e uma ardência estranha no estômago, forçou-se a vislumbrar o local onde estava, um quarto pequeno, com uma porta de madeira maciça e uma janela minúscula alta demais para ver qualquer coisa através dela.
O adolescente, deitado no que parecia uma cama improvisada com paletes e retalhos de tecido, sentou-se com movimentos letárgicos, fortalecidos pela tontura que o atingiu de repente. Estava tão fisicamente desgastado que não conseguia reagir ao que estava óbvio para si.
Tinha sido sequestrado.
Devido ao status financeiro de sua família, sempre foi apresentado à ideia de sequestros e de que forma deveria lidar com eles, mas parecia algo tão distante, que nunca considerou que teria o azar de ser uma vítima, afinal, sempre foi muito cuidadoso. Tentou puxar em sua memória qualquer coisa que justificasse essa situação, porém só lembrava de estar doente, alguns flashes de um quarto de hospital e do olhar cansado de seu pai, da pesadez em seus membros e, finalmente, do sorriso sádico de um desconhecido.
O que aconteceu, afinal?
Massageou seus músculos doloridos, esfregando as mãos sobre a pele na tentativa de afastar o frio congelante que o fez se encolher. Estava vestindo apenas a bata do hospital, que era fina e indiscreta demais para lhe dar qualquer sensação de calor. Ao se mover, ouviu o tilintar metálico de uma corrente, cujo grilhão estava conectado ao seu tornozelo e a outra extremidade firmemente presa à parede.
Que maravilha…
Calculou mentalmente a distância entre si e a porta, notando com tristeza, que não conseguiria chegar sequer perto dela enquanto estivesse preso. Considerando que nunca foi atlético, descartou a possibilidade de quebrar as correntes. Enquanto pensava em qualquer maneira de lidar com a situação, pressionou seu corpo com a ponta dos dedos distraidamente, procurando feridas, hematomas ou qualquer sinal de abuso, respirando aliviado ao perceber que encontrava-se intacto.
Percebeu-se mais magro, com os pulsos finos e as coxas secas, desnutrido. No entanto, não havia sensação de fome. Seu estômago parecia oco, rígido e estranhamente silencioso. Seus dedos gelados deslizaram pelas feições ossudas de seu rosto com tamanha tristeza, que finalmente teve vontade de chorar, contudo, estava tão desidratado que não conseguiu derramar uma lágrima sequer.
Aparentemente, estava preso naquele lugar há muito tempo, o suficiente para eliminar cada grama da vitalidade de seu corpo outrora saudável.
— Talvez os sequestradores estejam negociando com a minha família… — sussurrou com profundo desamparo, mordendo a pele que descascava de seu lábio inferior.
Puxou os retalhos da cama com as mãos trêmulas, enquanto balbuciava palavras incompreensíveis até para os próprios ouvidos, observando o vapor esbranquiçado pairar a frente do rosto em cada som proferido.
Conforme os segundos passavam e a realidade se tornava cada vez mais clara, Lu contemplou a ideia da morte com o coração batendo tão forte e rápido no peito, que chegava a ser doloroso. Não queria morrer, muito menos de maneira tão cruel e solitária, abandonado em um lugar esquecido pelos deuses e pelos homens, com nada mais que a própria pele azulada e o cheiro de mofo como testemunhas.
Morreria como um verme.
— E-eu… Estou com medo…
Cerrou os punhos e rangeu os dentes. Sua respiração ficando irregular conforme o desespero se tornava mais intenso.
— Não quero morrer… Oh, merda, não quero morrer assim… Por favor…
No mais profundo de seu ser, sabia que se não conseguisse qualquer coisa para nutrir minimamente o seu corpo, aquele seria seu último dia de vida. Todavia, não havia nada além da própria pele e sangue para tal, o que não funcionaria devido ao seu estado de desnutrição. Provavelmente sequer teria força na mandíbula para morder.
Talvez, se abrisse uma ferida no pulso usando o grilhão e bebesse do sangue que escapasse da ferida… Só um pouco…
— Isso é loucura!
A voz chorosa parecia estranha naquele espaço, as vibrações batendo nas paredes que ecoavam os seus lamentos de forma quase zombeteira.
Jiang Lu não queria morrer.
Sempre sonhou em se tornar uma pessoa notável quando crescesse. Ansiava pelo dia em que encontraria sua musa inspiradora e pintaria o quadro que impulsionaria sua carreira como artista, assim como Monalisa foi para DaVinci; sonhava com o dia em que acordaria abraçado com alguém que amaria de todo coração; desejava experimentar uma vida cheia de aventuras, com emoções que sequer poderia imaginar. Era tão injusto terminar assim!
— Se eu… tiver uma chance, uma só… — suspirou, sentindo a visão escurecer nas bordas gradualmente. Encolheu-se sob os retalhos do lençol puído, sentindo o nariz arder pela poeira e o coração apertar de tristeza. — Se os deuses me derem uma chance, farei tudo isso valer a pena.
Jiang Lu nunca foi devoto de nenhuma religião, porém nunca desconsiderou que existia, em algum lugar do universo, seres com poderes incompreensíveis para a mente humana. Seres tão ou mais cruéis que os homens.
— Mesmo que eu precise pagar por isso mais tarde — murmurou enquanto adormecia —, quero viver para quitar essa dívida.
Adormeceu sem querer, com um gosto amargo explodindo na boca.
Em seus sonhos, um sorriso torcido o cumprimentou com familiaridade.
Seu desejo já foi concedido, moleque.
𖥟
Na próxima vez que abriu os olhos, foi pelo susto. Um estrondo aterrorizante acordou até as células mortas de seu corpo, quase machucando seus tímpanos. Abafado pela porta, reconheceu o barulho indistinto de metal contra metal, como uma lâmina arranhando alumínio. O baque se repetiu, mais perto dessa vez, próximo o suficiente para identificá-lo como uma porta sendo arrombada.
O que está acontecendo? Questionou mentalmente, levantando-se com certa dificuldade e caminhando devagar em direção à saída do cativeiro. A corrente pesada arrastava no chão com um barulho agourento conforme se mexia, com os pés tão dormentes pelo frio que sequer sentia o contato com o chão. Considerando todo o absurdo da situação, sabia que se não fosse pela adrenalina, não conseguiria ficar em pé.
O limite da corrente o forçou a parar a cinco passos da porta, o retumbar desconhecido se repetindo e chegando cada vez mais perto. Não sabia como se sentir em relação a isso, se esperançoso ou temeroso, pois quando acordou pela primeira vez no cativeiro, tudo estava tão silencioso que parecia irreal, como se todos os seres humanos tivessem desaparecido e só ele tivesse ficado. Naquele momento, no entanto, havia tanto barulho escapando sob a porta que se lhe dissessem que uma guerra havia estourado, acreditaria sem pestanejar.
Talvez seus pais finalmente encontraram uma forma de resgatá-lo? Talvez a polícia estivesse invadindo o local à sua procura? Talvez houvesse outras vítimas além dele?
Já tinha considerado a hipótese de ter sido capturado por alguma organização de tráfico de pessoas a julgar pela total negligência que tiveram consigo, largando-o para morrer de fome e frio em um cubículo mofado. De certa forma, considerava sorte não ter sofrido nenhum tipo de abuso ou agressão, porém não deixava de ser desesperador assistir a vida sair através de seus poros um pouquinho mais a cada segundo.
Por isso, enquanto considerava a reviravolta, escolheu ser positivo quanto a isso. Seu coração ficou acelerado e uma ansiedade inexplicável fez seu estômago revirar. Seria resgatado finalmente?
Se algum deus realmente existia, então…
BAM!!!
Lu saltou para trás como um gato assustado no instante em que a porta do cativeiro foi arrancada das dobradiças, lascas voando para todo lado antes de ela cair violentamente contra o chão a alguns centímetros dos seus pés. Se não estivesse completamente apavorado e congelado pelo choque, teria gritado a plenos pulmões, porém, sua única reação foi arregalar os olhos e se encolher por reflexo na parede mais próxima.
Com passos pesados, postura ameaçadora e cara fechada, um homem enorme adentrou o cativeiro, esmagando os pedaços de madeira com suas botas negras. Lu prendeu a respiração por instinto ao dividir o cômodo minúsculo com ele, cada pelo de seu corpo arrepiando em sua presença que, de alguma forma, parecia ter tornado o ar rarefeito. Era como se as paredes se fechassem pouco a pouco ao redor deles, de maneira claustrofóbica. A esperança de ser resgatado morreu tão rápido quanto surgiu, pois o recém-chegado não parecia estar ali em uma missão de paz.
— Você — ele disse em um tom grave, quase surpreso, mas parecia ríspido demais para possuir qualquer sinal de cordialidade.
Estremeceu. Jiang Lu não conseguia desviar o olhar do rosto dele, com medo de piscar e ser morto nesse milésimo de segundo, mesmo sabendo que deveria fazer ao menos uma análise rápida de com quem estava lidando. Faria diferença? Nem em seu melhor estado, poderia lutar contra alguém assim. Ele era no mínimo dez centímetros mais alto que Lu, com ombros largos como uma ponte e as feições duras de um bandido.
Apesar do outro mencioná-lo e claramente esperar alguma reação, o garoto só fez se encolher ainda mais, desejando ter o poder de se mimetizar com a parede às suas costas.
Existiam, de fato, destinos piores que a morte.
Imaginou todo tipo de cenário catastrófico em uma velocidade anormal, quase desmaiando pelo confronto de sentimentos e pensamentos dentro de si. Seria esse o seu fim?
Ao não receber qualquer resposta, a figura já opressora do homem pareceu se tornar ainda mais hostil, suas sobrancelhas franzidas como lâminas com vincos profundos entre elas e os músculos do pescoço tão tensos que sua jugular pulsava visivelmente sob a pele. Ele levou uma mão até a cintura e o movimento atraiu a atenção do adolescente, que notou o quanto ele parecia ainda mais estranho.
Primeiro notou as roupas que definitivamente não eram comuns, mas qualquer diálogo interno sobre elas foi interrompido pelo horror de assistir, pela primeira vez em toda sua vida, uma espada de verdade ser desembainhada com propósito assassino. O cabo parecia simples e rústico, de metal polido e coberto por ligas de couro negro, mas a lâmina que se revelou pouco a pouco era tão fina quanto um fio de seda, reluzindo de maneira antinatural sob a parca iluminação daquele local.
Teria soltado um palavrão se pudesse, porque era surreal que algo assim estivesse acontecendo. Poderia mentir para si mesmo imaginando um cenário em que este homem fosse um ator performando nas roupas de um guerreiro da China feudal, mas um ator jamais carregaria uma lâmina tão afiada durante uma performance, e a ideia de que essa arma fosse usada realmente no dia a dia fez seu estômago embrulhar.
— Você vem comigo! — O homem sentenciou em tom sombrio, com a espada empunhada enquanto se aproximava do garoto impacientemente.
Lu fechou os olhos e no instante em que aquele desconhecido cortou o ar em sua direção, imaginou todas as mil e uma maneiras de ser fatiado por ele. Talvez ele cortasse o seu pé para soltá-lo das correntes, talvez o mutilasse para que nunca mais pudesse andar ou correr, talvez o matasse para usar o que restasse de seu corpo.
Isso o fez gritar estridentemente, como se morresse em agonia ao ter sua vida ameaçada pelo fio de uma espada de verdade. Ele pôde sentir a rajada de vento do movimento da lâmina, o impacto e o ruído desconcertante que o seguiu.
Não houve dor ou sangue, apenas o sentimento quase ausente de uma mão calejada agarrando-o pelo pulso e o puxando com pressa logo depois, sem se importar se ele estava ou não conseguindo acompanhar os passos apressados. Com o olhar desfocado, tropeçando para fora, Lu vislumbrou a corrente quebrada deixada para trás de maneira inofensiva e inútil, tendo sido quebrada tão facilmente sob a lâmina alheia, que ponderou ter avaliado errado a espessura dos grilhões.
Não, não podia mentir para si mesmo, porque na verdade, aquela espada era claramente poderosa demais. Era óbvio, mas difícil de acreditar. Não conseguia conceber que uma lâmina fosse capaz de cortar ferro como manteiga, sem sofrer um sinal de desgaste sequer no fio. Encarou as costas largas daquele homem com o olhar cheio de assombro, ainda sem saber como administrar tudo que sentia naquele momento.
Apesar da dor de caminhar descalço no assoalho áspero com seus pés feridos pelo frio e da inutilidade de seus músculos enfraquecidos, se esforçou para segui-lo sem cair, usando os últimos impulsos de sobrevivência que existiam dentro de si.
Aquela era sua chance. Estava livre.
A sombra de um sorriso surgiu nos cantos de seus lábios ao sair do cativeiro, deparando-se com os corredores semi-iluminados de uma casa desconhecida, onde todas as portas foram arrombadas e havia manchas vermelho-escuras no chão. Naquele intervalo, ignorou toda e qualquer ponderação sobre os detalhes do ambiente, porque nada mais importava se isso significava sua liberdade.
Sabia que uma abordagem pacífica seria impossível, que as circunstâncias eram anormais e o homem que o resgatou era ainda mais estranho, mas tudo isso deveria ter um propósito por trás.
Apenas o seguiu, sendo basicamente arrastado para fora com certa urgência, não encontraram ninguém no percurso até a saída lateral, onde finalmente contemplou a luz do sol novamente, a grande estrela se pondo saudosamente no horizonte montanhoso, atrás de nuvens acinzentadas que pareciam cumprimentar a chegada do inverno.
Respirou profundamente a brisa fresca como se fosse seu primeiro e último suspiro, estremecendo pelo contato gélido, mas satisfeito em ver o céu novamente. Olhando ao redor, observou o ambiente, estavam frente a um casarão com arquitetura tradicional construído no topo de um morro, suas paredes eram de madeira e o telhado de colmo — como nas casas descritas nas novels que leu. Uma estrada de chão batido marcava a descida para outra parte do terreno, onde era possível avistar um açude e extensos campos de criação de gado.
Haviam algumas árvores frutíferas próximas à construção, aonde se dirigiram após passar por alguns galinheiros, pisoteando a grama úmida que crescia descuidadamente nessa área. Não fazia ideia de onde ficava esse lugar, mas tinha certeza que era muito longe de casa.
— Onde… Onde estamos? — perguntou com dificuldade, ofegante, quando finalmente parou de ser arrastado por aí. Apoiou-se na árvore mais próxima e abraçou a si mesmo para se livrar do frio, se esforçando para encarar aquele homem diretamente a despeito de todo medo que sentia. — Q-quem é você?
Ao invés de respondê-lo, o homem tirou o robe que vestia e o jogou contra o garoto, olhando para todo lugar, menos para ele.
— Vista-se — ordenou, a espada já embainhada, mas a mão direita apoiada firmemente no cabo, como se estivesse em alerta.
Lu não teve muita escolha além de obedecer, vestindo a peça de roupa e apertando o máximo possível contra o corpo para evitar que o vento entrasse. Parecia grande demais, como um vestido, mas não estava em posição de reclamar.
— Meus pais que te mandaram? — insistiu, angustiado pelo comportamento evasivo do outro. — Por favor, me responda. Eu quero entender o que está acontecendo… Não lembro como vim parar aqui, não sei quem fez isso ou o porquê, então…
Para sua surpresa, ele apenas franziu o nariz, dando um passo para trás.
— Você fala demais — seu tom foi cortante, mais frio que a temperatura da noite que se aproximava. — Fique calado enquanto salvamos você.
Com as palavras entaladas na garganta, Jiang Lu o assistiu dar as costas e se afastar um pouco, assobiando duas vezes em uma frequência constante. Esperando alguma coisa.
Nesse meio tempo, pôde analisar sua figura da cabeça aos pés para além da aura perigosa que ele possuía. Ele tinha o cabelo escuro preso firmemente em um coque alto, trajava roupas que lembravam os trajes dos artistas marciais de dramas chineses históricos: uma calça de cor cinza escuro e uma camisa de mangas compridas de mesma cor, com os pulsos ajustados como braceletes esverdeados. O tecido parecia grosso e não haviam outros detalhes além de alguns desenhos quase invisíveis ao redor das costuras.
No robe que lhe foi entregue, no entanto, Lu identificou muito mais elementos, como o fato de ser um robe pesado, com um tecido macio por dentro, verde-musgo, com detalhes desenhados em fios dourados na bainha — padrões simétricos nas extremidades e flores de lótus acima deles. As mangas eram curtas, mas não impedia que o tecido proporcionasse calor e conforto.
Apesar de ser conveniente naquele momento, teve um mal pressentimento sobre isso.
É impossível que eu esteja sonhando, porém, como acreditar que ‘tudo isso’ é verdade?
Um minuto depois, Lu viu como outra pessoa se aproximava deles e teve esperança de ser alguém normal, contudo, só conseguiu mais provas de que algo muito estranho aconteceu com o mundo enquanto estava inconsciente.
Uma mulher aproximou-se deles, trajando roupas semelhantes às do homem, mas o robe dela tinha um design mais delicado, como um hanfu no estilo ruqun¹, embora não houvesse muito volume em sua saia ou exagero nas mangas da vestimenta. O cabelo dela era muito comprido, chegando até os quadris, com uma franja espessa que escondia toda sua testa, pairando acima dos olhos castanhos serenos. Pelas feições e formato dos olhos, supôs que ela tivesse outra origem étnica, mas não conseguia distinguir qual.
— Você sumiu de repente, Xiao Dao — se surpreendeu com a voz dela, que era suave e melodiosa como o canto de um pássaro. A mesma se aproximou do outro como se tivesse flutuado até ele, sorrindo pacificamente ao tocar o rosto alheio com as pontas dos dedos. Apesar da distância, Lu notou que suas unhas estavam manchadas de sangue. — Se machucou?
— Como se existisse essa possibilidade — ele segurou o pulso dela em um movimento abrupto, afastando-a. Apesar disso, ela sorriu amavelmente, como se não se importasse.
— Não seja tão arrogante, foi um passeio divertido, pelo menos.
— Claro…
Lu notou como o olhar do outro voltou-se para o seu, cravando-o como adagas enviadas em sua direção. A mulher finalmente pareceu notar sua presença, encarando-o também. Um arrepio estranho atravessou sua coluna, pois havia um brilho bizarro naquele par de olhos castanhos. Ela também carregava uma espada, notou, então certamente devia ser perigosa.
— Oh, você encontrou alguém! — a mulher exclamou com alegria contida, quase calculada, sorrindo amavelmente para o garoto assustado. — Olá, querido, não tinha te visto, por isso não o cumprimentei. Perdoe-me a falta de educação.
Lu queria sorrir de volta, tentar ser gentil para obter ao menos um pouco de empatia desses dois, já que não havia ninguém que pudesse ajudá-lo além deles. Contudo, não conseguiu. Sentia-se sobrecarregado, então limitou-se a usar o tom mais cortês que poderia proferir em tais circunstâncias.
— Tudo bem. Não precisa se desculpar por isso.
— Meu nome é Mei Ting — ela continuou, dando alguns passos para perto dele com cuidado, como se estivesse se aproximando de um animal selvagem —, como você se chama?
— Hum. Er… Meu nome é Jiang Lu — hesitou em apresentar-se com o nome real, mas ficou com medo de mentir e acabar piorando sua situação. Torceu para que mostrar sinceridade pudesse ajudá-lo a obter misericórdia de seus salvadores. — É um prazer conhecê-la, Mei-Jiē.
— Jiang. Lu. — Mei Ting pronunciou cada palavra de maneira pontual, pausadamente, como se testasse a sonoridade de cada fonema. — “As águas do Rio Estígio criam o orvalho da manhã”.
O menino mordeu o lábio inferior para impedir a si mesmo de fazer algum comentário ácido sobre isso. Já tinha visto esse ditado em outro lugar, em outro contexto, mas nunca imaginou que alguém de fato o usaria para dar uma interpretação satírica ao seu nome². Para tentar aliviar a sensação desconfortável no peito, deu um sorriso pequeno e forçado.
— Você também conhece essa novel? — perguntou como quem não quer nada, observando suas expressões. Ela o encarou com curiosidade, inclinando a cabeça levemente.
— Que novel? — ela mencionou a palavra com estranheza, como se não a reconhecesse.
— “O Príncipe Sombrio”. Eu já vi esse mesmo ditado lá. As pessoas não pareciam gostar muito do sobrenome “Jiang” na história — seu sorriso ficou um pouco maior, crescia junto com seu desgosto. De repente, não queria mais estar perto dela.
— Ah, você está falando de uma história! — Mei Ting bateu uma mão na outra com animação, como se aquilo tudo fosse um jogo. — Eu nunca li tal coisa, mas consigo entender as pessoas dessa história. Esse sobrenome, por si só…
Lu não percebeu que ela tinha chegado mais perto, perto demais, a apenas um passo de distância, e estava com a mão erguida em sua direção, os dedos manchados de vermelho a poucos centímetros de seu queixo. Arregalou os olhos, surpreso com a aproximação repentina e silenciosa, sem tempo algum de esquivar.
— Não — o homem que até então estava em silêncio observando a interação dos dois, moveu-se finalmente e interceptou o toque de Mei Ting, segurando-a pelo pulso outra vez. — Eu o resgatei.
As palavras eram simples e quase óbvias, mas nos segundos em que esses dois trocaram olhares, uma maré de significados pairou entre eles. A postura de Mei Ting pareceu tornar-se mais apagada, como um incêndio contido antes de devastar um ecossistema inteiro, e recuou alguns passos após se soltar do toque dele. Ela ainda estava sorrindo, mas parecia menos convincente.
Era como se estivesse… magoada.
— Bom, deveríamos sair daqui primeiro — continuou como se nada tivesse acontecido, dando as costas para os dois enquanto caminhava através das árvores para descer o monte. — Nossos cavalos estão perto daqui, melhor nos abrigarmos antes que anoiteça.
Jiang Lu a assistiu se afastar meio desnorteado, ainda era difícil tentar se conectar com tudo que estava acontecendo.
— Bing Dao.
— Oi? — o garoto se virou em direção à origem da voz grave assim que a ouviu, deparando-se com a expressão impassível do homem que o libertou. — Você disse alguma coisa?
— Meu nome é Bing Dao — repetiu, mais alto dessa vez. — Certifique-se de pronunciá-lo corretamente daqui pra frente.
Assim como Mei Ting, Bing Dao começou a descida sem olhar para trás, deixando-o ali com um amargor na boca e muitas dúvidas no ar. Tinha a sensação de que nenhum deles sabia se comunicar como uma pessoa normal, pois a forma deles de se expressar parecia quase teatral, como se precisasse interpretar cada palavra para chegar ao real significado das mesmas.
Estava cansado demais para lidar com isso.
— Siga-me — Bing Dao chamou ao perceber que o garoto não o estava acompanhando como um cão que persegue o novo dono após ser adotado.
Com um sorriso azedo, Lu lhe lançou o olhar mais arrogante que poderia performar dentro de sua condição moribunda, permanecendo no mesmo lugar.
— O que está fazendo? Vamos de uma vez! — ele insistiu, chamando-o.
Lu suspirou e fechou os olhos, concluindo que não tinha mais energia sobrando.
Se quer ser tão pedante, Sr. Bing Dao, carregue-me então.
Ouviu um xingamento distante pouco depois, quando seu corpo pendeu para a frente e a consciência se esvaiu como uma lâmpada que foi desligada de repente. Desmaiou antes que seu corpo atingisse o chão.
[1] o estilo de hanfu “ruqun” consiste em um traje duas peças onde a parte superior que é como uma jaqueta de mangas largas e uma saia comprida separada, normalmente com cores ou estampas diferentes entre si.
[2] 江露 Jiāng Lú — o caractere 江 jiāng significa rio, enquanto o caractere 露 lú significa orvalho. Ela cita uma espécie de ditado que dá uma interpretação agourenta ao nome dele, uma vez que o Rio Estígio é um rio infernal na mitologia grega.
Ler Dragão de Prata: 不道德的修炼之路 Yaoi Mangá Online
Jiang Lu era um garoto como qualquer outro, nascido em berço de ouro, nunca experienciou os labores da vida. Então, ao acordar em um mundo totalmente diferente do seu numa manhã inexplicável, perguntou-se que tipo de deus, cruel e sanguinário, o colocaria em tamanha desvantagem.
Poderia alguém como ele, jovem e inexperiente, sobreviver aos desafios desse universo impiedoso?