Ler Deseje-me se puder – Capítulo 61 Online

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— Aconteceu alguma coisa, certo?

Sentado à mesa externa de um café, Joshua lançou um sorriso hesitante para Dane, que estava largado na cadeira, de cara fechada. Dane passou os braços por trás do encosto da cadeira, inclinou a cabeça para trás, esticando o pescoço, e resmungou, olhando para o céu.

— Preciso matar Grayson Miller.

Joshua confirmou mentalmente: Sim, alguma coisa aconteceu. Mas, como de costume, tentou acalmar Dane com a mesma resposta de antes.

— Já te falei Dane, ele não vale esse esforço.

Dane deu uma risadinha seca, ergueu a cabeça e olhou para Joshua com uma expressão de irritação.

— Por que aquele desgraçado insiste tanto nessa merda de “legítima defesa”?

— Legítima defesa?

— Isso mesmo.

Dane cuspiu as palavras, irritado.

— Tudo que acontece, ele resolve na base da “legítima defesa”, feito um lunático. Sério, parece que ele faz de propósito. Ou será que ele só é louco mesmo?

Joshua ficou quieto, ouvindo pacientemente o desabafo, e só depois de um tempo murmurou:

— Nunca ouvi ninguém dizer que ele tem esse hábito… Talvez eu devesse investigar.

Enquanto Joshua coçava o queixo e murmurava para si mesmo, Dane soltou um resmungo.

— Não precisa, ele é só um maluco mesmo. Que outra explicação poderia ter?

— Pode ser. Obrigado pela análise.

Joshua, sempre diplomático, concordou sem problemas. Quando a garçonete apareceu para trazer o cardápio, ele sorriu com a mesma facilidade de sempre. Seu rosto radiante fez com que ela também sorrisse de volta antes de se afastar.

Dane continuou resmungando na mesma posição.

— Você tem três filhos. Para de espalhar charme por aí.

— Só estou sendo educado. Não tem nada de errado em ser gentil. — Joshua largou o cardápio na mesa e completou, sorrindo de leve: — O problema é que algumas pessoas aqui não sabem interagir socialmente.

Dane sentiu a provocação e, claro, ficou de mau humor, mas só soltou uma risada seca. Joshua, vendo que ele não reagiria, bateu de leve na mesa, era um aviso silencioso para que Dane escolhesse logo o que queria pedir. Sem paciência para discutir, ele pegou o cardápio e apontou um dos pratos indicados como “especial da casa”. Com o pedido feito, eles finalmente começaram a falar sobre o que realmente importava.

— Já tenho um plano mais ou menos pronto. Você só precisa cuidar do transporte, o resto a gente resolve.

Dane apenas tomou um gole do suco de tomate e esperou que ele continuasse. Joshua abaixou um pouco a voz, falando de forma casual, mas cuidadosa.

— Não precisa ter pressa. Já esperamos alguns anos, então mais alguns dias não vão fazer diferença. Mas tem que dar certo de primeira. Se falharmos, não vai ter segunda chance.

— E então? — Dane perguntou, sem paciência. — Quando vai ser?

— Os preparativos estão quase prontos.

Joshua respondeu.

— O plano é mais ou menos assim…

Enquanto ele explicava os detalhes, Dane apenas ouviu, sem interromper. O plano era simples, exatamente como Joshua prometeu. O único problema era que a parte mais perigosa e difícil tinha sobrado para Dane.

“Sequestrar Grayson Miller.”

— Como você já deve ter percebido, Grayson não é só um alfa dominante qualquer, ele é muito acima da média. Isso significa que não vai ser fácil lidar com ele. Os métodos normais não funcionam, sedativos comuns não fazem efeito e, se fosse um sequestro tradicional, precisaríamos de pelo menos umas dez pessoas. Mas um grupo desse tamanho chamaria atenção demais.

— Então você quer que eu faça isso sozinho?

— Você era das forças especiais.

Joshua falou como se estivesse discutindo o clima, sem nem lembrar que ele próprio também tinha o mesmo treinamento. Mas Dane sabia o verdadeiro motivo. Se Joshua tentasse se aproximar, Grayson perceberia que algo estava errado, ele, no mínimo, sentiria que sua segurança estava ameaçada.

‘Não que eu seja menos suspeito.’

— Então eu tenho que cuidar de tudo? Atraí-lo e finalizar a tarefa sozinho?

— Podemos te dar um pequeno suporte.

Nesse momento, a garçonete chegou com a comida. Dane esmagou o sanduíche enorme até que coubesse em uma mordida decente, e Joshua aproveitou para continuar.

— Já temos um carro e um helicóptero prontos. Com um piloto, é claro.

— Helicóptero?

Dane parou no meio do movimento para levar o sanduíche à boca. Joshua apenas sorriu, confirmando com um aceno.

— Preparamos uma casa na encosta da montanha. Exclusivamente para o Grayson.

Pelo jeito, quando Joshua disse que tinham esperado por anos, estava sendo literal. Era óbvio que ele tinha planejado isso há muito tempo.

Dane se perguntou o que exatamente eles fariam com Grayson lá, mas não por preocupação ou compaixão. Ele levantou a mão que segurava o sanduíche e avisou Joshua:

— Só não se esqueça: eu tenho muita coisa para conversar com esse filho da puta antes de qualquer coisa.

Joshua sorriu.

— Não se preocupe, Dane. Eu sei disso. — E, com aquele mesmo sorriso brilhante de sempre, acrescentou: — Estamos todos no mesmo barco.

Dane confirmou a resposta de Joshua e começou a comer o sanduíche. Depois de uma pausa, Joshua continuou:

— Tem algo muito importante que você precisa saber antes de começarmos.

Dane olhou para ele, ainda mastigando o sanduíche, e Joshua prosseguiu:

— Nunca, jamais, deixe um dos irmãos Miller pegar algo parecido com um bastão. Qualquer coisa desse tipo que caia nas mãos deles vira uma arma.

Dane demorou um pouco para reagir.

— O quê?

Ele franziu a testa, claramente duvidando, mas Joshua estava sério.

— Ashley Miller era jogador de hóquei no gelo no colégio. Ele era capitão do time, MVP. Ouvi dizer que era excepcional com um taco.

— E daí?

Dane ainda estava com o rosto franzido.

— Ele ensinou os filhos como bater nas pessoas?

— Não sei se chega a esse ponto… — Joshua hesitou, mas logo acrescentou sua teoria. — Mas talvez tenha alguma relação com essa mania do Grayson de falar em “legítima defesa”.

Fazia sentido.

Grayson surtava de verdade depois de soltar aquela frase.

Dane ficou em silêncio, mastigando enquanto pensava nisso, e Joshua aproveitou para reforçar:

— Cuidado nunca é demais. Melhor lembrar disso.

Dane não respondeu, só deu mais uma mordida no sanduíche. Eles continuaram conversando, misturando trivialidades com o assunto principal, até que decidiram se separar. O dia D ficaria a cargo de Dane.

E ele chegou mais rápido do que esperavam.

***

— Grayson Miller vai na festa do Ezra?

Dane percebeu a oportunidade no mesmo instante. Ele estava no vestiário, trocando de roupa ao lado de Diandre, quando ouviu a notícia. Diandre largou a camisa no armário e deu de ombros, sem parecer muito impressionado.

— Pois é. Ezra é um cara engraçado. Ele jura que Miller é um bom sujeito. Mesmo depois de tudo o que aconteceu entre vocês dois.

Diandre balançou a cabeça, mas Dane entendia o amigo. Ezra sempre foi do tipo que confiava fácil e raramente mudava de ideia. Dessa vez não era diferente. Ele estava completamente cego quando se tratava de Grayson, e seria preciso um esforço enorme para abrir os olhos dele.

— Isso tudo é um mal-entendido.

A voz indignada veio de repente. Ezra apareceu do nada, ele claramente tinha ouvido a conversa, e interveio sem cerimônia. Como os dois se calaram, ele aproveitou para continuar:

— Miller não é tão ruim assim. Vocês precisam parar com essa história. Nem todo alfa dominante é um lunático.

Diandre trocou um olhar com Dane antes de se virar para Ezra, debochando:

— E você acha que sabe tudo sobre ele, não?

— Sei mais do que vocês dois, com certeza.

Ezra respondeu de peito cheio.

— Vocês julgam as pessoas muito facilmente. Isso sempre acaba voltando contra nós.

— Tá bom, tá bom. Já entendi.

Dane cortou, sem paciência.

— O que importa é: o Miller realmente vai na festa da sua filha? Você já confirmou tudo? Local, horário?

— Claro! E eu ainda avisei para ninguém gastar mais de 50 dólares no presente. Ele ficou todo emocionado, acredita? Disse que nunca foi convidado para o aniversário do filho de um amigo antes.

— Amigo?

Dane e Diandre falaram ao mesmo tempo, chocados.

— Você e o Miller são amigos?

Ezra sorriu satisfeito e confirmou com um aceno.

— É isso aí. E vocês deviam ser mais legais com ele. Gentileza gera gentileza.

Diandre revirou os olhos, visivelmente sem acreditar em uma palavra. Já Dane, apenas sorriu de lado, imerso nos próprios pensamentos.

— Estou ansioso.

Ezra entendeu errado e se animou.

— Eu também! Mal posso esperar! Estamos todos ocupadíssimos com os preparativos. Ontem mesmo fomos no mercado e…

E ele seguiu falando. Mas Dane não estava ouvindo mais.

Sua cabeça estava presa na conversa com Joshua.

E, pela primeira vez, sentiu uma pontinha de culpa.

‘Será que Ezra vai ficar muito decepcionado se Miller não aparecer?’

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Continua…