Ler Deseje-me se puder – Capítulo 35 Online

Ezra colocou a máscara de oxigênio com um grito determinado.

— Vamos mostrar o que significa lealdade! Bombeiros não abandonam seus companheiros, entramos juntos e saímos juntos. Nem que isso custe nossas vidas!

— Há quanto tempo o Dane entrou?

Alguém perguntou, e Wilkins respondeu sem hesitar:

— Faz uns dez minutos desde o último contato. Precisamos nos apressar.

O clima ficou ainda mais tenso. De todos os lados, os bombeiros se movimentavam rapidamente, preparando os equipamentos. Cilindros de oxigênio eram ajustados, trajes de proteção conferidos. Mesmo com o cheiro de queimado e a fumaça espessa tornando o ar pesado, ninguém hesitava. Havia um propósito claro nos olhos de cada um: trazer Dane de volta, custe o que custar.

Grayson observou tudo aquilo com um misto de desdém e impaciência. Para ele, era óbvio que Dane sairia por conta própria. Ninguém aguentaria muito tempo lá dentro, então por que diabos estavam fazendo tanto alarde?

A resposta era clara. No fundo, tudo aquilo era só uma desculpa para criticá-lo. Uma oportunidade perfeita para bancarem os heróis e se exibirem como se fossem um grupo unido por uma causa nobre.

Cruzando os braços, ele apenas esperou. O calor das chamas, os passos apressados, as ordens curtas e urgentes no rádio – tudo aquilo lhe parecia exagerado.

— Vamos, agora!

Ezra deu o comando, e os bombeiros assentiram com determinação. Eles estavam prontos. Cada um disposto a arriscar a própria vida para tirar Dane de lá.

Mas antes que pudessem dar o primeiro passo, o mundo ruiu.

Um estrondo ensurdecedor preencheu o ar, seguido por um clarão. Algo explodiu dentro da casa, fazendo toda a estrutura estremecer. As chamas se intensificaram, devorando com fúria o que restava do edifício. Em questão de segundos, metade da construção desabou com um barulho ensurdecedor, espalhando destroços e brasas pelo chão.

Os bombeiros congelaram. O impacto da cena os fez prender a respiração, os olhos arregalados refletindo o horror do que acabou de acontecer. Um silêncio pesado se espalhou por um breve instante.

E então, veio o grito.

— Não!

A realidade atingiu a todos ao mesmo tempo.

O fogo consumia os escombros, e o calor era sufocante. A entrada pela qual planejavam resgatar Dane agora não existia mais.

— Merda! Dane! Dane!

Os gritos de desespero ecoaram pelo local, misturando-se ao rugido furioso das chamas.

***

Enquanto isso, Dane, agora sozinho, movia-se com determinação em direção ao sótão. Felizmente, encontrou rapidamente o mecanismo que o homem havia mencionado, o botão no chão certamente foi colocado ali para que o cachorro pudesse ativá-lo com facilidade.

Apesar da preocupação de que o sistema pudesse estar danificado pelo fogo, o mecanismo funcionou perfeitamente ao ser pressionado. Assim que o botão foi acionado, uma escada retrátil se desenrolou. Subindo, Dane encontrou outro botão no topo. O dono do cachorro provavelmente havia ensinado Charles a ativá-lo também para garantir sua própria segurança.

Porém, naquele momento, esse planejamento cuidadoso se revelava um erro. Em caso de incêndio, era mais seguro estar no térreo. Em situações como essa, a morte por inalação de fumaça era muito mais provável do que ser queimado pelas chamas.

O sótão, apesar de bem projetado, tinha um sistema de ventilação com um grande exaustor embutido em uma das paredes, no entanto, estava completamente inoperante. Enquanto a eletricidade funcionava, o ventilador certamente teria mantido o local seguro, mas com a energia cortada, tornou-se inútil. Como resultado, o ambiente já estava tomado por uma espessa camada de fumaça.

Dane rapidamente pressionou o botão novamente, recolhendo a escada para evitar que o fogo subisse ainda mais. Em seguida, começou a vasculhar o espaço. O cachorro certamente estaria escondido em algum canto.

O problema era que o sótão estava abarrotado de tralhas, mesmo um cão de grande porte poderia desaparecer ali, tornando a busca mais difícil. Movendo caixas e outros objetos, Dane sentiu alívio ao perceber que, pelo menos, as chamas ainda não haviam chegado àquele ponto. Mas era só uma questão de tempo. Tudo ali era potencialmente inflamável.

— Charles! Charles, você está aqui?

Ele chamou mais uma vez, elevando a voz para se sobressair ao crepitar das chamas lá fora.

— Charles, eu vim te buscar! Vamos garoto, apareça!

Do lado de fora, os sons do colapso da estrutura eram cada vez mais frequentes. O tempo estava se esgotando. Se Charles não estivesse ali, talvez fosse tarde demais.

‘Talvez seja melhor checar a cozinha uma última vez…’

Dane mentalmente reconstruiu a planta da casa, planejando sua próxima ação, quando finalmente avistou algo.

— Charles!

Atrás de um grande baú, estava o cachorro, imóvel. Dane correu até ele e o pegou nos braços, Charles estava mole, sem reação.

Apertando os dedos contra o peito do animal, sentiu um batimento fraco, mas ainda presente. Sem hesitar, Dane retirou sua máscara de oxigênio e a colocou no focinho do cachorro. Obviamente, o encaixe não era perfeito, mas qualquer quantidade de oxigênio fresco poderia ajudá-lo a sobreviver.

Ugh-hack!

Imediatamente, Dane começou a tossir violentamente ao inalar a fumaça ao redor. Seu corpo tremeu com os acessos de tosse, mas ele segurou firme o cachorro em seus braços.

Ele precisava sair dali.

Agora.

O som da estrutura cedendo ficava cada vez mais alto. Assim que pisou no botão para reativar a escada—

BOOM!

Um estrondo violento sacudiu a casa. A força do impacto foi tão intensa que Dane quase soltou Charles. Mas em vez disso, caiu no chão com o cachorro nos braços, rolando sobre a madeira enegrecida pela fuligem. Levantando-se rapidamente, ele olhou ao redor, não sabia o que exatamente havia acontecido, mas uma coisa era certa: o tempo havia se esgotado.

A escada provavelmente havia desmoronado. Não tinha mais tempo para arriscar.

Ele precisava de outra saída.

Foi então que seus olhos se fixaram no exaustor inoperante.

Não havia tempo para hesitar ou calcular as possibilidades. Colocando o cachorro cuidadosamente no chão, ele tirou o machado que carregava nas costas e, com força, começou a bater no ventilador.

CRACK!

Uma imensa fumaça negra subia entre as ruínas da mansão desmoronada. Os bombeiros, que estavam prestes a entrar, ficaram paralisados de medo e, em seguida, começaram a gritar desesperadamente.

— Dane! Dane!

— Não pode ser! Ele não estava lá dentro, com certeza não!

— Charles! Charles!

— Onde fica o sótão? Alguém sabe?!

— Rápido, diga onde fica o sótão!

— Não! Charles! Ahhh… Charles!

— Seu desgraçado, fala logo!

— Vamos entrar! Ainda dá tempo, nós conseguiremos!

— Não! E se houver outra explosão? Aí estaremos todos mortos!

— Dane! Dane!

No meio daquela confusão, os gritos de desespero e dor se intensificaram.

— Espera! Olhem ali!

Alguém gritou de repente, apontando para um lado. Todos voltaram os olhares para o mesmo lugar, e, ao mesmo tempo, um grito de espanto ecoou.

No alto, sobre o telhado, um enorme ventilador metálico começou a se despedaçar. Primeiro, algumas partes menores se soltaram, depois uma das hélices voou para longe. O machado que apareceu momentaneamente desapareceu, e agora um pé de cabra removia uma parte do ventilador.

Todos assistiam, tensos, à cena. Era uma esperança silenciosa e desesperada, e quando o último pedaço se soltou, alguém finalmente apareceu do outro lado da abertura, se esgueirando para fora.

Um homem alto, de cabelos ruivos, surgiu em meio à fumaça. No mesmo instante, um grito eufórico se espalhou entre os bombeiros.

— É o Dane! Ele está ali!

Após o grito emocionado, aclamações começaram a ecoar.

— Dane! Dane Stryker!

— Eu sabia que aquele cara ia sobreviver!

— Alguém pega uma escada! Rápido!

— Conectem-na ao telhado! Vamos, rápido!

— O que vocês estão esperando? Eu mesmo faço isso, sai da frente!

Enquanto os bombeiros corriam de um lado para o outro em frenesi, Grayson permaneceu parado, apenas observando Dane. Ele não se mexeu, mas também ninguém parecia se importar.

Enquanto isso, Dane tentava escapar pela abertura do exaustor, seu rosto estava sujo de cinzas e poeira, e a máscara não estava em seu lugar. Ele tossia de vez em quando, resultado da fumaça, mas sua determinação em sair do telhado era impressionante.

Foi então que Grayson notou um detalhe.

A máscara de oxigênio que deveria estar no rosto de Dane não estava lá. Em vez disso, ela estava presa no focinho do enorme cachorro que ele segurava nos braços.

Grayson franziu levemente a testa confuso.

‘Ele foi tão longe assim? Por quê?’

Mesmo sufocando, Dane não pensou duas vezes antes de dar seu próprio oxigênio para o animal. Enquanto esperava os bombeiros posicionarem a escada, continuava segurando o cachorro com firmeza.

Grayson continuou observando Dane com a máxima atenção.

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Continua..