Ler Deseje-me se puder – Capítulo 209 – Extra 01 Online

— Hahaha… hehehehe…

Grayson piscou, sem saber como reagir ao ver Dane sacudindo os ombros de tanto rir. Vendo aquilo, Dane continuou sorrindo de modo despreocupado e disse:

— Você não acha engraçado eu estar nesse estado por causa de um brinquedo daqueles?

Quanto mais pensava, mais absurdo parecia. Ele era um ex militar que havia estado em campos de batalha. Quantas vezes não correu para dentro de incêndios em chamas para salvar alguém? E até se jogou para desarmar bombas com as próprias mãos. E agora estava assim… destruído por causa de um brinquedinho que só ia para cima e para baixo. E o pior: A viagem em si não devia ter durado nem cinco minutos.

Dane balançou a cabeça com um suspiro, como se estivesse achando tudo patético. Grayson o observou em silêncio por um momento, depois falou calmamente:

— Todo mundo tem seus pontos fracos. — O sorriso de Dane desapareceu aos poucos. Ele olhou para Grayson, um tanto desconcertado, mas o outro continuou: — Isso foi só um brinquedo. Pode mostrar seu lado fraco, quando  quiser. Pelo menos na minha frente.

Dane olhou fixamente para o rosto dele. Grayson estava sendo completamente sincero. Não havia dúvidas quanto a isso. Talvez fosse exatamente isso que Grayson queria. Porque se ele aceitasse ser fraco, então provavelmente ficaria ao lado dele exatamente como ele desejava. E isso era algo concreto.

Mas…

— Não quero.

A resposta abrupta fez Grayson piscar, surpreso. Seus olhos vacilaram, sem saber como interpretar aquilo. Vendo aquilo, Dane deixou escapar um sorriso leve.

— Prefiro ficar bem nesse brinquedo  Assim… eu posso andar neles com você.

A última parte saiu num murmúrio, e ele disfarçou o embaraço com uma tosse. Grayson arregalou os olhos, chocado. Era óbvio o que estava passando pela cabeça dele, e Dane já sabia o que ele diria a seguir. Antes que Grayson tivesse a chance de pedir para levá-lo ao hospital por confusão mental ou algo do tipo, Dane puxou-o pela nuca e o trouxe para perto. Logo seus lábios se tocaram, e um perfume doce invadiu sua boca. Era o cheiro dos feromônios de Grayson, transbordando de felicidade. Um suspiro entrecortado escapou entre os lábios do outro, e toda vez que sua língua tocava a saliva dele, a felicidade de Grayson parecia se espalhar por todo o corpo de Dane.

E ele também se sentia feliz.

Porque isso era amar.

Quando se separaram lentamente, Dane olhou nos olhos de Grayson. Com um sorriso nos lábios e os olhos semicerrados, ele sussurrou:

— Melhor assim?

— …sim.

Grayson assentiu, ainda atordoado. Apesar do beijo, parecia que sua mente ainda não tinha alcançado a situação. Dane deu um leve peteleco em sua bochecha e desviou o olhar. Sentia as orelhas quentes, como se estivessem pegando fogo. Se Grayson dissesse mais alguma coisa agora, talvez ele tivesse que se levantar fingindo que nada tinha acontecido. Mas sabia que não podia mais fazer isso. Já tinha decidido que não fugiria mais – nem desse sentimento, nem de Grayson.

— Dane…

Grayson finalmente abriu a boca para falar, nesse momento o sol começava a se pôr. No céu avermelhado, um arco branco riscou o horizonte. Mas, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, suas palavras foram abafadas pelo som de fogos de artifício explodindo.

‘Ah…’

Dane levantou o olhar para o céu. Assim como naquela vez, uma luz intensa coloria tudo acima de suas cabeças.

‘É lindo.’

Fogos de artifício brilhavam em todas as direções, em uma explosão de cores. Um, depois outro, eles subiam, estouravam e se desmanchavam em faíscas vibrantes. Dane ficou apenas sentado, admirando o show. Grayson, que esperava o momento certo para dizer algo, hesitou e também voltou os olhos para o céu.

Os fogos continuaram explodindo sem parar. O barulho era tão alto que parecia que seus tímpanos iriam estourar.  Mas talvez… talvez agora fosse o momento certo. Após mais um estampido no ar, Dane finalmente abriu a boca, devagar:

— Eu gosto muito de você, Grayson.

O tom de voz era tão baixo que Grayson não entendeu de primeira. Ele só virou lentamente a cabeça para olhar Dane depois que mais dois fogos de artifício estouraram no céu. Mesmo sentindo o olhar fixo de Grayson nele com os olhos arregalados, Dane teimosamente continuou encarando o céu e falou:

— Da última vez… você me disse que queria terminar. Por isso, hoje eu queria te dizer uma coisa.

Finalmente, ele desviou os olhos dos fogos e os direcionou para Grayson. Olhando diretamente para ele, Dane abriu a boca:

— Eu te amo. Então… não vamos terminar. Vamos ficar juntos.

Pum, pááá, pum.

O som dos fogos continuava a estourar, um atrás do outro. Os gritos animados da multidão ecoavam ao fundo. Mesmo assim Grayson ainda continuava ali, com o rosto atordoado, apenas encarando Dane sem conseguir reagir. Dane sorriu de canto e estendeu a mão, pousando-a sobre o dorso da mão de Grayson. Diante desse gesto, os olhos de Grayson se arregalaram ainda mais, como se fossem saltar do rosto.

— Para com isso, seu idiota.

Sem saber onde enfiar a cara por causa daquela reação exagerada, Dane resmungou com um sorriso constrangido. Como se fosse para acalmá-lo, ele passou a mão pelos cabelos de Grayson e depois ficou parado ali, simplesmente o observando em silêncio.

— Eu sei que meu passado não foi nada admirável.

Dane continuou, agora em tom mais calmo. Grayson prendeu a respiração, esperando suas palavras.

— Eu sou um cara cheio de falhas. Carrego muita carência dentro de mim. E no futuro, posso acabar te machucando em vários momentos. Não, na verdade, com certeza vou te machucar.

Pela primeira vez, ele revelou seu lado mais frágil – algo que nunca havia admitido para ninguém, nem para si mesmo. E mesmo assim, ao encarar o olhar firme de Grayson, Dane esboçou um leve sorriso.

— Quando isso acontecer… eu só espero que você não desista de mim.

Era isso. Tudo o que Dane havia se preparado para dizer terminava ali. O restante agora estava nas mãos de Grayson. Ele podia sorrir, abraçá-lo, acolhê-lo… ou podia se sentir pressionado e se afastar. Na verdade, Dane sabia, ele sabia muito bem. Sabia muito bem que, justamente por ser assim, ninguém nunca havia tentado se aproximar dele.

Mesmo assim, o motivo pelo qual ele resolveu se confessar para esse cara – talvez fosse o mesmo motivo de quando desabafou sobre sua mãe.

A mão de Dane deslizou pelo rosto de Grayson, acariciando sua bochecha antes de se afastar, Grayson segurou a mão dele. Por alguns instantes, ele apenas encarou o rosto de Dane, depois fechou os olhos… e pressionou os lábios contra a palma da mão dele. Enquanto observava, Dane pensou:

Porque ele é Grayson Miller.

— Eu nunca desisto do que é meu.

Grayson olhou para ele, ainda com os lábios na mão de Dane.

— Você se entregou a mim. Então, você é meu para sempre.

Dane ficou surpreso por um instante, mas logo soltou uma risada.

— Eu sei, seu idiota.

Ele beliscou a bochecha de Grayson com cuidado, sem machucar e o homem retribuiu com um sorriso. Coincidentemente, mais fogos estouraram e iluminaram o rosto dele com cores vibrantes. Ah…, Dane lembrou. A imagem daquele homem com o rosto encharcado de lágrimas surgiu em sua mente.

‘Por que eu não disse nada naquela hora?’

Grayson sempre… sempre era quem entregava o coração inteiro primeiro.

Uma culpa tardia apertou seu peito. Dane olhou para Grayson e perguntou:

— E aí, como foi hoje? Acha que foi um sucesso?

Ao lembrar o motivo pelo qual tinham vindo até ali, um sorriso lentamente começou a surgir no rosto de Grayson. E mais uma vez, Dane se perdeu ao olhar. Era como se as flores desabrochassem naquele rosto, de novo – flores de cores intensas, brilhantes.

— Claro. Com certeza. — Grayson respondeu sem hesitar. E, com um sorriso radiante, completou: — Eu adoro a Disneyland.

Dane também começou a sorrir aos poucos. Ele desejava que suas próprias memórias ruins se dissolvessem, assim como as de Grayson. Que essa memória, de hoje, ficasse para sempre gravada… e que aquele lugar sempre pudesse ressurgir como um símbolo de felicidade.

Pum, pá, pum.

Os fogos de artifício continuavam sem parar, colorindo o céu. Eles não trocaram mais nenhuma palavra. Mas o calor de suas mãos entrelaçadas permaneceu inalterado. E provavelmente continuaria assim, acontecesse o que acontecesse…  ele não deixaria esse calor escapar.

Porque aquilo era o calor da felicidade.

O calor do amor.

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{FIM}.