Ler Deseje-me se puder – Capítulo 203 – Extra 01 Online

— Isso é tudo? Não tem quase nada, hein?

Grayson olhou de relance os poucos objetos que Dane estava carregando e perguntou. Dane apenas respondeu de forma casual:

— Bom, a maioria das coisas já está aqui mesmo…

— Isso mesmo!

Antes que Dane pudesse continuar, Grayson cortou sua fala. Dane ficou em silêncio, pego de surpresa pela interrupção, enquanto Grayson, animado, prosseguia falando sem parar:

— Olha só, Dane! Troquei a cama e todos os móveis por novos!

— O quê?

Ao conferir melhor, ele percebeu que era verdade. Será que aquela sensação estranha que tive mais cedo era por causa disso? Enquanto ainda processava a informação, Grayson continuou:

— Esse é o controle da janela, esse é o da TV, e isso aqui…

Enquanto apresentava cada item do quarto, Grayson de repente se dirigiu à cama de Dane com passos leves.

— Tcharam!

O que ele mostrou, todo empolgado, era um pijama. O tecido de seda macia brilhava suavemente, deixando Dane perplexo. Grayson continuou:

— Comprei alguns presentes para comemorar que você está morando aqui em casa. Claro, todos em par!

— …Em par?

Dane repetiu a palavra com um segundo de atraso. Grayson assentiu com entusiasmo.

— Comprei tudo com o mesmo design para os dois. Esse é o roupão de banho. Esse também é em par, e esse chinelo também. E…

Grayson foi tirando mais e mais coisas até que de repente, foi até a sala, pegou algo que estava sobre a mesa e levantou no ar.

— Canecas!

Nesse momento, Dane ficou completamente paralisado. Grayson, sem perceber a tensão dele, voltou animado com uma caneca em cada mão.

— Olha só! Coloquei nossos nomes em cada uma. A sua diz “Grayson”, a minha “Dane”. Se a gente beber trocando os nomes, vai parecer um beijo indireto, certo? Muito legal! Quando for tomar café, deixe um pouquinho da sua saliva aqui dentro, aí vai ser um beijo de verdade. Que tal? Boa ideia, né? Não é incrível? Hein?

Grayson continuou perguntando, mas Dane não conseguia pensar em nada para dizer. As canecas que Grayson segurava eram, de longe, incomparáveis às que ele tinha. Feitas de cerâmica preta com o nome gravado em dourado, até mesmo Dane, que não entendia nada de tipografia ou materiais de luxo, percebeu que eram absurdamente caras. Claro, considerando as lojas que Grayson frequentava, aquilo era esperado. Mesmo assim, Dane não pôde evitar perguntar:

— …Quanto custou isso?

— Hã? Sei lá, quanto será que foi?

Obviamente, Grayson não fazia ideia. Claro que não, esse cara não perguntou os preços antes de comprar. Por isso, Dane reformulou a pergunta:

— Onde você comprou?

A resposta foi o nome de uma marca de luxo tão famosa que até Dane já tinha ouvido falar. Ficou sem palavras, mas Grayson continuou, alheio:

— Se tiver alguma coisa que quiser, é só pedir. Ah, vamos juntos da próxima vez? A gente tem que comprar várias coisas para a viagem de cruzeiro! Vamos comprar roupas de banho combinando também. Assim todo mundo vai saber que somos um casal! Isso vai ser incrível! Perfeito!

Ele falava animado, completamente empolgado com a própria ideia. Dane, por sua vez, só conseguia responder com um “é”, “aham” ou algo do tipo, enquanto discretamente escondia atrás das costas a sacola de papel com as canecas.

‘Droga, eu sabia que isso ia acontecer.’

Naquela noite, assim que finalmente ficou sozinho, Dane pegou o celular às pressas e pesquisou o preço das canecas que Grayson havia comprado – e imediatamente ficou chocado. O preço no site era nada menos que US$12.300. Ele quase deixou escapar um palavrão. O fato de a gravação do nome ser gratuita não ajudava em nada. Com um valor daqueles, é o mínimo que deviam oferecer.

Dane cerrou os dentes e apertou os punhos com força. Sobre a mesa, a caneca ainda brilhava intensamente, esbanjando imponência. E ali, ao lado dela, sua caneca de US$27 parecia ridiculamente simplesmente… miserável.

‘Merde… Eu devia ter comprado aquela de 52 dólares.’

Dane se arrependeu, mas já era tarde. Comprar a caneca agora não mudaria a situação. Ele precisava de algo diferente – não uma caneca, mas um presente mais caro.

— Argh…

Ele soltou um gemido abafado, segurando a cabeça entre as mãos. Um arrependimento profundo tomou conta dele.

‘Eu não devia ter aceitado morar junto com ele.’

Se Grayson soubesse que ele estava tendo esse tipo de pensamento por causa de um presente, provavelmente jogaria aquela caneca caríssima no chão, quebrando-a em mil pedaços sem pensar duas vezes. Afinal, tudo aquilo tinha sido feito com boas intenções, como uma forma de celebrar, de expressar carinho.

Dane não queria decepcioná-lo.

— Haa…

Soltando um longo suspiro, ele se recompôs. Era exatamente em momentos como aquele que ele precisava dos amigos. E ele já sabia exatamente a quem pedir conselho.

***

— Dane! Que bom te ver!

— Como você está? Parece bem. Que alívio!

— O que te traz aqui? Só passou por aqui rapidinho? Que bom que veio! Vem, senta aqui.”

— Quer beber alguma coisa? Quer que eu traga um refrigerante?

Assim que apareceu no quartel dos bombeiros, os antigos colegas de Dane o receberam com entusiasmo. Alguns trouxeram bebidas, outros petiscos, e ao vê-los tão agitados, tentando agradá-lo, ele finalmente conseguiu relaxar. Ele pegou uma lata de refrigerante gelada e tomou metade de uma vez só, suspirou de alívio e só então recuperou sua calma habitual.

— Só pensei em passar por aqui. Parece que vocês estão todos bem!

Ao ouvir isso, os colegas começaram a rir e conversar animadamente.

— Claro que estamos! Mas ficamos mais tranquilos agora vendo que você está bem.

— Na última vez que te vi no hospital, parecia que estava bem machucado. Já se recuperou totalmente?

— Ficamos surpresos quando você pediu demissão de repente. Então você realmente não vai voltar? O que está fazendo agora?

Dane evitou as perguntas com respostas vagas.

— Vou usar minhas economias e pensar com calma. Preciso de um tempo para descansar.

— É, faz sentido. Você sempre trabalhou demais, até exagerava às vezes.

Um deles assentiu, e os outros concordaram logo em seguida.

— E você não tem família para sustentar, então pode aproveitar. Quem sabe faz uma viagem agora?

— Vai pensando com calma no que quer fazer depois.

Dane apenas respondeu com um breve:

— Valeu.

Ao ver a reação dele, Deandre franziu a testa, intrigado.

— Você tá diferente.

— Eu? Diferente como?

Dane respondeu com uma pergunta, e os outros também olharam para Deandre, curiosos. Meio encabulado com tanta atenção de repente, ele coçou a cabeça antes de tentar explicar:

— Sei lá… É difícil de explicar. Mas acho que você está… mais suave. Mais relaxado, talvez?

Ele se enrolou tentando achar as palavras certas, mas os outros pareciam entender o que ele queria dizer. Trocaram olhares discretos e começaram a comentar também, um a um.

— É verdade, eu também percebi. Você sempre teve um certo ar relaxado, mas agora parece… diferente, de um jeito estranho.

— Tá mais sereno.

— É, antes você tinha um certo jeito afiado, mas isso desapareceu.

— Quase morreu algumas vezes e acabou tendo uma revelação, foi? Ou será que atravessou aquele famoso rio?

Um deles perguntou, como se fosse uma piada. Logo, os outros também riram e continuaram:

— Dizem que se atravessar aquele rio, não dá mais pra voltar. E que, quando chega perto, dá até para ver uma luz.

— É mesmo! Eu li num livro que uma luz envolve o corpo inteiro. Quem sobrevive é porque foi ‘rejeitado’ por ela.

— E aí? Aconteceu com você também? Viu alguma coisa? É real?

A piada logo virou curiosidade genuína. Ao ver os velhos colegas dizendo bobagens do mesmo jeito de sempre, Dane não conseguiu evitar e soltou um leve sorriso irônico.

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Continua..