Ler Deseje-me se puder – Capítulo 202 – Extra 01 Online

— São tantas coisas boas acontecendo de uma só vez…

Grayson arfava, com os ombros tremendo de excitação. Ele parecia prestes a desmaiar, e Dane, estreitando os olhos, esboçou um sorriso malicioso.

— Ah é? Então talvez eu não devesse contar o que ia dizer.

— Pare com isso, Dane!

Grayson se sobressaltou e balançou a cabeça com urgência.

— Se eu ficar mais feliz do que já estou, posso acabar morrendo.

— Isso seria um problema. Tudo bem, não falo então.

Dane recuou docilmente, e um silêncio estranho se instalou. Grayson franziu a testa, encarando-o com expressão séria. Será que era mesmo uma boa notícia? Pelo comportamento de Dane, parecia 99% certo. A luta interna entre a curiosidade e a cautela era visível em seu rosto.

— Talvez só um pouquinho…

No fim, a curiosidade venceu, e ele abriu a boca.

— Você pode me dar só uma dica? Do que se trata?

Dane esticou os lábios num sorriso provocador.

— Eu pretendo ficar aqui… a menos que você me expulse.

Grayson congelou, parou todos os movimentos de repente, até parecia que tinha parado de respirar. Dane, então, continuou com a voz suave:

— Claro, se você não quiser, não tem por que dizer isso…

— Não! Não, não, NUNCA! Absolutamente NUNCA!

Antes mesmo que Dane terminasse a frase, Grayson balançou a cabeça desesperadamente, voltando a encará-lo com os olhos arregalados.

— E-é sério mesmo? Você vai morar aqui comigo para sempre?

— Sim.

— Se eu pedir para você ficar, você vai morar aqui? Mesmo? Pro resto da vida?

— Bem…

Dane hesitou, por um instante, com a última parte da pergunta, mas não demorou para responder. Sem graça, desviou o olhar e murmurou baixinho:

— Não me parece uma ideia ruim.

— DAAAAANE!

Grayson o abraçou com força naquele instante, incapaz de conter a euforia. O problema era que ele também não conseguia controlar a própria força.

‘Crunch.’

Um som sinistro ecoou de dentro do corpo de Dane, e sua visão embaçou por um momento. Ele ficou pálido, mas Grayson, alheio, continuou esmagando-o num abraço histérico. Sem coragem de empurrá-lo, Dane só tentou recuperar o fôlego. Seus olhos se fixaram numa lata vazia sobre a estante distante.

Parecia a última coisa que ele veria antes de morrer.

‘…Tenho que me livrar daquilo antes de morrer.’

Com esse pensamento firme, ele respirou com dificuldade, enquanto Grayson, completamente tomado pela alegria, continuava sem perceber o que estava acontecendo ao seu redor.

*

Num dia em que o sol do meio-dia queimava intensamente, Dane estacionou o carro em frente a uma loja de descontos que costumava frequentar. Ele fechou a porta do supercarro que praticamente roubou de Grayson e entrou no estabelecimento com seu passo habitual, despretensioso.

— Olá, seja bem-vindo!

As vozes cordiais dos atendentes sorridentes já lhe eram familiares. A maioria das pessoas costumava ser gentil com ele. O motivo era simples: Dane Stryker, com sua estatura impressionante, chamava atenção em qualquer lugar – e, além disso, era um homem absurdamente bonito, do tipo que arrancava suspiros. Com um corpo bem definido, ele às vezes deixava propositadamente alguns botões da camisa abertos, especialmente quando queria atrair alguém. Mesmo em lugares assim, o radar dele costumava estar ligado, mas dessa vez era diferente. Dane viera com um único propósito: fazer compras.

Era a primeira vez que visitava o local com intenções tão puras, e a sensação era estranhamente constrangedora. Retribuiu as saudações com um aceno educado e dirigiu-se rapidamente para o setor que lhe interessava.

A mudança já havia começado. Transportar seus pertences da casa antiga para a de Grayson foi fácil: além da cama e de um sofá pequeno (que doaria para quem quisesse), levaria apenas algumas roupas e os itens da gata. Organizou os alimentos que pretendia levar e jogou fora todo o resto, incluindo o lixo. As tralhas restantes? Eram lixo. Agora só faltava mesmo se instalar de vez na casa de Grayson.

Mas antes, precisava comprar uma coisa.

No corredor da loja que sempre frequentava para necessidades básicas, Dane começou a percorrer as prateleiras com calma. Dessa vez, não queria comprar latas de comida para cachorro ou algo do tipo – queria comprar um presente para Grayson. Como nunca comprou algo assim antes, não fazia ideia do que escolher, mas imaginava que, olhando aqui e ali, algo acabaria chamando sua atenção.

Depois de dar três voltas na loja, parou diante da prateleira de canecas. Claro, Grayson já devia ter utensílios de cozinha de sobra. Mas canecas… quanto mais, melhor. Sempre acabavam sendo usadas de novo, de qualquer forma…

— Humm…

Passou os dedos pelo queixo enquanto analisava as opções. Em toda sua vida, jamais gastou mais de US$2 em uma xícara – sempre pegava a mais barata, sem ligar para o design. Mas agora, que se tratava de um presente, acabou se tornando mais criterioso.

— Droga, que tipo de caneca custa cinquenta e dois dólares?

Ao ver o preço de um modelo supostamente diferenciado, a reação foi instantânea. Devolveu-a depressa para o lugar e voltou a analisar outras opções. Depois de apagar mentalmente a imagem daquela caneca cara, seus olhos pousaram em outra: uma caneca com tampa, design moderno e logotipo estilizado da loja, também não era ruim.

‘Essa aqui serve.’

O preço também era aceitável: US$27. Jamais teria pago isso por uma caneca para si mesmo, mas, como era um presente para Grayson, achou que valia o gasto. Ainda assim, pegou para si uma caneca de US$1,99  só por garantia.

Passou os itens no leitor de código de barras e concluiu o pagamento. Na saída, devolveu o cumprimento a um dos funcionários e deixou a loja. Desde que viu a lata vazia na estante de Grayson, carregava um incômodo no peito. Agora, se sentia mais leve. Ele entrou no carro assobiando.

“Peitos, peitos…”

— Droga.

Percebeu, sem querer, que estava cantando a música que lhe veio espontaneamente à boca. Irritado, Dane ligou o rádio e, imediatamente, a voz solene de um homem começou a ecoar pelo carro:

[Arrependam-se. Os impuros irão todos para o inferno. Devemos preservar a castidade com retidão. Reflitam sobre seus pecados e dediquem-se aos seus cônjuges. Aqueles que mantêm relações casuais de uma noite… aqueles que se deitam com vários de uma vez… todos serão punidos. Nada é mais sagrado neste mundo do que a virtude…]

Dane simplesmente desligou o rádio.

***

— Seja bem-vindo, Dane! Eu estava te esperando!

Grayson desceu correndo as escadas assim que Dane colocou os pés dentro da mansão e o recebeu com um grito entusiasmado. Enquanto Grayson o abraçava e cobria de beijos, Dane, com ele ainda grudado, subiu os degraus com dificuldade e começou a organizar as malas que trouxera.

Depois de colocar os pertences de Darling em seus devidos lugares e se endireitar, seus olhos se depararam com um cenário ao mesmo tempo familiar e estranho. Aquele quarto tinha sido seu lar por meses, mas também ficou vazio por um bom tempo. Era natural sentir-se assim, mas, mesmo assim, uma estranha sensação de constrangimento tomou conta dele. Coçando a nuca sem motivo, Dane afastou Grayson, que continuava colado nele, e falou:

— Vou pegar o que falta. Espere aqui.

Na verdade, não faltava muita coisa. O mais importante era o presente que havia comprado para Grayson. Depois de pedir que ele esperasse, Dane foi sozinho até o carro e trouxe o restante das coisas. Entre elas, havia também o presente, embrulhado de qualquer jeito dentro de uma sacola de papel.

Pulando vários degraus de uma vez, ele voltou rapidamente. Grayson, que o esperava no alto da escada, abriu um largo sorriso e correu para recebê-lo.

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Continua…