Ler Deseje-me se puder – Capítulo 193 Online

O outono já havia avançado, e as folhas de ginkgo começavam a cair uma a uma pelas ruas. Pela primeira vez experimentando o outono numa cidade do leste onde nunca tinha estado em toda a sua vida, Dane sentia um frio estranho e desconhecido.

— Haa…

Ele soltou um suspiro e olhou brevemente para trás. O prédio ao qual os degraus onde Dane estava agachado se conectavam era uma townhouse de estilo brownstone com mais de cem anos. À primeira vista, era óbvio que se tratava de um imóvel absurdamente caro, mas, ainda assim, não parecia ser o lugar mais apropriado para uma celebridade como Chase Miller viver com a família. Acima de tudo, não parecia haver qualquer tipo de proteção à privacidade. Ainda assim, para a surpresa de Dane, além de alguns pedestres ocasionais, ninguém parecia dar atenção ou agir de forma suspeita.

— Será que sua barra de chocolate já derreteu para os fãs? Vocês conseguem mesmo morar num lugar desses?

— O nome do meu marido é Chase Miller, Dane. Não é “barra de chocolate”.

Joshua, que também estava sentado nos degraus, corrigiu-o com uma voz calma. Espreguiçando-se como se estivesse prestes a desmoronar, Dane deu de ombros.

— Por isso foi tão difícil te encontrar. Não me diga que estava fugindo do Grayson?

Diante da pergunta, Joshua franziu a testa, mas logo encolheu os ombros com resignação.

— E por que não estaria? Aquele idiota ficou me perseguindo dizendo que queria se desculpar. Quem sabe o que ele seria capaz de fazer?

Na verdade, aquele lugar era apenas uma residência temporária. Joshua pretendia ficar lá por apenas três semanas, mas acabou sendo descoberto. ‘Talvez esse seja o meu limite,’ pensou, com uma pontinha de amargura. Nesse instante, Dane assobiou curto.

— E mesmo assim você deixou eles dois sozinhos aí dentro?

De fato. Dentro da townhouse de brownstone atrás deles estavam Grayson e Chase. E mais uma pessoa.

— Não aja como se Nathaniel não existisse.

Dane soltou uma risada discreta e corrigiu:

— Tecnicamente, é um garoto que Nathaniel enviou.

Chrissy, o parceiro de Nathaniel, tinha 1,80m, então não era exatamente baixo. Mas Joshua, com seus 1,85m, entendia perfeitamente o que era se sentir pequeno no meio daqueles gigantes absurdos.

— Enfim, aquele garoto não parece ser capaz de resolver e segurar as pontas se a coisa desandar.

— O Nathaniel deve ter um plano.

Apesar da resposta, Joshua também estava apreensivo. Eles estavam ali fora, sentados daquele jeito nos degraus, em respeito ao desejo de Chase, que, corajosamente, pediu para conversar a sós com Grayson…

Dane compartilhava da mesma inquietação. Mas, no seu caso, o temor era o oposto – estava preocupado que Chase espancasse Grayson.

⟨Apenas diga que sente muito e que entendeu que estava errado. Só isso.⟩

Entoou Dane mais cedo, pouco antes de virem. Ele tinha custado a descobrir onde Chase e Joshua estavam hospedados e, mesmo tendo conseguido chegar até ali, não era certeza que iriam permitir o encontro. Ainda assim, Dane escolheu confiar. Acreditava que Joshua era alguém com quem se podia conversar.

Foi por isso que os dois estavam agora ali, sentados lado a lado na escada. Esperando seus respectivos parceiros.

— A propósito, o que realmente aconteceu com você?”

Com a pergunta repentina de Joshua, Dane hesitou ao pegar um cigarro. Encarando o olhar fixo nele, Joshua continuou:

— Você e Grayson… Vocês realmente têm esse tipo de relação agora? Não é só coisa de parceiros sexuais, ou seja lá o que for?

Dane ficou apenas olhando para o rosto de Joshua, sem dizer uma palavra.

***

Dentro da sala de estar silenciosa, Grayson e Chase estavam sentados frente a frente. Em meio a uma tensão cortante, Chase mantinha os braços cruzados e a expressão fechada, enquanto Grayson se inclinava todo na direção do irmão mais novo, com o mesmo sorriso de sempre no rosto.

Observando os dois do sofá central, o homem que disse ter vindo no lugar de Nathaniel ainda não havia dito uma só palavra. Na prática, sua presença era quase como se não existisse. Ele apenas respirava em silêncio. Incapaz de aguentar aquilo por mais tempo, Chase foi o primeiro a abrir a boca.

— E você, o que está fazendo? Nathaniel deve ter te mandado aqui por algum motivo.

Para começar, Chase nem sequer entendia por que aquele homem estava ali. Se fosse o próprio Nathaniel, talvez…

Chase sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha ao se lembrar dos olhos frios que o observavam do alto. Foi então que o homem, que havia se apresentado como Chrissy Jean, finalmente falou:

— Ele disse para eu apenas observar.

— …Só isso?

Chase perguntou, incrédulo. A resposta foi curta e seca:

— Isso mesmo.

Aquilo fez o sangue dele ferver. Ele não conseguiu conter a irritação e explodiu:

— Você veio só para isso? Você não é promotor? Está assim tão desocupado? Por que veio, afinal?

Diante das acusações, Chrissy apenas sorriu com o rosto bonito e respondeu:

— Achei que seria divertido.

Chase ficou sem palavras. Logo em seguida, a fúria o consumiu.

‘Essa família inteira só sabe me tirar do sério. Que diabos esses malditos pensam que estão fazendo?’

Seu rosto ficou vermelho de raiva, mas ninguém ali parecia se importar. Chrissy era um beta, então não era afetado por feromônios, e para Grayson, Chase era apenas o irmãozinho que precisava ser protegido.

— Por que veio até aqui? Quem disse que eu queria te ver?

No fim, Chase acabou descontando a raiva em Grayson.

‘É óbvio que ele só vai me irritar de novo. Talvez eu devesse só bater nele até cansar.’

Grayson coçou a bochecha, pensativo, e então sorriu de repente.

— Eu vim te pedir desculpas.

— Pare de falar merda.

Chase soltou o palavrão imediatamente. Ele já sabia que aquele desgraçado havia percorrido os EUA todo fazendo o que chamava de “pedidos de desculpas”. E também sabia que aquilo não significava absolutamente nada. Ele vinha evitando esse encontro justamente por isso: porque não fazia sentido receber um pedido de desculpas falso, que só iria fazer ele ficar mais puto.

‘Afinal, esse idiota nunca foi sincero. Ele só vai me deixar mais irritado.’

Chase conhecia Grayson muito bem. Desde pequeno, havia sofrido nas mãos dele. E ainda assim, aquele cara sempre falava merdas como “é para o seu bem”. Era ridículo.

‘Dessa vez vai ser a mesma coisa, com certeza.’

Mas enquanto pensava isso, Grayson falou:

— Eu fiz coisas ruins com você no passado.

Essa frase tinha sido ensinada por Dane. Com uma voz cuidadosamente ensaiada para soar carregada de culpa, quase miserável, Grayson continuou:

— Tudo o que eu fiz com você, sem considerar seus sentimentos, sua vontade… eu peço desculpas por tudo isso. Sinto muito.

O rosto de Chase, que estava completamente contorcido pela raiva, começou a relaxar aos poucos. Sua expressão mudou para surpresa, sua mente inundada de confusão.

‘Mas o quê…?’

Eram palavras que ele jamais imaginaria ouvir da boca daquele homem. E ainda por cima, Grayson havia identificado exatamente o problema. Como isso era possível?

— Quem te ensinou isso?

Chase perguntou, cheio de desconfiança.

— Você nunca teria pensado nisso sozinho. Quem foi?

Diante da pergunta, Grayson respondeu com naturalidade:

— Foi o Dane quem me ensinou.

— Eu sabia.

Chase soltou um resmungo de desdém, e Grayson continuou:

— Mas a decisão de me desculpar foi minha.

Chase, que tinha virado o rosto, lançou um olhar de canto para ele. Só depois disso virou completamente para encará-lo.

— Também fui eu quem pensou no motivo pelo qual devia me desculpar.

Chase apenas o encarava com uma expressão cética, sem responder, claramente sem saber se acreditava ou não.

***

Joshua ainda exibia uma expressão de total descrença. Tinha feito a mesma cara quando viu Dane aparecer ao lado de Grayson mais cedo. Dane tirou um isqueiro do bolso, acendeu o cigarro e soltou a fumaça devagar.

— Aconteceu. Meio que… sem querer.

— Sem querer….

Joshua repetiu as palavras, mas seu rosto ainda estava cheio de ceticismo, como se dissesse: ‘Como isso pode sair da sua boca?’ Diante daquele olhar insistente, Dane soltou um riso breve.

— Pensa em como você era, Joshua Bailey. Nem eu esperava que você fosse se acalmar assim.

— As pessoas chamam isso de amadurecer, Dane. E mesmo assim, eu sempre tive mais autocontrole do que você.

Diante daquela provocação sutil, Dane parou por um momento, com o cigarro preso entre os lábios.

‘Esse filho da mãe… está se fazendo de santo agora?’

E não parou por aí. Joshua, sem a menor vergonha, ainda soltou mais uma:

— A propósito o Chrissy não é bem o seu tipo? No passado, você já teria arrastado ele para a cama. Que pena, hein?

Ele terminou dando dois tapinhas nos ombros de Dane, como se estivesse tentando consolar, e abriu um sorriso leve e zombeteiro. Ao ver aquele sorriso fresco, Dane ficou pasmo.

— Quem era o cara que ficava me arrastando pra balada pra pegar gente, hein? Já esqueceu? Eu lembro até da pinta na sua bunda suja, seu desgraçado.

— E acha que eu não lembro de você?

Joshua retrucou sem ficar pra trás:

— Você gosta de bater na bunda dos outros, seu tarado! De amarrar com algema e meter a mão. Pervertido do caralho!

°

°

Continua…