Ler Deseje-me se puder – Capítulo 192 Online

Dane sorriu amargamente, pensando: ‘Mas isso também… não é tão ruim.’ A prova disso era que os cantos de sua boca permaneciam curvados para cima, sem descer. Com cuidado, ele voltou a abaixar o braço e o apoiou novamente sobre a cama. Enquanto isso, Grayson não parava – depois de encher o rosto de Dane com beijos, agora estava descendo para o pescoço. O destino final desse cachorrinho atrevido era óbvio. E mesmo sabendo disso, Dane o deixou fazer. Sentia-se meio ridículo por se pegar imaginando como seria passar o resto da vida com ele.

‘Mas ainda é cedo pra saber.’

Mas de uma coisa ele tinha certeza: sempre que aquele homem mexesse as orelhas de felicidade… ele acabaria sorrindo também. Exatamente como agora.

— Eu te amo, Grayson Miller.

Quando Dane sussurrou, Grayson subitamente ergueu a cabeça. Junto com o movimento, um aroma doce se espalhou pelo quarto do hospital.

— E-er… isso, quer dizer…

Grayson ficou completamente perdido, gaguejando todo corado. Para um alfa ou ômega, só havia uma razão para liberar seus feromônios assim de repente: quando estava extremamente excitado sem querer. Mas era extremamente raro um Alfa Dominante, que normalmente controlava seus feromônios com precisão, agir assim – a menos que estivesse deliberadamente provocando ou tentando excitar alguém. Dane estreitou os olhos e comentou, seco:

— Que porra é essa? Você está tentando me seduzir agora? No hospital?

— N-não, não é isso, não… eu-!

Grayson balançou a cabeça com força, com o rosto vermelho feito um tomate. Quanto mais ele negava, mais forte ficava o cheiro no ar. A expressão cética de Dane só deixava tudo pior. Envergonhado, Grayson desviou o olhar, piscou os olhos inquietos, até que explodiu de repente:

— É… Rut!

— Hã?

Dane franziu a testa, e Grayson se apressou em explicar:

— É Rut, é que… eu não liberei feromônios esse tempo todo, aí o rut veio de repente! Eu só não estou conseguindo controlar, juro!

Diante da tentativa desesperada de justificar, Dane ficou em silêncio por alguns segundos. Observou Grayson com olhos semicerrados, como se estivesse ponderando se valia a pena acreditar naquela desculpa esfarrapada. O suor frio escorria pelas costas do alfa.

— Tudo bem.

Quando Dane finalmente falou, as orelhas de Grayson se ergueram. Um suspiro aliviado começou a se formar, até que Dane completou:

— Sobe aqui. Vamos fazer.

— O-o quê?!

Grayson arregalou os olhos, incrédulo. A boca dele se abriu tanto quanto os olhos, e Dane quase soltou uma risada – mas a dor nas costelas logo o impediu. Em vez disso, ele falou outra vez, com naturalidade:

— Suba logo. Só assim você vai liberar esses feromônios, certo?

Mesmo com a insistência, Grayson parecia não conseguir acreditar. Continuou parado, piscando sem parar, com os lábios abertos sem emitir nenhum som, encarando Dane.

— V-você… você não está falando sério que quer… transar comigo agora?

“Você está machucado”, ele parecia dizer com o olhar. Dane curvou os lábios num sorriso provocador e respondeu:

— Se não for agora, quando mais vou ter a chance de fazer sexo drogado legalmente dentro de um hospital?

Grayson ainda tentou dizer algo. Dane, já adivinhando que viria mais uma ladainha, o interrompeu com uma ameaça direta:

— Se você ousar abrir essa boca pra dizer que vai sair por aí e liberar seus feromônios com outro, só porque eu tô assim, eu juro que te mato aqui mesmo.

O tom de voz parecia o mesmo de sempre, mas para Grayson, teve um efeito diferente. As bochechas dele coraram ainda mais, e seus olhos violeta brilharam intensamente.

— Dane, isso agora foi… ciúmes?

— Vai pedir logo um analgésico. — Assim que as palavras constrangedoras saíram, Dane o interrompeu sem a menor cerimônia. — Um bem forte. Anda logo — acrescentou ele, impaciente.

Grayson hesitou por um momento antes de se virar para sair, mas então parou subitamente. Só aí ele notou que ainda estavam algemados. Tirou a chave do bolso da calça, abriu apenas a algema do próprio pulso e prendeu-a no corrimão lateral da cama. Dane o encarou como se dissesse ‘que diabos você está fazendo?’, mas a resposta de Grayson foi firme:

— Não ouse sair daqui. De jeito nenhum.

E com isso, Grayson saiu do quarto.‘Pra onde esse idiota acha que eu vou, nessa condição?’ Dane balançou a cabeça, achando tudo um completo absurdo. Ainda assim, sorriu. Ele podia ter simplesmente apertado o botão de chamada, mas não o fez. A visão das costas de Grayson, apressado ao sair, foi fofa demais para interromper.

Ele soltou um suspiro quente e longo, esperando pela chegada do pessoal da enfermagem. Sentia o calor se espalhar lentamente por todo o corpo.

***

— Tem certeza que está tudo bem?

Assim que os profissionais de saúde deixaram o quarto, após verificar seu estado e aplicar a injeção, Grayson perguntou, como se estivesse extremamente  ansioso.

— Eles disseram que você precisa descansar…

Apesar da expressão hesitante, era impossível ignorar a protuberância evidente de sua Virgínia sob a calça.

‘Esse idiota… e ainda vem com essa conversa?’

Dane ignorou completamente o que ele disse e apenas ergueu o pulso ainda preso na algema, balançando-o.

— Então solta isso logo.

Grayson, mesmo a contragosto, obedeceu. Dane esfregou o pulso finalmente livre e disse:

— Ótimo. Agora suba aqui. — Logo depois, entre respirações curtas, completou com os dentes cerrados: — Rápido.

Seu tom estava longe de ser brincadeira. Grayson pensou que, se fosse com cuidado, talvez desse certo… e então subiu lentamente na cama.

— Dane, eu acho que…

Mas assim que começou a falar, a expressão de Dane ficou sombria.

— Quem mandou você achar alguma coisa?

Antes que Grayson pudesse entender o que estava acontecendo, Dane o agarrou pela nuca e o puxou de uma vez. Os lábios se tocaram com força – e naquele instante, o quarto se encheu com o cheiro súbito e denso de feromônios.

‘…O quê…?’

Por um segundo, Grayson sentiu a cabeça girar. O aroma não era dele, era de outra pessoa. De Dane. Aquilo era proposital?

‘Ele… soltou feromônios de propósito? Mas por quê…?’

Tentou raciocinar, mas a cabeça estava ficando turva demais. Ainda assim, conseguiu puxar uma lembrança distante – algo parecido já tinha acontecido antes. Era igual daquela vez.

Então, subitamente, Grayson entendeu.

‘O cio… não é meu. É dele!’

Grayson ergueu o rosto abruptamente, ofegante, e encarou Dane.

— Você… por acaso…

Mesmo ainda meio desconfiado, Grayson viu o rosto de Dane completamente corado. Ele percebeu na hora: aquele rubor não era vergonha… era excitação.

Tudo aquilo era por causa do ciclo de calor.

— Você me enganou de novo!

Grayson estava genuinamente irritado. Em menos de cinco horas, parecia que já tinha sido enganado por esse homem uma dezena de vezes. E agora, além de tudo, ele ainda estava tentando colocar a culpa do cio em cima dele?

Ao ver Grayson bufando de raiva, Dane soltou uma gargalhada.

— Puhaha!

Suas costelas ainda doíam, mas agora era só uma dor leve e suportável. Nada que o impedisse. Sem hesitar, Dane agarrou o colarinho de Grayson e o puxou. Num instante, Grayson se viu tão perto que conseguia sentir a respiração dele.

— Acha mesmo que, por mais viciado em sexo que eu seja, eu ia querer transar nesse estado todo arrebentado?

Dane sussurrou com a voz arrastada de quem mal consegue conter o riso.

— É claro que é por causa do ciclo de calor.

Então, ele passou a língua pelos lábios de Grayson. — Hmm… — O som baixo da risada de Dane derreteu a resistência de Grayson, mas um fiapo de orgulho ainda resistia.

‘Pelo menos isso eu tenho que deixar claro…!’

— Então quer dizer que… eu não estou mesmo no período de Rut?

Insistiu mais uma vez, tentando confirmar. Dane respondeu com desdém:

— Bom…

Lambeu de novo os lábios de Grayson e soltou um suspiro que roçou gelado contra a pele úmida. Por um instante, Grayson quase perdeu o juízo.

— Pode ser que você só tenha reagido ao meu feromônio.

Dane riu, como se estivesse vendo exatamente o esforço que Grayson fazia para manter um pingo de sanidade.

— Eu tentei segurar o máximo que consegui, mas… quando o ciclo começa é impossível de controlar.

O rosto de Dane ficou ainda mais vermelho. A cor se espalhou pelo rosto inteiro enquanto sua respiração acelerou visivelmente.

— Os supressores até ajudam um pouco, mas… — Os olhos de Grayson já haviam perdido o foco. Ofegante, ele olhava fixo para Dane, quase sem piscar, com um sorriso malicioso, completou: — …acho que não tem por que tomar um agora, não é?

Essa foi a última coisa que Grayson conseguiu se lembrar.

°

°

Continua…