Ler Deseje-me se puder – Capítulo 177 Online

Pum, boom, bum!

O som dos fogos de artifício, estrondoso o bastante para machucar os ouvidos, ainda continuava. Por causa dessa barulheira. Dane chegou a pensar que talvez seus ouvidos estivessem com problema. Talvez tenha entendido errado o que Grayson disse, ou até escutado algo que ele nunca falou.

No entanto, ao mover os olhos e encarar Grayson, viu que ele sorria de leve.

— O quê…?

Pela primeira vez, Dane abriu a boca. Sua mente estava vazia, incapaz de pensar em qualquer coisa. Ou talvez fosse o contrário: havia tantos pensamentos invadindo de uma vez que ele nem sabia por onde começar. Dane tinha sido o primeiro a falar sobre um fim, mas agora, diante das palavras de despedida de Grayson, ele estava visivelmente confuso.

— O que você quer dizer com isso?

A pergunta saiu num tom quase atordoado, e mesmo assim Grayson apenas continuava sorrindo. Diante daquela expressão e palavras impossíveis de entender, Dane só conseguiu piscar os olhos, sem saber o que fazer, até que Grayson falou novamente, com a mesma calma de sempre:

— Estou desistindo de tudo.

Só então Dane percebeu que não tinha ouvido errado. Sua audição estava perfeita; não era imaginação. Mesmo assim, ele ainda não sabia como reagir. Mesmo já tendo passado por situações assim antes, por que agora era tão diferente? Por que, em vez de simplesmente responder com um indiferente “Tudo bem, siga em frente” como sempre fez, seus lábios pronunciaram algo completamente diferente?

— …Do nada assim, por quê?

Diante da pergunta hesitante, os longos cílios de Grayson desceram lentamente. A luz brilhante dos fogos, que iluminavam o céu como se fosse dia, projetava a sombra dos cílios desenhando uma linha longa e dramática sobre seu rosto, acentuando ainda mais seus traços.

— Eu não te amo.

Boom! Outro estouro de fogos de artifício. Dane não respondeu. Ficou apenas ali, congelado como gelo, esperando pelo que viria a seguir. Grayson manteve os olhos fixos no rosto dele enquanto continuava, num tom tão calmo e sereno quanto antes:

— Agora eu percebi. O que sinto por você não é amor.

As explosões continuavam, incessantes. Em meio aos gritos animados das pessoas e aos estrondos dos fogos, os dois permaneceram em silêncio, olhando um para o outro.

‘O que esse imbecil está falando para mim agora?’

Dane continuava olhando fixamente para Grayson, como se tivesse até esquecido de piscar. E quanto mais o observava, menos conseguia aceitar o que estava ouvindo.

‘Por que um cara que dizia me amar com tanto fervor está me olhando com essa expressão agora?’

— Naquele dia…

A voz baixa de Grayson ecoou. Dane teve que concentrar toda a sua atenção para ouvi-la no meio do barulho, como se estivesse dedicando todos os seus sentidos a ele. Com o olhar ainda baixo, Grayson continuou, como se estivesse recitando:

— Quando você recobrou a consciência pela primeira vez, o médico me disse… disse que talvez você pudesse ficar cego. E quando eu ouvi isso… — ele soltou um pequeno suspiro e continuou, — …eu imediatamente cobri minha boca.

Após mais alguns segundos de silêncio, Grayson prosseguiu, ainda fixando o olhar para baixo:

— Para que ninguém percebesse que eu estava sorrindo.

Dane não conseguiu reagir de imediato.

— …O quê?

Foi tudo o que ele conseguiu dizer. E acima deles, bum!, mais um fogo de artifício estourou no céu.

Nenhum dos dois disse mais nada. Mesmo com apenas uma palavra, Dane sabia que Grayson tinha ouvido. Tinha certeza de que sua pergunta, breve como foi, havia chegado até ele.

‘Ele também, deve estar com todos os nervos à flor da pele, assim como eu.’

Grayson, que tinha lançado um olhar furtivo para Dane, de repente soltou uma risadinha. Um sorriso inocente, como o de uma criança, surgiu em seu rosto.

— Eu ri. Assim que ouvi que você ficaria cego.

Dane piscou os olhos e perguntou:

— …Por quê?

Essa era a única coisa que ele conseguia dizer. Observando a expressão atônita de Dane, Grayson respondeu como se fosse óbvio:

— Porque fiquei feliz, é claro.

E de fato, parecia genuíno. Como se estivesse se lembrando da alegria daquele momento, ele sorriu com uma felicidade transbordante.

— Se você não pudesse mais enxergar, não faria mais esse tipo de loucura.

A resposta saiu naturalmente, mas para Dane, ainda era algo completamente incompreensível.

— Que loucura? Do que você está falando, afinal?

Ele perguntou, ansioso e Grayson respondeu:

— Na minha frente.

A voz que escapou de seu rosto sereno tremia levemente.

— Bem na minha frente, cometendo essas loucuras até morrer.

Boom!

De repente, um estrondo enorme soou bem ao lado deles, como se uma explosão tivesse ocorrido. Mas Dane não se moveu nem um centímetro – apenas continuou a encará-lo. Grayson manteve o olhar por um momento antes de falar:

— Você perguntou por que eu fui atrás de você, não foi? — A voz tranquila continuou, como se ele estivesse conversando sobre algo banal do dia a dia. — O que eu disse antes era verdade. Eu fui para te matar.

Tão calmo, tão sereno…

— …Por quê?

O conteúdo do que Grayson dizia e a serenidade de sua voz criaram um contraste tão absurdo que Dane só conseguia ficar ainda mais confuso.

‘Esse idiota… ele sabe o que está dizendo?’

— Responda! O que diabos você está querendo dizer desde antes?

Diferente dele, Dane estava agitado, perguntando de novo e de novo. Mas mesmo diante da voz tensa do homem, Grayson não reagiu em nada. Essa indiferença só deixou ele ainda mais nervoso, estava prestes a pressioná-lo novamente, quando Grayson desviou o olhar.

— Você…

Dane ficou observando, sem piscar, os lábios do homem que se moviam lentamente.

— Quando seu corpo se recuperar completamente, você vai voltar a ser bombeiro, não vai?

É claro. Era a sua profissão. Sem entender nada, Dane apenas olhou para ele, enquanto Grayson fechava os olhos com força.

— Eu não consigo suportar isso.

Grayson, que apoiava os cotovelos nas pernas abertas, apertou as mãos com força. Quando Dane viu as mãos dele tremendo violentamente, Grayson continuou:

— Você vai se jogar no fogo sem hesitar de novo. Sempre vai estar pronto para morrer. Quantas vezes for preciso, não importa quantas, você vai arriscar a vida por qualquer pessoa. Até por um maldito cachorro ou gato.

A voz dele tremia tanto quanto suas mãos unidas.

— Foi por isso que eu quis te matar. Se morrêssemos juntos, você seria meu para sempre.

Dane apenas piscava os olhos, sem conseguir dizer nada. Diante da incredulidade no olhar dele, Grayson soltou uma risada sem forças.

— É verdade. Se naquela hora você não tivesse percebido minha presença e chamado meu nome, agora nós dois não estaríamos mais nesse mundo. Você, que salvou várias vidas, teria ido para o céu… e eu, por tirar uma, iria para o inferno.

Logo, ele acrescentou, murmurando, como se toda a energia tivesse se esgotado.

— Ainda bem que não aconteceu.

O silêncio voltou a se instalar entre eles. Durante alguns instantes, apenas o som das risadas, das conversas das pessoas e o estouro dos fogos de artifício preencheu o espaço entre os dois. Dane pensava furiosamente. Precisava dizer alguma coisa.

‘Qualquer coisa, de qualquer jeito.’

— …Mas você não fez. Conseguiu dizer, com dificuldade.

— Você não fez isso.

Finalmente, ele conseguiu falar.

— Você não fez. Eu estou vivo agora, e isso é o que importa.

— Não.

Grayson rejeitou imediatamente as palavras de Dane.

— Se continuar assim, eu vou acabar te matando.

Dane abriu a boca para tentar responder, mas Grayson foi mais rápido.

— Você não entende. Vai acabar acontecendo, tenho certeza. Eu… eu vou te matar.

— Isso é algo que você não pode saber…

— Eu…!

Quando Dane tentou falar de novo, Grayson o interrompeu com um grito agudo. Dane parou, surpreso, e ficou em silêncio, esperando que ele se acalmasse. Grayson ficou alguns momentos sem dizer nada, respirando de forma entrecortada, até que finalmente falou:

— Eu ainda sinto esse impulso. — Com a voz esgotada, ele murmurou: — Uma voz continua sussurrando no meu ouvido, dizendo que, se eu te matar, vou ter você todo para mim.

Grayson lentamente levou as duas mãos até os ouvidos, como se quisesse impedir que o som chegasse até ele. Mas sua expressão, contorcida de angústia, só piorou.

— Mesmo tapando os ouvidos, ainda ouço. Sem parar, sem parar…

‘Eu quero que você seja só meu.’

‘Não aguento mais ver você arriscar a vida por qualquer um.’

‘Por favor, não corra para a morte de novo na minha frente.’

‘Não me deixe sozinho.’

‘Se ao menos…’

Ele puxou o ar com dificuldade, depois simplesmente prendeu a respiração. Era como se estivesse preso dentro de seus próprios pensamentos horríveis.

‘Se ao menos você tivesse morrido.’

Grayson soltou o ar devagar, como se estivesse suspirando de desespero.

‘…Se fosse assim, talvez eu não precisasse mais pensar desse jeito.’

— Amor não é isso.

O rosto de Grayson, voltado para Dane, estava tomado por desespero.

— Isso nunca pode ser amor.

Ele repetiu a frase como se precisasse convencê-lo, ou talvez a si mesmo. Em seu rosto pálido não restava mais qualquer ilusão, esperança ou sonho. Era uma expressão vazia, como se sua alma tivesse sido arrancada do corpo, enquanto ele olhava fixamente para Dane.

— O amor não pode ser algo tão feio assim.

As íris de um roxo intenso começaram a se encher de lágrimas. Seus lábios tremiam. As lágrimas que se acumularam brilharam por um instante, antes de escorrer silenciosamente por suas bochechas.

— Não pode ser algo tão doloroso, tão horrível assim.

Uma lágrima pendurada em seu queixo caiu, logo outra veio.

— Isso não é amor. Isso… isso não pode ser amor.

Repetindo as mesmas palavras, ele cobriu o rosto molhado com as mãos e murmurou, completamente tomado pelo desespero.

— Eu não te amo.

Dane apenas olhou para ele. Sem conseguir dizer uma única palavra.

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Continua…