Ler Controle – Capítulo 79 – Side 1. Noah e Jaryeong (9) Online

— Jaryeong?

O rosto de Noah estava coberto de suor quando entrou na casa de Jaryeong. Como havia bebido, não podia dirigir, então pegou um táxi assim que recebeu a ligação, mas, por coincidir com o horário de pico, o trânsito estava terrível. No fim, ele desceu antes e correu o restante do caminho.

— Ele está naquele quarto ali.

O irmão mais novo de Jaryeong respondeu com os olhos marejados, apontando para o quarto da mãe. Noah respirou fundo para recuperar o fôlego e seguiu direto para o cômodo. Jaryeong estava deitado sobre uma coberta estendida em um canto do quarto. Ao se aproximar, Noah chegou a duvidar se ele ainda estava vivo de tão pálido que estava, só se tranquilizou ao sentir, com os dedos sob o nariz, uma leve respiração.

— Ele não tem comido direito ultimamente… Só toma remédio de estômago vazio e acaba vomitando tudo…

O irmão mais novo explicou com a voz trêmula. Disse que Jaryeong demorou muito no banheiro e, preocupado, encostou a orelha na porta, escutando sons de vômito. Achou que ele finalmente sairia, mas então ele desabou. Sem saber o que fazer, o único que lhe veio à mente foi Noah.

O menino não parecia compreender direito que aquilo poderia ser um efeito colateral dos supressores de cio ômega. Ainda mais sendo apenas um estudante do ensino fundamental, deve ter se apavorado ao ver o irmão, que praticamente agia como o chefe da família – desmaiado.

— Vai ficar tudo bem agora. Eu vou cuidar dele, então não se preocupe tanto. Provavelmente é efeito colateral do supressor de ômega.

Noah tratou de acalmar o garoto primeiro. Ele pareceu mais tranquilo e deixou Jaryeong aos cuidados de Noah antes de sair para visitar a mãe, que estava internada. Como ela também havia sido informada do ocorrido, Noah o incentivou a ir vê-la logo.

Depois de se despedir do irmão mais novo, Noah voltou para junto de Jaryeong e soltou um longo suspiro. Ver o rosto pálido e inconsciente do rapaz deixou seu peito pesado. Se estava tão mal assim, por que não pediu ajuda antes? Mesmo não sendo médico, ele poderia ao menos ter ouvido seus desabafos…

Mas assim que pensou nisso, sorriu amargamente. Percebeu que Jaryeong nem ao menos se sentia confortável o suficiente com ele para fazer isso.

A diferença de postura entre eles era evidente. Quando Noah se sentia sozinho com a ausência de Yohan, tentou preencher esse vazio com a presença de Jaryeong. Sentia-se mais confortável e feliz ao lado dele do que com qualquer outra pessoa. Já para Jaryeong… talvez não fosse o mesmo. Talvez o tempo que passaram juntos tenha sido apenas um peso, algo desconfortável.

Os sentimentos humanos podiam ser mesmo complicados. Doía saber que, mesmo gostando de alguém, ainda assim podia não se sentir à vontade ao seu lado.

— Ugh…

Jaryeong gemeu baixinho. Noah o observou franzir a testa e abrir os olhos com dificuldade. Parecia desorientado, piscando lentamente várias vezes enquanto encarava o teto. Instintivamente, Noah estendeu a mão e acariciou sua testa suada. Ao sentir o toque, Jaryeong virou o rosto na direção dele como se despertasse de repente.

— S-sunbae…?

Seus lábios estavam ressecados. Noah conteve o suspiro que ameaçava escapar e apenas assentiu com a cabeça.

— Deve ser um sonho…

Jaryeong murmurou. Parecia difícil acreditar que Noah estava ali. Ao sentir os dedos afastando gentilmente seus cabelos, fechou os olhos, ainda não estava totalmente consciente.

— Uagh!

De repente, ele se sentou com um sobressalto. Noah levou um susto, e o próprio Jaryeong pareceu tonto, cambaleando no lugar. Noah estalou a língua e rapidamente passou o braço por seus ombros para segurá-lo. Jaryeong franziu o rosto, esperando a tontura passar, e, quando pareceu melhor, empurrou as mãos de Noah.

— Por que… você está aqui?

— O Jayun me ligou dizendo que você tinha desmaiado.

— Ah…

Ele engoliu as palavras seguintes, mas sua expressão deixou claro que achou que o irmão fez besteira.

— É normal se assustar. Ele ainda é só um garoto.

Diante da resposta de Noah, Jaryeong não conseguiu dizer nada. Apenas mordeu os lábios, frustrado.

— Porque não foi ao hospital?

— Eu ia, amanhã.

Pelo visto, o hospital havia marcado o próximo atendimento para o dia seguinte. Nessas horas, Jaryeong demonstrava ser teimoso de forma desnecessária. Provavelmente havia escutado também que, caso o medicamento causasse reações adversas, deveria voltar imediatamente.

‘Por que insistia em aguentar?’

— Não te disseram que poderia haver efeitos colaterais?

— …

O silêncio parecia confirmar que ele havia escutado, sim.

— E não falaram que, se houvessem efeitos, você deveria ir logo ao hospital para trocar o remédio?

O olhar de Jaryeong foi baixando aos poucos até que, por fim, ele abaixou totalmente a cabeça. Noah suspirou fundo e ficou em silêncio, percebendo que não queria repreendê-lo.

— Seu irmão disse que não consegue comer nada, não é? Quer que eu prepare um mingau?

Quando perguntou, já pensando em alimentá-lo de alguma forma, Jaryeong balançou a cabeça. Como ele acabaria vomitando de qualquer forma, Noah não insistiu. Mesmo assim, ele sabia que seu corpo não poderia aguentar por muito tempo sem ingerir nada… Pensativo, foi até a sala e ligou para o laboratório da RF Pharmaceuticals. Ao explicar a situação para o diretor do laboratório, o homem deu uma risada descontraída.

[Como o Yohan não está mais com problemas com os efeitos colaterais dos remédios, suponho que esteja cuidando de outro ômega agora. Então, finalmente decidiu superar o Yohan?]

Diante da pergunta do diretor, Noah apenas soltou um som abafado, evitando responder diretamente. O homem recomendou que seria melhor aplicar uma injeção de nutrientes para evitar o risco de colapso e disse que enviaria uma equipe médica parceira da empresa.

Após agradecer, Noah voltou para o quarto e encontrou Jaryeong sentado exatamente da mesma forma de antes.

— Pode deitar, sabia?

Talvez ele nem tivesse se deitado ainda por estar preocupado em incomodá-lo. Noah apertou gentilmente sua testa, fazendo-o deitar de novo.

— Sunbae, mais importante do que isso…

— Depois. Eu sei o que você quer dizer, mas deixa pra depois.

Se ouvisse qualquer coisa como “vá embora” ou “não quero ver você”, provavelmente ficaria com o coração em frangalhos. Por isso, preferiu interromper a frase antes que fosse concluída. Jaryeong apenas mordeu os lábios, sem insistir.

— Logo, o pessoal vai chegar para aplicar a vitamina. Até lá, descanse mais um pouco.

Depois de puxar o cobertor até o peito dele e acariciar levemente em seu tórax como um gesto reconfortante, Noah percebeu que os olhos de Jaryeong o encaravam. Foi possível ver sua garganta se movendo como se ele estivesse engolindo as palavras que queria dizer, mas Noah fingiu que não percebeu.

Minutos depois, Jaryeong voltou a dormir com mais facilidade do que o esperado. Isso só deixava ainda mais claro o quanto seu corpo estava enfraquecido, o que fazia o peito de Noah apertar de novo.

— Será que… você não pode simplesmente deixar passar?

Noah murmurou enquanto observava o suor frio brotando no rosto pálido de Jaryeong. Se ele apenas cedesse um pouco, Noah poderia fazer tudo dar certo. Todas as dificuldades que um ômega enfrentava, ele entendia melhor do que ninguém e sabia como ajudar. Também poderia resolver seus problemas financeiros, por mais sérios que fossem.

Mas era frustrante que Jaryeong nem mesmo desse essa chance a ele. Agora, começava a entender. Entendia por que se sentia tão magoado por Jaryeong não depender dele. Ao vê-lo ali, diante de si, seus sentimentos ficavam cada vez mais claros – e não dava mais para ignorá-los.

***

— Com certeza são efeitos colaterais. Mas a tontura e o desmaio não vêm exatamente do remédio em si, e sim pelo fato de você não estar comendo nada. Aplicamos uma injeção de nutrientes, então ele vai se sentir bem melhor quando acordar. O melhor seria interromper o uso desse medicamento e ir ao hospital para receber uma nova prescrição.

A equipe médica enviada pelo laboratório explicou isso enquanto aplicava a injeção concentrada de nutrientes no braço de Jaryeong, substituindo o soro, e examinava o medicamento que ele vinha tomando.

— Ah, este é para o senhor, Sr. Noah.

O profissional estendeu um outro frasco de comprimidos que havia trazido à parte. Ao pegar para verificar, Noah viu que se tratava de um supressor de Rut para alfas.

— Como o Sr. Jaryeong não está tomando os medicamentos para o ciclo de cio, ele pode acabar liberando feromônios, e o senhor pode reagir a isso. Então é melhor se prevenir.

— Mas e o Jaryeong? Ele não vai sofrer se tentar aguentar o ciclo de calor sem os remédios?

— Bem, pelo que estou vendo agora, ele deve estar no final do ciclo de cio, então acho que não será insuportável. É o primeiro ciclo de cio dele, certo? Por isso está sendo tão intenso, mas os próximos não serão tão difíceis assim. Só precisamos encontrar um medicamento que se adapte ao organismo dele. Se o hospital não conseguir resolver, leve-o para o laboratório. Vamos fazer um exame de constituição física e preparar um medicamento personalizado, igual aos que o senhor Noah e o senhor Yohan tomam.

Noah imediatamente engoliu o remédio que o outro lhe entregou, junto com um copo de água. Era melhor ele tomar o supressor do que deixar o garoto sofrendo com os efeitos colaterais do seu feromônio.

— Ah, é uma pergunta um pouco indiscreta, mas… vocês são um casal? Se forem, acho que posso dar uma dica.

Enquanto calçava os sapatos para ir embora, um dos profissionais de saúde pareceu se lembrar de algo e perguntou.

— Somos um casal.

Era mentira, mas como se tratava de uma dica, Noah resolveu responder mesmo assim.

— Nesse caso, só o contato físico pode ajudar a estabilizar um pouco esse estado instável. Não estou dizendo que vocês precisam transar, mas… é mais uma questão de alcançar uma estabilidade emocional, entende? E isso realmente ajuda. No hospital, eles não recomendam porque não tem explicação médica concreta, mas nossas pesquisas no laboratório, confirmam que os níveis de feromônio tendem a se estabilizar sim. Então, vale a pena tentar.

O profissional de saúde deu um sorriso simpático e se despediu, já Noah ficou parado no mesmo lugar, com as mãos no rosto. Ter escutado aquilo só o atrapalhou ainda mais. Dizer que não precisavam fazer sexo, mas que bastava o contato físico… o que exatamente isso queria dizer? A maior parte de sua experiência com o contato físico sem segundas intenções foram com Yohan, e nos raros relacionamentos que teve, tudo levava ao sexo. Por isso, aquilo soava completamente fora de lógica para ele.

Além disso, será que aquele cara tinha mesmo noção do que estava falando ao sugerir que um alfa tocasse um ômega em pleno ciclo de cio? Era o tipo de coisa que podia facilmente terminar em sexo, mesmo sem intenção.

Desde antes, o quarto onde Jaryeong estava deitado já tinha sido tomado pelo perfume de seu feromônio. A situação era delicada. Não a ponto de perder completamente o controle, ainda,  mas ele já se sentia um pouco estimulado. Noah havia tomado o supressor, mas será que conseguiria resistir até o fim?

“Se você é um alfa, então sabe como é. Quando o ômega certo está na sua frente, você pode perder completamente a razão.”

Por que justo agora as palavras de Cha Siheon vinham à sua mente? Não, não… Que pensamento absurdo era aquele? Só porque Jaryeong era ômega, isso não fazia dele o “seu” ômega. Ainda mais estando em um estado tão instável, recém-apresentado à dinâmica de gênero.

Para espantar os pensamentos inúteis, Noah balançou a cabeça com força e foi em direção ao quarto onde Jaryeong descansava.

— Aah…!

Assim que abriu a porta, o doce perfume o atingiu de uma vez. Talvez já tivesse passado da hora de tomar o supressor, porque o aroma estava ainda mais forte do que antes.

‘Está tudo bem. Eu tomei o remédio, não vou virar um animal.’

Controlando a pulsação que disparava, Noah entrou no quarto. Ao se aproximar de Jaryeong, percebeu que ele soltava gemidos fracos, como se estivesse sofrendo em silêncio. Seu rosto estava coberto de um suor frio. Quando Noah tocou sua testa, estava mais quente que antes.

Sem dúvida, o corpo dele estava sofrendo com os efeitos do ciclo de cio, por não estar tomando o inibidor.

‘Merda…’

Engolindo o palavrão que queria soltar, Noah tirou a camisa de Jaryeong. Depois, tirou a própria camisa e se deitou ao lado dele. Passou um braço por baixo de seu pescoço, e com o outro envolveu sua cintura, puxando-o suavemente para seu peito. À medida que os dois corpos se aproximavam, o perfume doce ficou ainda mais intenso, subindo direto até às suas narinas. Por um segundo, foi como se seu cérebro tivesse paralisado. Noah apertou os dentes com força.

“Noah-sunbae…”

Lembrou-se do rosto sorridente de Jaryeong, com aquela expressão de criança ao olhá-lo. E então fez uma promessa a si mesmo.

‘Não importa o que aconteça, eu não vou me tornar um animal.’

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Continua…