Ler Controle – Capítulo 78 – Side 1. Noah e Jaryeong (8) Online

— Ryu Noah? O que você está fazendo aqui? E o Yohan?

Uma mulher bem arrumada sentou-se à frente de Noah e puxou conversa. Já era a terceira vez. Noah, sem responder, pegou a garrafa de whisky e encheu seu copo. O olhar da mulher foi diretamente para a garrafa, ela já estava mais da metade vazia. Pensou que seria bom se pelo menos ficasse bêbado, mas seu corpo era absurdamente resistente ao álcool, então sua mente seguia completamente lúcida.

— O fato de ter vindo até aqui significa que agora está disposto a se enturmar com a gente?

A mulher se inclinou na direção dele, fingindo intimidade. Como sua roupa tinha um decote profundo, os seios dela ficaram bem à mostra. Aquele era um clube frequentado por herdeiros de conglomerados. Noah já tinha ido ali uma vez com Yohan, pouco depois de chegar na Coreia, a convite de alguém. Mas não voltou mais porque não suportava ver todos dando em cima de Yohan. Agora que ele não estava mais por perto e por ser um lugar mais calmo do que outros clubes, Noah resolveu voltar. Só que, desde que chegou, vinha sendo constantemente abordado por gente inconveniente.

— Ouvi dizer que o Yohan arranjou um namorado. Então é verdade?

‘Quem era essa mulher mesmo?’

Noah a encarou, tentando puxar pela memória. Conhecia praticamente todos os nomes ligados às principais empresas não só da Coreia, mas do mundo. A mãe dele havia jogado em cima dele uma pilha de arquivos tempos atrás, dizendo que, mesmo que não fosse assumir a empresa da família, conhecer esse tipo de gente nunca seria uma perda de tempo.

Se sua memória não falhava, ela era a filha mais nova de um empresário que cresceu no setor de indústria pesada. A irmã dela havia se casado com alguém do grupo Seonwoo, ou algo assim. Talvez por isso ela estivesse a par das notícias sobre Yohan.

— Continua reagindo só quando o assunto é o Yohan, hein?

A mulher riu, como se achasse graça, e pediu a um funcionário mais um copo vazio. Sem nem pedir permissão, serviu-se do whisky da garrafa de Noah.

— Sabe de uma coisa? Muita gente no nosso círculo especulou que você e Yohan tinham um relacionamento… perigoso.

‘Que bobagem.’

Era verdade que Yohan era alguém especial para ele. Mas nunca tinha desejado Yohan com luxúria ou qualquer tipo de desejo perigoso. O que sentia por ele era algo muito mais puro.

“Noah-sunbae…”

Junto à lembrança da voz de Jaryeong, o perfume dos feromônios dele voltou à sua mente. ‘Droga.’ A confusão de sentimentos era impossível de explicar. Por que aquele cheiro simplesmente não sumia da sua memória?

Não era como se reagisse a qualquer feromônio, os de Yohan, por exemplo, nunca lhe causaram nenhum efeito. E aquela nem tinha sido a primeira vez em que sentiu o feromônio de um ômega. Na época do colégio, na Rússia, haviam ômegas que ainda não sabiam lidar com o próprio ciclo de calor, e alguns até passaram por isso na frente dele – não sabia se de propósito ou não.

Por ser alfa, era inevitável que o corpo reagisse aos feromônios de ômegas. Mas mesmo assim, nunca chegou a perder o controle. Tanto ele quanto Yohan haviam passado por treinamento em laboratórios conjuntos da RF Pharmaceuticals e da Galayev, o que fez com que ambos tivessem mais resistência aos efeitos dos feromônios do que a maioria.

E ainda assim, o cheiro inexperiente e desajeitado dos feromônios de Jaryeong era algo que ele simplesmente não conseguia esquecer.

— Ryu Noah.

Como ele continuava ignorando tudo o que ela dizia, a mulher finalmente chamou seu nome com um tom de falsa indignação. Só então Noah levantou os olhos e a encarou. Mas sua expressão ainda mostrava claramente um “e daí?” silencioso. A mulher bufou, irritada, levantou-se da cadeira e, no fim das contas, foi embora resmungando que ele se achava demais por ignorar as pessoas. Mas ele não se importou. De fato, aquela mulher não tinha absolutamente nada a ver com ele.

“Isso é muito difícil, sunbae…”

A voz arrastada pela embriaguez, os olhos vermelhos de tanto chorar, e as palavras que ele tinha dito… Tudo aquilo era um desastre. Noah, que sempre passou 365 dias do ano ao lado de Yohan – alguém cuja aparência era objetivamente perfeita –, tinha padrões estéticos extremamente elevados. E naquele momento, Jaryeong parecia tudo, menos “bonito”. Estava completamente desarrumado. Ainda assim, aqueles olhos enormes, que o olhavam profundamente… Ele não conseguia esquecer.

Sempre que lembrava, sentia um incômodo desconfortável no peito.

“Sunbae, eu não quero mais te ver…”

Ele nem conseguia encarar Noah direito, e mesmo assim teve a audácia de dizer algo assim. A raiva lhe subiu de novo, e ele apertou com força o copo que segurava. Jaryeong realmente quis dizer aquilo. Naquele momento, ele estava genuinamente rejeitando Noah.

— Haa… — um suspiro longo e profundo escapou. — Que droga, isso é mesmo irritante.

Mesmo o Jaryeong dizendo que não queria vê-lo, por que ele continuava pensando tanto naquele garoto? Saiu para se distrair indo a uma boate, mas em vez de interagir com outras pessoas, só conseguia pensar em Woo Jaryeong. Que comportamento mais estúpido.

Zzzzt.

A tela do celular sobre a mesa se acendeu, deslizando um pouco por causa da vibração. Com uma pontinha de esperança, Noah pegou o aparelho depressa para conferir – e riu sem jeito ao ver o nome de Yohan no visor. Em outras circunstâncias, teria atendido com alegria, mas ficou levemente decepcionado por não ser Jaryeong. Achou ridículo estar tão afetado por isso e soltou uma risada amarga de si mesmo.

[Onde você está?]

— Estou em uma boate. Vim beber.

[Sozinho?]

— Sim…

[……Quer que eu vá aí?]

No breve silêncio, Noah percebeu que Yohan estava preocupado com ele. E se seu irmão estava se preocupando assim, é porque ele mesmo devia estar bastante desregulado ultimamente. ‘Argh… isso não é legal da minha parte.’ Mas também não sabia o que fazer.

— Não precisa. Se você sair pra me ver, Cha Siheon vai surtar.

[Podemos ir juntos…]

— Isso é pior ainda. Não estou com cabeça para ver a cara dele. Sinto que vou acabar arranjando briga à toa, então faz esse favor e evite isso, certo?

[Então eu vou sozinho.]

Mesmo insistindo em ir, Yohan não perguntou o local. Provavelmente planejava usar o app de rastreamento de localização que ambos tinham instalado no celular para encontrá-lo. As pessoas certamente ficariam horrorizadas ao saber que os dois irmãos gêmeos rastreavam um ao outro, mas Noah já estava acostumado com isso vindo do Yohan – o que tornava ainda mais difícil entender o Jaryeong.

‘Se você gosta de alguém, não é natural querer estar junto? O próprio Yohan saiu de casa para ir morar com Cha Siheon por causa disso. Então por que, justo o Woo Jaryeong, tem que ser tão…’

No fim das contas, não importava o que pensasse, tudo sempre acabava voltando ao Jaryeong. E isso só fazia Noah se sentir ainda mais frustrado.

— Não entendo por que ele disse que não quer me ver…

Talvez por ser Yohan do outro lado da linha, Noah acabou soltando seus verdadeiros sentimentos. Yohan, por sua vez, não perguntou o que ele queria dizer com aquilo, apenas permaneceu em silêncio, como se já soubesse de tudo. Seria tão bom se todas as pessoas do mundo fossem como o Yohan.

‘Se ao menos eu pudesse saber o que ele estava pensando sem que precisasse dizer nada, apenas ouvindo sua respiração…’

[E daí? Se você está com saudade, é só ir atrás dele.]

Yohan resmungou em tom irritado. Mesmo sem citar nomes, tanto ele quanto Noah sabiam exatamente de quem estavam falando.

— E se ele disser que não quer me ver? Já estou assim, me sentindo péssimo, só por ter escutado aquilo uma vez.

[……Idiota.]

Yohan soltou a palavra num tom seco e, sem mais nem menos, desligou na cara dele.

‘É…. Sou mesmo um idiota. Por que estou assim?’

Noah surpreendeu-se ao perceber o quanto as palavras de Jaryeong o tinham machucado.

***

Ssshhh.

A água fria jorrava da torneira da pia. Jaryeong ficou um bom tempo parado ali, com ânsias de vômito, só depois de encher as mãos com água e enxaguar a boca, ergueu o rosto para encarar o espelho. Estava evidente, até mesmo para ele, o quão pálido estava seu rosto.

— Ahh… Isso está sendo mais difícil do que eu pensei… Como é que as pessoas conseguem lidar com isso?

O olhar de Jaryeong se voltou para o frasco do supressor de ciclo de cio que estava sobre a pia.

No primeiro dia em que voltou do hospital, ele não percebeu nenhuma mudança no corpo. Acabou se descuidando e esquecendo de tomar o supressor. Foi aí que o ciclo de cio se manifestou de verdade. A respiração ficou ofegante, o calor tomou conta do corpo – parecia que ia enlouquecer. Sem conseguir controlar o próprio corpo, sentiu a parte de trás começar a pulsar dolorosamente e teve vontade de agarrar qualquer um que estivesse por perto e implorar para que fizessem alguma coisa, qualquer coisa, para aliviar aquilo.

Ele se apavorou com aquele pensamento. Assim que compreendeu na pele o que era ser arrastado por um ciclo de cio, o medo o dominou. Ao perceber que poderia acabar dominado apenas pelo desejo e agarrar qualquer um, sem se importar com quem fosse, só para fazer sexo… seu corpo inteiro começou a tremer incontrolavelmente. Tomou o supressor receitado no hospital às pressas e se trancou no quarto da mãe – um cômodo que normalmente nunca usava, se escondeu debaixo das cobertas, tentando resistir. Ele cerrou os dentes com tanta força que, quando acordou depois de desmaiar, sua mandíbula estava toda dolorida.

Depois disso, passou a tomar o supressor no horário certinho, mas logo surgiu outro problema. Parecia que o remédio não combinava bem com seu corpo, porque toda vez que tomava, sentia enjoo e ânsia de vômito. Perdeu o apetite, começou a comer mal, e logo ficou sem energia.

No fim, teve que cancelar todos os seus trabalhos de meio período, explicando a situação. Foi então que percebeu o quanto os ômegas que levavam uma vida normal eram realmente incríveis. Agora ele entendia por que, algumas décadas atrás, quando não existiam todos aqueles remédios e suplementos para os ômegas, era tão difícil para eles se manterem ativos na sociedade.

‘Talvez o melhor seja fazer o procedimento de reestruturação corporal…’

Com isso, praticamente todas as características de ômega desapareceriam e  assim ele poderia voltar a viver como antes.

Olhou para seu reflexo no espelho e soltou um suspiro baixo. Mesmo naquela situação, ainda havia uma parte dele que alimentava uma esperança tola. Que talvez, mesmo sendo um ômega, houvesse uma mínima possibilidade… Algo melhor do que ser um beta.

Foi por causa das palavras do médico. Elas ficaram cravadas nele como um espinho: “Quando um ômega encontra alguém que gosta ou um alfa forte por perto, pode despertar o corpo para as características ômega.”

Alguém que gostava… O médico definiu com precisão os sentimentos que ele tanto se esforçava para negar.

Desde o começo, achava Noah uma pessoa incrível. Enquanto todos ficavam hipnotizados por Yohan, ele só conseguia olhar para Noah. E, ao conhecê-lo melhor, percebeu que ele não era nada parecido com os boatos: era atencioso, gentil. Começou a admirá-lo de verdade e o seguia como um bom sunbae.

Mesmo quando foi manipulado por Seonwoo Geon por causa de dinheiro e acabou fazendo coisas horríveis, uma parte dele sempre se sentia culpada por causa de Noah e Yohan.

Achava que era só isso… que Noah era um bom sunbae, uma boa pessoa, alguém que admirava. Só isso.

Mas depois da véspera de Natal, quando Noah passou a aparecer com mais frequência, ele acabou começando a nutrir desejos egoístas sem perceber. Na verdade, isso já tinha começado depois que Noah continuou sendo gentil, mesmo após o incidente na RF Digital.

Mas sabia que ele era alguém com quem nunca poderia ficar. Não combinava com ele, não era alguém para ele. Quanto mais tentava sufocar aqueles sentimentos, mais forte eles voltavam, como um efeito rebote.

‘Eu gosto dele… Mesmo assim, não dá. Mas… e se…? Não, isso é ridículo. Que audácia a minha…’

Seus sentimentos entravam em conflito dezenas de vezes por dia, deixando-o exausto.

Lembrou que o médico havia dito que o corpo podia responder às emoções e ele estava certo. Se suas emoções estavam todas bagunçadas, não havia como o ciclo de cio se acalmar.

‘Isso é difícil demais. Se era para ser assim, era melhor nunca ter despertado como ômega.’

Só de ser um ômega, tudo parecia ainda mais complicado. Só conseguia sentir raiva por ter descoberto seu gênero tão tardiamente.

— Hyung! Você está aí dentro?

A voz do irmão veio do lado de fora da porta. Provavelmente ele estava preocupado por ele estar tanto tempo no banheiro.

— Sim, eu já vou sair.

Respondeu e se virou, mas, de repente, sua visão escureceu. “Piiing.” Foi como se algo dentro dele tivesse se rompido. Seu corpo balançou e, em seguida, sua consciência desapareceu por completo.

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Continua…