Ler Controle – Capítulo 49 Online

‘Em plenos tempos de hoje, perder o sinal do celular…’

Era óbvio que estavam emitindo algum tipo de interferência por perto de propósito.

‘Será que realmente devo seguir adiante com isso? Tudo está muito suspeito.’

O motorista, que tinha aberto a porta do banco de trás para Seonwoo Geon sair, ficou parado, sem dar sinal de que iria acompanhá-los. À frente, Geon parou na entrada do prédio e digitou o código na porta. Pela fresta , era possível ver que não havia um único par de sapatos no hall de entrada.

— Faz um tempo que não a uso, mas há alguém que cuida da manutenção, então o interior deve estar limpo.

Ele se afastou um pouco e fez sinal para Yohan entrar. Se fosse só ele, daria para lidar de alguma forma.

Assim que Yohan passou pelo hall, as luzes se acenderam sozinhas. Era uma casa de campo bem cuidada, com bastante esmero. A estrutura era de dois andares, e a sala de estar era aberta até o segundo piso, com um pé direito bem alto. As janelas eram de vidro panorâmico, que, com as cortinas abertas, permitiam uma vista clara do exterior.

— Vinho está bom? Tenho uma garrafa excelente, presente de um comprador estrangeiro.

Yohan assentiu, deixando por conta dele. Afinal, era impossível chegar até ali e ficar sentado conversando sem nem tomar um gole de água.

Seonwoo Geon pegou uma garrafa de vinho da adega na sala e foi até a cozinha integrada. Encheu duas taças até a metade com o líquido rubro e voltou, estendendo uma delas para Yohan.

Ao receber a taça calmamente, Seonwoo Geon ergueu a dele como se fosse um brinde. Como Yohan apenas o encarou em silêncio, ele sorriu sem graça, constrangido, e tomou um gole. O líquido escarlate balançou dentro do copo transparente.

— Não gosta de vinho?

Perguntou quando viu que ele só encarava o copo.

— Se for pra escolher, prefiro vodka.

Respondeu indiferente, levando a taça aos lábios.

— Vodka…

Seonwoo Geon fez uma expressão surpresa.

— O quê? Não combina com a minha aparência?

Ao ouvir a pergunta acompanhada de um sorriso, ele gaguejou:  — Não, é que… — Talvez tivesse esperado algo mais refinado e comedido, já que, em comparação com os russos, os coreanos tendem a ter uma imagem mais delicada.

— Na próxima, beberemos vodka. Se você aguentar, claro.

‘Provavelmente não haverá uma próxima,’ pensou Yohan, sorrindo. Geon engoliu em seco, parecendo não ter muita confiança em sua resistência ao álcool.

— Mas vamos ao que interessa. Pode me explicar o que discutimos por telefone?

— Ah, sim. — Seonwoo Geon sentou-se à sua frente, apoiando a taça na mesa.

— Foi exatamente como eu disse. Siheon conseguiu um acordo com o meu pai e como recompensa por ter feito um bom trabalho desta vez, vai ganhar um cargo importante.

— Bom trabalho…? Qual, exatamente?

— Ah, isso não é óbvio?

Geon sorriu, evitando uma resposta direta.

Humm… Yohan estreitou os olhos e ficou olhando para ele.

— E você teve uma grande participação nisso, sabia?

— Eu?

— O herdeiro do Grupo RF apoiou Cha Siheon. Só isso já fez o valor dele disparar instantaneamente. Além disso, dizem que vocês estão namorando, não é? Do ponto de vista do meu pai, era inevitável criar expectativas, ele deve ter pensado que assim surgiria um elo concreto com o Grupo RF.

‘Um elo… é’

Na verdade, o relacionamento dele com Siheon tinha sido só um namoro com prazo pra acabar, e mesmo isso já estava terminado. Mas ele parecia não saber.

— E ainda por cima, um alfa e um ômega… Ótimo para chamar atenção, não?

Dessa vez, Yohan quase soltou uma risada amarga. A simples união entre o Grupo Seonwoo e o Grupo RF já seria alvo de fofocas, mas, ao adicionar o rótulo de “alfa e ômega”, parecia querer inflar a situação como se fosse o romance do século.

‘Mas e daí?’

Ele e Siheon não tinham esse tipo de relação, e Siheon nunca tinha dado a menor pista de querer algo assim. Até agora, Yohan ainda não sabia o que ele realmente queria. Mas uma coisa era certa: não era um casamento arranjado como Seonwoo Geon estava sugerindo.

— Você… ama o Siheon?

A pergunta surgiu do nada. Que diferença isso faria? Yohan cerrou os lábios, relutante em responder, e apenas encarou o outro. Seonwoo Geon franziu a testa, interpretando o silêncio à sua maneira.

— Eu achei que não fosse exatamente amor… Mas mesmo que fosse, não seria uma escolha muito sábia.

Yohan nunca tinha parado para pensar se era amor ou não, mas Geon estava indo longe demais na própria fantasia. Agora, Yohan estava ficando curioso para ver até onde ele iria? O que exatamente ele queria dizer, jogando essas iscas sem sentido?

— Se você não está apaixonado por Cha Siheon, que tal reconsiderar?

Aos poucos, suas verdadeiras intenções estavam vindo à tona.

— Reconsiderar… Você diz parar de ver o Siheon?

Yohan fingiu que não entendia e deu um sorriso, levantando só um pouco os olhos.

— Entre ficar com o Siheon, que não tem nenhum respaldo familiar, e ficar com quem vai herdar o Gropo Seonwoo… não seria melhor pensar com mais cuidado?

— Hee…

Isso era tão óbvio que estava ficando entediante. O que ele deveria fazer?

— No futuro, quando o Yohan entrar no Grupo RF, acredito que eu serei mais útil do que Siheon. O que acha?

‘O que eu acho?’

Era tão patético que nem dava vontade de rir.

— Bem… é que, sinceramente, o Siheon combina mais com meu gosto do que você.

A resposta veio com um sorriso afiado. Seonwoo Geon demorou um segundo para processar. Seu rosto, antes confiante, ficou ligeiramente tenso.

— Escolher um parceiro só pelo gosto…

— Mas eu nunca escolhi parceiro de vida nenhum.

‘Que chatice.’

Parecia que o outro ia tirar uma aliança do bolso a qualquer momento e o pedir em casamento. Quem tinha falado em casamento, afinal?

Ao ouvir que Yohan nunca havia pensado em Siheon como um cônjuge, Seonwoo Geon pareceu ter outra interpretação equivocada – seu rosto iluminou-se.

— Exato. Namoro pode ser com qualquer um, mas casamento é algo que deve ser escolhido a dedo, não acha?

Então ele estava se oferecendo como a escolha “a dedo”? — Pfft.— Dessa vez, Yohan não conseguiu segurar um sorriso sarcástico. Ele terminou o vinho e colocou a taça vazia sobre a mesa.

— Parece que você está cometendo alguns equívocos.

Quando sorriu daquele jeito, viu as orelhas de Geon ficarem vermelhas. ‘Ele ainda estava esperando alguma coisa, coitado.’ Nem passava pela cabeça dele que Yohan não tinha o menor interesse.

— Primeiro: eu não preciso do Grupo Seonwoo Group.

O rosto de Geon começou a endurecer, mas Yohan só sorriu ainda mais.

— De onde veio essa sua confiança de que o Grupo RF precisaria tanto do poder de vocês?

Apesar do tom doce, a mensagem era clara: O Grupo Seonwoo não chega aos pés do Grupo RF. Seonwoo Geon entendeu perfeitamente e seu rosto foi perdendo a cor.

— Segundo: eu escolhi o Siheon porque ele era do meu gosto, não porque tinha o sobrenome Seonwoo. Então, você, que é filho legítimo e carrega esse nome todo pomposo… não é nenhum pouco atraente para mim.

Yohan continuou sorrindo, como se estivesse contando uma piada divertida.

— Terceiro: eu também não namoro com qualquer um. Não sei se você percebeu, mas o Siheon foi meu primeiro namorado. E alguém tão importante assim… você acha mesmo que eu teria escolhido por acaso? Eu pesquisei tudo sobre ele. Eu sabia que ele era filho ilegítimo do presidente Seonwoo Seungmin e mesmo assim quis ficar com ele. E, sim, eu também considerei que ele podia estar trabalhando como espião na época do estágio na RF Digital. No fim, o espião não era ele – era o Woo Jaryeong, e foi você quem mandou.

Yohan terminou falando isso com o sorriso mais bonito que conseguiu. Do outro lado, Geon só engoliu seco, como se não tivesse mais nenhum argumento.

— A razão pela qual vim até aqui foi porque você disse que o Siheon ia ser nomeado diretor de planejamento da Seonwoo Eletrônica… Queria saber se havia algum segredo por trás disso, ou o que ele estava pensando… Essas coisas me deixaram curioso.

O sorriso sumiu do rosto de Yohan e o olhar dele ficou frio de repente.

— Mas pelo visto, não vou conseguir nenhuma resposta que preste.

Ele decidiu que não tinha mais nada para fazer ali e se levantou da cadeira. No fim, só tinha perdido tempo. Ele foi ingênuo por ter esperado algo diferente.Teria sido melhor se tivesse  ficado encarando o Siheon, tentando adivinhar o que passava na cabeça dele.

— Espera, espera um pouco!

Seonwoo Geon também se levantou e agarrou o pulso de Yohan com força. Em vez de se debater, Yohan baixou os olhos e encarou a mão que o segurava, soltou um longo suspiro e ergueu a cabeça. Quando encontrou o olhar de Geon, ele estava todo tenso, com expressão irritada.

— Como você planeja sair daqui?

Estavam no meio do nada, e tinham vindo de carro com ele. Sem a autorização do outro, ia ser bem complicado voltar. Mas Yohan nem perdeu tempo pensando nisso, porque já tinha decidido que, se precisasse, daria uma surra no motorista e roubaria o carro. Como Geon ia voltar depois, aí já não era problema dele. Que se arrastasse, depois de arrastá-lo até ali, ele que se virasse.

— Me solte enquanto eu estou pedindo educadamente.

Ele sacudiu o braço de leve, mas Geon só apertou ainda mais.

‘Ai, que sujeito irritante.’

— Por que…

Geon franziu a testa e murmurou:

— Por que não sinto o cheiro do seu feromônio?

‘Ah.’

Quando Yohan escutou aquilo, até deu vontade de rir de tão absurdo.

— Você… não era ômega? Então por que…?

O olhar dele foi direto para a taça de vinho em cima da mesa. Yohan soltou uma risada curta.

— Você colocou alguma coisa no vinho?

Por um momento, Yohan quis acreditar que não, mas Geon deu um leve pulo de susto.

‘Seu filho da puta!’

Num movimento rápido, Yohan agarrou o braço que o segurava com a mão livre, dobrou o joelho e se projetou para cima do corpo de Seonwoo Geon. Com um movimento rápido, ele torceu e arremessou o braço do homem, fazendo-o cair no chão com um baque.

— Agh… c-como…?

Seonwoo Geon, jogado contra o chão de mármore, franziu o rosto de dor, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Yohan olhou para ele de cima, com o rosto completamente sem expressão, gelado. Ele até tinha largado as aulas de autodefesa porque não combinavam com ele, mas pelo menos sabia se defender. E um sujeito como Geon não era desafio nenhum.

— Você está querendo saber por que eu não fui afetado, mesmo depois de ingerir um indutor de ciclo de calor?

Yohan perguntou num tom baixo e gelado. E pelo jeito acertou em cheio, porque Geon desviou os olhos, sem coragem de encará-lo.

— Por quê? Porque tomei um neutralizador de cio antes de vir.

Ele jamais passaria pela mesma situação duas vezes.

Pouco antes de encontrar Seonwoo Geon, Yohan, parado em um canteiro de obras, decidiu não arriscar. Ele aplicou em si mesmo um supressor de emergência – o tipo mais forte, injetável, reservado apenas para situações críticas. Ele mesmo achava que era exagero, mas não confiava em nenhum alfa, muito menos naquele idiota. E no fim, estava certíssimo.

— Por que todo mundo acha que, só porque alguém é ômega e vulnerável e ingênuo? Isso é irritante.

Yohan deu alguns passos até ficar na frente dele, ergueu uma perna e mirou bem. O pé desceu rápido, pronto para esmagar.

— N-não! Aaaah!

No mesmo instante em que percebeu que Yohan acertaria em cheio sua região íntima, Seonwoo Geon gritou e se encolheu todo, apavorado.

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Continua…