Ler Controle – Capítulo 40 Online

— Que porra é essa!

‘Ah, claro.’

Ele sabia exatamente o que Noah iria dizer. Diante da reação totalmente previsível, Yohan só sorriu, divertido.

— Quando você disse que estavam namorando e falou que era por causa do sexo, estava falando sério? Vocês são parceiros sexuais?

Noah parecia indignado.

— Parceiros sexuais? Não, é um namoro real. Só que com prazo determinado.

— Mas é um namoro só para transar!

Noah simplesmente não conseguia entender. E, dessa vez, Siheon também achava a reação dele bem mais razoável que a de Yohan. Ele também tinha se perguntado qual era a diferença entre isso e um parceiro sexual. Se tinha alguma, era o fato de, por ser um namoro, eles saírem para encontros normais também. Mas mesmo assim, por causa do trabalho no estágio e após  o caso do vazamento do projeto, só conseguiram sair apenas uma vez.

Por mais estranho que fosse, Yohan fazia questão de traçar uma linha clara entre parceiro de sexo e namorado com prazo de validade. Ele não sabia que lógica era aquela, mas, dentro da cabeça dele, parecia fazer todo sentido.

— Enfim, agora que acabou, tanto faz.

Noah também não parecia entender, mas não insistiu no assunto. Para ele, o importante era que Siheon em breve estaria fora da vida de Yohan.

‘Com uma criação dessas, não é surpresa que o Ryu Yohan seja desse jeito.’

Siheon estalou a língua, pensando nisso. Noah percebeu o som, virou o rosto e franziu a testa. Se desse mole, ele pularia no pescoço dele de novo, rosnando.

‘É um verdadeiro cão de guarda.’

Siheon balançou a cabeça e se levantou, dizendo que ia embora para evitar mais conflitos. Não importava o que fizesse, ele e Noah nunca se entenderiam. Parte daquilo era porque ambos eram alfas e havia uma rivalidade instintiva, mas, principalmente, era porque, tendo o Yohan no meio, nenhum diálogo parecia possível.

E quanto a Yohan? Siheon também não achava que combinavam em nada. Tinham nascido em mundos totalmente diferentes. O outro parecia ter conseguido tudo que queria, crescido no meio da atenção e do afeto de todo mundo. Siheon não podia imaginar nada mais distante da própria vida.

A personalidade livre e imprevisível de Yohan era algo com o que ele nunca conseguiria lidar, nem agora nem no futuro. Um garoto lindo, com aquele rosto de anjo, mas no fundo, eles eram incompatíveis.

Mesmo assim, o tempo que passaram juntos não tinha sido tão desconfortável quanto ele achou que seria. Apesar de parecer que fazia tudo do próprio jeito, Yohan tinha uma certa habilidade de se ajustar às necessidades do outro. Provavelmente, por conviver tanto com Noah, ele tinha aprendido a se adaptar aos outros naturalmente.

E isso… também o irritava. Ao contrário dele, que sempre esteve sozinho, Yohan tinha alguém como Noah ao seu lado. Alguém que sempre estaria lá por ele, em qualquer situação. Parte do incômodo vinha do fato de que Noah sempre o encarava com hostilidade, mas também era porque, quando os dois irmãos estavam juntos, parecia que se formava um muro ao redor deles que ninguém mais podia atravessar.

Era um incômodo que vinha da certeza de que eles viviam em mundos diferentes. Uma pontada de competição, uma sensação de inferioridade que não fazia sentido, e… um sentimento que deixava seu peito desconfortável.

Siheon estava começando a perceber o que era aquilo, mas resolveu ignorar.

***

Na última semana do estágio, não tiveram nem tempo para respirar. Cada dupla precisava preparar a apresentação final, então todos ficaram até tarde, praticamente todas as noites. Yohan e Siheon não foram exceção. Além do projeto que já vinham trabalhando com a equipe, receberam a missão de criar outro projeto, dessa vez inédito e que tivesse potencial de virar um produto real. Então tinham que dar conta das duas coisas, ficando na empresa até depois das dez quase todos os  dias.

Com Jaryeong fora, Noah pensou que teria que trabalhar sozinho, mas, surpreendentemente, houve uma ordem direta para que ele terminasse o estágio normalmente. As medidas legais seriam tomadas depois. Todos se preocuparam se Noah ficaria desconfortável, mas ele parecia não ligar nem um pouco. Disse que o fato de estar chateado com o Jaryeong era uma coisa, e o trabalho outra, e que ia tratar ele normalmente.

Quem mudou foi o próprio Jaryeong, antes, ele seguia Noah como um cachorrinho, mas agora evitava qualquer contato.

Yohan achou que deixá-lo terminar o estágio seria ainda mais cruel. Sem dúvida, tinha sido decisão da sua mãe. Ele podia parecer simpático e sempre sorridente, mas não era uma pessoa piedosa. Por mais que odiasse, Jaryeong tinha que aparecer lá todo dia, aguentando os olhares gelados e fofocas. Era um jeito de obrigá-lo a encarar tudo que tinha feito, sem chances de fugir da culpa. E, no fim das contas, isso era bem mais cruel que qualquer punição imediata.

Na sexta-feira, houve a apresentação final. Como essa apresentação definiria a avaliação final do período de estágio, todos os estagiários estavam tensos enquanto se preparavam. Apesar de cada equipe ter apenas vinte minutos de tempo limite, o número total de grupos era tão grande que a apresentação, iniciada pela manhã, se estendeu até a tarde, depois do almoço.

— Pessoal, vocês trabalharam muito. A avaliação do estágio será enviada individualmente, incluindo os resultados da apresentação de hoje. Dependendo dessa avaliação, vocês também receberão a informação sobre a possibilidade de trabalhar na nossa empresa após a formatura. Agradeço a dedicação de todos durante todo o estágio. Hoje, organizem seus afazeres mais cedo, pois teremos um jantar de confraternização geral. Conto com a presença de cada um de vocês.

Quando a apresentação terminou, os estagiários, aliviados, começaram a se cumprimentar, sentindo-se mais leves. Independentemente do resultado, só o fato de tudo ter acabado já bastava para libertá-los da pressão que os sufocou até então, permitindo que sorrissem.

Cada departamento organizou seus materiais, e até os tutores que orientaram os estagiários durante o mês participaram da confraternização. Apesar de terem passado um mês inteiro se estressando e se provocando, parecia que todos haviam criado laços, pois os supervisores também mostravam certa tristeza por se despedir. Enquanto a maioria ria e conversava em meio ao barulho, só o lado da equipe de vendas estava silencioso. Era por causa de Jaryeong.

— Nossa, mas que cara de pau. Como ele tem coragem de sentar aqui? Se fosse eu, teria pedido demissão no mesmo dia, de tanta vergonha.

— Ele deve querer receber pelo menos a avaliação do estágio, sei lá.

— Avaliação do quê? Ele fez a pior coisa possível.

Os estagiários sentados na mesma mesa não hesitaram em criticar Jaryeong na cara dele. Ele ficou ali sentado, com a cabeça baixa, sem dizer nada.

— Por que você veio?

Ao ouvir a pergunta de Noah, Jaryeong levantou o rosto, com uma expressão de quem estava prestes a chorar.

— Ah, eu não quis te criticar…..

Noah coçou a nuca e soltou um suspiro contido. Claro que ele ainda estava magoado. Justamente por ter achado aquele garoto tão fofo, a decepção tinha sido ainda maior. Mas, no fundo, Noah tinha expectativas muito baixas em relação às pessoas, contanto que não envolvesse algo ligado ao Yohan. Além disso, tecnicamente, tudo que aconteceu era problema da RF Digital, não dele. Mesmo que a mãe dele fosse o líder do grupo, Noah não trabalhava naquela empresa, e nem sabia se um dia trabalharia. O alvo do erro do garoto tinha sido a RF Digital, não ele. O que deixava Noah furioso era só o fato de Yohan ter sido envolvido naquela confusão e ouvido comentários desnecessários.

— Ficar sentado aqui não vai adiantar nada, só vai ouvir mais besteira. Você também deve estar sofrendo com isso. O estágio acabou, você não precisava ter vindo à confraternização. Era só isso que eu queria dizer.

Ainda assim, por terem passado um tempo juntos, ele sentia pena, mesmo reconhecendo que o garoto tinha errado feio.

— Foi uma ordem do presidente. Já que entrei como estagiário, deveria cumprir meu papel como estagiário até o fim…. Independente do que fiz.

— Ah… foi a mãe…

— Eu sinto muito mesmo pelo que fiz ao sunbae…

Jaryeong abaixou ainda mais a cabeça. Noah não soube o que dizer e apenas suspirou. Não podia confortá-lo, mas também não queria criticá-lo mais. Aquilo só deixava tudo mais sufocante. Pensando que precisava tomar um ar, ele saiu para fora e assim que chegou lá, viu que Yohan já tinha vindo atrás dele.

— Está preocupado com o Jaryeong?

— Preocupado? Claro que não.

Mas é claro que estava.

— Por que ele fez aquilo, afinal?

Noah estalou a língua de irritação, e Yohan ergueu de leve o canto dos lábios num sorriso.

‘Está preocupado sim, para que negar?’

— Por que não processaram ele logo e acabou? O que a mãe está pensando?

Noah resmungou, dizendo que teria sido menos incômodo se naquele dia, quando tudo veio à tona, já tivessem dado um fim naquele assunto ali mesmo, na frente de todo mundo.

— Vingança. Já que ele mentiu e enganou, causando transtorno pros outros. Nada mais justo do que sentir na própria pele, não acha?

— Ahh… Mas a personalidade da mãe…

— Eu entendo ele.

Yohan respondeu que, se fosse ele no lugar da mãe, teria feito exatamente igual. Ou melhor, se a mãe não tivesse tomado providência, ele mesmo daria um jeito de se vingar de Jaryeong, de qualquer outra forma, independentemente das punições legais.

— E esse cara aí, obedecendo cegamente qualquer ordem que recebe? Que idiota.

Noah resmungou que, independentemente do que sua mãe tivesse dito, Jaryeong deveria simplesmente ter se entregado e aceitado a punição, que tudo se resolveria logo. Yohan apenas soltou um longo suspiro, sem dar uma resposta direta. Ele tinha seus palpites sobre porque Woo Jaryeong, mesmo sofrendo, continuava seguindo as ordens do presidente.

Quando Yohan investigou Jaryeong pela primeira vez, descobriu que a situação familiar dele não era nada boa. O pai, por alguma razão, estava desaparecido, a mãe sofria de uma doença crônica e vivia entrando e saindo do hospital. Além disso, ele também tinha um irmão mais novo que ainda estava no ensino fundamental. Apesar de tudo, Jaryeong sempre parecia animado e levava a vida universitária sem se queixar. Por isso, Yohan tinha achado o garoto digno de admiração e acabou baixando a guarda.

Talvez por conta daquela dificuldade financeira, ele não tivesse conseguido recusar a proposta do Seonwoo Geon. E sua mãe, ao descobrir, provavelmente também negociou  algo com ele. Ele deveria aceitar a punição pelo que fez, mas, se concordasse em cortar laços com Seonwoo Geon e testemunhar sobre as ordens que recebeu da Sunwoo Electronics, em troca a família dele receberia algum apoio financeiro. Algo assim.

Era só um palpite, é claro. Ele não tinha certeza. E, sinceramente, não importava. Para Yohan, mesmo que a situação de Jaryeong fosse comovente, continuava sendo problema dele e não tinha nada a ver consigo. Ele jamais mostraria uma compaixão precipitada. Mas Noah era diferente. Se descobrisse esses detalhes, era bem capaz de se envolver querendo ajudar.

— De qualquer forma, hoje tudo acaba. Então pare de pensar nele.

Por isso, Yohan decidiu deixar Noah completamente no escuro. Ele tinha plena consciência de que era muito mais frio do que o irmão. Não tinha nenhuma intenção de cuidar de Jaryeong. Detestava a ideia de Noah se sensibilizar e acabar deixando aquele sujeito manipular seu bom coração de novo. Era melhor cortar de vez qualquer vínculo com Jaryeong naquele momento.

Noah soltou um longo suspiro, mas não comentou mais nada sobre Jaryeong. Como Yohan tinha deixado claro que não queria falar disso, provavelmente ele não tocaria mais no tema dali em diante.

— Ah? Você está indo embora?

Quando estavam prestes a voltar para o restaurante, viram Siheon saindo.

— Todos já estão começando a ir embora.

— Então vou com você. Noah, te vejo em casa.

Sem olhar para trás, Yohan seguiu Siheon.

— Por que está vindo comigo?

— Hoje é nosso último dia de namoro.

Ao ouvir a resposta, Siheon parou de andar e virou-se para encará-lo.

— E isso tem alguma importância?

Afinal, não era como se nunca mais fossem se encontrar. Quando voltassem à universidade, teriam aulas juntos e, gostando ou não, acabariam se vendo pelo menos uma vez por semana.

— Claro que sim. Depois de hoje, eu prometo que nunca mais vou te incomodar.

Era estranho ver Yohan sorrir daquele jeito enquanto falava de despedida. Por ser um namoro com prazo de validade, o fim também já estava marcado desde o início.

— Então, por isso mesmo… vamos transar. Pela última vez.

Yohan disse isso com um sorriso tão suave que parecia capaz de derreter qualquer resistência, enquanto olhava Siheon diretamente nos olhos.

°

°

Continua…