Ler Controle – Capítulo 39 Online

Depois que aquela tempestade passou, o escritório parecia ter ficado gelado, como se tivessem jogado um balde de água fria no lugar. Ninguém sabia o que dizer, então todo mundo só ficava trocando olhares. Os funcionários hesitantes, sem saber o que fazer, olharam de forma suplicante para o líder da equipe de planejamento, que se levantou com relutância e se aproximou da mesa de Siheon.

— Cha Siheon.

Quando o chefe chamou, Siheon levantou o rosto.

— Tem alguma ordem que queira me passar?

A voz dele não tinha emoção nenhuma. Parecia  a mesma sempre, o que só deixava mais difícil saber como agir.

— Então, é que… olha…

O lider já tinha passado dos quarenta, mas nessas horas, não importava a idade, era impossível saber direito o que falar.

— Lamento pelo mal-entendido.

Depois de hesitar, ele decidiu cortar as explicações desnecessárias e foi direto ao ponto. Assim que ele se desculpou, curvando a cabeça, os outros funcionários também começaram a se levantar, um a um, para pedir desculpas. Mesmo assim, Siheon não parecia nem constrangido nem irritado, mas também não demonstrou alívio.

— Não precisam pedir desculpa. Foi um pensamento bem lógico. Eu, no lugar de vocês, provavelmente teria desconfiado também.

Em vez de dizer que estava tudo bem, ele apenas afirmou que a reação deles era compreensível, deixando-os ainda mais sem jeito.

— Nessas horas, você só aceita as desculpas, mesmo sem querer. — Yohan se meteu, sorrindo. — E só pra constar, eu nunca desconfiei do Cha Siheon, então não preciso me desculpar, não é?

Seu sorriso descontraído dissolveu a tensão no ar. Siheon acabou deixando escapar uma risada curta, meio derrotada. E assim que ele riu, os outros finalmente puderam soltar o ar que estavam prendendo.

— Pensando bem, essa história de que o Cha Siheon é filho do presidente do Grupo Seonwoo… de onde saiu isso? Será que foi o Woo Jaryeong que espalhou também?

Quando alguém comentou, Yohan emitiu um som pensativo. Provavelmente tinha sido o Jaryeong, sim. Foi ele que, logo de cara, comentou por alto que existiam tais boatos.

— Então isso também era mentira, né? Por que você nunca negou nada? Se tivesse falado desde o começo que não era, nós não teríamos feito tantas suposições erradas.

Como o sobrenome de Siheon era diferente do do Grupo Seonwoo, todos assumiram que era mentira. A psicologia humana era estranha. Quando surgiram rumores de que ele era um filho ilegítimo, ninguém verificou a sua veracidade e acreditaram na hora. Agora que uma parte da história se provou falsa, estavam se questionando logicamente: “Se o sobrenome é diferente, então isso também deve ser mentira, não?”

‘Se tivessem investigado por conta própria antes de acreditar em boatos, não estariam nessa situação…’

Yohan balançou a cabeça por dentro, mas estava curioso para ver como o Siheon ia reagir, então preferiu ficar calado. Dizer que era mentira teria sido fácil. Pelo clima ali, se ele negasse, todo mundo acreditaria. Ele mesmo já sabia da verdade pelo Noah, mas se o Siheon resolvesse negar, Yohan não ia ser idiota de abrir a boca e falar que ele era filho ilegítimo do presidente.

— Seonwoo Seungmin é  mesmo meu pai biológico.

A voz dele não tinha nem um pingo de emoção.

— Nossa…

Yohan encarou Siheon com uma expressão de interesse. Quem tinha feito a pergunta pareceu ter levado um tapa.

Ele não tinha negado, mas dizer “pai biológico”… O que exatamente ele queria dizer com isso?

O funcionário ficou só mexendo a boca, sem coragem de perguntar nada.

— Quer sair um pouco para tomar ar?

Yohan riu e falou com Siheon. O cara que tinha feito a pergunta olhou para ele como se fosse um salvador.

Mesmo sem muita vontade, Siheon acabou sendo arrastado até a sala de descanso. Yohan comprou uma bebida na máquina e deu para ele, que só segurou a lata sem abrir.

— No que está pensando?

Ele decidiu parar de tentar decifrar. Só de olhar para a expressão dele não dava mesmo para entender nada. Eram pessoas tão diferentes que nem dava para imaginar como funcionava a cabeça Siheon. Então resolveu simplesmente perguntar de cara.

— Que resposta você quer ouvir?

A resposta voltou como uma pergunta.

‘É, ele realmente não é uma pessoa fácil.’

— Não ficou com raiva? Nem se sentiu injustiçado?

Fez uma pergunta comum, mas Siheon soltou uma risada seca, como se achasse a pergunta boba..

— É engraçado você me perguntar isso.

— Por quê?

— Você, no meu lugar, teria ficado revoltado e indignado?

— Hm…

Yohan soltou um longo som pelo nariz e balançou a cabeça. Se fosse ele quem tivesse sido acusado, teria ficado empolgado em descobrir logo quem era o desgraçado que tentou jogar a culpa nele.

‘Bom, no fim, foi mais ou menos o que acabou acontecendo.’

— E você, por que não desconfiou de mim?

Em vez de responder, ele desviou o assunto, mudando o tema como se fosse a coisa mais natural do mundo. Yohan percebeu que Siheon estava tentando evitar a resposta, mas resolveu fingir que não tinha notado.

— Eu já te mostrei antes. Todos os arquivos na pasta compartilhada do time têm um código oculto. Quando alguém da equipe acessava, o alerta era diferente do que aparecia quando era alguém de fora. E você era parte da equipe. Se tivesse sido você quem pegou os arquivos, não teriam aparecido rastros de uma invasão externa.

— Mas eu poderia ter acessado de fora da empresa.

— E porque ia ter esse trabalho todo? Se quisesse mesmo, era só copiar pro próprio e-mail ou colocar num pendrive.

Era verdade. Se Siheon quisesse roubar aqueles dados, teria feito de um jeito muito mais fácil.

— Você… já sabia desde o começo que eu era filho de Seonwoo Seungmin, não sabia?

“Desde o começo” queria dizer antes mesmo do boato ter se espalhado. Yohan assentiu sem hesitar. Na verdade, ele tinha descoberto antes mesmo do Noah contar. Era como ele tinha dito ao Jaryeong: não confiava em ninguém, exceto no Noah. Nem mesmo no Cha Siheon. Tinha se aproximado por curiosidade, mas também nunca deixou de manter uma pontinha de desconfiança e isso não tinha mudado até hoje.

— Um filho ilegítimo, que nem tem o sobrenome Seonwoo e que ninguém no grupo sabe que existe? O que isso importa?

As palavras tão diretas fizeram Siheon ficar olhando para o nada por uns segundos antes de soltar uma risada sem força. Para Yohan, que era herdeiro do Grupo RF, a existência de alguém como Cha Siheon não chegava nem a ser algo digno de preocupação.

— O que você tinha na cabeça quando veio com aquela história de namoro por contrato?

— Ah, isso… Não tem nada a ver com o Grupo Seonwoo. Eu só gostei de você, Cha Siheon, como pessoa.

Yohan respondeu com um sorriso aberto. Parecia sincero, tanto que Siheon balançou a cabeça, como quem desistisse de argumentar.

— E agora, o que vai fazer?

— O quê?

— Só falta uma semana.

Faltava apenas uma semana, tanto para o estágio quanto para o fim do namoro de mentirinha. Yohan olhou para ele e sorriu de canto. Não esperava que ele fosse perguntar “e agora?”. Achou que ele fosse simplesmente dizer “acabou” e pronto.

— Você passou a gostar um pouquinho de mim?

Ele perguntou isso com um sorriso ainda maior, numa cara de pau total. Como era de esperar, Siheon só ficou olhando com a mesma expressão vazia de sempre.

‘Ah, que chato.’

Mesmo depois de tanto tempo ao lado dele, de tanto contato, se a reação era sempre essa, então talvez fosse hora de desistir.

Mas então por que ele ainda se sentia relutante?

— Se não gosta, fazer o quê. Foi o que combinamos no início: se eu não conseguisse fazer você se interessar por mim até o fim do contrato, ia desistir e nunca mais apareceria na sua frente.

No fundo, a resposta era simples. Ele não era do tipo que implorava atenção de quem não queria saber dele. Também não gostava tanto assim de Siheon a ponto de se humilhar.

— Se é isso, está tudo resolvido.

Siheon abriu a lata de refrigerante que estava segurando, tomou tudo de uma vez e a jogou no lixo antes de se virar para ir embora primeiro. Foi uma reação tão tranquila que parecia que ele não tinha nenhuma ponta de arrependimento.

‘Como era de se esperar dele.’

Pois é, tudo estava acontecendo exatamente do jeito que Yohan tinha previsto. Mas por que, estava sentindo aquela pontada chata perto do coração? Ele pressionou a palma da mão contra o coração, mas aquele incômodo persistente não desapareceu tão fácil.

***

— Me desculpe.

Noah se inclinou um pouco e se desculpou com Siheon. Justamente ele,  de todos, era o último de quem Siheon esperava ouvir um pedido de desculpas, por isso ficou surpreso. Mesmo que tenha sido só um mal-entendido, Noah sempre odiou a ideia dele estar com Yohan ao ponto de querer enganá-lo, então achou que nunca pediria desculpas. Era mesmo inesperado.

— Aquele bando de idiotas ficaram enchendo o saco, dizendo que o Yohan estava do seu lado só porque ele é ômega e não tinha outra escolha… Fiquei tão irritado que perdi a cabeça. Se você não fosse um alfa, ninguém estaria  falando esse monte de merda.

Suas palavras ainda não eram muito bonitas. Noah deixou bem claro que o problema não era com o fato de Yohan ser um ômega, mas sim com o dele ser um alfa – isso era tão absurdo que Siheon não conseguiu evitar uma risada.

— E você também não é alfa?

Siheon perguntou, incrédulo, e Noah respondeu calmamente que, para Yohan, ele não era um alfa.

— Yohan e eu não temos um tipo de relação que possa ser afetada pelo fato de eu ser um alfa e ele ômega.

— Sei… tá bom.

Siheon duvidava seriamente se aqueles dois eram capazes de um relacionamento normal. Enquanto ele suspirava, Yohan olhou preocupado para Noah.

— E você, está bem?

Por mais que Noah não dissesse, Jaryeong, era um hoobae de quem ele cuidava e se importava. Ser traído por alguém assim devia ter doído.

— Foi um choque, já que eu não esperava, mas… sei lá, também penso que ele devia ter os motivos dele. No fim, foi melhor ele ser o espião do que você.

Quando Noah respondeu, Yohan soltou um “Aff…” baixinho.

‘Esse cara também não está bem da cabeça. Como ele consegue pensar que Jaryeong, que enganou todo mundo tão bem, tinha “seus motivos”?’

Para Yohan, mesmo que ele tivesse uma história triste, isso não mudava nada. Nem queria saber qual era, e muito menos tinha intenção de perdoar.

— Você realmente gostava do Jaryeong?

Ele perguntou, só por perguntar mesmo, sem acreditar que era possível. Noah logo balançou a cabeça, dizendo que não tinha nada a ver. Dava para ver que o irmão nunca tinha pensado a respeito disso nem por um segundo.

‘Ter tanta empatia assim por alguém que nem gosta…’

Se Noah não fosse obcecado por Yohan, provavelmente seria aquele tipo de pessoa gentil e carinhosa que todo mundo ama. Siheon pensou algo parecido – se não fosse por Yohan, Noah provavelmente seria bem mais tranquilo.

— Mas e vocês, não vão terminar de uma vez?

Pedir desculpa era uma coisa, mas o que ele não gostava, não gostava. Noah resmungou, querendo que os dois terminassem logo.

— Falta só alguns dias.

— Hã?

— Era só um contrato, deveríamos ficar juntos por um mês.

Noa franziu a testa, sem entender nada.

— Por que fariam algo tão inútil?

— Porque eu queria saber como era transar com o Cha Siheon.

Yohan respondeu na maior calma. Noah, que estava bebendo água, cuspiu tudo.

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Continua..