Ler Controle – Capítulo 30 Online

A expressão de Yohan sentado em frente ao computador estava séria. Seus olhos estavam fixos em um ponto da tela.

— Yohan?

Seu supervisor veio entregar alguns documentos e o chamou, mas Yohan nem se mexeu.

— Ryu Yohan!

Ao ser chamado mais alto e ter seu ombro levemente sacudido, ele finalmente reagiu com um “Ah” e desviou os olhos do monitor.

— Aconteceu alguma coisa? Por que está tão sério?

— Não, nada.

Yohan sorriu e balançou a cabeça. Disse que estava um pouco distraído depois do fim de semana, mas que ia se concentrar. Diante disso, o supervisor não insistiu.

— Aqui estão os dados sobre os níveis de feromônio de 100 ômegas. Como você sabe, a sensibilidade aos feromônios varia de pessoa para pessoa. Nós medimos os valores mecânicos, então é  melhor conversar com o pessoal do laboratório sobre isso.

— Tudo bem. Mas, me diga uma coisa… — Yohan mudou de assunto discretamente. — Sobre nossos dados compartilhados… Apenas nossa equipe tem acesso? Nenhum outro setor pode visualizar?

— Isso mesmo. Mesmo sendo dentro da empresa, cada departamento tem suas próprias tarefas, e não faz sentido deixar todos acessarem dados uns dos outros, causando confusão. Especialmente nosso departamento, que lida com o desenvolvimento de novos produtos, não compartilhamos nada com outros setores. Só depois que tudo estiver finalizado, enviaremos um relatório formal.

— E o acesso requer autenticação do funcionário, certo?

— Claro! Mas por que esse interesse todo de repente?

— Ah, nada. Só fiquei curioso. Às vezes minha curiosidade vai longe demais.

O supervisor riu, dizendo que ele estava tão sério antes por causa de uma dúvida tão simples – pensou que fosse algo grave. Yohan riu e se desculpou por preocupá-lo à toa. O outro respondeu que não precisava se desculpar e deu um tapinha no ombro dele antes de voltar para sua mesa.

O olhar de Yohan voltou para o monitor. — Hmm.—  Ele inspirou fundo pelo nariz. Alguém claramente tinha acessado os dados. Os outros não notariam normalmente, mas Yohan sempre deixava uma espécie de marca invisível nos dados que ele mesmo criava. Também tinha ligado esse sistema ao seu celular para receber alertas em tempo real. Era algo que ele fazia por conta própria, sem o conhecimento da empresa, não era por nenhum motivo especial, era mais um hobby, quase por diversão. Desde pequeno, sua mãe o ensinava técnicas básicas de hacking, então talvez fosse um hábito antigo.

Mas nos últimos dias, alguém estava acessando os dados constantemente. O estranho era que nenhum alerta chegava ao seu celular. Nada parecia ter sido apagado ou modificado, mas havia a possibilidade de que os arquivos tivessem sido copiados.

Mesmo que ainda não fosse oficial, os dados estavam relacionados ao novo produto da RF Digital. Mesmo que ainda não estivessem finalizadas, se essas informações vazassem, o lançamento do segundo semestre seria inevitavelmente comprometido.

— Hmm…

Yohan soltou um longo som pelo nariz, pensativo, e colocou os dedos sobre o teclado. Tac, tac-tac-tac. Seus dedos se moviam em alta velocidade, como se dançassem pelas teclas. Seus olhos brilhavam com um vigor incomum, e um sorriso discreto apareceu em seus lábios.

«Vamos brincar direito, então.»

Palavras em russo escaparam discretamente de sua boca. O colega ao lado olhou de relance, sem entender direito, mas Yohan, totalmente focado, nem percebeu. O colega ficou na dúvida se tinha mesmo ouvido certo, e virou o rosto com um leve balançar de cabeça. Logo em seguida, Yohan começou a assobiar baixinho, feliz, enquanto o som das teclas continuava em ritmo constante.

***

Jaryeong e Noah acompanharam o supervisor em uma visita a um cliente externo. Como eram apenas estagiários, não tinham tarefas específicas. A ideia era que observassem e aprendessem com a negociação entre o supervisor e o gerente da empresa parceira, que discutiam sobre a quantidade total e o prazo de entrega das peças usadas nos produtos da RF Digital.

— Ah, já falei que isso é complicado. Também temos um limite de produção, não posso prometer algo que é impossível de cumprir, entende?

— Este é o único lugar responsável por metade da produção nacional de micro sensores. Não estamos pedindo que fabriquem de imediato, e até onde sabemos, nenhuma outra empresa solicitou esse tipo de componente. Então por que recusar de forma tão categórica?

— Bem, não foi só a RF Digital que pediu. A Seonwoo Eletrônicos entrou em contato hoje de manhã e já encomendou praticamente toda a nossa capacidade máxima de produção.

Diante das palavras do gerente da fornecedora, o supervisor arregalou os olhos, surpreso. O componente que eles estavam tentando adquirir era um micro sensor capaz de medir os feromônios de ômegas e alfas – um sensor extremamente pequeno, mas com precisão elevada. Ainda não havia uma confirmação oficial da produção do novo smartphone com medidor de feromônio, mas os estudos mostravam que a viabilidade era alta, e o projeto já havia avançado para a fase de protótipo.

Como a intenção era apresentar o novo produto no lançamento do segundo semestre, o setor de vendas já havia se mobilizado para garantir os componentes com antecedência. Essa empresa em específico era conhecida pela excelência em sensores de medição de feromônios, superando a precisão de outras no mercado. Até então, eles só forneciam para fins médicos, mas a RF Digital estava sondando a possibilidade de adaptá-los para smartphones.

A quantidade de unidades necessárias para o setor médico e para o setor de eletrônicos era incomparável. E saber que a Seonwoo Eletrônicos havia feito o pedido antes foi um verdadeiro balde de água fria.

— Mas por que uma empresa que fabrica eletrônicos e smartphones está pedindo sensores de feromônio?

O próprio gerente da fornecedora se mostrou confuso e devolveu a pergunta. Como o novo modelo de smartphone ainda não havia sido divulgado externamente, nem Noah nem Jaryeong nem mesmo o supervisor puderam dar qualquer explicação. No final, saíram de mãos vazias.

— Que história é essa? Por que a Seonwoo Eletrônicos está atrás do mesmo componente que nós?

Se fossem peças comuns para dispositivos digitais, não haveria nada de estranho. Mas esse sensor para medir feromônio era uma inovação da RF Digital – um projeto inédito.

— Será que a Seonwoo está planejando colocar medidores de feromônio em outros aparelhos?

Jaryeong franziu as sobrancelhas, sugerindo essa possibilidade. Talvez fosse uma coincidência infeliz de timing, com os dois lados de olho no mesmo componente. Mas se fosse isso mesmo, era hora de procurar outro fornecedor com urgência.

— Ei…

Durante o almoço, sentado no refeitório, Noah apontou com uma expressão séria para a televisão pendurada na parede atrás do supervisor. O homem e Jaryeong se viraram na direção indicada. Um comercial da Seonwoo Eletrônicos estava passando.

[…Agora, nós cuidamos dos seus feromônios.]

Na tela, uma imagem vagamente identificável de um aparelho – que parecia muito com um smartphone – foi exibida. O supervisor deixou cair a colher que segurava.

— Não é possível.

Será que a Seonwoo também estava prestes a lançar um celular com sensor de feromônio?

— O que significa isso?

Jaryeong piscou, perplexpo. Noah franziu ainda mais a testa. Isso não podia ser apenas coincidência, não, de forma alguma era.

***

Assim que voltou à empresa, Noah foi direto procurar Yohan. Ele o encontrou na sala de reuniões, onde o ômega estava analisando dados vindos do laboratório com os membros da equipe de planejamento. Noah o chamou e o levou até a sala de descanso.

— Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu sim, mas não comigo. Com a sua equipe.

Diante da resposta de Noah, Yohan inclinou a cabeça, sem entender. Noa então pegou o celular e mostrou o vídeo promocional da Seonwoo Eletrônicos que tinham visto no restaurante. Ele assistiu com seriedade até o final e soltou um longo suspiro.

— Isso não é exatamente o que vocês estão desenvolvendo? Pode não ser o design final, mas o conceito é o mesmo. Duas empresas têm exatamente a mesma ideia ao mesmo tempo?Isso é Impossível!

— Foi de propósito, não foi coincidência.

Yohan concordou com Noah. Além disso, a Seonwoo nem sequer tinha mostrado o produto pronto, muito menos imagens oficiais. Mesmo assim, já estavam anunciando como se fosse certo que lançariam em breve um smartphone com sensor de feromônio. A estratégia parecia clara: queriam se antecipar e tomar os créditos pela inovação antes do lançamento oficial da RF Digital.

Não era impossível que a Seonwoo Eletrônicos tivesse desenvolvido um smartphone com a mesma função por conta própria. Mas a chance de alguém ter vazado o projeto da RF Digital era muito maior.

— Provavelmente hoje sua equipe vai virar um caos. Meu supervisor já reportou o caso aos superiores e parece que haverá uma reunião de emergência com todos os cargos de gerência.

Noah suspirou fundo. Se a situação chegasse nesse ponto, todos os envolvidos com o projeto acabariam sendo suspeitos.

Já fazem quase dez dias desde que a ideia havia surgido e o plano de desenvolvimento fora iniciado. A colaboração com o laboratório seguia de forma promissora, os estudos indicavam que havia potencial real de comercialização. E só ontem, o departamento de vendas havia sido acionado para encomendar os componentes necessários.

Se houvesse um espião, com certeza estava na equipe de planejamento, não na de vendas. Afinal, a equipe comercial só soube do projeto ontem, e a Seonwoo Eletrônicos já estava divulgando o vídeo promocional hoje.

— O clima vai ficar pesado agora. Como vamos…

Noah murmurou, desviando o olhar para um ponto fixo. Seguindo seu olhar, Yohan virou a cabeça e viu Cha Siheon passando em frente à sala de descanso depois de retornar do laboratório. Ao ver Yohan e Noah, ele apenas os cumprimentou com um olhar antes de seguir direto para o escritório onde ficava a equipe de planejamento.

— Eu disse que não confiava nesse merda, não disse?

Noah manteve os olhos fixos nas costas de Siheon enquanto falava.

— Esse bosta é o filho bastardo do presidente do Grupo Seonwoo.

— Só isso não é suficiente para suspeitar dele.

— Ah, é?

Os olhos de Noah voltaram para o rosto de Yohan.

— Você acha mesmo que os outros vão pensar como você? Os membros da sua equipe… a nossa mãe? Quando souberem que Cha Siheon é o filho ilegítimo do presidente do Grupo Seonwoo, será que todos vão reagir como você?

— Noah…

Noah o encarou com uma expressão rígida. Yohan respirou fundo, a ponto de o peito se mover visivelmente, e soltou o ar devagar.

— Não foi o Siheon.

— Ou será que você só quer acreditar nisso? Está deixando os sentimentos pessoais falarem mais alto e não quer enxergar a verdade.

Yohan ficou em silêncio, encarando Noah.

— Não importa com quem você fique, com quem você transe, se é só por diversão ou se é algo sério… desde que seja o que você quer, eu respeito. — Os olhos castanhos de Noah brilharam com determinação. — Mas se essa pessoa só estiver te usando…!

A voz de Noah subiu de tom. A ponto de fazer até quem passava pelo corredor se virar assustado. Yohan soltou um suspiro contido.

— Aí a história muda completamente.

O olhar de Noah ficou cada vez mais intenso, quase feroz.

— Eu não vou deixar isso passar. Vou esmagá-lo de um jeito que ele nunca mais ousará chegar perto de você.

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Continua…