Ler Controle – Capítulo 24 Online

Desde a manhã, o chefe da equipe de planejamento havia reunido todos os membros. Assim que se sentaram ao redor da mesa redonda no centro do escritório, ele projetou a apresentação na tela.

— Estes são os dois projetos para o novo produto que a diretoria sugeriu que levássemos adiante.

Na tela apareceram dois quadros intitulados “Plano A” e “Plano B”.

— O Plano A foca mais na educação e propõe um smartphone que pode ser útil tanto para adolescentes quanto para os pais. Já o Plano B tem como alvo, um público específico, levando em conta os gêneros alfa e ômega.

— O Plano B certamente tem mais aspectos a serem considerados em termos de lucro.

Mas como o número de alfas e ômegas era limitado em comparação aos betas, vender em larga escala era inviável, esse foi o ponto levantado.

— Sim, exatamente. Por isso, estamos considerando destacar uma imagem mais exclusiva para a Proposta B, vendendo-a como uma edição limitada, premium. Um smartphone feito exclusivamente para alfas, e outro exclusivamente para ômegas.

— Mas será que isso não pode causar problemas por parecer discriminação de gênero?

— É por isso que precisamos acertar bem o ponto. Não será discriminação, e sim uma exclusividade.

Em seguida, o chefe designou quem ficaria responsável por cada projeto.

— Ryu Yohan e Cha Siheon.

O chefe chamou Yohan e Siheon.

— Quero que participem do Plano B. Ambos são alfa e ômega, certo? Seria ótimo se acrescentassem suas perspectivas sem filtros.

Não era comum que estagiários participassem de um projeto principal, então os outros funcionários ficaram um pouco surpresos. No entanto, depois de observar os dois por alguns dias, todos perceberam que eles eram diferentes dos demais estagiários, por isso ninguém se opôs.

— Se concluirmos esse projeto com sucesso, é possível que vocês sejam efetivados como funcionários logo após o estágio. Então dêem o seu melhor.

Provavelmente o chefe falou aquilo para incentivar os estagiários, mas os demais funcionários não conseguiram conter risadinhas. Mesmo que fizesse sentido para Cha Siheon, falar em efetivação diante de Yohan parecia, no mínimo, estranho.

— Sei o que vocês estão pensando, mas o presidente da empresa deixou claro desde o início: todas as oportunidades e avaliações devem ser feitas de maneira justa. Entendido, senhor Yohan?

O gerente buscou concordância de Yohan, que assentiu com um sorriso. Decidiu não comentar já que, no fundo, ele nem sabia se ficaria na empresa depois de se formar.

Os supervisores de Yohan e Siheon também foram designados para o plano de desenvolvimento dos smartphones voltados para alfas e ômegas.

— E se incluíssemos uma função que medisse feromônios no smartphone? Assim, os usuários poderiam se preparar para ciclos de cio ou rut. Mesmo quem tem ciclos regulares pode ser pego de surpresa, às vezes.

— Também seria útil oferecer informações sobre onde encontrar medicamentos de emergência, hospitais, ou abrigos especializados, para casos de necessidade.

— Mas isso já não dá pra achar na internet com uma simples busca?

A reunião continuou em torno de como criar um smartphone especial apenas para alfas e ômegas. Os funcionários compartilhavam livremente suas ideias.

— Para medir feromônios, provavelmente seria necessário ter colaboração de um instituto de pesquisas da área farmacêutica. Não sei se é possível desenvolver um sensor pequeno o bastante para ser embutido em um celular.

— Eu posso verificar isso com o laboratório.

Foi Yohan quem se prontificou.

— Pode fazer isso? Entre em contato com eles e tente agendar uma visita. Se precisar, eu providencio uma autorização oficial de colaboração.

— Acho que não será problema. Tenho uma relação próxima com o diretor do instituto, então posso entrar em contato diretamente.

— Ótimo, então.

Após reunir todas as ideias discutidas na reunião, o chefe pediu que cada um montasse um portfólio considerando a viabilidade das sugestões, o investimento necessário e o impacto no preço final do smartphone. Assim, a reunião foi encerrada.

Yohan e Siheon decidiram fazer uma pesquisa de mercado para entender quais funcionalidades os usuários alfa e ômega gostariam de ver em um smartphone voltado especialmente para eles.

— Deve haver diferenças na forma e na frequência com que cada faixa etária usa o smartphone. Talvez fosse útil fazer a pesquisa de mercado separando por faixa etária.

— Se for dividir em adolescentes, pessoas na casa dos 20, 30 e 40 anos, o escopo ficará muito limitado…

— E se colocarmos anúncios? Tipo, colocar uma pesquisa de opinião em destaque nos portais principais.

— E os custos com isso?

O supervisor sorriu, satisfeito, ao ver os dois alinhando as ideias a partir de perspectivas diferentes. Eles estavam cobrindo as lacunas um do outro sem que ele precisasse interferir ou ensinar nada. Era nítido que combinavam bem, tanto no trabalho quanto no relacionamento – afinal, até os boatos de que estavam namorando pareciam fazer sentido.

Toc toc.

Ao ouvir alguém bater à porta do escritório, todos viraram para olhar. Noah, estava parado na entrada. Por mais que estivessem se acostumando com o Yohan, ver o outro filho do presidente de perto era novidade, e os olhos dos funcionários da equipe de planejamento brilharam de curiosidade.

— Posso levar o Yohan por um instante?

O homem alto, com uma aura completamente diferente da de Yohan, perguntou educadamente. Seu físico imponente e traços marcantes, levemente mestiços, chamavam atenção.

— Pode ir, Yohan.

O superior fez um gesto com a cabeça, indicando que ele podia sair. Assim que Yohan e Noah deixaram a sala, alguém assobiou baixinho.

— Aquele cara é um alfa, certo? Ele realmente tem essa vibe de alfa.

Alguém riu e perguntou o que era “ter vibe de alfa”.

— Se o Yohan é do tipo que desperta a vontade de abraçar, aquele desperta a vontade de ser abraçado, entende?

Era uma resposta meio em tom de piada. Apesar das risadinhas e do clima leve, ninguém discordou da colocação.

‘Então é assim que os outros enxergam eles…’

Siheon tentou imaginar os dois – Yohan e Noah. Como nunca havia visto Yohan de forma sexual, nunca os havia categorizado como “aquele que desperta a vontade de abraçar” ou “aquele que desperta a vontade de ser abraçado”. Para ele, era mais como… um diabinho disfarçado de anjo, acompanhado por um cão de caça fiel. Mas, claro, essa era só a imagem que Siheon tinha deles na própria cabeça.

— A propósito, Cha Siheon, o que você fez para o irmão gêmeo do Yohan?

O colega ao lado de Siheon perguntou em voz baixa.

— Foi só por um segundo, mas pareceu que ele estava te encarando. Eu até pensei que fosse comigo e levei um susto, mas aí percebi que era com você. Nossa, a intensidade do olhar dele… Achei que fosse me devorar.

— Sim, ele estava mesmo me encarando.

Siheon admitiu sem hesitar, e o colega fez uma expressão de incompreensão.

— Mas por quê?

— Por causa do Yohan.

Ao ouvir a resposta curta, o funcionário piscou algumas vezes, e depois de alguns segundos soltou um grito de surpresa:

— Não me diga que ele tem complexo de irmão?

Siheon não negou. O colega murmurou para si mesmo, como se tivesse acabado de descobrir algo incrível:

— Ahh, agora tudo faz sentido. Com um irmão gêmeo com aquela aparência, acho que até eu desenvolveria um complexo.

Mesmo assim, Siheon achava que, por mais grudados que fossem, irmãos ainda eram indivíduos separados. Será que não era exagero esse tanto de intromissão? Ele já tinha lido relatórios dizendo que gêmeos, mais do que outros irmãos, têm uma ligação especial. Mas como era filho único, achava que nunca conseguiria entender de verdade o que o Noah sentia.

***

— É só isso?

Yohan questionou Noah, que acabara de explicar a relação entre Cha Siheon e o Grupo Seonwoo. Mas, como sempre, Yohan não parecia dar muita importância.

— Isso muda alguma coisa?

— Não sei. Depende do ponto de vista. De qualquer forma, parece que recentemente ele tem se encontrado com Geon Seonwoo. Já que é assim, não seria melhor ele ter feito estágio lá ao invés  da RF?

— Geon Seonwoo?

Ao ouvir aquele nome, Yohan franziu as sobrancelhas. Graças à sua memória excepcional – que nunca esquecia um rosto –, ele lembrava perfeitamente. Desde que chegou à Coreia, havia participado, a contragosto, de alguns encontros sociais da elite empresarial, e foi lá que encontrou Geon Seonwoo, isso aconteceu exatamente duas vezes.

— Coitado do Cha Siheon por ter um irmão como aquele mala.

Geon Seonwoo era uma dessas pessoas que tinham um orgulho enorme por ser alfa, assim como os seus parentes do Grupo RF, mas no fundo era só pose, sem substância. Mesmo assim, por ser o primogênito do presidente do Grupo Seonwoo, conseguiu pegar uma posição de diretor executivo no início dos trinta e desfilava por aí se exibindo. Só de lembrar, Yohan se sentia enjoado.

— Ele até deu em cima de mim, uma vez.

Yohan murmurou, relembrando subitamente o passado, e a expressão de Noah imediatamente escureceu. Ele cerrou os dentes, perguntando quando havia sido aquilo.

— Foi só um comentário casual, mas, como ele sabia que eu era ômega, chegou a mencionar um ‘casamento estratégico’

— Casamento estratégico ?!

Noah franziu a testa, claramente incomodado.

— Pode ser que os mais velhos tenham falado disso entre si. Mas já que ninguém me disse nada, acho que a mamãe deve ter recusado logo de cara.

Considerando que Ryu Jin teve um relacionamento baseado em amor, bem longe de um casamento por interesse, ele não era do tipo que forçaria os filhos a casar por conveniência familiar.

— Ainda bem… Não, espera… não é tão “ainda bem” assim.

Noah, chegando a uma nova conclusão, enrugou ainda mais a testa.

— Cha Siheon também é um alfa do Grupo Seonwoo. Se você ficar com ele, no fim das contas, não seria o mesmo que um casamento estratégico com o Grupo Seonwoo?

— Que história é essa? Eu nunca disse que ia casar com o Cha Siheon. Você está indo longe demais.

Ao ouvir que Yohan sequer tinha cogitado essa possibilidade, Noah pareceu finalmente se acalmar, e sua expressão suavizou um pouco.

— Enfim, não confie demais naquele cara.

Noah reforçou o aviso, e Yohan apenas respondeu com um vago:

— Não é como se…

Na verdade, ele realmente não confiava em Siheon. Mas não era pelo alfa em específico – Yohan, no geral, tinha uma confiança muito baixa nas pessoas. Às vezes, nem confiava em si mesmo, sem saber para onde seus próprios impulsos o levariam. Então, como poderia confiar nos outros?

Nesse aspecto, Noah era a única exceção. Ele era simples, direto e nunca tentava enganar os outros. Por isso, Yohan acreditava que Noah nunca mentiria para ele – mas, além dele, ninguém mais, nem mesmo seus pais, tinham 100% de sua confiança.

Para Yohan, todas as pessoas acabam moldando suas palavras da forma que mais lhes convém. Isso era um instinto humano.

“Equipe de Planejamento ou Pesquisa e Desenvolvimento.”

Esses eram os dois departamentos que Cha Siheon havia listado como preferência. Mas teria sido mesmo coincidência? Ele tinha escolhido com base apenas no interesse pessoal?

Afinal, essas duas áreas eram sempre as primeiras a se envolver com qualquer novo lançamento de produto…

Quando esse pensamento surgiu, Yohan deu uma risadinha e balançou a cabeça. Se começasse a desconfiar, não haveria fim. E se algo parecer suspeito, bastava testar.

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Continua…