Ler Controle – Capítulo 23 Online

Yohan foi almoçar no refeitório da empresa e lá avistou Noah e Jaryeong, que também pareceu vê-lo , animado, acenou com a mão.  Ele escolheu seu prato, fez o pedido e sentou-se ao lado de Noah.

— Por que aquele cara não está com você?

Noah perguntou, num tom provocativo. Como estavam em departamentos diferentes, não se viam com frequência, mas sempre que cruzava com Yohan, ele estava com Siheon, e isso incomodava Noah. Mesmo sabendo que eles eram parceiros e que era natural andarem juntos, havia algo naquela relação que o deixava desconfortável.

— Ele foi resolver algo com uma empresa parceira. O supervisor disse que iam almoçar por lá mesmo.

— E por que você não foi junto?

— Tinha outras coisas para fazer.

Yohan respondeu com naturalidade, apoiando o cotovelo na mesa e o queixo sobre a mão, enquanto olhava fixamente para Jaryeong.

— E aí, está indo bem no trabalho?

— Sim! Está mais divertido do que eu imaginava.

— Acho que você tem mesmo jeito para a área de vendas. E o Noah, está se saindo bem?

Ao ouvir a pergunta direcionada a Jaryeong, Noah revirou os olhos.

— Por que está  perguntando isso a ele? Se me perguntasse, óbvio que eu diria que estou me saindo bem.

— É claro que ele está indo muito bem! Todo mundo diz que ele é a grande promessa do departamento.

Diante da resposta de Jaryeong, Noah sorriu com um ar orgulhoso. Quando soube que ele ia tentar uma vaga na área comercial, Yohan pensou que fosse só porque Jaryeong havia pedido. Mas, agora vendo os dois juntos, se deu conta de que havia se enganado. Noah, que sempre parecia um “adesivo” grudado em Yohan, e que raramente fazia amizade com outras pessoas, agora parecia ser muito sociável.

— Acho que foi bom nos separarmos um pouco.

Passaram mais de vinte anos grudados, então nunca haviam pensado em como seria se se afastassem. Ver Noah indo tão bem, se dando bem com os outros, despertou em Yohan um sentimento misto. Uma parte racional pensava que talvez devessem mesmo ter se afastado antes, mas a outra parte… se sentia um pouco deixado de lado.

— Mas ouvi dizer que o Noah sunbae já teve alguns namorados?

A pergunta aleatória de Jaryeong fez Noah engasgar com a comida.

— Já teve, sim.

Yohan respondeu com um sorriso sereno. Mas, mesmo sorrindo, seus olhos pareciam absolutamente frios. Jaryeong desviou o olhar, desconfortável, e coçou a nuca.

‘Será que falei alguma besteira…?’

— Todos eles eram uns idiotas vazios, que viam o Noah como uma carteira ambulante.

O tom ainda era calmo e sorridente, mas havia uma ponta cortante nas palavras.

— Mas, fazer o quê. O Noah também precisa aliviar os desejos de vez em quando. Pena que só serviam para isso mesmo.

A naturalidade com que Yohan falava coisas tão ácidas era assustadora.

— Alguns até se aproximavam com segundas intenções…  — Yohan estreitou os olhos, erguendo levemente os cantos dos lábios. Seu olhar, por trás dos longos cílios, brilhava gélido. — Mas eu cuidei pessoalmente de todos eles.

Ele disse isso como se fosse a coisa mais banal do mundo, sorrindo com leveza. E foi justamente por isso que a espinha de Jaryeong se arrepiou. — Hahaha…— Ele tentou soltar um riso nervoso, mas já nem sabia mais se a comida estava indo para o estômago ou pro nariz.

— Para de assustar o menino e come.

Felizmente, Noah interveio, mudando de assunto. Jaryeong suspirou aliviado por dentro.

‘Por que fui falar dos ex-namorados do Noah…? Quase morri só com esse olhar.’

— O que tem pra ter medo? Você gosta do Noah, Jaryeong?

— Pfff!

Jaryeong cuspiu a comida com a pergunta direta. Noah pegou um lenço de papel e estendeu para ele, dizendo a Yohan para pegar leve. Jaryeong limpou a boca e lançou um olhar cauteloso.

‘Se eu disser que gosto, ele me joga do telhado..?’

Assustado com a ideia, ele balançou a cabeça com um arrepio, e então Yohan caiu na gargalhada.

— É brincadeira! Por que ficou tão nervoso? Parece suspeito.

— Você é que deveria ter cuidado. Tem muito mais gente ao seu redor com pensamentos maliciosos do que ao meu.

Noah falou com semblante sério, algo raro. Yohan soltou um “hmm” curioso e o encarou.

— Você não gosta que eu provoque Jaryeong? Ou está bravo porque tem alguém ao meu redor?

Jaryeong deu um soluço ao ouvir seu nome de novo. Hic, hic. Mesmo ouvindo o som, Yohan manteve os olhos fixos em Noah.

— A segunda opção.

— Hm…

Os olhos de Yohan se curvaram suavemente como duas luas crescentes. Jaryeong não conseguiu entender nada, mas parecia que a resposta de Noah havia sido exatamente o que Yohan esperava.

Quando a refeição estava quase no fim, o celular de Noah tocou. Ao escutar o toque, Yohan olhou de canto de olho para a tela e leu o nome que apareceu: — Natasha? — Ao ouvir isso, Noah imediatamente pegou o celular.

‘Ha? Por que essa reação? Está escondendo alguma coisa?’

A expressão de Yohan mostrava confusão, mas Noah não deu explicação nenhuma. Apenas se levantou com o telefone na mão.

— Vou sair primeiro para atender. Terminem de comer com calma e me encontrem depois.

Ele parecia tão apressado que mal esperou a ligação conectar antes de dizer “alô” em russo. Yohan o observou saindo do refeitório sem nem olhar para trás, quando ouviu Jaryeong murmurar:

— Uau, ele está falando realmente em russo. Na escola nunca usava, então eu nem imaginava. E os dois falam coreano tão naturalmente também…

— Desde pequenos, por causa dos nossos pais, nós aprendemos russo e coreano ao mesmo tempo.

— Mas quem é essa Natasha? Não me diga que é a ex-namorada do Noah…

Enquanto falava, Jaryeong engoliu em seco, lembrando que da última vez que mencionou os namorados de Noah o clima ficou esquisito. ‘Ah, seu idiota,’ murmurou para si mesmo, batendo na própria cabeça. Yohan apenas sorriu com suavidade.

— Namorada? Se alguém que conhece a Natasha ouvisse isso, ia cair duro. Natasha é amiga dos nossos pais. Pra gente, ela é tipo uma tia… e também uma espécie de guarda-costas….

Yohan interrompeu a fala, inclinando a cabeça com dúvida.

‘Natasha ligando pro Noah? Por quê?’

Ela sempre foi uma figura carinhosa, quase mais próxima que família, e se quisesse vê-los, era do tipo que apareceria de surpresa na casa deles com um grito de “surpresa!” e os abraçava com força. Não era do tipo que mandava mensagem só para um dos dois.

Além disso, a reação do Noah foi estranha. Como se ele quisesse esconder a ligação… Hmmm. Yohan soltou um som, longo e pensativo. Do outro lado da mesa, Jaryeong, que observava, ficou inquieto sem saber o motivo daquilo.

‘Esse cara é esquisito mesmo…’

Apesar de seguir Noah e Yohan como um cachorrinho abanando o rabo, ele tinha dificuldades com o Yohan. Por mais que ele sorrisse e se mostrasse gentil, seu instinto sempre dizia que havia algo perigoso ali.

— Eu não vou te devorar, sabe.

— H-Hã? Eu? D-devorar? O que… o que é isso?

‘O que será que ele pensou pra ficar tão vermelho?’

— Você realmente gosta do Noah? Tipo, nesse sentido?

— N-não! De jeito nenhum!

A negação foi tão forte que mais pareceu uma confissão. Quando Yohan sorriu dizendo “então tá” com leveza, Jaryeong desviou o olhar todo atrapalhado. ‘Isso até que é fofinho,’ pensou Yohan. No fundo, ele estava descontando sua leve frustração – causada por Noah ter deixado a mesa – em Jaryeong, sem nem perceber.

***

«Dizem que o presidente do Grupo Seonwoo teve um caso com uma mulher. Faz mais de 25 anos, mas há rumores de que ele se envolveu com uma ômega que trabalhava no mesmo departamento internacional na época. Não sei se foi um caso ou se seu ciclos de calor coincidiram…»

Natasha reclamou que tinha sido difícil rastrear informações depois de tanto tempo.

«Não há documentos sobre isso. A mulher saiu da empresa logo depois do ocorrido. Por isso demorou para eu conseguir rastrear. Parece que ele continuou mandando dinheiro para ela, mas sempre usando contas de terceiros.»

Natasha continuou a explicação. Ela disse que a mulher tinha um filho. O presidente do grupo Seonwoo também parecia estar ciente desse fato, mas como nunca foi visto indo até a casa da mulher para visitar a criança, nem mesmo um boato sobre isso havia circulado. Além disso, o sobrenome da criança também não era “Seonwoo”, o que deixou Natasha em dúvida durante a investigação. Não era nem mesmo o sobrenome da mãe. Descobriu-se que era o sobrenome do titular da conta usada para os depósitos – provavelmente um subordinado leal do presidente.

«Esse garoto é exatamente quem você está pensando: Cha Siheon. Houve um teste de DNA feito quando ele nasceu. O nome do pai não constava na solicitação do exame, mas quem fez o pedido foi o secretário pessoal do presidente do grupo Seonwoo.»

Noah franziu a testa com um ar sério e massageou a testa com os dedos. Não era o fato de Cha Siheon ser um filho ilegítimo do presidente Seonwoo que o surpreendeu. Era a história familiar de Cha Siheon – mais dura do que ele havia imaginado – que o deixava desconfortável.

Nos casamentos arranjados das famílias de chaebol, era comum que um dos cônjuges tivesse casos extraconjugais. Na maioria das vezes, os dois lados faziam vista grossa. Por isso, mesmo a existência de filhos fora do casamento não era algo exatamente surpreendente. Na verdade, era até comum que o afeto fosse mais direcionado à amante e os filhos fora do casamento do que os herdeiros oficiais.

Mas Cha Siheon não parecia fazer parte desse tipo de caso. Pelo pouco que ouviu, parecia até que a paternidade dele chegou a ser posta em dúvida, e ele não parecia ter qualquer relação afetiva com o pai. Talvez por isso seu jeito fosse tão frio.

«Mas por que, de repente, você quis que eu investigasse isso? Também tem a ver com o Yohan, não é?»

Natasha perguntou com um sorriso na voz. Ela sabia que Noah só se movia com esse tipo de empenho quando algo envolvia Yohan. Ele não conseguiu negar e apenas soltou um resmungo baixo em resposta.

«Não me diga que esse garoto está tentando se aproximar do nosso Yohan?»

O tom de Natasha perdeu o humor. Natasha amava Yohan como um filho e não deixaria ninguém brincar com ele. Diante disso, Noah não teve coragem de dizer que, na verdade, era Yohan quem estava interessado em Cha Siheon e era ele quem se aproximava.

«Por favor, não diga nada aos meus pais por enquanto.»

«Não vou contar, mas você acha que eles não vão descobrir? O Ryu Jin tem fontes de informação que vão além da imaginação.»

Natasha suspirou e disse isso com um tom cansado, como se já tivesse presenciado a extensão daquilo várias vezes. E deixou claro que Noah não deveria nem pensar em tentar enganar Ryu Jin com uma mentira mal elaborada. Noah concordou e encerrou a ligação.

‘Se a mãe já souber tudo sobre Cha Siheon, então por que ele estaria fingindo que não sabe? Será que decidiu que ele não representa ameaça para Yohan? Ou há algum outro plano por trás disso? Hmph.’

Quanto mais pensava, mais inquieto ficava. Mas no fim das contas, Noah confiava nos próprios pais. Se a mãe já sabia da existência de Cha Siheon e mesmo assim continuava apenas observando-o de longe, então talvez fosse seguro acreditar que ele não apresentava risco imediato para Yohan.

Haa…

Ele soltou um longo suspiro e olhou de volta em direção ao refeitório da empresa. Yohan e Jaryeong estavam saindo, depois de almoçar. Yohan ria como uma criança, bagunçando o cabelo do mais baixo com carinho.

Ao ver aquele sorriso, Noah tomou uma decisão.

‘Mesmo que não represente um perigo, saber é sempre melhor do que não saber.’

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Continua…