Ler Caminhando sobre às águas – Capítulo 40 Online

Foi confirmado pelo erro de Derek que sua ameaça não era apenas uma piada. Ele perdeu os desenhos fornecidos na sala de eventos, com isso ele perdeu as informações gerais registradas neles e o layout organizacional dos membros da equipe.

Não foi um grande erro, mas graças a isso o trabalho tornou-se mais complicado e a mudança de turno foi atrasada. Essa foi a razão pela qual o horário de saída programado para as sete foi adiado para às nove. Ash tirou o dinheiro da carteira fingindo não conhecer Derek, que não parava de se queixar de dores nas costas e no ombro.

Embora eu já esperasse isso depois de ouvir Ash dizer a palavra ‘Noho’, o táxi parou bem próximo da empresa de McQueen. Eu queria evitar este lugar porque fica perto de Chelsea, bem como de muitas lojas de estilistas, lojas vintage e bares gays. Além disso, diferente das palavras de Ash, que dizia ser um lugar com um ambiente agradável e com preços razoáveis, era apenas uma das cadeias de lojas regulares espalhadas por toda Nova York. — O quê? Tem um desses do lado da empresa. Por que você nos trouxe aqui?

— Se vai reclamar, não venha.

Ignorando Derek, que não parava de se queixar, Ash empurrou a porta do bar com o cotovelo. Assim que entramos no interior lotado, fomos recebidos por uma jovem garçonete ruiva. Sarah havia decidido se divorciar dele por causa da jovem estudante universitária, amante de Ash.

— Posso guiá-los até a área para fumantes?

Sem mostrar nenhum sinal de surpresa, ela nos guiou sorrindo calorosamente como se já conhecesse o hábito de fumar de Ash. Derek, que estava seguindo a mulher alta com uma expressão confusa no rosto, olhou para a nuca de Ash e disse:

— Não me admira, você ter vindo tão longe.

— É isso aí.

Ash disse em voz baixa com um sorriso no rosto.

— Este homem divorciado não mostra nenhum sinal de remorso.

— Desde que o juiz deu a Sarah a casa do condomínio me questiono se preciso refletir sobre isso…

— Você é meu primo, mas sério… Tsk.

Fingindo não notar Derek estalando a língua, Ash caminhou até a garçonete que estava andando na frente e sussurrou alguma coisa para ela. Como se tivesse ouvido algo engraçado, a garota de longos cabelos ruivos sorriu e cutucou Ash levemente com o cotovelo. O lugar onde nos sentamos estava localizado na área para fumantes, perto da janela. Os assentos estavam reservados, como se soubessem que viríamos aqui com antecedência.

— Sente-se. Escolham o que vão querer no menu.

Ash tirou um cigarro do bolso, colocou entre os dentes e apontou para o cardápio com o queixo.

— Vocês começaram a se encontrar logo depois do divórcio?

— Não, exatamente… Já se passaram duas semanas.

— Então começaram a se encontrar imediatamente?

Com o comentário de desaprovação ​​de Derek, Ash sorriu. Ele acendeu a ponta de um cigarro, deu uma baforada e soprou a fumaça no ar.

— Eu não posso viver sem uma mulher.

— Se Sarah escutasse isso, ela desmaiaria.

— Sinto muito, mas acho que paguei pelos meus pecados já que levaram todo o meu dinheiro. E, cara, podemos parar de falar sobre isso agora? Não quero ouvir isso de alguém como você ou de qualquer outra pessoa.

Vendo o sarcasmo de Ash, Derek sorriu silenciosamente esticando os lábios.

— Estou feliz que você dois não tiveram filhos.

— Sim. Acho que foi sorte.

— Se houvesse, Sarah seria uma mãe solo…

— Derek!

Shh. Ash disse, levando o dedo indicador aos lábios.

— Você não deveria falar sobre a vida dos outros com tanta naturalidade. Só mais um pouco e meu punho vai voar na sua cara.

Derek, que riu como se estivesse zangado por ver Ash sorrir com o rosto relaxado, levantou a mão e chamou a garçonete.

— Com licença, você pode trazer quatro garrafas de Budweiser, Miller e Heineken. E para petiscar pode trazer frango, nachos e alguns tipos de tempura.

Ele sorriu suavemente quando viu a universitária ruiva anotando os detalhes do pedido no bloquinho. Olhando para os olhos de Ash que estava sorrindo amplamente, ela explodiu em uma risada curta no ar e se virou. Meio entediado com tudo aquilo, comi alguns salgadinhos que foram postos sobre a mesa, enquanto observava a guerra de nervos entre os dois. Minha boca estava seca. Senti um grande alívio assim que engoli metade da cerveja gelada.

— Mas, e esses óculos?

A ponta do dedo de Derek apontou para meu rosto.

— Usar óculos está na moda.

Minha visão não era ruim, mas também não era boa. Os grafites pintados na parede ao longe pareciam embaçados, mas não era nada tão grave a ponto de dificultar o meu dia a dia. Devido à natureza do meu trabalho que exigia boa visão, eu costumava usar óculos de sol com grau, mas no meu dia a dia não usava óculos a menos que fosse ao cinema assistir a um filme legendado.

— É muito velho para óculos da moda. Quero dizer, há muitas armações bonitas que podem favorecer seu rosto.

— Quer escolher pra mim?.

— …é bom te ver de novo.

A risada de Derek se aprofundou assim que mostrei meu dedo médio para ele. Fiquei com sede depois de comer alguns petiscos salgados, então rapidamente esvaziei a garrafa de cerveja.

— Você costumava dizer que usar óculos te incomodava.

— É mais confortável usá-los agora.

— É como assistir TV preso em um armário.

Inclinei a garrafa de cerveja enquanto observava Derek estalar a língua. Na verdade, o motivo pelo qual tirei os óculos que comprei a alguns anos atrás da gaveta, foi a pornografia. Embora eu não seja o Superman, e não esteja em um seriado onde as pessoas se tornam irreconhecíveis apenas por usar um par de óculos, eu também usava por uma questão de humor.

— A propósito, você não está saindo com nenhuma garota?

Ash, que estava me ouvindo, se inclinou na minha direção, e disse:

— Eu não posso me dar ao luxo de sair com ninguém agora.

— Tem sido difícil te ver nos fins de semana nos últimos tempos, você não estava saindo com alguém?

— Estive trabalhando.

— Trabalhando?

As sobrancelhas de Derek arquearam.

— É legal ou ilegal?

Como ele estava familiarizado com as minhas relações, seu rosto se enrugou imediatamente como se estivesse pensando em alguém. A imaginação arbitrária de Derek foi estampada nitidamente no fundo dos seus olhos. Mas não importa o que estivesse pensando, provavelmente não seria pior do que a realidade.

— É só quê…

— Só quê?

— Dá um tempo.

— Como assim, um tempo?

— Estou ajudando com o restaurante.¹

— …

Testei seu humor, mas Derek e Ash não riram. Quando levei a garrafa de cerveja aos lábios meio sem jeito, a mão de Ash voou sobre a minha nunca. Engasguei levemente, olhei para o lado procurando a mão de Ash, mas ela já havia desaparecido, deixando apenas uma sensação de formigamento. Ash, que aliviou seu ressentimento através da violência, também riu com o rosto franzido.

— Não há garotas bonitas no restaurante?

— Não tenho tempo para isso.

— Ok, os negócios estão indo bem aí? A comida é gostosa?²

Dei de ombros enquanto observava Derek resmungar. Decidi poupar minhas palavras antes que tudo se tornasse muito maior e a situação saísse do controle, já que uma mentira sempre leva a outra. Derek também começou a fofocar sobre seus colegas de trabalho enquanto bebia. Claro, a fofoca de Derek não afetou a avaliação que Ash tinha da equipe de forma alguma.

— Na minha opinião, ele está mais empenhado do que você.

— Não, não é. No seu tempo livre, ele vai para a sala de descanso e fica lá deitado.

Olhei para Derek que puxou um cigarro, acendeu, deu uma tragada e sorriu sarcasticamente.

— Ainda assim é melhor do que você.

Observei os dois homens discutindo e coloquei a mão no bolso interno do terno. Um maço de cigarros duro, liso e fechado tocou a ponta dos meus dedos. Soltei o maço de cigarros e cerrei o punho.

Hesitei por causa das lembranças de ontem à noite relacionadas aos cigarros. Estendi minha mão vazia e disse a Derek.

— Me dê um cigarro. Eu te devolvo depois.

— Você não tem cigarros?

— Hum.

— Espera.

Derek remexeu nos bolsos e tirou um cigarro, pegou o isqueiro, acendeu-o, deu uma tragada e me entregou.

— Aqui.

Ash, que estava olhando para o cigarro que eu havia recebido da boca de outro homem, enrugou a testa fazendo uma expressão de nojo.

— Vocês enlouqueceram? Seus delinquentes. O gosto do álcool está tão ruim assim.

Ignorando as palavras de Ash, Derek se apoiou relaxadamente em sua cadeira. Cruzei as pernas e dei um longo trago no cigarro que segurava com uma das mãos.

— Qual é o nome da garota?

Derek apontou com o queixo para uma universitária ruiva servindo do lado de fora da área de fumantes.

— Louise.

— Vamos continuar bebendo aqui de agora em diante?

— Hum. Tenho que evitar que outros caras a roubem de mim.

Derek riu das palavras de Ash.

— Faz um tempo que eu queria perguntar, àquela mulher…

— Sim.

— Ela é a garota que costumava dançar no bar de strip que nós dois íamos antes.

O sofá balançou levemente com o tremor repentino de Ash.

— Na época, ela era loira, então fiquei um pouco confuso.

— …

— Mesmo que eu esqueça de outras coisas, não vou esquecer o rosto da mulher que mostrou os seios para mim.

Sorrindo silenciosamente com os lábios esticados, Derek olhou para o rosto de Ash.

— Que grande negócio. Está cansado de mulheres que fingem ser puritanas. Agora está interessado em garotas travessas?

— Não fale assim.

— O que eu fiz?

— Eu trabalhei por um tempo, e agora superei isso.

— Certo. Mas qual é a diferença entre tirar a roupa e vender o corpo? Eu me sentiria desconfortável.

Derek, tragou o cigarro por tanto tempo que suas bochechas ficaram curvas. Derek não era melhor do que Ash em muitos aspectos, mas ele tinha altos padrões de moralidade quando se tratava das mulheres com quem saia. Ele disse, levantando a cabeça novamente e olhando para Ash com um olhar frio:

— Você se divorciou só para conhecer uma mulher assim? Idiota. Sim, Sarah não merecia isso. Estou feliz que ela tenha te dado um pé na bunda.

Ash que estava olhando para Derek com um olhar sério, estreitou as sobrancelhas, virou o rosto e olhou para mim como se estivesse me analisando.

— Por favor, faça esse merdinha calar a boca.

— Só uma mulher vestida como aquela garota pode calá-lo.

Com as minhas palavras, os dois caíram na gargalhada ao mesmo tempo. Com a trégua momentânea que se formou, Derek esfregou o cigarro no cinzeiro com uma expressão relaxada no rosto. Quando apaguei a bituca do cigarro que segurava no cinzeiro, a porta da sala da área de fumantes foi aberta e Louise entrou com seus longos cabelos ruivos.

— Trouxe vários tipos de molho. O gerente estava perguntando: Que tipo de homem pede tantos petiscos?

— Eu nem tive tempo de jantar.

— Eu imaginei isso, por isso trouxe muito.

Louise, que fez contato visual com Ash, sorriu calorosamente e colocou os lanches na mesa. Como ela mesma disse, a comida posta sobre a mesa parecia muito mais do que a quantidade que tínhamos pedido.

— Se você precisar de mais alguma coisa, pode me chamar. Estarei assistindo dali.

Ash apenas acenou com a cabeça silenciosamente diante da atitude travessa dela. Ela pegou a bandeja, acenou em nossa direção e então desapareceu. Sua situação, incapaz de se isentar dos preconceitos criados por suas ações passadas, de alguma forma me fez pensar no meu futuro que está por vir. Será que ela sabe que um homem que mal consegue se lembrar de seu rosto avalia seu eu do presente pelo que aconteceu no passado?

As pessoas dão a desculpa de que precisam tirar a roupa porque não tem outra escolha. E logo depois de tirar as roupas olham para o valor que receberam por renunciar o próprio pudor. Isso também é pornografia. Não há mais nada a dizer.

Eu a vi movendo-se entre as mesas através da porta de vidro, enquanto eu espetava um pedaço de frango com um garfo. Ela, de repente, virou a cabeça e me perguntei se ela sentiu meu olhar enquanto colocava uma tigela vazia em uma bandeja preta cheia de pratos apoiada em um de seus braços. No momento em que nossos olhos se encontraram, ela sorriu, revelando seus dentes retos. Olhei para ela, que se virou apressadamente ao ser chamada por um cliente, então abaixei a cabeça para esconder meu sorriso amargo.

***

Continua…

N¹/Quartz: Sim, eu sirvo cu!

N²/Quartz: ANÃO!!! UAHAUHAAUHAUH