Ler Beije-me se puder – Capítulo 98 Online

Modo Claro

 

 

No shopping, o clima era como o de qualquer outro dia de feriado – não se via nada além de seguranças pelos corredores. A equipe já tinha aceitado que aquele era um dia de folga, e de qualquer forma, era praticamente crime trabalhar no feriado. Então, quando anunciaram pela primeira vez que precisavam de alguém para trabalhar naquele dia, os funcionários se reuniram e começaram a reclamar.

— Não é um absurdo ter que vir trabalhar logo no feriado?

— Que graça tem vir fazer compras num shopping que normalmente nem abre nesses dias? E por que justo um shopping?

O sarcasmo corria solto e todo mundo concordava. Chegaram até a dizer que pagariam três vezes mais só por aquele dia, mas ninguém cedeu. Só que aí, tudo mudou quando descobriram quem era a pessoa que ia visitar o shopping no feriado. Assim que o boato se espalhou, o número de funcionários se oferecendo para trabalhar triplicou.

Chase Miller.

Era uma visita inesperada.

***

Quando a secretária de Chase Miller entrou em contato com o gerente do shopping para alugar o espaço por um dia, o gerente achou que era trote. Mas depois de algumas confirmações, e ao perceber que era verdade, ele quase surtou.

— Eu fico de plantão! De qualquer forma, não tenho nada para fazer em casa mesmo.

— Não, eu vou! Eu adoro esse shopping. Queria poder trabalhar aqui o ano inteiro.

— Eu passo mal se fico um dia sem trabalhar. Melhor ir logo.

De repente, todo mundo queria dar um jeito de estar lá. Mas a verdade era só uma: todo mundo queria ver o Chase Miller. Pensavam: “quando mais vou ter a chance de ver esse cara de perto?”. Além disso, quando souberam que o visitante era mesmo ele, tudo fez sentido – porque cancelaram o feriado, por que alugaram o shopping inteiro… foi por causa de Chase Miller.

Ele podia fazer isso. Não, ele tinha que fazer isso. Bastava aparecer para deixar os fãs malucos em qualquer lugar. E os funcionários do shopping não eram exceção.

Todo mundo queria a mesma coisa, mas o problema era que a concorrência estava enorme. Os funcionários imploravam pros chefes para serem escolhidos, tentavam mostrar suas “qualidades”, mas não adiantava muito.

A administração do shopping resolveu então escolher um pequeno número de pessoas por conta própria, com exceção de alguns gerentes. Mesmo assim, só tinham dez vagas. E quase cem pessoas se ofereceram.

No fim, o pessoal começou a apelar. Teve aposta, jogaram moeda, até campeonato de basquete rolou.

Era um shopping conhecido por contratar funcionários a dedo, com processos super rigorosos. Mas agora, todos estavam batendo no peito, ajeitando o cabelo, retocando a maquiagem, só pra ver Chase.

— Não acredito que vou ver o Dr. Plame pessoalmente — disse um dos funcionários, que mal conseguia esconder a empolgação.

— Será que ele tirou a tintura? Já faz um tempo que terminaram as filmagens. Vi uma foto dele esses dias e estava loiro.

— Eu não ligo, é o Chase Miller!

— Nem precisa tirar.

— Claro que não.

Todo mundo concordou, e logo estavam todos vibrando de novo. O tempo foi passando… e finalmente chegou a hora da chegada de Chase. Os funcionários se posicionaram nos lugares combinados e esperaram a porta se abrir.

3, 2, 1…

Um rangido foi ouvido.

Quando o relógio marcou a hora exata, a porta trancada do shopping se abriu. Primeiro entrou um homem de terno preto. Depois, mais alguns homens vestidos do mesmo jeito entraram apressados, espalhando-se pelo shopping.

— É agora? Ele está vindo?

Todos os funcionários sentiram a mesma coisa: o coração disparado, difícil de controlar. Estavam prestes a ver o Chase Miller ao vivo. Não podiam pedir autógrafo nem tirar foto, mas isso nem importava. Só de sentir o cheiro dos feromônios dele e ver com os próprios olhos, já seria suficiente. Se pudessem escolher, preferiam isso do que uma foto.

Depois de fazerem a inspeção, os seguranças se espalharam pelas áreas pré-determinadas. Em seguida, o homem que tinha entrado primeiro foi até a porta principal por onde todos tinham passado, abriu ela e saiu do caminho.

E então era finalmente o momento de Chase Miller aparecer.

— O quê?

O funcionário mais próximo da entrada inclinou a cabeça, confuso. Todo mundo sabia que alfas dominantes sempre liberavam feromônios, mesmo que só um pouquinho. Por isso, eles esperavam que aquele cheiro doce e marcante se espalhasse por todo o lugar.

Mas dessa vez, foi diferente. O funcionário que estava mais perto respirou fundo e expirou com força, mas tudo o que sentiu era o cheiro dos desodorizadores baratos borrifados pelo prédio todo. Um por um, os outros funcionários também franziram a testa, confusos, e começaram a se encarar. Diante da reação estranha dos colegas, o primeiro apenas mexeu os lábios, perguntando:

— O que está acontecendo?

O pessoal da entrada não escondeu a cara de frustração e respondeu no mesmo esquema, só com os lábios:

— Não estou sentindo nada.

O colega piscou, surpreso, franziu as sobrancelhas e tentou de novo sentir o cheiro. Pouco depois, parou e olhou de volta para o pessoal da entrada.

— Não tem cheiro?

— Nada.

Mesmo sem falarem em voz alta por causa da distância, conseguiam entender perfeitamente o que o outro queria dizer.

— Como assim… cadê o cheiro de feromônio?

Enquanto todos balançavam a cabeça, sem saber o que responder diante daquela situação esquisita, o som de passos apressados começou a ecoar. Os seguranças se levantaram, preparados, esperando alguém entrar. Então, os funcionários, ainda confusos, finalmente viram com os próprios olhos.

E aí, o cheiro não importava mais.

Quando Chase Miller entrou no shopping com passos largos, todos os que estavam ali esperando sentiram a mesma coisa.

Só de ver ele já é suficiente. Todos pensaram.

Ele era muito mais alto do que imaginavam. Mesmo já conhecendo suas medidas pelas redes sociais, ver pessoalmente era totalmente diferente. Chase Miller vestia um terno sob medida que destacava seu corpo definido, o cabelo loiro brilhante estava impecavelmente penteado – ele parecia ter acabado de sair da tela do cinema.

Alguns funcionários, que estavam vidrados olhando sem nem piscar, só voltaram à realidade quando perceberam uma criança andando devagar ao lado dele.

— Quem é?

Os funcionários se entreolharam, mas ninguém fazia ideia. E então viram Chase diminuindo o passo para acompanhar a criança. Chase, famoso por ser um dos caras mais ranzinzas de Hollywood, só faria isso se tivesse um laço íntimo com aquele garoto.

— Hm-hm.

O gerente, que estava ali no meio dos funcionários, forçou uma tosse de propósito. Todo mundo voltou rapidinho ao normal e desviou os olhos dos clientes. Era difícil resistir à vontade de continuar olhando, mas fazer o quê. Em menos de um minuto, os documentos que Chase Miller tinha exigido estavam prontos – cheios de cláusulas assustadoras sobre penalidades e prejuízos caso as condições não fossem cumpridas. Os funcionários estavam tão nervosos que assinaram tudo sem pensar duas vezes.

Mas, mesmo assim, ninguém se importava com mais nada depois de ver aquele rosto de perto.

Seguindo as orientações do gerente, que fez questão de cumprimentar Chase pessoalmente, os funcionários engoliram a decepção e voltaram ao trabalho, vendo o astro sumir dos seus campos de visão. Só quando puderam conversar de leve é que alguém falou:

— Dizem que os alfas dominantes conseguem controlar os feromônios.

— Sério isso?…

— Vai ver foi por isso que não sentimos nada.

— Ah…

Suspiros decepcionados começaram a sair aqui e ali, como se tivessem descoberto isso tarde demais. Seria bom poder sentir o cheiro, mas quando alguém murmurou isso, outros funcionários concordaram na hora.

— Que pena não poder sentir o cheiro dos feromônios dele.

— É… realmente.

Aí, mais alguém falou, com cuidado:

— Será que… marcaram ele?

— Talvez seja por isso que não dá pra sentir.

Mal ele disse isso, todos os olhos se voltaram para ele. E, claro, não foi de um jeito bom.

— Que besteira é essa que você está falando?

— Que falta de respeito com o Chase Miller. Quem ia ter coragem de fazer isso?

— Se isso tivesse acontecido mesmo, já teria vazado em tudo quanto é lugar. Você acha que os jornalistas iam ficar quietos? Ta ficando louco…

— Ou você viu a marca? Hein? Você viu?

De repente, todo mundo começou a brigar com ele, acusando e criticando. No fim, ele teve que pedir desculpas por ter dado aquele chute fora de hora. Na verdade, quando pensou no motivo do feromônio não estar fluindo, se perdeu nas próprias ideias e só conseguiu focar no rosto de Chase. Estava tão ansioso para vê-lo que o resto passou batido. No fim das contas, ele mesmo sabia que não tinha o que dizer.

— Calma, foi só um palpite.

Preciso pedir desculpas de novo, ele pensou. Nem devia estar pensando nessas coisas.

***

O shopping estava bem silencioso, apesar de ter vários funcionários e seguranças andando de um lado pro outro. Normalmente, era um lugar barulhento e cheio de gente, mas agora tudo o que se ouvia era o som dos sapatos dos empregados e os passos dos seguranças, misturados com os do gerente e do próprio Chase.

— É uma honra receber uma visita tão ilustre. Espero que aproveite bastante.

O gerente, que começou a falar rapidamente, logo começou a listar uma marca que tinha estudado, junto com a história do shopping – que ele vinha achando interessante ultimamente –, as chamadas marcas populares e também sobre o próprio Chase. Por se tratar de um cliente tão importante, o desejo de que ele gastasse o máximo de dinheiro possível era tão transparente quanto vidro.

Isso não significava que Chase estivesse particularmente ofendido. Havia apenas um motivo pelo qual ele escolheu esse lugar, e enquanto isso fosse cumprido, o resto não importava.

⟨É muito bom para as crianças brincarem.⟩

Essa foi a frase que ficou na cabeça de Chase, entre os vários conselhos que Laura lhe deu. E, sem pensar muito, ele escolheu aquele shopping para passar um tempo com Pete.

‘Foi por isso que vim até aqui.’

Chase olhou para trás. Andava o mais devagar que podia, mas Pete não só caminhava, como também parava toda vez que algo chamava sua atenção, às vezes voltava pelo caminho de onde vieram, ou ficava andando em círculos e com bastante frequência acabava ficando para trás. Ainda bem que não precisava se preocupar em perder o garoto, já que um segurança os seguia de longe.

Chase já tinha percebido a incrível resistência física de Pete no parque de diversões. Dessa vez, pretendia passar o maior tempo possível com ele, até que o menino desabasse de cansaço. Também não se esqueceu dos moldes de silicone que havia decidido usar nas orelhas antes do casamento, caso algum escândalo ocorresse – eles cobriam completamente a marca. Na verdade, ele nunca deixou de usar aquela maquiagem, exceto quando foi visitar a casa de Josh. Pensou então em Josh, que teve que se preocupar com isso durante anos, enquanto ele mesmo não precisou esconder nada por mais de um mês.

—…Certo. Então, há alguma marca que lhe interesse? Hm? Ou tem algo específico em mente? — perguntou o gerente, que acabara de terminar a apresentação. Chase abriu a boca enquanto encarava os olhos brilhantes dele, cheios de expectativa.

—Ouvi dizer que vocês têm muitos lugares para brincar.

—O quê?

Chase repetiu, sem muita emoção, para o gerente sorridente:

—Você não ouviu? Eu disse para me mostrar onde meu filho pode brincar.

Ele então olhou para trás. Pete estava colado ao vidro, observando o interior de uma loja com as luzes apagadas, através das paredes transparentes. O gerente, arregalando os olhos, assentiu lentamente.

—Ah, sim, entendi. Então… vamos deixar o menino brincar enquanto o senhor faz as compras. Temos um espaço onde ele pode brincar. Posso levá-los até lá?

Chase assentiu com a cabeça, sem pensar muito.

—Tudo bem.

Quando estava prestes a dar um passo, Chase olhou para trás. Pete ainda estava parado ali. De repente, Chase ficou curioso.

‘O que ele está olhando?’

—Senhor Miller?

O gerente, que ia à frente, parou ao vê-lo recuar de repente. Chase caminhou direto até Pete, sem desviar o olhar.

Pete estava colado no vidro, imóvel, ele se aproximou devagar, querendo saber o que tanto prendia a atenção do garoto. Pete nem percebeu os passos que se aproximavam.

—…?

De repente, Pete notou que o vidro que observava tinha escurecido. Alguém projetava uma sombra atrás dele. Ele levantou os olhos e ficou boquiaberto. Chase, com as mãos nos bolsos da calça, também olhava para dentro da vitrine, exatamente como ele.

—Oi.

Surpreso, Pete parou até de respirar. Chase se abaixou um pouco para encará-lo, ele perguntou, vendo o menino travado e nervoso:

—O que tem aí dentro?

—…

—Por que você está olhando tanto? Fiquei curioso.

Chase inclinou a cabeça e voltou a olhar dentro do vidro. Era só uma loja com roupas simples por todos os lados. Pensando no que poderia ter chamado a atenção de Pete, ouviu o menino murmurar baixinho, com a cabeça abaixada:

—Um cachorrinho.

Chase ficou em silêncio por um momento. Depois das palavras dele, olhou de novo para dentro da loja e achou um bichinho de pelúcia de cachorro jogado no meio de várias roupas.

—Você quer isso?

Assim que Chase falou, um dos seguranças entrou na loja. Sem hesitar, pegou o cachorrinho que Pete tanto encarava, saiu rápido e entregou o brinquedo para Chase, antes de voltar para o seu lugar.

—Toma, Pete.

Chase estendeu o brinquedo enquanto observava a expressão feliz do menino. Mas Pete hesitou, escondeu a mão atrás do corpo e abaixou a cabeça, envergonhado.

—O que foi, Pete? Você não queria o cachorrinho?

Por um momento, o menino não respondeu. Depois murmurou baixinho:

—Isso é roubo.

As palavras dele pegaram Chase de surpresa. O mesmo aconteceu com o segurança, que tinha trazido o brinquedo todo orgulhoso. E Pete, dessa vez, falou mais alto, com clareza:

—É roubar o que é dos outros.

—…

Chase olhou para Pete em silêncio. Procurando palavras para convencer o garoto, ele finalmente disse:

—Pete, você lembra daquele dia no parque de diversões? Com o Josh e… com um heroi.

Chase achou estranho se chamar de herói. Pete lembraria logo se ele falasse do Jason, mas não queria tocar nesse nome. Em vez disso, começou a relembrar algumas coisas daquele dia.

—Você andou bastante de trem, lembra? Tomou sorvete? O que foi que eu disse naquele dia? Eu tinha comprado o parque de diversões, lembra? Falei para você comer o que quisesse. Hoje é a mesma coisa. Eu comprei esse lugar, então você pode pegar o que quiser.

Depois de explicar com calma, Chase estendeu o brinquedo de novo para Pete. Mas o menino continuou com as mãos escondidas atrás do corpo.

—Aquele dia… você não lembra, Pete?

Mesmo nervoso, Chase insistiu.

Pete respondeu baixinho:

—Eu lembro.

—Então por que…

Chase, que vinha falando até então, de repente entendeu. O porquê da reação de Pete ser diferente daquela vez e agora.

Josh estava ali.

— Ah… — ele suspirou de leve.

Pete não confia em ninguém sem o Josh por perto, por isso qualquer coisa que ele diga agora soa diferente do que disse antes. No fim das contas, mesmo sendo a mesma situação, a presença de Josh mudava tudo. Chase já tinha perdido a esperança de conseguir convencer Pete.

— …Vamos.

Quando o boneco foi entregue em silêncio, o segurança o pegou rapidamente e o devolveu à loja. Só quando viu o boneco de volta no lugar foi que Pete se afastou.

‘…É difícil.’

Chase soltou um longo suspiro vindo do fundo do coração. Foi nesse momento que o gerente, que observava Chase e Pete se aproximando, parou e falou com o menino:

— Você gosta de cachorrinhos?

Pete olhou diretamente para o gerente, que sorria de forma animada, e assentiu com orgulho, sem se esconder atrás de ninguém.

— Gosto, sim.

— Que bom! Tem uma pet shop aqui. Quer dar uma olhada? Tem muitos filhotes de raças bem difíceis de achar.

Chase ficou tenso ao ouvir isso, mas o gerente estava focado em Pete e não notou a reação dele. A intenção do gerente era clara: usar qualquer artifício possível para fazer Chase Miller gastar uma fortuna naquele lugar. E mais – Chase não estava sozinho. Estava com uma criança, que era praticamente um presente dos céus para essa situação.

É preciso fisgar o potro para capturar o cavalo depois.

A atitude de Pete também mudou na hora com as palavras do gerente.

— Você quer um cachorrinho, não é?

O gerente abriu um sorriso ainda maior ao ver o garoto tão animado.

— Sim! Vivos. Ou… você prefere bonecos?

Pete balançou a cabeça com força ao ouvir a sugestão.

— Eu gosto de todos os cachorrinhos!

— Que ótimo. Quer ir comigo?

Depois disso, o gerente levantou os olhos, já com o pensamento claro:

‘Pronto, eu consegui.’

— Sr. Miller, posso levar seu filho até a loja de animais…?

A voz alegre do gerente foi sumindo pouco a pouco e logo parou completamente. Chase os encarava com o rosto fechado. O gerente piscou, confuso, diante da reação completamente inesperada.

‘O que houve? Falei alguma besteira?’

Ele não conseguia entender. Era fato público que Chase Miller era solteiro. Nunca se ouviu falar que ele tivesse um filho – deveria ser filho de algum parente ou amigo. Não havia motivo para ele ficar incomodado só por alguém querer agradar a criança.

‘Então, por quê?’

— Hmm…

Quem quebrou o clima tenso foi o próprio Pete, que abriu a boca. O gerente e Chase o olharam ao mesmo tempo. Pete levantou o rosto na direção de Chase, olhando com cuidado e perguntando de forma tímida:

— É que… eu queria ver os cachorrinhos… posso dar uma olhadinha?

Era uma atitude completamente diferente de como ele tinha respondido ao gerente momentos antes. Sua voz era baixa e ele nem conseguia encarar Chase nos olhos. Chase só então percebeu o contraste da situação e o que aquilo significava. O gerente, percebendo rapidamente a mudança, também ajustou sua postura e perguntou de novo com um sorriso:

— Sr. Miller, o senhor gostaria de descansar enquanto eu levo seu filho até a loja de animais? Temos uma sala especial preparada para o senhor.

A maioria das pessoas se incomoda com crianças que não são suas. Porque elas são difíceis de lidar. O gerente acreditava que Chase também era assim – por isso tinha certeza de que ele aceitaria sua oferta de bom grado. Ele o levaria até a sala VIP, ofereceria chá e petiscos, colocaria algum funcionário para paparicá-lo…

O gerente já tinha feito todos esses cálculos em segundos, quando Chase finalmente respondeu:

— Não.

Chase falou com o rosto firme.

— Tá tudo bem.

Depois de dizer isso, simplesmente começou a andar. O gerente ficou boquiaberto ao vê-lo se afastando de repente. Correu atrás dele. Chase, que estava alguns passos adiante, parou e olhou pra trás – mas, claro, não era pro gerente que ele estava olhando. Só então Chase ergueu a cabeça e fitou o gerente, quando Pete, que tinha corrido bastante, parou a uma pequena distância.

— Mostre o caminho.

Com essa ordem direta, Chase voltou a caminhar rápido. Toda vez que olhava para trás, o gerente percebia que Chase estava observando Pete. Parecia preocupado que o menino caísse ou se machucasse enquanto andava – mal conseguia desviar os olhos dele.

‘Ele podia simplesmente carregar o garoto no colo,’ pensou o gerente, mas logo perdeu o interesse. ‘Não é da minha conta. O que importa é quanto esse cara vai gastar hoje.’

Enquanto andava pelo corredor do shopping, Chase teve que se controlar várias vezes para não sair correndo dali. Ao seu lado, Pete caminhava com passos apressados. Sua determinação de ver os filhotes parecia mais forte do que qualquer coisa.

Mas a situação de Chase era bem diferente. Se pudesse, daria meia-volta e dirigiria até o fim do mundo. Enquanto se forçava a aguentar, sentiu as palmas das mãos começarem a suar.

— …

Chase parou por um momento porque achou ter escutado algo. Talvez fosse só uma alucinação sonora. Os sons dos animais da loja de pets, bloqueados por uma parede de vidro grosso, nunca eram audíveis do lado de fora, mesmo que estivessem uivando. E o shopping estava tão silencioso…

‘Vai dar tudo certo.’

Chase apertou os punhos um depois do outro enquanto repetia essas palavras mentalmente.

‘Está tudo bem. Todos os cachorros estão presos atrás das paredes de vidro. Eles nunca vão sair e todos os cães vendidos nesses lugares são pequenos. Nada de cachorro grande.’

O problema era que, mesmo um cachorro pequeno, era motivo de pavor para Chase. Ele odiava todos os tipos de cães e tinha medo. Só o som dos latidos já era o suficiente para travar todo o seu corpo. Por isso, o fato de estar indo por vontade própria a uma loja de animais onde havia cachorros era simplesmente inacreditável para ele.

‘Vou dizer que precisamos voltar.’

O salão de descanso, aquele que o gerente mencionou antes, continuava o seduzindo. Olhar para frente era um tormento.

‘Por que abandonar um paraíso garantido para caminhar rumo ao inferno?’

— Hã…

Bem na hora em que abriu a boca para chamar o gerente, ouviu de repente uma voz fraca vindo de baixo. Chase olhou para baixo por reflexo, piscando rapidamente porque sua visão estava meio embaçada naquele momento. O rosto de Pete, que o olhava com timidez, apareceu. Com as bochechas coradas de vergonha, o garoto conseguiu dizer novamente:

— Obrigado por me trazer.

Com a maior educação possível, agradeceu. Esse foi o maior gesto de gratidão que Pete conseguiu oferecer. Chase queria saborear mais aquele momento, mas o medo constante o impedia. Pete continuou falando com Chase, que mal conseguia respirar:

— Eu quero criar um cachorrinho, mas nem o papai nem a vovó deixam. Então me deram um de pelúcia… mas até o Jason foi embora.

O menino abaixou a cabeça com tristeza. A cabecinha redonda dele parecia infinitamente solitária. Chase estendeu a mão por impulso e acariciou levemente sua cabeça.

Para a surpresa de Pete, ele não se afastou. Na verdade, quem se surpreendeu mais foi o próprio Chase. Ele ficou momentaneamente paralisado, e então algo ainda mais inesperado aconteceu: Pete segurou com cuidado a calça de Chase. Queria segurar sua mão, mas, considerando a diferença de altura entre os dois, aquele era o máximo que conseguia alcançar.

Chase então se lembrou de como Pete vivia agarrado na perna do Josh ou segurando sua calça.

— …

Mais uma vez, um som que parecia uma alucinação auditiva ecoou. À medida que a distância diminuía, os ruídos pareciam aumentar.

Mesmo assim, Chase deu um passo à frente em vez de fugir. ‘Como posso desperdiçar essa oportunidade?’ Ele se decidiu. A mão de Pete o segurando não podia ser em vão. ‘Não era isso o que eu mais queria?’

Pete estendendo a mão para ele primeiro, com confiança.

Era isso que Chase esperava até agora. Um cachorro preso numa jaula de vidro não era nada.

‘Vai dar tudo certo.’

— É aqui.

O gerente olhou por cima do ombro e apontou para o lado com um rosto sorridente. Uma luz forte vinha daquele ponto.

Como era de se esperar, não se ouvia nenhum som vindo da loja de animais. O gerente entrou primeiro, seguido por Chase.

— Ah…

Pete, que até então estava segurando a perna de Chase, a soltou e saiu correndo. Entrou na loja sem a menor hesitação. Agora era a vez de Chase.

— Uuuh… uuuh…

O chefe da equipe de segurança, que vinha observando de longe, se aproximou de Chase, que mal conseguia respirar.

— O senhor está bem, Sr. Miller? Talvez devesse descansar um pouco…

— Não tem problema.

Chase respondeu entre a respiração entrecortada, como se estivesse falando consigo mesmo.

— Está tudo bem.

‘Ah, ah, ah…’

Tentando forçar-se a engolir o ar, deu um passo à frente. Parecia que inúmeras mãos invisíveis saíam de debaixo de seus pés para puxá-lo para trás. Um cheiro fraco escapava pela porta aberta. Não era feromônio, era o cheiro típico de animais.

‘…Cachorro.’

Naquele momento, Chase parou onde estava. A loja de animais era muito maior do que ele imaginava. O espaço amplo estava cheio de jaulas de vidro de todos os tamanhos – tão grandes quanto os cães que estavam dentro delas.

— …

Mais uma vez, ouviu um latido. ‘Não pode ser…’ Nenhum cachorro estava fora da jaula. ‘Acorda!’ Chase sacudiu a cabeça com força. Mas sua consciência não estava nem um pouco clara, e a visão continuava turva.

— O senhor está bem, Sr. Miller?

O perguntou de novo, com a voz tensa. Chase conseguiu levantar a cabeça e engoliu em seco com esforço, por causa da respiração descompassada.

E então ele viu. Vários cães estavam latindo ferozmente na direção deles.

— Hã… ha… ha…

‘Meu coração vai explodir.’

O suor frio escorria.

‘Não consigo respirar. Preciso sair daqui. Preciso respirar. Preciso tirar esses cachorros da minha frente!’

— Sr. Miller…!

A voz aflita do chefe da segurança parecia vir de muito longe, por alguma razão. Agarrado ao peito acelerado, Chase desabou. Os joelhos cederam, e seu corpo foi ao chão. Ele bateu com força no piso, mas nem sequer sentiu dor.

— Ah…

Foi o rosto de Josh, muito mais jovem do que é hoje, que apareceu em meio à escuridão. Por fim, Chase perdeu a consciência enquanto corria em sua direção com uma expressão, como se fosse chorar por algum motivo.

 

 

°

°

Continua…

 

 

Ler Beije-me se puder Yaoi Mangá Online

Com olhos violeta intensos e hipnotizantes, capazes de fazer o coração disparar, e uma beleza que roubava a atenção de todos, o ator Chase C. Miller era simplesmente deslumbrante.
Depois de passar uma noite apaixonante com ele, Josh descobriu que tinha um segredo que jamais poderia ser revelado: ele estava grávido do filho de Chase!
Anos mais tarde, Josh é contratado novamente como guarda-costas de Chase. Apesar do gênio insuportável do ator, Josh não consegue evitar que seu coração dispare sempre que seus olhares se encontram ou quando Chase se aproxima demais…
—Ah, desculpe, você está bem?
—Maldito… Como você ousa, seu imbecil?!
— Oh, parece que eu ousadamente toquei no pau do meu cliente. Peço desculpas.
 
NOTA DA TRADUTORA
((Está é uma obra de ZIG jig.))
Essa obra é original do coreano que está sendo traduzida ao espanhol pela  Its_Unfortunxte, que me permitiu traduzi para o português.
❤️ Muchasss graciasss Unfortunxt❤️
Espero que gostem desse BL, como eu já disse antes, eu amo o gênero yaoi e omegaverso (um mundo reverso onde homens podem engravidar).
Nome alternativo: Kiss Me If You Can

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