Ler Algo está errado sobre como sou tratado em outro mundo – Capítulo 26 Online

Capítulo 26

Eu quero ir para casa.

“Felix-sama, você voltou!”

“Cadê a mãe e meus irmãos?”

“Clarice-sama está fora a trabalho, mas Harold-sama e Hugh-sama estarão de volta em breve.”

“Entendi. Eu gostaria de ir ver meu pai primeiro…”

“Sim, claro! Ah— Estou tão feliz que Felix-sama voltou. Tenho certeza de que o mestre ficará feliz em vê-lo. Sim, sim. Vamos lá, então.”

E agora? Que eu falei que vou também!? Pensando melhor, não teria sido melhor se eu não viesse com você? O que estou fazendo? Leia as entrelinhas, eu! Você é obviamente um incômodo!

Mas foi só quando cheguei à casa dos pais de Felix — a casa Alpharetta — que percebi esse fato, e já era tarde demais. A casa Alpharetta era uma mansão elegante com paredes de estuque (argamassa) branco e um telhado de mansarda coberto com telhas de escamas verde-escuras precisamente colocadas, condizentes com a família de um nobre conde.

O interior da casa era um pouco sombrio, possivelmente devido ao fato de que o chefe da família estava em seu leito de enfermaria. O rosto do mordomo idoso que nos cumprimentou também estava apático. Quanto a mim, minhas pernas tremiam ao ver a luxuosa residência de um nobre pela primeira vez. Talvez eu estivesse ainda mais nervoso do que quando enfrentei Wasso, o bandido. Havia vasos, jarros e esculturas de aparência carérrima espalhados, e eu tinha medo de quebrar algum.

“Seu companheiro gostaria de esperar na sala de visitas, caso não se importe?”

“…Não.” Felix desviou o olhar do mordomo e o trouxe para mim, de braços cruzados no fundo da sala. “Takumi, se não incomodar… você se importaria de vir comigo?”

“Tem certeza?”

“Eu gostaria que você viesse. Ainda estou me perguntando se é um erro estar aqui. Você deve me achar patético…”

“Não acho isso. Eu vou com você, se quiser.”

“…Obrigado, Takumi,” Felix sorriu depois de dizer. Sua expressão era extraordinariamente frágil, mesmo para ele.

Acho que ele também deve ter percebido a origem desse ar sombrio que está cobrindo a casa. O ar estagnado de alguém que estava próximo a morte poderia ser tocado.

Bem, acho que é uma coisa boa que eu ter vindo, afinal. Estou preocupado em deixar Felix sozinho agora. Não posso fazer nada, mas ao menos vou servir de apoio.

“Senhor, Takumi é meu convidado de honra. Eu gostaria de ir ver meu pai com ele, se não tiver problema.”

“Como quiser, jovem mestre. O mestre ficará satisfeito em saber que Felix-sama finalmente encontrou com quem se importa.”

Depois de acenar com a cabeça para o mordomo, Felix me disse: “Vamos, então, Takumi”, e prosseguiu lentamente pela mansão. Cumprimentei o mordomo e segui atrás de Felix. Finalmente, chegamos à porta mais impressionante de toda a mansão. Felix diminuiu os passos e ficou em silêncio por um momento.

Estendi a mão até tocar suavemente o punho cerrado de Felix. Houve uma breve pausa quando Felix parou de andar e ficou imóvel.

“Takumi…”

“Não se preocupe, Felix. Estou aqui por você”.

Posso não ser a pessoa mais confiável do mundo, mas ainda estou aqui por você!

Quando olhei para ele, com esse pensamento velado, Felix assentiu e depois virou-se para a porta novamente. Bateu três vezes seguidas.

“É Felix von Alpharetta. Agradeço por sua recente graciosidade em me permitir retornar à sua residência. Por conseguinte, gostaria muito de vos expressar a minha gratidão.”

Então, uma voz fraca veio de trás da porta: “Entre.” Felix congelou por um momento, os olhos arregalados, diante da quietude da voz, mas depois, como que determinado, abriu lentamente a porta.

“…Pai”.

Felix murmurou de espanto ao reconhecer a figura que aparecia diante dele. No extremo do quarto espaçoso, havia uma cama opulenta com um dossel. Sobre ela, enterrado em um mar de lençóis, um homem ergueu a parte superior do corpo, olhando Felix. Seu corpo outrora robusto agora estava completamente magro, com nada além de pele e ossos se destacando. Sob seus olhos afundados havia olheiras.

“…Pa-Pai…”

As palavras de Felix tremeram de choque com o declínio inesperado do pai. Aproximei-me silenciosamente de Felix e coloquei a palma da mão em suas costas. Felix parecia motivado por isso e se dirigiu sem parar para o lado da cama.

“Ha… Que cara é essa, Felix?”

“S-Sinto muito, mas, pai… isso…” disse Felix, engasgando.

Foi perceptível o quanto ele ficou abalado pela visão da magreza do pai. O pai de Felix, o conde Alpharetta, olhou para Felix. Então, sua atenção de repente se voltou para mim, atrás dele.

“Felix, você não deveria apresentá-lo a mim primeiro?”

Embora sua voz fosse baixa, era severa e digna. Só isso serviu como um lembrete de que ele habilmente demonstrou sua astúcia para manter a posição de chefe de uma família de Condes por muitos anos.

Felix ofegou como se estivesse dominado pela voz do homem, mas logo depois a expressão aliviou.

“Ha… Perdão pela minha grosseria. O nome dele é Takumi, e recentemente o recebemos nos Cavaleiros de Asas Negras. Ele é… não, sem ele, a poção nem teria sido desenvolvida.”

“Hmmm…”

Quando Felix hesitou em falar com ele, o conde Alpharetta fixou o olhar em mim. Mesmo estando magro e fraco, seus olhos ainda eram afiados e inteligentes. Por algum milagre, consegui parar de vacilar e, em vez disso, respondê-lo.

“Lamento muito pela minha visita inesperada.”

“Ah, se acalme, filho. Eu tinha ouvido falar que um jovem de cabelos pretos havia se juntado aos Cavaleiros de Asas Negras. Também escutei sobre seus esforços na recente batalha contra os Wyverns na colina de Lazarte. Estou profundamente grato por seu serviço ao Reino Mágico de Ritzheim.”

“Hmm. Agradeço seus elogios excessivos, obrigado”.

“Peço desculpas por estar assim hoje. Atualmente, é um incômodo sair da cama.” O conde Alpharetta virou-se e disse com um sorriso fraco antes de olhar para mim e para Felix respectivamente. Havia muita gentileza em seu rosto.

“…Felix. Esta é a primeira vez que você me apresenta alguém próximo.”

“É? Acho que convidei os filhos de famílias nobres e o Senhor Leon para minha casa em mais de uma ocasião.”

O conde Alpharetta balançou lentamente a cabeça para Felix, que piscou para ele em confusão. “Aquilo era apenas um encontro social entre famílias nobres, uma formalidade, certo? Essa é a primeira vez que você traz pessoalmente alguém para casa.”

“…”

Felix calou-se, perplexo com as palavras do conde Alpharetta. Ele parecia não conseguir entender o verdadeiro significado do que seu pai estava tentando dizer. O conde Alfaretta gentilmente estendeu-lhe a mão. No entanto, seus braços fracos não conseguiram alcançar Felix, e silenciosamente os deixou cair na cama.

“É a primeira vez, Felix… Você sempre foi um bom ouvinte e uma criança verdadeiramente impecável que coloca a família acima de tudo.”

“…Mas eu…”

“Sim, você é. É por isso que fiquei tão indignado quando você disse: ‘Quero me juntar aos  Cavaleiros de Asas Negras.’

Quando o conde Alpharetta disse isso, Felix abaixou a cabeça, mordendo o lábio com um leve sorriso.

“Não importa o quão bom você seja… e quantos feitos militares você realizou… Como terceiro filho, é difícil para você ter sucesso numa família nobre. Foi lamentável demais para você, que é mais capaz do que qualquer outra pessoa na família deste conde, continuar a ser enterrado na sociedade aristocrática por causa de sua posição.”

“Sim…” Felix piscou e olhou atentamente para o rosto do conde Alpharetta. O que se percebia no rosto dele era surpresa.

“Então eu quis preparar o caminho para o seu futuro. Mas… isso era apenas um orgulho meu. Foi só quando você saiu dessa casa que eu percebi o quanto eu fui tolo… Cof cof…”

“Pai!”

Conde Alpharetta, debruçado sobre a cama, tossiu roucamente. Felix foi até ele e o ajudou a sentar-se novamente. O Conde então levantou lentamente a mão que havia caído sobre a cama e tocou o rosto de Felix com suavidade. Os lábios de Felix tremeram e seus olhos se encheram de lágrimas ao sentir as mãos de seu pai cheias de compaixão.

“Pai, eu…”

“Felix, sinto muito. Mesmo que aquela tenha sido a primeira vez que você me mostrou seus verdadeiros sentimentos… Em um lapso momentâneo de temperamento, presumi que você havia feito uma escolha tola. Mas não foi. Eu que fui tolo.”

“Não diga isso! Até agora, não percebi a vontade do pai, nem tentei saber que você pensou em mim dessa maneira…”

“Eu sou o único que não tentou entender a sua vontade. Você criou seu próprio caminho sem precisar de ninguém, incluindo de mim, para guiá-lo. Fico feliz que o desenvolvimento da poção que você fez tenha beneficiado o país, mas, mais do que isso, como seu pai, estou feliz por você ter encontrado seu próprio caminho.”

Uma única gota escorria pelo perfil de Felix, passando pela bochecha até o queixo. Uma lágrima clara molhou as pontas dos dedos do Conde Alpharetta enquanto tocavam o rosto dele. A boca do conde Alpharetta se contorceu suavemente ao ver Felix chorando.

“Não te vejo chorar desde criança.”

“…”

“Não sei se é tarde demais… Você vai me perdoar, Felix?”

Felix apenas assentiu em silêncio. Se abrisse a boca, provavelmente entraria em prantos. O conde Alpharetta tocou a mão de Felix, estreitou os olhos e deu ao filho um olhar tranquilo, as íris de cor ametista que eu conhecia tão bem.

Continua…

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Créditos:

->Tradução: Elly_nsf

->Revisão: _diÂngelo