Ler A Tatuagem de Camélia – Capítulo 44 Online

Faz exatamente uma semana desde que um hóspede indesejado chegara ao norte.

Durante uma tranquila hora do chá, Loki, de repente, deixou escapar os pensamentos que vinham fervilhando em sua mente havia dias.

— Como vocês dois podem ser tão íntimos? Vocês não têm nenhum orgulho como membros da realeza?

Seu tom era, como sempre, rude.

No entanto, dessa vez não era apenas sua habitual grosseria, era genuína perplexidade. Loki realmente não conseguia compreender.

Jason e Igmeyer eram ambos filhos ilegítimos. Não era vergonhoso conviver com pessoas assim?

Pelos diálogos dos últimos dias, Loki percebera que a princesa era extremamente instruída e culta. E, ainda assim, parecia não haver ninguém ali que estivesse à altura de sua cultura.

Aos olhos de Loki, todos no Norte eram tolos.

Se ele fosse a princesa, já teria enlouquecido. Como seria possível viver sem um parceiro adequado para conversar?

— …?

Amber discerniu facilmente tudo que o príncipe havia deixado implícito.

Com um som audível, pousou a xícara sobre o pires, deixando clara sua desaprovação, e silenciou por um instante.

‘Eu costumava ser como ele. Julguei Igmeyer apenas por sua origem e diminuía seu valor, pensando que ele não tinha cultura.’

Mas sua visão havia mudado significativamente desde então. Por isso era capaz de tratar Jason com gentileza. Havia passado a acreditar que o valor de uma pessoa não é diminuído por nascer fora do casamento.

Se o príncipe compreenderia isso ou não era incerto, mas Amber sentiu precisar dizer o que pensava.

Com serenidade, ela começou a explicar:

— As pessoas aqui amam Igmeyer. Não apenas respeitam e demonstram lealdade, elas oferecem seu afeto incondicional.

— Sério?

— Ele não procrastina nem foge de suas responsabilidades. Sempre toma a iniciativa para resolver os problemas. Eu respeito meu marido por isso.

— Por que ele resolve problemas? E não porque dá ordens?

À provocação de Loki, Amber respondeu de maneira equilibrada:

— Sim. Ele não se limita a comandar. Vai pessoalmente ao local, observa ao redor, ajuda quando necessário. Se isso não é o que se espera da nobreza, que assim seja. Mas, pelo menos, o povo daqui ama o meu marido por essa postura.

A brisa era fresca, e o sol aquecia na medida certa.

A razão pela qual Amber estava lidando com o príncipe em um dia tão agradável era simples. Se não o fizesse, ele andaria por aí causando problemas, se intrometendo onde não era chamado.

Por que isso é feito assim, e por que aquilo é feito daquele outro jeito? — questionava sem parar, atormentando os criados, a ponto de Amber precisar tomar alguma providência.

Decidiu, então, manter o príncipe ocupado durante todas as tardes.

Parecia que ele fazia isso por tédio, então distraí-lo parecia a solução adequada.

— Acho difícil de entender — Loki murmurou.

— Você pode achar, mas um fato inegável é que o Norte tem suas próprias tradições e cultura. Agradeceríamos se pudesse respeitar isso.

Basta não mexer onde não deve.

Com isso, Amber pegou sua xícara de chá novamente.

— Hmm.

O príncipe bufou e se recostou na cadeira, com expressão entediada.

— Não há festas aqui, nem pessoas para serem convocadas.

— Mas há tranquilidade. Se houver algum livro que queira ler, talvez seja uma boa oportunidade para se dedicar à leitura.

— Que tédio. Livros, quero dizer. Se fosse sobre esgrima, talvez.

Naquele comentário displicente, Amber percebeu seus verdadeiros sentimentos.

‘Provavelmente ele tenha se sentido constrangido demais para aprender o que realmente queria no palácio imperial. Talvez, aqui no Norte, pudesse tentar.’

Poderia simplesmente pedir para ser ensinado, mas o motivo de não o fazer era claro: os sacerdotes sempre presentes jamais se colocariam ao lado do príncipe mais novo.

‘Então é por isso que ele anda rondando pelo castelo, amuado?’

Ele poderia ir diretamente a Igmeyer e pedir…

‘Ah, mas claro, ele não pode. Não seria adequado pedir ajuda a alguém de status mais baixo.’

Que situação curiosa!

Se você quer algo, basta ir e pedir. Mas quando você não pode “ordenar” e é constrangedor “pedir”, é difícil até mesmo iniciar a conversa.

— E quanto ao casamento? É bom? Antes de vir para cá, o chanceler empurrou sua segunda filha para mim… Estou pensando se devo me casar com ela ou não.

O chanceler ocupava uma posição elevada.

Se tivesse vários filhos, o primogênito poderia se casar bem, mas para a segunda filha as possibilidades diminuíam.

É melhor estar conectado com o sangue imperial, mesmo sob pressão, do que casá-la com alguém de status inferior.

Ele fez esse cálculo.

Não surpreendia que o chanceler fosse tão perspicaz.

Mas, para Loki, isso não era uma má notícia. Ganhar a influência do chanceler poderia fortalecer sua posição.

Certamente melhoraria sua situação em relação atual.

— Há muitos motivos para manter um casamento, mas a razão de um casamento feliz é surpreendentemente simples. Não sei se amo meu marido, mas ao menos há confiança e amizade entre nós. Ele jamais abandonaria sua esposa e filho.

Amber segurou delicadamente a xícara com ambas as mãos quando sussurrou essas palavras.

Continua…

Tradução: Elisa Erzet