Ler Lamba-me se puder – Capítulo 120 Online
Por um momento, Ashley não reagiu. Koy quis ver sua expressão, mas conteve o impulso e o abraçou ainda mais forte.
Era a primeira vez que ele falava sobre aquele dia. Forçando-se a reviver a memória que ele tanto tentou esquecer, Koy fechou os olhos com força. Ele desejava desesperadamente que sua coragem não desaparecesse, e que Ashley não passasse a odiá-lo por causa disso.
— Estávamos todos juntos no carro… — a voz dele tremia. — Eu… eu estava brincando com o meu irmão. Nós dois estávamos no banco de trás, com os cintos de segurança afivelados…
Ele inspirou e expirou com a respiração trêmula antes de continuar.
— Não lembro direito. Acho que eu estava animado… ou talvez provocando ele, não sei. Peguei o cinto dele, a gente começou a brigar, e… eu acabei soltando o fecho. —
Os braços que seguravam Ashley começaram a tremer, mas Koy não o soltou — pelo contrário, o apertou ainda mais forte.
— Eu não queria fazer isso, juro… Mamãe virou a cabeça para nos repreender, e… e então, de repente, um caminhão bateu na gente por trás… —
Koy parou de falar, dominado pela memória vívida daquele momento. Era como se ouvisse os gritos e o choro de sua mãe diretamente em seus ouvidos.
— Eu bati a cabeça… e perdi o olfato. — A voz saiu em sussurros trêmulos. — E o meu irmão… morreu.
Depois da confissão, ele abriu os olhos devagar. Respirou fundo e, com um movimento hesitante, afrouxou o abraço. Ashley se ergueu também, olhando para ele.
O sol já havia se posto e a penumbra envolvia o quarto. Na luz fraca da lua que entrava pela janela, iluminando o rosto de Ashley num brilho pálido e confuso, Koy reuniu o pouco de coragem que restava e continuou:
— Depois disso, mamãe e papai começaram a brigar sem parar… Mamãe acabou indo embora, e papai… ele ainda bebe, até hoje.
Ele entrelaçou as mãos com força, os dedos ficando brancos, e, por fim, as palavras escaparam num fio de voz:
— Antes de ir embora, mamãe me disse…
Foi preciso ainda mais coragem para colocar as palavras na boca. Koy cerrou os punhos com tanta força que as pontas dos dedos ficaram brancas, apertando as cordas vocais, engoliu em seco, quase sem fôlego, e confessou como se estivesse forçando as palavras.
— ‘Seria melhor se você tivesse morrido.’
Ele não teve coragem de levantar o rosto. Com a cabeça baixa, olhando fixamente o chão, continuou:
— Meu pai… quando está bêbado, me bate. Diz que eu me pareço demais com ela. Que meu rosto o deixa com raiva.
As lágrimas começaram a cair.
— Quando meu irmão estava vivo, ele não era assim. Não bebia tanto, nem batia na gente…
‘Sinto muito, irmão. Sinto muito, mãe. Sinto muito, pai. Sinto muito.’
‘Sinto muito por ter sido eu quem sobreviveu.’
— Por minha causa, a minha família se despedaçou. —
Koy murmurou, a voz cada vez mais fraca.
— Aqueles dois dólares da outra vez… — continuou ele, — o dinheiro que eu sempre carrego comigo… foi a mamãe quem me deu. —
Ela prosseguiu, a confissão fluindo como algo que precisava ser libertado.
— É a única coisa que me resta dela. As fotos, o papai rasgou e queimou todas…
Um sorriso amargo atravessou-lhe o rosto.
‘Mas mesmo bêbado, ele ainda chama o nome dela…’
— Por isso eu acho que é justo quando ele me bate. —
— Não existe caso algum em que bater em alguém seja justo. Mesmo que seja o seu pai. —
Ashley falou pela primeira vez. Quando Koy ergueu a cabeça hesitantemente, viu que seu rosto estava contorcido com desconforto — talvez por suas palavras, talvez por outra coisa. Mesmo assim, seu coração se aqueceu.
— Obrigado.
Seu nariz começou a arder, e ele fungou rapidamente, tentando conter as lágrimas. Quando Ashley estendeu a mão para enxugar-lhe o rosto, Koy negou com um gesto, murmurando:
— É a primeira vez que falo sobre isso com alguém. —
Ashley franziu o cenho ao ver o sorriso forçado de Koy.
— …Por que está me contando isso agora? —
Ele perguntou, segurando o impulso de abraçá-lo imediatamente, com o coração apertado. Ele queria ouvir sobre Koy, mas não assim. Ele imaginou que seria em um clima mais calmo, depois que os dois tivessem se conectado mais, que as palavras surgiriam naturalmente.
Deve haver uma razão para Koy estar falando sobre isso tão subitamente agora. Ashley não podia ignorar o mau pressentimento. Em vez de abraçá-lo, ele apertou a mão de Koy. A mão de Koy, envolta da sua grande mão, era pequena e frágil. Koy, que estava quieto com a cabeça baixa, soltou um suspiro trêmulo e falou:
— O seu pai… a secretária dele… —
‘Que estranho…’
Koy pensou enquanto ouvia sua própria voz. Por alguma razão, soava como se outra pessoa estivesse falando, vinda de longe, dissonante. Mesmo ele falando, não parecia real. Observando sua própria língua se mover como se fosse de outra pessoa, Koy continuou:
— Ela disse que eu estou enganado em achar que gosto de você.
A mão de Ashley, que segurava a dele, enrijeceu imediatamente. Koy manteve a cabeça baixa e prosseguiu:
— Ela disse que, como o meu pai também não gosta de mim, eu acabo confundindo as coisas. Que eu acho que gosto de você só porque você é o único que gosta de mim de verdade. Que, na verdade, eu não gosto de você, e é por isso que… não me manifesto. —
— Aquela mulher acha que sabe de alguma coisa? —
Ashley explodiu, incapaz de se conter. A raiva fervia dentro dele ao saber que algo assim tinha acontecido enquanto estava inconsciente. Era absurdo, revoltante.
‘Como ela ousa? Quem ela pensa que é pra dizer algo assim? O que ela sabe sobre o Koy, afinal?’
— Dizer que sou o único que gosta de você? Que bobagem! Você sabe que não é verdade. Bill, Ariel, todos gostam de você. Se não gostassem, não andariam com você.
E, depois de uma breve pausa, ele acrescentou, sem deixar de lado o que julgava essencial:
— Claro que, entre todos eles, eu sou quem mais gosta de você. —
— …Obrigado. —
Koy respondeu baixinho, com um sorriso tímido que parecia prestes a se desmanchar.
Koy levantou a cabeça e forçou um sorriso. Ao ver o rosto dele prestes a desabar em lágrimas outra vez, Ashley não conseguiu mais se conter. Ele o puxou para si, envolvendo-o num abraço apertado, e sussurrou:
— Não guarde esse tipo de bobagem. Só você conhece seus próprios sentimentos, certo?
— Uhum. —
— E você gosta mesmo de mim, não é?
— Gosto. —
À nova pergunta, Koy assentiu novamente.
— Para mim, só existe você, Ashley.
— Então é o bastante. —
Ashley respondeu enquanto passava a mão com carinho pelas costas dele.
— Não deixe que as palavras de quem não sabe de nada te machuque.
— …Tá bom. —
Koy respondeu, mas logo não conseguiu mais se conter.
— É sério, Ash. Eu gosto de você. —
— Eu sei. —
— Não é porque eu não te amo que eu não consigo… manifestar. —
Mesmo com o tom calmo de Ashley, Koy não conseguia se acalmar. Ela continuou rapidamente, tropeçando com as palavras pela ansiedade:
— Eu também não entendo por que meu corpo é assim. Será que é porque eu não consigo sentir cheiros? Talvez por isso eu seja insensível ao seu feromônio. Ou talvez seja culpa da minha cabeça, deve ter algo errado comigo. Sim, é isso — tem alguma coisa quebrada em mim. —
Um soluço reprimido subiu, e Koy mordeu os lábios antes de soltá-los, desabafando com uma respiração ofegante:
— O problema está na minha cabeça, não é que eu não goste de você.
— Eu sei. —
Ashley respondeu, lutando para conter a raiva que lhe queimava por dentro, esforçando-se para manter a voz calma:
— Disseram o mesmo para mim. Que você não se manifesta porque não me ama. Que é porque me rejeita.
Ele queria encontrar aquela mulher imediatamente e fazê-la pagar por machucar Koy assim. Mas agora, mais do que a raiva, vinha a preocupação O rosto pálido de Koy, tentando impedi-lo antes de perder a consciência, não saía de sua mente. Suprimindo suas emoções ao máximo para não assustar Koy, ele se esforçou para manter uma voz gentil e continuou:
— Ridículo. Se fosse possível parar uma manifestação só reprimindo os sentimentos, o que seriam então as mutações?
Ele tentou dizer em tom de brincadeira, mas falava sério. O próprio pai havia conseguido alterar um “gama”, o tipo mais resistente aos feromônios. E não era um caso isolado.
Um “beta” resistir ao feromônio de um “alfa dominante”, apenas com força de vontade?
‘Que absurdo ele está falando.’
— Eu… eu também.
Koy murmurou, ofegante.
— Se eu tivesse me manifestado como você…
— Isso não.
Ashley cortou suas palavras sem hesitar.
Koy estava certo. ‘Devido ao acidente, parte do seu cérebro foi afetado, e por isso ele não reage aos feromônios.’
E não é uma coisa boa para Koy? ‘Ele não precisa passar por essa merda.’ Pensando em si mesmo, sendo arrastado pelos feromônios constantemente, era uma sorte. Koy não precisa saber dessa agonia.
Mesmo que Koy nunca me entenda, não é melhor assim? Ashley sentiu um alívio.
‘Basta que eu sofra sozinho.’
Ashley repetiu para si mesmo, firme, quase como uma prece.
‘Basta que eu passe por essa agonia.’
— Você não precisa provar o que sente com uma manifestação ou coisa assim. Tá tudo bem. Eu sei o que você sente. —
Ele acariciou as costas de Kpy e depositou um beijo leve na sua orelha.
— E você também sabe, não é? Que a gente se ama. —
Koy permaneceu em silêncio por um instante, depois balançou a cabeça levemente.
— Eu sei.
— Então está tudo bem.
Koy nunca precisa saber o quão doloroso é remover os feromônios, o quão sombrio é ter que viver com essa agonia para sempre, o quão assustador é o medo de que esses feromônios possam enlouquecê-lo. Ashley também nunca dirá.
O fardo que Koy já carrega é pesado o suficiente; ele não quer adicionar o seu próprio.
‘Não posso contar.’
Ashley se prometeu em silêncio, apertando-a um pouco mais forte.
‘Eu nunca vou contar.’
°
°
Continua….
Tradução: Ana Luiza
Revisão: Thaís
Ler Lamba-me se puder Yaoi Mangá Online
Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can