Ler Lamba-me se puder – Capítulo 119 Online
O ambiente estava silencioso. Tão quieto que Koy quase temia ouvir o som do soro gotejando no braço de Ashley. Naquele silêncio prolongado, ele permaneceu sentado, sem sequer respirar alto, apenas olhando para Ashley. Na sua mente, as palavras da secretária ecoavam sem parar:
‘Por que você não foi afetado?’
‘Você ainda é um Beta. Não mostra nenhum sinal de manifestação.’
‘Será que, no fundo, você não gosta mesmo de Ashley Miller?’
Não é isso.
Os olhos de Koy voltaram a se encher de lágrimas. ‘O que você sabe? O que você entende?’
‘Por isso o seu corpo inteiro o rejeita, porque, na verdade, você não o deseja de verdade.’
‘Não, não é verdade.’
‘A única pessoa que gosta de você é Ashley Miller.’
‘Não é por isso. Eu gosto do Ash.’
‘Gosto dele simplesmente porque ele é o Ash.’
‘Você não sabe de nada…’
— Ugh… hhic…
As lágrimas voltaram a escorrer. Koy mordeu o lábio e esfregou os olhos. Ele tentou conter, mas os soluços continuavam escapando.
Ele limpou as lágrimas várias vezes, quando de repente ouviu um som fraco e trêmulo perto do ouvido. Assustado, enxugou os olhos rapidamente e levantou a cabeça. Ashley franziu o cenho e soltou um gemido — parecia estar recobrando a consciência.
Koy, tenso sem perceber, enrijeceu os ombros e esperou que ele abrisse os olhos.
Alguns segundos se passaram antes que Ashley lentamente erguesse as pálpebras.
Koy prendeu a respiração, observando-o piscar algumas vezes até conseguir focar a visão, quando ele finalmente moveu o olhar e seus olhos se encontraram, Koy prendeu a respiração completamente.
— …Koy. —
A voz de Ashley estava rouca e fraca. Ao vê-lo sorrir de leve, Koy sentiu as lágrimas voltarem a brotar.
— Koy. —
Dessa vez ele o chamou com mais clareza, mas logo franziu o cenho.
— O que foi? Por que está chorando? —
Koy não conseguiu responder e abaixou a cabeça. Tentou secar as lágrimas depressa, mas elas continuavam caindo sem parar.
— Koy… —
Ashley, confuso, levantou a mão, mas parou no meio do caminho. Ele notou a agulha do soro em seu braço, ergueu os olhos, viu o soro e ficou em silêncio por um momento. Logo, as memórias voltaram, e ele entendeu a situação.
— E o Bill… como ele está?
Com uma voz um pouco baixa, Koy, tentando parar de chorar, respondeu:
— E-ele está bem. Foi para o hospital. Disseram que ele recebeu uma injeção para remover os feromônios.
— …Entendo.
Um longo suspiro se seguiu. Koy olhou para ele com os olhos vermelhos. Ashley, deitado na cama, parecia mais cansado e exausto do que nunca.
— Você… está bem, Ash?
A pergunta saiu tremida pelos soluços, e Ashley demorou um pouco antes de responder.
— …Eu gostaria de dizer que sim, mas não estou muito bem.
Um sorriso amargo cruzou-lhe o rosto, e então no momento seguint,e a expressão desapareceu.
— E você? Está bem?
Ele se deu conta, tardiamente, de que havia feito uma pergunta idiota. Koy não havia se manifestado. Dessa vez também.
Enquanto Bill vomitou e até perdeu a consciência…
Koy também percebeu o que Ashley estava pensando. Qualquer um entenderia só de olhar para ele — até mesmo Koy, que costumava ser tão lento para notar esse tipo de coisa.
— Estou bem. — Koy respondeu forçando um sorriso, comprimindo o maxilar para que a voz não tremesse. — Eu não me manifestei.
Ashley fez uma breve pausa e assentiu levemente.
— É… ainda bem. —
Ele tentou sorrir, mas não conseguiu. Sua mente lhe dizia que precisava encarar a situação com frieza, mas o coração estava uma completa confusão.
‘Por que o Koy não foi afetado?’
‘Talvez ela esteja rejeitando isso inconscientemente.’
A voz da secretária, que ele tentou enterrar, voltou à tona de repente. As palavras que o haviam atormentado e deixado ansioso encheram sua mente instantaneamente.
‘Será que Koy realmente não gosta de mim?’
Ele sabia que não devia duvidar, mas a desconfiança persistia.
‘Koy, por que você não se manifesta?’
Não, o que aquela mulher disse não pode estar certo. Eles claramente gostavam um do outro. De verdade. Além disso, duvidar dos sentimentos de Koy só porque ele não se manifestou como um Ômega era o pior erro possível.
A Koy provavelmente seria mais feliz se permanecesse como Beta.
Era verdade. Ashley teria de viver o resto da vida sendo dominado pelos feromônios. Koy, por outro lado, jamais entenderia completamente o que isso significava.
Eles eram pessoas muito diferentes agora.
‘Se o Koy fosse um ômega, talvez entendesse um pouco do meu sofrimento’.
Ele sabia que Koy estava tentando, que fazia o possível para compreendê-lo. Mas, por mais que ele se esforçasse, nunca conseguiria entender de verdade — não enquanto continuasse sendo um Beta. E assim, pouco a pouco, eles se afastariam mais… e se entenderiam cada vez menos.
‘Quantas vezes mais o Koy vai ter que suportar me ver nesse estado?’
‘Quando se ama alguém de verdade, é preciso saber deixá-lo ir. Isso é o que significa ser adulto. Claro, como você ainda não é um, talvez não entenda.’
— Aquela mulher estava certa.
As palavras saíram em um sussurro baixo, tão suave que Koy não as ouviu de imediato.
— Hm? O que você disse?
Enquanto Koy limpava os olhos apressadamente e o olhava com uma expressão confusa, Ashley olhou para ele com um sentimento de desolação. Koy estava chorando. Por sua causa. Era isso que Ashley menos conseguia suportar.
— Eu não posso ficar com você. —
Os olhos de Koy se arregalaram de espanto. Sem conseguir responder, ela apenas o fitou enquanto ele continuava:
— Se eu realmente me importo com você, preciso deixá-lo ir. Você é um Beta, e eu sou um Alfa. Você não se manifestou, e eu sim. —
Cada palavra tornava a realidade mais dolorosa. Verbalizar o quão diferentes eles haviam se tornado era como tortura.
— Sempre que eu entrar em rut, você vai correr perigo. Posso enlouquecer com o cheiro de outro ômega e acabar te machucando. Isso não pode acontecer. O certo é eu ir embora… Mas… mas… —
Ashley mordeu os lábios, a voz falhando. Koy viu o peito largo dele subir e descer lentamente enquanto ele soltava o ar que havia prendido. Então, com uma voz trêmula, Ashley sussurrou:
— Mas eu não posso. Não consigo. —
— Ash… —
— Eu não posso me separar de você. —
Ashley sabia que aquela mulher tinha razão. Sabia que ele estava errado, que já era hora de desistir. Mas… ele simplesmente não conseguia.
‘Se Koy não estiver lá, se ele desaparecer da minha vida…’
‘Eu conseguiria suportar?’
— Koy, não me abandone. —
Finalmente, ele agarrou o braço de Koy e se segurou desesperadamente.
— Por favor, não me abandone, Koy.
‘Por que você não se manifestou?’
‘Ou melhor… por que eu me manifestei?’
‘Se nós dois tivéssemos continuado como Betas… nada disso seria tão doloroso.’
— Ash. —
Koy o chamou, aflito, mas a voz dele já não o alcançava. Ashley estava fora de si, completamente tomado pelo medo.
‘Talvez eu enlouqueça.’
‘Talvez esses feromônios me consumam.’
— Eu… estou com medo.
Ashley murmurou, seu corpo todo tremendo. Nos olhos arregalados, as íris roxas tremulavam violentamente
‘Talvez eu já esteja louco.’
‘E se meu cérebro já derreteu e minha mente já se foi, e eu simplesmente não percebi? E se tudo isso for apenas uma ilusão, um delírio?’
‘E se eu estiver louco e sonhando agora?’
Tomado pelo pavor, Ashley segurou a cabeça entre as mãos.
— Eu estou com medo… —
— Ash.
Koy olhou para Ashley com o rosto pálido. Quando tocou o corpo de Ashley com as mãos trêmulas, sentiu que ele também estava tremendo. Então, reunindo toda coragem, Koy se inclinou em direção a Ashley. Sentindo o calor do corpo de Koy abraçando-o firmemente, Ashley o puxou para um abraço desesperado.
Por um longo tempo, os dois ficaram assim, imóveis, compartilhando o calor um do outro.
Aos poucos, o tremor do corpo de Ashley começou a diminuir, mas seus braços continuaram firmes ao redor dela.
Koy queria desesperadamente consolá-lo, dizer algo que o fizesse se acalmar. Mas não havia palavras certas. Nada do que dissesse alcançaria o coração dele.
Ele não podia dizer: “Vai ficar tudo bem”, nem “Eu continuarei ao seu lado”, nem “Eu entendo sua dor”. Todas soariam vazias e sem sentido. Eram frases que careciam de qualquer verdade concreta — e, por isso, ele não conseguia sequer pronunciá-las.
O que eu posso fazer para acalmar o Ashley?
‘Você tem certeza de que realmente gosta do Ashley Miller?’
‘Claro que sim.’
A voz da secretária ecoou em sua mente, e Koy abraçou Ashley com força. Ele iria provar — de todas as formas possíveis — o quanto o amava.
— …Você ainda tem aqueles dois dólares que eu te dei? —
Koy perguntou em voz baixa, depois de um longo silêncio.
Ashley, por um momento, não reagiu — e então assentiu devagar.
Koy soltou um suspiro trêmulo antes de continuar, com dificuldade:
— O motivo de eu… não conseguir mais sentir cheiro é porque… —
Ashley percebeu que ele havia hesitado. Koy respirou fundo uma vez. A voz que saiu em seguida estava um pouco trêmula.
— Quando eu era criança… aconteceu um acidente.
— …Um acidente de carro.
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Continua….
Tradução: Ana Luiza
Revisão: Thaís
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Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can