Ler Lamba-me se puder – Capítulo 116 Online
— Não precisa responder agora.
Vendo a expressão claramente confusa no rosto de Koy, Ashley falou primeiro.
— Pensa com calma. É claro que respeitarei caso você tenha qualquer outro plano de carreira em mente. Mas gostaria que você considerasse o caminho que sugeri também.
Ele acrescentou com uma seriedade maior do que nunca:
— Porque depois da formatura, eu quero morar com você.
Koy hesitou um pouco antes de responder com um aceno:
— Eu vou pensar nisso.
— Tá bem.
Ashley sorriu de leve e mudou de assunto.
— Vamos logo, senão vamos nos atrasar para a aula.
— Uhum.
Mais uma vez, Koy respondeu da mesma forma e apressou o passo, quase correndo para acompanhar o ritmo dele. Mas sua cabeça continuava em turbilhão.
***
‘Costa Leste…’
Mesmo deitado na cama, tentando dormir, Koy não conseguia parar de pensar naquilo. Nunca tinha imaginado que um dia deixaria o lugar onde viveu a vida inteira. Mesmo depois de se apaixonar por Ashley, o máximo que cogitara era um relacionamento à distância — nunca, em hipótese alguma, a ideia de se mudar com ele lhe passou pela cabeça.
‘Desde quando o Ash vem pensando nisso?’
Quando ele pensava em morar juntos, Ashley já mencionava casamento… talvez estivesse com isso em mente desde o começo. Virando-se para o outro lado, Koy piscou lentamente, o rosto sério.
‘Será que é a única maneira de ficarmos juntos…?’
A simples ideia de deixar aquele lugar o deixava atordoado. Não que ele gostasse do velho e apertado trailer onde vivia. Era o medo — o medo de abandonar o único lar que conhecia e ir para um lugar estranho, desconhecido, onde nada era familiar.
‘Eu vou cuidar de tudo.’
O rosto de Ashley surgiu em sua mente, e Koy suspirou involuntariamente. Ashley nasceu e cresceu na Costa Leste, então para ele era apenas um retorno ao familiar. Talvez por isso não conseguisse entender bem o medo que Koy sentia.
‘Será que o Ash também se sentiu assim quando veio pra cá pela primeira vez?’
De repente, Koy se lembrou: quando Ashley chegou ali, era muito mais novo. ‘Como será que foi para ele, estar sozinho num lugar desconhecido?’
‘…Será que aconteceu algo tão sério a ponto dele precisar fazer isso?’
No momento em que ele estava pensando nisso, a porta do trailer chacoalhou. Koy deu um pulo, fechou os olhos depressa e fingiu estar dormindo. Logo, a porta se abriu e o barulho continuou com a presença de alguém entrando. Koy se encolheu, aguçando os ouvidos.
Ultimamente, seu pai estava bebendo menos. Em compensação, passava mais tempo acordado até tarde, sentado na cadeira com a luz fraca acesa, perdido em pensamentos. Naquela noite, como sempre, Koy ouviu o pai suspirar longamente sentado na cadeira surrada diante da mesa. Koi sentiu uma pontada de nervosismo interior.
Fazia tempo que não via o rosto dele — mas não importava. Quer estivesse bêbado ou sóbrio, bastava olhar para Koy para ficar de mau humor. E o resultado, ele sabia bem, nunca era bom.
‘Então está tudo bem.’
Koy manteve os olhos bem fechados, tentando forçar o sono. A noite se arrastava, longa como o suspiro de seu pai.
—
— Oi.
— Oi.
Koy correu até Ashley, que estava esperando no mesmo lugar de sempre, e ergueu o rosto para cumprimentá-lo. Ashley o envolveu num abraço e o beijou antes de responder ao cumprimento.
Durante o trajeto de carro até a escola, conversaram sobre assuntos cotidianos. Ambos fingiam que a proposta feita por Ashley no dia anterior nunca havia acontecido — mas, no fundo, pensavam exatamente a mesma coisa.
‘Quando Koy vai me dar uma resposta?’
‘Quando devo dar uma resposta a ele?’
Ashley sabia que não era uma decisão fácil. Deixar o lugar onde se viveu a vida toda nunca é simples. Ele próprio tinha seus motivos e circunstâncias favoráveis para fazer isso, mas Koy teria de abandonar tudo o que lhe era familiar e confiar apenas em Ashley. Era uma escolha difícil.
Mesmo assim, Ashley acreditava que Koy acabaria aceitando sua proposta. Era a única maneira de permanecerem juntos — e ele tinha certeza de que Koy sentia o mesmo. Por isso, decidiu não apressá-lo e esperar sua resposta.
— Ei, Ash! Koy!
Assim que saíram do carro, um rapaz do time de hóquei no gelo, que os avistara primeiro, acenou para cumprimentá-los. Depois de falar com Ashley, saudou Koy também e começou a andar ao lado deles. Logo Bill se juntou ao grupo, e, em seguida, outro colega — em poucos segundos, estavam cercados pela mesma turma de sempre.
Enquanto caminhavam, Ashley mantinha o braço apoiado sobre o ombro de Koy. Os colegas perceberam, mas ninguém comentou nada. Koy, alheio, apenas seguia junto com o grupo.
A manhã passou rápido, como de costume. Quando a hora do almoço chegou e todos se reuniram no refeitório, um dos rapazes puxou assunto:
— Receberam algum folheto de universidades?
Outro respondeu:
— Chegaram alguns, sim. Devem vir mais depois.
— Algum de vocês estão com falta de pontos? Meu consultor disse que eu devia aumentar as horas de trabalho voluntário.
— Você devia ter feito isso antes.
— Achei que já tinha o suficiente.
Enquanto ouvia a conversa ao redor, Koy sentiu uma sensação de desconhecimento. Aquilo de “consultoria para ingresso na universidade” era algo completamente fora de sua realidade. Ele não tinha ninguém para orientá-lo — teria de pesquisar as universidades por conta própria, visitar uma a uma e se inscrever sozinho. Por isso, precisava se mover mais cedo, com mais rapidez do que os outros.
— Devia ter feito inscrição antecipada.
— A situação não era ideal? E, bom, ser cauteloso também tem seu lado bom.
— Ash, por que você não fez? Você deve atender a todos os requisitos para o processo antecipado, não? Seu consultor não mencionou? Você fez orientação, certo?
Koy também estava curioso. Já que Ashley disse que visitou universidades no Leste, ele, provavelmente, fez algo nesse sentido, não? Se ele vai para a mesma universidade que o pai, seu caminho já deve estar decidido. Será que ele já se inscreveu?
Todos esperavam em silêncio pela resposta, mas então Bill, sentado ao lado de Koy, soltou um pequeno gemido. Quando Koy olhou, viu que uma folha murcha de alface estava grudada no hambúrguer. O garoto corpulento tentava se livrar da folhinha que insistia em ficar presa no meio da carne, e a cena foi tão cômica que Koy acabou soltando uma risadinha.
“Pfft.”
Ashley virou o rosto na direção dele, e Bill também o olhou, confuso. Envergonhado pelos olhares dos dois, Koy ficou corado e tentou se justificar:
— Não, é que… tinha uma coisa grudada.
— No meu rosto? — perguntou Bill.
Koy balançou a cabeça e apontou para o próprio canto da boca. Vendo isso, Bill pegou o hambúrguer com uma mão e limpou o canto da boca com a outra. Mas isso foi um grande erro. O molho do hambúrguer, que estava na mão que ele usava para tentar tirar a alface, agora estava ainda mais espalhado pelo seu rosto.
Ao ver aquilo, o resto do grupo caiu na gargalhada.
— Cara, o que você tá fazendo?
— Idiota! Seu burro!
Ashley também riu junto, batendo palmas com os outros, mas quando virou a cabeça, o sorriso se congelou por um instante. Diante de seus olhos estava o rosto de Koy — rindo, radiante — enquanto olhava para Bill.
Por um segundo, um pressentimento incômodo atravessou Ashley, e ele percebeu, com desconforto, que estava certo: Koy estendeu a mão e, com o polegar, limpou o canto da boca de Bill.
— Pronto, agora sim.
Koy sorriu de novo. Bill também riu, respondendo com naturalidade:
— Valeu, Koy. Você é mesmo um anjo.
Depois disso, Bill ainda resmungava algo como “Aqueles gorilas inúteis não servem pra nada mesmo…”, mas as palavras dele já não chegavam aos ouvidos de Ashley.
— Ash?
Koy o olhou, estranhando o silêncio repentino, e chamou por ele. Ashley, porém, não respondeu. Ficou completamente imóvel, o olhar fixo em algum ponto indefinido. Confuso, Koy piscou algumas vezes.
— Ash, o que foi?
Chamou novamente, agora com um leve tom de inquietação. Então, de repente, Ashley virou o rosto e o encarou. No instante em que seus olhos se encontraram, Koy se encolheu, assustado com o olhar gélido e ameaçador que recebeu em troca.
— Ei…
Ele tentou dizer alguma coisa, mas Ashley se levantou bruscamente. Não foi só Koy quem se sobressaltou — os outros também arregalaram os olhos, sem entender nada. Antes que alguém pudesse reagir, Ashley agarrou o braço de Koy.
— Vem comigo. Agora.
— Hã? O quê?
Atordoado, Koy se levantou e acabou sendo arrastado para fora. Os garotos ficaram parados, observando em silêncio enquanto ele era puxado por Ashley.
— Ei… o que está acontecendo? — perguntou um deles.
Bill, com expressão confusa, respondeu:
— Não sei, também não entendi.
Ele murmurou, quase para si mesmo:
— Eu só… deixei ele limpar um pouco de molho do meu rosto…
— Mas o Ash gosta do Koy, não é? — comentou outro.
— Pois é. Mas ficar bravo por uma coisinha dessas?
— Ele não é assim, o Ash é super tranquilo…
Todos se entreolharam, perplexos. Nenhum deles conseguia entender o que tinha acabado de acontecer.
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Continua….
Tradução: Ana Luiza
Revisão: Thaís
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Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can