Ler Lamba-me se puder – Capítulo 112 Online

Modo Claro

— …O quê?

Koy não conseguiu compreender de imediato o que Ashley havia dito. O rosto dele se contraiu em confusão, observando sua expressão — um misto de riso e choro —, que também deixou transparecer o desconforto. Aos poucos, Koy começou a aceitar a realidade diante de si.

— O que… o que foi que você disse agora?

Conseguiu abrir a boca, mas as palavras saíram entrecortadas, sem formar uma frase completa. Ashley apenas a ouviu em silêncio. No entanto, esse silêncio tornou tudo ainda mais assustador para Koy.

Ashley se manifestou…

A razão dentro dela tentou lembrá-lo da realidade, para que não se magoasse ainda mais. ‘Eu sou apenas uma beta. Ashley é um alfa, então é diferente de uma beta comum. Deve ter havido alguma razão para isso. Sim, claro, deve ter sido isso. Eu nem entendo direito como os alfas funcionam. E Ashley é um alfa dominante, ainda mais diferente dos alfas comuns. Com certeza… com certeza deve ter havido algo inevitável.

…Mas mesmo assim.

Eu esperei.

Enquanto tentava organizar os pensamentos, o turbilhão de emoções rompeu a barreira da razão. Você disse que me amava. E eu fiquei esperando por você, eu me esforcei tanto, por tanto tempo…

Como pôde estar com outra pessoa enquanto eu te esperava?

Se ao menos tivesse me ligado, ou me contado… se eu soubesse… não, desde o começo…

— Por que você está me contando isso…?

A mágoa que vinha tentando conter escapou, por fim. Koy abaixou a cabeça, as lágrimas brilhando em seus olhos antes de caírem pesadas, uma a uma. Teria sido melhor não saber. Por que Ashley está dizendo algo assim agora?

— Koy.

Ashley chamou seu nome. Koy olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas. Piscou rapidamente, e as lágrimas espessas escorreram por suas bochechas. Através da visão turva, ele viu o rosto pálido de Ashley.

— Não… não é verdade.

Koy apenas ficou ali, olhando, atordoado. Ashley forçou um sorriso cansado.

— Foi uma brincadeira.

Koy piscou de novo, desconfiado, incapaz de distinguir o que era verdade. Não conseguia saber qual era a verdadeira intenção por trás das palavras de Ashley. Ele apagou o sorriso forçado e, com o rosto sério, falou mais uma vez:

— É verdade. Eu nunca fiz nada com outra pessoa. Para mim, só existe você.

Enquanto reafirmava isso, na mente de Ashley voltava a se repetir aquela cena imunda que ele testemunhara inúmeras vezes. Um grande salão, tomado por corpos nus entrelaçados, gemidos e respirações arfantes. O ar carregado de álcool, drogas e suor. Homens e mulheres explorando uns aos outros nas mais diversas posições. Gritos, risadas distorcidas, o som sufocante que preenchia tudo ao redor.

‘Você precisa remover os feromônios.’

Quando a imagem do seu pai lhe sussurrando essas palavras voltou à lembrança, Ashley recobrou a consciência. O ambiente ao redor mergulhou em silêncio. Assim que o ser diante de seus olhos surgiu com nitidez, a ansiedade desapareceu num instante, dando lugar a uma paz profunda.

— Eu te disse, não disse? Eu te amo.

Quando ele repetiu essas palavras, Koy tomou um fôlego trêmulo e começou a chorar novamente.

— Por que você faria uma brincadeira dessas…?

— Me desculpe.

Ashley abraçou Koy com força quando ele começou a chorar.

— A culpa foi minha, não chore.

Ele se desculpou com sinceridade. Sentir as lágrimas de Koy molhando pouco a pouco a sua fina camiseta despertava ao mesmo tempo um sentimento de remorso e alívio.

‘Que bom.’

Um suspiro trêmulo escapou-lhe sem querer. Ainda bem que aguentei até o fim. Se eu tivesse cedido… se eu tivesse traído Koy…

Quanto eu o teria machucado.

Parecia que aqueles meses de tortura estavam sendo recompensados, ainda que parcialmente. Uma alegria e um alívio passageiros vieram visitá-lo, mas foram apenas isso — passageiros.

Por que eu disse isso em primeiro lugar?

Ele não teve escolha senão admitir que havia testado Koy. Se, em vez de ficar tão arrasado, ele tivesse dito que estava tudo bem, como eu teria reagido? Eu teria ficado com raiva, perguntando como ele podia aceitar isso? Ou… teria sentido alívio?

O braço onde vinha continuamente tomando injeções para retirar os feromônios latejava. Ele sabia que havia um jeito mais fácil. Se Koy dissesse que estava tudo bem, eu poderia correr agora mesmo para uma daquelas festas agora mesmo. De tanto que a dor era intensa, de tanto que a tentação era forte.

Mas Ashley havia escolhido inúmeras vezes suportar. Assim como ele resistiu até o fim, passando por inúmeros momentos de agonia nos últimos meses.

Mesmo assim, houve apenas um motivo para contar aquela mentira a Koy:

‘Para, quando eu não aguentasse mais e desabasse, dar a mim mesmo uma desculpa. Koy disse que estava tudo bem, então está tudo bem.’

Mas, em vez disso, Koy chorou — e isso acalmou Ashley.

Que bom.

Ashley pensou novamente. ‘Se Koy tivesse realmente dito isso, eu com certeza teria ficado bravo. No fundo, eu queria confirmar, mesmo fazendo Koy chorar assim, se todo esse sofrimento valeu a pena.’

Ainda bem que eu aguentei.

Ele soltou um suspiro trêmulo e apertou Koy com ainda mais força nos braços. Quando Koy, soluçando, o abraçou de volta com hesitação, o peito de Ashley se apertou.

Ele nunca diria para terminarmos.

Se Koy soubesse o quanto eu lutei para poder encontrá-lo de novo, nunca seria capaz de dizer algo assim. Mas Ashley decidiu não contar nada a ele. Koy, que jamais havia imaginado que um mundo assim pudesse existir, ficaria profundamente chocado — e o que viria depois era impossível de prever.

Ashley sabia. Por mais que tentasse negar, no fundo ele sabia que, na verdade, não era diferente daquelas pessoas que se contorciam naquela festa. Desde o dia em que se manifestou, Ashley havia caído no inferno — e nunca mais escaparia até o dia de sua morte. Bastava um passo, não, meia passada em falso, e seria o fim — jamais haveria retorno. Ele passaria a vida sendo atormentado por aquela tentação. Enquanto Koy não se manifestasse, aquilo continuaria.

‘Será que alguém como eu pode continuar amando Koy?’

Um medo gélido e arrepiante percorreu-lhe o coração.

‘Se Koy descobrir minha verdadeira natureza, ele vai sentir nojo de mim. Ele vai me abandonar. Será que eu conseguiria suportar isso?’

Um calafrio súbito correu-lhe pela espinha, e de repente uma lembrança esquecida voltou com nitidez: o motivo exato pelo qual comecei a temer tanto aquele homem.

Quando era pequeno, havia desobedecido ao pai apenas uma única vez. Apenas para atender ao pedido de “Ashley”.

Me deixa morrer.

Ele não pode ignorar. Mesmo tremendo de medo, ele se lembrava nitidamente da sensação de ter apertado o pescoço de “Ashley” com as próprias mãos. Naturalmente, falhou — e o preço foi terrível.

‘Como ousa colocar as mãos no que é ‘meu’?’

Pior ainda, ele havia tentado eliminar o que pertencia ao pai. Ashley foi trancado por três dias em um quarto sem sequer um filete de luz. Durante todo esse tempo, não fazia ideia do que aconteceu com “Ashley”. Mas, quando o viu novamente, “Ashley” já tinha perdido até mesmo a vontade de morrer.

‘Eu não vou desistir.’

Jamais serei como “Ashley”.

Ele cerrou os dentes e repetiu com raiva e desespero para si mesmo:

‘Eu também sou diferente daquele homem.’

‘Jamais me tornarei assim.’

 

***

 

No caminho para a casa de Koy, dentro do carro de Ashley, os dois pouco conversaram.

Ainda assim, como antigamente, Ashley dirigia com uma das mãos no volante e a outra segurando firme a mão de Koy. Para Koy, isso já bastava.

Ele não fazia ideia do que havia acontecido com Ashley, mas era óbvio que algo nele havia mudado, de alguma forma. Tudo que Koy podia fazer era observar e esperar, até que Ashley estivesse pronto para contar.

Calma. Não fique ansioso.

Tentando se acalmar, Koy ajeitou o modo como segurava sua mão. Nesse instante, Ashley entrelaçou os dedos nos dele, levou a mão até os lábios e depositou um beijo estalado no dorso.

Em seguida, roçou os lábios ali mais uma vez e, ao soltar a mão, lançou-lhe um olhar de lado, sorrindo. Koy também sorriu de volta, esforçando-se para restaurar o clima descontraído de antes, pensando rápido em algo para dizer.

— Ah, então… como foi lá na Costa Leste? Quer dizer… lá deve ter muita gente e ser tudo muito agitado, né? –  Imaginando o Leste que só conhecia pela tv, ele perguntou. Ashley respondeu sem desviar o olhar da estrada:

— Aqui é melhor. O clima, as pessoas… tudo.

A conversa seguia naturalmente. Koy, contente, voltou a perguntar:

— Lá faz muito frio?

— Neva pra caramba.

Ashley sorriu de novo.

— Você nem conseguiria sair de casa se estivesse lá.

— Por causa da neve?

Koy imaginou as ruas da Rússia, onde a neve se acumula quase na altura das pessoas, mas Ashley respondeu de maneira descontraída:

— Não, porque eu não deixaria você sair.

— Como assim?

Koy acabou rindo sem perceber, e Ashley também sorriu. Aos poucos, o clima confortável de antes voltou.

— E lá, como é o dia a dia? Tipo, vocês têm que ficar de manhã na fila para comprar café ou algo assim?

Koy revelou todo o romantismo que tinha sobre a Costa Leste. Ashley pensou um pouco antes de responder:

— Não tem nada de especial.

— Hã?

Dessa vez, ao invés de responder de forma indiferente, ele explicou com seriedade:

— Sério. De manhã comemos bagel… à noite bife… só isso.

— Só comem?

— Bem, se estiverem entediados, buzinam.

— Buzina?

Ashley assentiu com a cabeça:

— As pessoas de lá não tiram a mão da buzina.

Koy achou que ele estava exagerando, mas mesmo assim não conseguiu imaginar a cena. No Oeste, onde viviam, tudo era tranquilo; se o sinal mudava e o carro não saía, quase ninguém buzinava. Era comum esperar, mudar de faixa ou ser pego novamente no semáforo vermelho. Pensando nisso, ela ficou curioso para saber como seria a vida naquele lugar agitado.

— E… seus pais, como estão? Vocês se divertiram?

A pergunta saiu sem pensar, afinal, esse era o motivo da viagem de Ashley, então não parecia estranho. Mas, naquele instante, ela percebeu que a mão de Ashley no volante apertou com força, e a mão que segurava a dele também ficou mais firme.

 

°

°

Continua….

 

Tradução:  Ana Luiza

Revisão:  Thaís

 

 

Ler Lamba-me se puder Yaoi Mangá Online

Em breve será disponibilizado uma sinopse!
Nome alternativo: Kiss Me If You Can

Gostou de ler Lamba-me se puder – Capítulo 112?
Então compartilhe o anime hentai com seus amigos para que todos conheçam o nosso trabalho!