Ler A Tatuagem de Camélia – Capítulo 39 Online
- O Observador Imperial
Com um movimento suave, um leque de penas de pavão dançava na mão delicada de alguém que claramente nunca conhecera o trabalho árduo. O dono vestia seda branca imaculada, um símbolo de posição elevado entre os servos de Deus. Uma figura tão venerada dentro da ordem que apenas pronunciar seu nome inspirava temor.
O servo de Deus, portador da profecia, não era outro senão o Sumo Sacerdote Mikael.
Ele se destacava por seus cabelos e olhos verdes pálidos — uma transformação ocorrida após sua ascensão ao sacerdócio, pois outrora possuía os comuns cabelos e olhos castanhos. Essa mudança era considerada uma bênção divina, um sinal do poder que ele agora carregava.
— Dizem que Shadroch é mais famosa por suas frutas, perfumes e belas mulheres.
À frente de Mikael estava um jovem um tanto frívolo, ou melhor dizendo, um rapaz recém-ingresso na vida adulta. Era o mais novo dos cinco filhos do atual Imperador, o Príncipe de Asgarden, Loki Asgarden.
Seu rosto cativante, com olhos amendoados e cabelos cacheados, reforçava uma imagem encantadora. No entanto, Loki adorava bancar o dignitário, impondo a seus servos o dever de suportar suas frequentes “encenações”.
Esses dois homens seguiam agora para o Norte em uma missão importante.
Dado o clima gélido e a presença constante de monstros naquela região, não era um destino habitual para um príncipe de tão alta linhagem. Por isso, Loki poderia ser considerado o mais distante do trono na linha de sucessão. Apesar de negar com veemência.
— Estou ansioso para ver o quão linda é a princesa de Shadroch. — Declarou Loki com um sorriso lascivo.
— É mesmo?
— Com certeza Deus não daria uma missão dessas a uma mulher feia, certo?
— Deus não julga seus servos pela aparência…
A grosseria de Loki era típica de rapazes de sua idade. Mikael, quinze anos mais velho, interrompeu a frase, mantendo um sorriso diplomático.
A família imperial e a igreja mantinham uma relação harmoniosa. Não havia necessidade de provocar conflitos.
— Ah, queria que chegássemos logo. Estou morrendo de tédio. Nem mesmo posso treinar esgrima.
Loki bocejou e se largou no sofá. No peito, balançava um pingente em forma de gota, brilhando em um tom rubi — não era um colar qualquer, mas um artefato mágico.
A magia, sendo oposta ao poder divino, havia praticamente desaparecido do Império de Asgarden à medida que a influência da igreja se fortalecia. No entanto, algumas relíquias dessa Era da Magia ainda resistiam, como o artefato de verificação de linhagem.
Mikael lançou um olhar reprovador ao objeto antes de abrir a Sagrada Escritura. Ainda faltava uma semana para chegarem ao coração de Niflheim.
Niflheim estava em plena agitação.
Afinal, um membro da família imperial faria uma visita — e não qualquer um, mas um príncipe! Ainda que fosse o mais jovem, e não o próprio imperador, Amber tratou de cuidar de cada detalhe da recepção, garantindo que tudo estivesse impecável.
Grande parte do orçamento estava destinada à reconstrução das aldeias do Norte, sobrando pouco para luxos, mas o bom gosto de Amber e a habilidade das criadas compensaram a falta de recursos. Além disso, as camélias da Montanha Camélia ainda estavam em plena floração.
Amber decidiu colocar uma árvore como decoração no salão do banquete. Talvez não fosse tão exuberante quanto os arranjos de Shadroch ou do palácio imperial, mas as camélias acrescentariam um toque de elegância.
— Isso, amarre uma fita branca ali. Entrelaçando nas flores.
— Desse jeito?
— Isso mesmo. Você é muito habilidosa.
O processo de decoração permitiu que Amber se aproximasse das criadas. Ela até memorizou os nomes das que mais se destacavam.
Não se sabia por quanto tempo o príncipe ficaria, mas, se fossem meses, seria necessário formar uma “equipe de decoração” dedicada — Amber não conseguiria supervisionar tudo sozinha.
— E a cozinha, como está?
— Todos os ingredientes já foram estocados. As tortas e outras massas estão descansando.
— Ótimo. Só mais um pouquinho de esforço, Betty.
Mas os preparativos para o banquete eram apenas parte do desafio.
O príncipe viria acompanhado de sua comitiva de cavaleiros — esses também precisam ser alimentados. No entanto, o verdadeiro problema, não eram eles, pois pratos de carne bastariam. O problema eram os sacerdotes.
Os sacerdotes vegetarianos de Asgarden representavam um verdadeiro desafio.
Se fosse em Shadroch, não haveria problema… mas é Niflheim, onde encontrariam frutas e verduras em abundância?
Amber suspirou, massageando a testa. Felizmente, tudo estava se encaminhando.
— Nunca precisei fazer isso na minha vida passada… — murmurou, deixando o salão e sentindo a cabeça latejar.
Nesse momento, uma mãozinha puxou suavemente a barra de seu vestido. Surpresa, ela se virou e encontrou um garotinho que parecia ter algo importante a dizer.
— Jason, o que foi?
Ela se agachou para ficar à altura dele. Hesitante, puxou algo de trás das costas e mostrou.
— Isto!
— Isso? É pão. Por que não comeu?
— Dar, faz feliz.
A fala simples bastou para que Amber entendesse: ele trouxera o pão porque achou que ela parecia triste.
— Você trouxe porque achou que eu estava triste? Mas você queria comer, não é? — perguntou Amber, com um leve sorriso.
Jason assentiu vigorosamente. Desde que foi levado ao castelo, o menino a seguia como um pintinho atrás da mãe. Alimentá-lo bem havia melhorado visivelmente, estava mais saudável e um pouco mais infantil no jeito.
— Comer deixa feliz.
— É verdade. Mas e se a gente dividir? Assim os dois ficam felizes.
— … Não. Tem que comer tudo para ficar feliz.
Jason ainda não falava com formalidade. Amber não queria forçá-lo, nem permitir que outros exigissem isso dele. Afinal, que importância tinham as formalidades para uma criança? Criança devia ser criança.
Segurando o pão, Amber acariciou com carinho os cabelos do menino.
— É verdade que ficamos felizes quando comemos. Mas compartilhar também alegra o coração.
— Alegra?
— Se nós dois comermos metade, os dois vão ficar alegres porque aproveitamos juntos.
— Hmm…
Jason ainda parecia confuso com a ideia. Em silêncio, Amber partiu o pão ao meio e lhe entregou uma parte. Ele aceitou depressa — afinal, também queria comer. Era adoravelmente inocente.
No entanto, havia um detalhe que chamou a atenção de Amber.
— Jason… a cozinha te deu este pão?
— Hum…
— Você pegou sem pedir?
— Tem muito. Quando tem muito, pegar um não faz mal.
E aí estava o problema. O hábito de roubar para sobreviver ainda estava enraizado nele.
‘Esse pão não foi servido no café da manhã… é do tipo preparado especialmente para os convidados. É estranho ele estar com isso.’
Mesmo com boas intenções, era preciso corrigir o método.
Amber levou Jason para o jardim, explicando com calma a diferença entre certo e errado. Não sabia o quanto ele realmente entendia, mas, pelo menos diante dela, Jason mostrava respeito e atenção. Com tempo e conversas, ela acreditava que ele aprenderia.
— E eu pensando onde você estava… Está aqui com a Ervilhinha.
A voz veio de trás, seguida por seus braços envolvendo sua cintura. Era Igmeyer.
Amber já estava acostumada com suas aparições silenciosas, mas Jason pulou de susto.
— Aff, idiota, para com isso!
— Olha só… até sabe xingar. Pequeno.
— Não sou pequeno. Sou grande.
— Claro, claro. Grande assim, Ervilhinha.
Igmeyer provocou sorrindo, e Jason olhou para ele com indignação. Era uma cena quase cômica.
— Vai lá, garoto. É hora do seu lanche. Anda.
Jason hesitou, mas quando viu ao longe a criada responsável por ele, acabou indo. Este era o horário de sua torta de maçã favorita.
— Você tem se ocupado cuidando dele. E ainda tem tantas outras coisas para fazer.
— Não, Igmeyer. Gosto de estar com Jason.
Para Amber, a presença do menino não era fardo algum. Sua cautela e esforços para agradá-la a comoviam profundamente. Ela desejava que ele se sentisse mais à vontade, mas Jason ainda agia como uma criança com medo de ser abandonada.
— Deixando isso de lado… parece que os preparativos para o banquete estão quase prontos.
— Viu o salão?
— As camélias estão lindas. Me lembraram de você.
Igmeyer beijou sua bochecha.
Pelo leve cheiro de ferro e fogo nele, Amber percebeu que ele estava na forja secreta nas montanhas.
— Os ferreiros continuam trabalhando hoje?
— Sim. Como o pessoal do império está chegando, estão correndo para terminar antes que tenhamos que parar tudo.
A vinda do príncipe mais novo, acompanhado por um sacerdote que recebera uma profecia sobre eles, era significativa.
Desde o momento em que chegassem até partirem, vão vasculhar e investigar e entenderiam tudo sobre o Norte.
A forja secreta podia estar bem escondida, mas os homens do imperador eram astutos — alguns tinham sentidos tão apurados quanto os de animais, capazes de sentir no ar o cheiro do metal vindo das montanhas. O melhor era interromper as atividades.
— Gente qualificada demais para um simples jogo de intrigas, não acha? — ele ironizou.
Amber afagou sua cabeça, como fizera com Jason. Ele resmungou, apoiando a testa em seu ombro.
— Talvez eu devesse “acidentalmente” matá-los. Podíamos pedir para Jason prever onde abriria um portal e levá-los até lá.
— Igmeyer…
— Se o príncipe e o sacerdote morrerem, a profecia acaba, não?
Embora absurda, a sugestão não a irritou — ela compartilhava do mesmo desprezo.
— Eles não vão embora até terem certeza de que estou grávida, Igmeyer.
Por mais que tentassem ignorar, a realidade era inescapável. Querendo ou não, aquele destino era impossível de evitar.
— Querem garantir que o seu garanhão cumpra bem o seu papel.
Por trás do tom sarcástico, havia feridas profundas. Amber compartilhava das mesmas. Uma criança deveria ser uma bênção, não fruto de imposição.
‘E se eu engravidar, eles não sabem o que acontecerá.’
Quando Niflheim esteve à beira do colapso, o que a família imperial fez? Ajudou minimamente, e logo depois retirou todas as tropas para proteger a capital e a fronteira. O destino de Niflheim não lhes importava, sua ordem era simples: impedir que qualquer um chegasse à capital.
‘Eu odeio isso. É repugnante.’
Apoiando-se no calor de Igmeyer, Amber acalmou o orgulho ferido. Assim como ele não era apenas um “garanhão”, ela não era uma “égua” para procriar sob ordens.
— Vamos fingir que foi acidente e acabar com eles. Podemos estar sem armas para uma guerra, mas eu dou um jeito. Se não, sempre podemos despertar Nidhogg para atacar a capital.
Era uma ideia terrível, mas, de algum modo, reconfortante.
Confiar nele fez Amber sentir que nunca mais seria machucada… e isso a fez sorrir.
— Loki Asgarden… aquele garoto não é grande coisa. Trate-o com naturalidade.
— Já o conhece?
— Só de passagem. Vi que era tímido até para falar diante dos irmãos. Aposto que vir aqui nem foi escolha dele.
— Entendo…
Ser parte da família imperial sem estar na linha de sucessão tinha suas próprias amarras. Na juventude, eram apenas irmãos, mas diante da autoridade absoluta do imperador, esses laços se desgastavam.
Amber, por sua vez, desde cedo nunca duvidou que seu irmão mais velho herdaria o trono.
Em um reino pequeno, o rei era mais um diplomata do que um governante onipotente. Ela agradecia por não ter de assumir tal fardo.
Visto de perto, o doce sabor do poder vinha sempre acompanhado do amargor da responsabilidade.
— Ainda assim, não seja boa demais com ele. Jason pode ser meu meio-irmão, o que é inevitável, mas o príncipe é diferente. Ele é como um gatinho selvagem — nem de longe tão adorável quanto uma raposa.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet
Ler A Tatuagem de Camélia Yaoi Mangá Online
Amber, era uma princesa tão linda quanto uma fada.
Seu marido, que viveu como mercenário, era muito diferente dela em todos os sentidos.
Devido a um casamento forçado, Amber caiu em desespero. Ao longo dos anos de seu casamento, se ressentia veementemente de tudo sobre seu marido.
No entanto, quando ele encontrou seu fim tentando protegê-la e ao filho que ela estava esperando, Amber foi tomada pelo arrependimento e desejou voltar no tempo…
O ponto de partida da regressão foi a noite de núpcias.
— Você não olhou para mim nem uma vez durante o banquete do casamento, pensei que estivesse chateada por se tornar esposa de um homem humilde.
Ela já era como cinzas queimadas, mas ele parecia um espírito de fogo dançando sobre as ruínas.
O abraço dele era forte demais para suportar, então Amber desviou finalmente o olhar.
🌸🌸🌸
‘Foi só após te conhecer que percebi que havia um vazio dentro de mim. E então fiquei feliz, sabendo que você vai completar esse vazio.
Mas conforme essa parte em mim era preenchida, fui ficando mais ganancioso.
Ah, se eu fosse um pouco mais perverso, eu teria devorado você inteira.
Ps: Meu outro maridinho