Ler Lamba-me se puder – Capítulo 96 Online

A velocidade dos boatos era tamanha que, em muitos casos, as pessoas ouviam primeiro que Ashley havia sido rejeitado antes mesmo do rumor de que ele tinha se declarado e beijado Koy. Graças a isso, a escola inteira fervilhava em comentários sobre ele.

— Foi rejeitado de novo? O Ashley Miller?

— Será que não é outro Miller?

— Primeiro levou um fora da Al, e agora em seguida? Impossível.

— Dizem que ele pediu um garoto em namoro. Claro que foi recusado.

— Deve ter ficado abalado depois de terminar com a Al.

— Que decepcionante.

— É, ele tinha uma imagem tão “cool”…

— Estou desapontado.

Ashley e os rapazes do time de hóquei observaram em silêncio as garotas que se afastavam, cochichando. Quem falou primeiro foi Bill.

— Ash, você não acha que devia explicar alguma coisa sobre essa situação?

Os olhares se voltaram para Ashley. Ele forçou um sorriso torto, com uma expressão constrangida.

— Eu me confessei e fui rejeitado. É só isso.

Os rapazes se entreolharam. Até que um deles não aguentou e disparou:

— Não, mas… por que você foi se declarar justo pro Koy?

—E, como pode dois garotos…?

Como a maioria, eles também não conseguiam aceitar a ideia de que dois meninos, sem serem alfa ou ômega, pudessem gostar um do outro. Talvez fosse ainda mais difícil para eles porque se tratava de Ashley Miller. Se lembrasse da reação inicial de Koy, perceberia que aquilo era, de fato, a resposta mais comum. O que fazia Ashley lidar melhor com seus sentimentos era a diferença do ambiente em que crescera.

‘Se os pais deles não fossem betas, mas de outra característica, será que também pensariam diferente…?’

A dúvida surgiu, mas Ashley a apagou logo em seguida.

— Aconteceu. Não dá pra controlar quem a gente gosta.

— É, isso é verdade.

Bill concordou e ficou um tempo mergulhado em pensamentos junto com os outros, mas logo abriu um sorriso e disse no tom de sempre:

— Bem, pra gente tanto faz, não importa quem você gosta.

— Isso mesmo. Você continua sendo meu amigo.

— O meu também.

— O meu também.

A união do time se mostrou mais uma vez. Ashley sorriu, grato pelos amigos.

— Obrigado.

— Que isso, não foi nada.

Um dos rapazes coçou o nariz, todo convencido, mas logo fez uma careta.

— Mas… por que será que o Koy reagiu assim?

Outro respondeu:

— Boa pergunta. Por que ele te rejeitou? Tudo bem que não é comum dois betas do mesmo sexo ficarem juntos, mas também não é impossível.

— Ainda mais no seu caso, tenho certeza de que teriam muitos caras que topariam, mesmo sendo homens.

— Verdade, sendo o Ash, qualquer um aceitaria.

Eles balançavam a cabeça em concordância, enquanto Ashley sorria de canto. Era uma pena ter que mentir até para eles, mas não havia escolha. Era para proteger Koy.

‘Vou compensá-los convidando todos para o nosso casamento.’

Decidiu-se, e respondeu com naturalidade:

— O Koy não consegue entender a ideia de dois caras se gostando e namorando.

— O quê?

— Sério?

— Nunca pensei que ele fosse tão mente fechada.

A reação foi ruidosa. Para eles, era inconcebível que o ídolo do time de hóquei, Ashley Miller, tivesse sido rejeitado duas vezes seguidas. Ashley apenas comentou com tranquilidade:

— Acho que foi falta de esforço da minha parte.

Os amigos pararam de criticar Koy e o encararam. Ashley ajeitou a mochila e continuou:

— Se eu me esforçar mais, tudo pode dar certo. Então não tem problema.

A calma dele deixou todos confusos. Sem saber se aquilo era mesmo sincero, ficaram apenas trocando olhares incertos. Ashley, no entanto, falou primeiro:

— Vou indo. Tenho aula agora.

— A-ah, tá.

— Até mais.

— Vai lá.

Eles o observaram caminhar até que ele sumiu de vista. Só então relaxaram os ombros e começaram a soltar comentários em voz baixa.

— Como ele foi se meter nisso…?

— “Nisso” como? Você quer dizer “nisso” o Koy ? Ou que gostar de garoto é o “nisso”?

— Os dois, ué.

Os outros concordaram.

— Na verdade, também deve ter sido um choque pro Koy.

— Claro, ele devia achar que eram só amigos, aí o Ash chega dizendo que gosta dele…

— Mas já dava pra perceber que o Ash tinha um interesse nele. Lembra, quando disse que ele era fofo?

— Peraí, não foi a gente que falou isso? Ele mesmo nunca disse, né?

— Bom, a gente aumentou bastante aquela história, mas…

Aos poucos, todos chegaram à mesma conclusão.

Será que ele já gostava dele desde aquela época…?

O silêncio caiu, até que alguém murmurou com um suspiro:

— Ainda não consigo acreditar que o Ash gosta de garotos.

Outro respondeu:

— Deve ter sido o choque do término com a Al.

— Então a gente devia ajudar os dois a voltarem?

A ideia foi logo rebatida:

— Ei, a opinião da Al também importa. Não se deve se meter no namoro dos outros.

Falou com firmeza quem crescera com um pai obcecado pela mãe — e sabia bem o peso disso. Os outros concordaram, convencidos.

— Ainda assim, temos que ficar do lado do Ash.

— Isso, ele é nosso amigo.

— E quem vai ficar do lado do Koy, então?

Diante do questionamento de alguém, todos hesitaram por um instante, até que um deles apresentou uma solução:

— O Koy já deixou clara a decisão dele, então só precisamos respeitar isso. Nós só vamos apoiar o Ash, não importa o que ele faça.

— É, desde que não seja nada criminoso.

— Qual é, não é como se ele fosse sequestrar ou prender o Koy em algum lugar.

Com a fala, todos caíram na gargalhada. Se fosse outra pessoa, até poderiam duvidar, mas se tratando de Ashley Miller, era óbvio que algo assim jamais aconteceria.

***

— Uhm…

Um gemido escapou dos lábios de Koy, que apertou os olhos. Ashley inclinou a cabeça e o beijou do outro lado. O novo beijo deixou Koy tonto, incapaz de pensar em mais nada.

Entre as aulas, aproveitavam cada brecha para se esconder e trocar beijos e carícias rápidas. Era sempre pouco, deixando-os ainda mais sedentos. Então, quando um professor faltou, Ashley mandou uma mensagem. Koy, evitando os olhares alheios, foi até a parte de trás de um prédio deserto, mal chegou e Ashley o puxou para um beijo ardente.

— Haa…

Quando os lábios se separaram, Koy suspirou, apoiando a cabeça no peito dele. Só conseguia se manter de pé encostado em Ashley. As mãos dele apertavam-lhe as nádegas sem parar, mas Koy já estava acostumado.

‘Então, beijar significa também tocar aqui…?’

Foi tudo que conseguiu pensar. ‘Será que devo fazer o mesmo com ele…? O pensamento lhe passou pela cabeça, mas não teve coragem de agir. Ainda precisava de mais tempo para chegar a esse ponto. Então ficou ali, parado, deixando-se ser explorado pelas mãos de Ashley. Havia outra coisa que o preocupava mais.

— O pessoal passou o dia inteiro falando de você…

A voz de Koy saiu sonolenta. Ashley reagiu sem se importar:

— É mesmo?

No momento não estava preocupado com os rumores, tudo o que lhe importava era como poderia aproveitar ainda mais o corpo de Koy em seus braços. Inclinou-se novamente para voltar a beijá-lo, mas Koy desviou o rosto, murmurando:

— Não te incomoda? Eles falam sem parar…

— Não, na verdade eu nem tô pensando nisso.

Os olhos de Ashley estavam fixos apenas nos lábios dele. ‘E se eu colocar a mão por dentro…? A calça dele está larga, acho que dá…’

Koy percebeu o olhar e murmurou, sem jeito:

— Eu sei que fui eu quem disse que poderíamos fazer isso, mas mesmo assim…

Ao vê-lo fingindo estar bem só para não preocupá-lo, o coração de Koy se apertou. Talvez ele realmente não se importasse com os comentários dos outros. Mas, para Koy, aquilo doía.

— Você é tão maravilhoso e incrível, Ash. Mas ouvir eles falando assim de você me deixa com raiva.

Ashley quis gritar: ‘Não, você é que é incrível, Koy. Você aguenta até os boatos por minha causa. Que namorado faria isso?’ Koy, mordia os lábios de frustração quando Ashley sorriu e disse:

— Não importa. Basta que você saiba quem eu sou.

Koy levantou os olhos devagar, hesitante. Ashley aproveitou e roubou mais um beijo, sorrindo.

— Se eu for alguém incrível só para você, já estou satisfeito.

E era verdade. Para Koy, não existia ninguém mais incrível do que Ashley. E nunca existiria. O peito transbordava de emoção quando conseguiu abrir a boca para falar. Ainda assim, reunir coragem para deixar escapar pela língua as palavras que lhe queimavam a garganta não foi nada fácil.

Com o coração acelerado, Koy reuniu coragem e deixou escapar:

— Eu gosto de você, Ash.

A confissão saiu tímida e cheia de vergonha, mas de forma sincera. Ashley sorriu… e, sem hesitar, deslizou a mão para dentro da calça dele, apertando-lhe a bunda com firmeza.

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Continua….

Tradução:  Ana Luiza

Revisão:  Thaís