Ler Caminhando sobre às águas – Capítulo 47 Online

Com a afirmação de Ben, Derek disse com orgulho.

— Aposto um centavo.

Vendo Ben furioso, Ash franziu a testa.

— Por que você está tão interessado nisso? Você parece preocupado? Olhando de perto, acho que você parece gay.

— Ash, não faça isso. Você sabe que quando estamos fora da empresa, você perde o senso de hierarquia e ele se torna violento.

Com a observação desafiadora de Ben, Ash caiu na gargalhada.

— Mas havia alguns deles quando eu estava na escola. Bem, eu sou caridoso e um bom cidadão, então não os incomodava, mas os outros os atacavam abertamente. Sinceramente… isso é um pouco lamentável, e é desagradável falar de coisas como essa, não acha? Porque ver aquele cara tremendo como um saco de areia humano, me fazia sentir mal por ele, ele me tratava bem.

— Está certo. É verdade que gostar do mesmo sexo é uma escolha, porém, é realmente nojento ver gays flertando, então eu simplesmente não pude assistir. Edd, você não se lembra? Havia um cara assim na escola onde estudávamos. Lembra do Brooks? O garoto magrinho. Você conhece! O cara que levantava o dedo mindinho toda vez que bebia água.

— …Eu conheço?

Derek, que me olhou desconfiado devido a minha resposta lenta, virou a cabeça novamente.

Minha cabeça latejava e todo o meu corpo parecia entorpecido. O simples fato de Glenn McQueen estar por perto ouvindo tudo aquilo, fez meu dia ruim chegar ao limite. O fato da distância entre as mesas ser tão curta era insuportavelmente desconfortável.

Na realidade, meus colegas não odeiam gays como McQueen. No entanto, eles fingem ser e zombam deles para obterem prazer da risada. Esvaziei alguns copos de cerveja enquanto via meus colegas rindo estranhamente depois de começar a falar sobre homossexuais. Ben e Derek riam enquanto imitavam trejeitos espalhafatosos, e Ash, concordava silenciosamente com a atitude dos dois. Todos ostentam sua superioridade como belos homens heterossexuais. Os meus amigos infantis.

Bêbados, eles levantaram um pouco mais a voz. ‘Merda, por que vocês estão falando sobre isso agora’? McQueen estava esvaziando seu copo enquanto folheava a pasta grossa, ele abaixou a cabeça e olhou para a borda da mesa descascada.

— E você, Derek… Como está a sua namorada?

— Quê?

— Hum.… Você gosta dela?

— O quê, por que isso de repente?

Ao invés de calar a boca, tentei mudar de tópico trazendo a namorada de Derek para a conversa. Parecia que não seria suficiente falar apenas sobre gays a noite toda, então o assunto rapidamente mudou para histórias obscenas, apesar da mudança repentina de assunto, toda vez que a namorada de Ash vinha servir na área de fumantes, Ash gritava fazendo Derek calar a boca.

Coloquei um cigarro na boca e peguei o isqueiro, mas relutei e não acendi. Por fim, quando Derek pegou o isqueiro e acendeu a ponta do cigarro, McQueen enfiou a pasta aberta que estava sobre a mesa dentro da bolsa.

Depois de derramar um pouco da bebida no copo e tomá-la às pressas, ele rapidamente se levantou da cadeira. A garrafa de Whisky estava quase vazia. Ele cambaleou, pegou a bolsa e logo lançou seu olhar para mim, que parecia um sorriso sombrio mergulhado em melancolia vazia.

Depois que ele saiu do bar, eu silenciosamente observei a garçonete caminhar até a mesa para apagar seus rastros. Meu coração doeu insuportavelmente, então mordi meus lábios com força.

— Eu vou sair primeiro.

Peguei minha bolsa e corri para fora do bar, ignorando as palavras dos meus colegas que me chamavam por trás. Olhei em volta, mas não consegui ver McQueen. “Onde está? Para onde você foi?” Enquanto vagava pela estrada, murmurando ansiosamente, me lembrei para onde deveria ir. O escritório de Glenn McQueen não ficava longe daqui.

Isso é estupido!

Correndo como se precisasse de ajuda, em passos cambaleantes, segui na direção em que ele supostamente teria desaparecido.

Depois de um tempo, as costas de McQueen foram vistas. Se misturando na multidão, ele estava andando ereto como se pisasse firmemente no chão, em vez dos passos cambaleantes que deu ao sair do bar. Logo, corri até ele, coloquei a mão em seu ombro e o puxei com força.

Não havia surpresa no rosto de McQueen quando ele olhou para trás. Ele olhou para mim sem dizer uma palavra enquanto mordia um cigarro, e não me incitou a dar uma razão ou apenas pedir suas desculpas.

De repente, percebi que estava segurando seu braço com muita força, respirei fundo e coloquei a mão no ombro de McQueen.

— Eu… Não era como se eu estivesse zombando dos gays lá ou algo assim.

Diante dessas palavras, Glenn McQueen olhou para mim e sorriu. Ele disse, tirando o cigarro aceso dos lábios com a mão.

— Não sei por que você está se desculpando.

Seu sorriso era frio, ofuscando minhas desculpas.

— Há pouco tempo meus colegas disseram coisas grosseiras, mas todos estavam bêbados…

— Eu escutei, não pude evitar porque as mesas estavam perto, mas não me importei. É uma reação clássica de hétero. Honestamente, sou gay, mas vocês não.

— …

— Mas se desculpar por algo indesculpável… é simplesmente patético.

Ele murmurou em um tom sereno, então levou o cigarro aos lábios novamente, deu um longo trago e sacudiu as cinzas no ar. Olhou para o relógio em seu pulso como se estivesse incomodado e logo olhou para mim como se quisesse dizer algo. Foi como se minhas palavras não tivessem nenhum efeito sobre ele.

Hoje ele parecia não estar bem. Parecia não conseguir esconder seu estado de humor sob as coisas que o estimulam. Mas, como ele disse, a raiz de seus problemas não sou eu e meus amigos. O que me fez sentir mal e com raiva.

A causa da raiva que ele não expressa é provavelmente para a pessoa a quem esperou por cerca de duas horas, que sequer atendeu o telefone, não entrou em contato ou veio encontrá-lo. Eu seria apenas uma migalha da raiva que o homem sente.

De repente, essa situação se tornou tão ridícula que uma risada maliciosa surgiu no fundo da minha garganta. Eu queria muito ser a pessoa que o aborreceu.

Eu realmente quero chegar a esse extremo e ser alguém que possa machucá-lo? Mordi meus lábios porque pensei que fosse rir, como se eu apenas quisesse ser rebelde. Então, contra o que exatamente seria essa rebelião? É uma rebelião contra McQueen, que me trata com uma gentileza artificial e com uma bondade sem calor? Eu queria dar um soco e gritar com ele.

— …Eu posso fazer isso.

McQueen franziu as sobrancelhas e tragou o cigarro novamente até que suas bochechas ficarem côncavas. Movendo o cigarro com os dedos ele abaixou o olhar e logo me encarou, como se perguntasse do que eu estava falando.

— Juntos… Você quer dormir comigo?

A voz rachada não parecia pertencer a mim. Não, eu não tenho certeza se realmente quis dizer. Olhando um para o outro, envergonhado, consegui sorrir para o rosto de McQueen. Mas ele pressionou o cigarro com os lábios. Seus olhos se apertaram fortemente.

McQueen olhou para mim com um olhar feroz. Não perguntei o que estava pensando sobre meu capricho que ia além do desenvolvimento inicial e posterior. Em vez de me questionar, ele olhou para mim com um olhar afiado, como se me examinasse, como se desenterrando os grãos um por um para encontrar o que havia por dentro.

Ele deu um último trago, lentamente, e pressionou o cigarro contra a parede para apagá-lo. Ainda olhou para mim, soltou a fumaça por um longo tempo. Uma fumaça cinza se espalhou por meu rosto fazendo meus olhos arderem.

— Eu realmente não estou no clima.

Cobri meu rosto corado com as costas da mão e franzi os lábios. O olhar feroz tornou-se brando. Só quando ele olhou para mim com um novo interesse nos olhos, percebi que havia falado muito.

— Então…

Adeus. Devo abaixar minha cabeça, me virar e correr para minha realidade? Olhei para ele, limpando meu rosto vermelho e desgrenhado com a palma da mão, mas McQueen não mostrou nenhum sinal de mudança.

— Além disso, tenho que filmar na segunda-feira, então estou me abstendo de sexo.

McQueen olhou para a bituca de cigarro em sua mão.

— Na verdade, estou com um péssimo humor hoje, então não tem como… Acho que não vou ser capaz de me conter e posso ser bruto.

— …

— Bom, isso e, se vou ser persuadido pelas palavras de um cara heterossexual… — Seus lábios se inclinaram e seus olhos se voltaram para mim novamente, mostrando-me um sorriso estranho, mas que logo desapareceu. Talvez por se arrepender de ter dito essas palavras, ele fez uma cara como se tivesse engolido cinzas amargas. — Me desculpe.

Sorrindo amargamente com um rosto confuso, ele continuou.

— Eu fui rude, mas não é por causa dos seus amigos. Ed. — Deu de ombros e acrescentou. — A conversa dos seus amigos não me incomodou.

Suas palavras sinceras me fizeram sentir um pouco desanimado.

— A pessoa que estava esperando… Deve ser um amante.

Foi vergonhoso. A garganta que vomitou tais palavras estava quente como se tivesse sido inflamada por uma bola de fogo. McQueen olhou para mim como se não entendesse o que eu estava dizendo e, depois de um tempo, sorriu.

— O quê? Não é um amante, é mais como o objeto de uma paixão unilateral.

O cinismo do homem estava misturado com um tanto de auto depreciação. Depois de jogar a bituca que segurava em uma lata de lixo próxima e esfregar as mãos, ele se aproximou de mim com um rosto inexpressivo.

— Vamos lá.

Ele me agarrou pelo ombro e me puxou para perto. Aquela era a direção do edifício de McQueen. Olhei para ele sem expressão. As pernas que estavam fincadas no chão perderam força. Que cara eu fiz quando pedi para dormir com ele? Devo ter tagarelado tanto por causa da febre, mas afundei como se ele tivesse jogado água fria em mim.

Para McQueen, se sexo é um esporte adequado para afastar o estresse, não preciso ser uma ferramenta para aliviar a raiva de um homem. Engoli a saliva e tirei a mão do homem do ombro.

— O que eu disse ali foi apenas o calor do momento.

Seria bom dar uma desculpa rapidamente, mas não havia nada plausível no que enfatizei. Assim como o consentimento foi leve, McQueen sorriu meio sem jeito e encolheu os ombros.

— OK.

Segurei a alça da bolsa que estava pendurada no meu ombro e o observei desistir imediatamente.

— Bem, então, até a próxima.

Eu balancei a cabeça para ele e me virei. A saudação de McQueen foi ouvida, mas não olhei para trás. Com um sorriso amargo, coloquei força na ponta dos pés e caminhei em direção ao metrô para ir para casa. Não queria voltar para o bar no Noho, onde meus colegas tagarelavam aos berros. Minha cabeça doía e minhas mãos e pés estavam dormentes, fiquei sem fôlego como se estivesse subindo uma estrada íngreme. De repente, me perguntei se McQueen também estava voltando para casa, então virei a cabeça na direção em que ele tinha desaparecido.

Ele parou sob um letreiro de néon vermelho em frente a um fliperama barulhento lotado de pessoas. A distância entre ele e a multidão parecia ter sido reduzida a menos de um palmo. Ele estava com a cabeça baixa e parecia estar olhando para o chão.

Ele ficou lá, parado por um tempo. Erguendo a cabeça novamente, puxou algo para fora do bolso da calça. Não parecia ser um maço de cigarros.

Droga! pressionei minha têmpora latejante. Como a maré impotente em direção ao mar pela atração gravitacional da lua, eu também não tive escolha a não ser me mover rapidamente.

Quando me aproximei dele, Glenn McQueen estava sorrindo, sacudindo os ombros, com o celular no ouvido.

— Sim, hoje… Ok. Tome um banho e me espere…

Puxei a mão quente do homem e desliguei a chamada que ele estava fazendo.

Ele não me olhou tão ferozmente como antes. Não perguntou por que, e não olhou para mim com olhos de questionamentos. Os olhos embriagados de Glenn McQueen estavam um pouco úmidos e o cheiro do seu hálito na ponta do meu nariz era um pouco amargo. Desviei meu olhar de McQueen e empurrei suas costas.

— Vamos lá.

Continua…