Ler Caminhando sobre às águas – Capítulo 44 Online

Modo Claro

O cenário ao nosso redor começou a mudar quando saímos de Manhattan e seguimos pela Express way 87 em direção ao Bronx. As altas torres da cidade foram ficando para trás, e a visão noturna, iluminada pela luz da cidade, mudou de cor aos poucos. McQueen estava olhando para a escuridão sombria do cais que substituiu as luzes brilhantes da cidade.

 

Quando olhei na direção em que ele estava olhando, o distrito costeiro alinhado com cais e armazéns se estendia ao longo da margem do rio. Senti a sensação que os resquícios de uma festa barulhenta haviam ficado para trás. Junto à margem do rio transbordando de água, havia uma escuridão característica, confusa e desoladora, que tinha perdido a vitalidade do dia. Ocasionalmente, eu olhava para McQueen enquanto dirigia pela rodovia. Era por volta da meia-noite, após um longo dia de trabalho, então quase não havia outros carros.

 

Um suspiro calmo escapou de sua boca. O leve cheiro de álcool em seu hálito flutuou pelo carro. Olhei para seu perfil e estendi a mão para ligar o rádio. Uma alegre canção folclórica tocava no rádio.

 

— Posso fumar?

 

Ele perguntou, remexendo nos bolsos da frente enquanto abaixava um pouco o volume do rádio. Assenti com a cabeça. Ele sussurrou, puxou um cigarro e o levou aos lábios. Olhando pelo espelho retrovisor pude ver ele pegar o isqueiro e erguer a cabeça.

 

— Você quer?

 

— …Sim.

 

Sua mão parou quando estava prestes a pegar outro cigarro. Ele tirou um maço de cigarros do bolso da frente e olhou para dentro, então sorriu e colocou o maço de volta no bolso. Ele acendeu o cigarro com o isqueiro e deu um longo trago, depois abriu a janela e soltou uma fumaça. Deu outra tragada no cigarro e exalou a fumaça com um suspiro, e logo depois levou o cigarro aos meus lábios.

 

— É o último.

 

— Ah… Estou bem…

 

— Não. Algumas tragadas foram o suficiente para mim. O gosto residual que fica é amargo. Eu só… só precisava dar uma bela tragada.

 

Baixei meu olhar e olhei para a mão de Glenn tocando o canto dos meus lábios e para a fumaça ardente que saia da ponta do cigarro. Compartilhar um cigarro não significa nada para ele. Olhei para ele de lado, que não parecia nem um pouco apressado em baixar a mão, hesitei um pouco, abri a boca e mordi o filtro.

 

Ele encostou a têmpora na janela novamente e lançou um olhar vago para fora. Nós temos o mesmo gosto por cigarros. Lambi o filtro levemente úmido, enquanto pensava nisso.

 

— É muito urgente?

 

O silêncio no carro era estranho, então eu aumentei um pouco o volume e perguntei, e ele voltou seu olhar para mim.

 

— Não é questão de vida ou morte.

 

— É membro da família?

 

— Não é família nem amigo… Não é nada, mas é alguém a quem não posso ignorar. Ed, desculpe te incomodar no meio da noite.

 

— Não. Está tudo bem.

 

Tenho que ir trabalhar amanhã de manhã cedo, mas não me importo de ir para cama um pouco mais tarde. Eu balancei minha cabeça enquanto olhava para ele sorrindo se desculpando.

 

Apontando para a placa, ele disse.

 

— Você pode virar à esquerda.

 

Quem será essa pessoa chamada Ryan, não é família, nem amigo, nem nada. Se ele não é um amigo ou faz parte da família, talvez seja um amante do passado. Minha cabeça estava tonta com todos os tipos de suposições, então silenciosamente pisei no acelerador.

 

Depois de correr um pouco, chegamos a um hospital libanês no Bronx. Há muito tempo, quando eu morava no Bronx, fui internado nesse hospital e a sala de emergência ocupada por hispânicos e negros me lembrava um hospital de campanha.

 

O cenário do hospital que visitei depois de 10 anos mudou um pouco, mas a proporção de grupos étnicos que ocupam o hospital permaneceu a mesma. Glenn McQueen se dirigiu ao balcão, passado através de uma mistura de médicos e enfermeiras, pessoas bêbadas, pacientes gritando, pacientes suspeitos e policiais.

 

— Eu sou o acompanhante de Ryan Tesla.

 

Depois de esperar um pouco, uma enfermeira com um avental roxo claro bateu no teclado com uma cara sonolenta e apontou a localização do homem. Passando por várias divisórias apertadas dentro da movimentada sala de emergência, entramos na área onde Ryan estava. Os gemidos vinham de todos os lugares. Enquanto caminhávamos pela sala de emergência forrada com cortinas brancas sem padrões, enfiei a mão no bolso. Eu disse a ele para verificar o número e fechar as cortinas.

 

— Eu ficarei aqui.

 

— Sim. Claro.

 

Ele olhou para mim e acenou com a cabeça, fechou as cortinas e entrou. Parado no corredor, olhei para as cortinas brancas finas meio transparentes, um médico em um jaleco branco, correu apressadamente esbarrando no meu ombro. Quando me afastei para que o jovem médico que corria pudesse seguir sem empecilhos, ouvi uma voz fluir por trás da cortina.

 

— Quando a enfermeira trouxe meu exame, pensei que fosse morrer. Achei que finalmente teria essa sorte. Eu mal consigo me lembrar.

 

— …

 

— É apenas um braço quebrado. Não me olhe assim.

 

Uma voz baixa e rouca parecia gargalhar. Sua voz estava lenta, como se estivesse bêbado ou drogado. Em algum lugar em meus ouvidos, eu estava refletindo, aquela voz não me era estranha, então ouvi a risada de McQueen.

 

— Está bem. Você está melhor do que eu pensava.

 

O silêncio fluiu através da cortina, ele disse isso com a voz fria que era completamente diferente de quando estava rindo.

 

— Você está decepcionado por eu estar bem?

 

O homem disse com um tom ainda sorridente. Ouvi bufo.

 

— Certo. Achei que você estava fazendo isso com a intenção de ir um pouco além.

 

— Eu não fiz isso… Algo me empurrou.

 

— Alguém?

 

A voz de McQueen estava baixa.

 

— Não, quero dizer… Não foi minha vontade, eu estava bêbado e cheio de remédios… Bem, no fim, acho que fui eu. Não consigo me lembrar.

 

— Você está tendo esse tipo de impulso agora?

 

McQueen, além da cortina, parecia ter um rosto sem expressão. Quando eu estava prestes a sair, por causa da tensão que se infiltrou em sua voz cada vez mais baixa, ouvi a conversa dos dois.

 

— Durante as filmagens, estavam enfiando dois paus sem camisinha no meu cu. Ao longo de toda tarde… Estava doendo. E eles continuavam gozando dentro… Não aguentava sem tomar remédio… Não tinha como.

 

O homem tentou amenizar a seriedade do conteúdo de suas palavras com um sorriso malicioso. A razão pela qual já estava acostumado com a voz do homem que continuava a falar lentamente, era porque já conhecia sua existência. Um ator pornô, um homem que exala uma atmosfera pessimista. Como era mesmo o rosto dele? Não consigo me lembrar.

 

— Sem preservativo… Sim, como você disse, há muitos atores que abusam de seus corpos. Mas nem todo mundo está quebrado como você. Não há necessidade disso.

 

— Ok, ok, vou colocar de forma simples. Se existe um bastardo como você, deve haver um bastardo mimado como eu. Nós… Somos pólos opostos, não é? Somos responsáveis por nos compararmos entre si. — O homem que escolheu as palavras como se quisesse deliberadamente provocá-lo, riu. O silêncio caiu por trás da cortina. — Não posso simplesmente abandonar a tenacidade de um fodido na vida?!

 

A voz de McQueen falhou como se ele estivesse cansado de falar.

 

— Seu bastardo doente.

 

— Fale mais.

 

— Louco.

 

— Sim. Por favor… me diga que estou louco. Me amaldiçoe por ser podre. Descontrole-se.

 

Como asas de libélula tremulando com a brisa, sua voz não tinha força. Isso me lembrou de seu cabelo fino, parecido com uma teia de aranha, semelhante ao tom de sua voz. Era um loiro pálido.

 

Não era agradável escutar esse tipo de conversa. Peguei meu celular para tentar me distrair, o tom da conversa sombria era tão desagradável quanto arranhar o ferro com uma pedra pontiaguda. Olhei a hora, era pouco depois da meia-noite, então o coloquei de volta no meu bolso.

 

— Clyd.

 

Enquanto eu olhava para os pacientes que passavam pelo corredor, a voz baixa murmurou por trás da cortina. Senti que já tinha visto esse nome em algum lugar, o que me veio à mente foi o nome verdadeiro de Glenn McQueen, que eu tinha visto na Wikipedia há um tempo.

 

Clyd McQueen. Era um nome que parece emitir um sabor único quando você rola as consoantes e vogais que soam estritas na boca.

 

— No passado, quando eu dizia isso, você costumava ficar tão zangado que não conseguia aguentar.

 

— …

 

— Agora isso não parece mais te afetar.

 

O homem falava, em um tom muito letárgico, como se tivesse vivido muito tempo.

 

Com aquele tom resignado, ergui a cabeça e olhei para a silhueta refletida na cortina. McQueen estava parado longe da cama de ferro. Queria abrir as cortinas para ver os rostos dos dois e a maneira como se olhavam, mas logo apaguei os pensamentos que me vieram à mente.

 

— …Cecil. — Com uma voz dura como uma pedra, McQueen perguntou.

 

— Está lá fora.

 

— Esta lá fora? A esta hora?

 

— Ela está no corredor.

 

Com um suspiro, McQueen balançou a cabeça.

 

— Por favor, cuide dela por um dia.

 

— Um dia?

 

— Sim. Vou receber alta depois de amanhã. Eu sequer tenho plano de saúde… Tenho que sair do hospital amanhã. A fratura vai melhorar se eu ficar quieto em casa.

 

— Se você não consegue parar de tomar esses remédios… Trate-se. Eu pagarei pela hospitalização.

 

Ouvindo a voz do homem rindo das palavras de McQueen, saí do corredor da sala de emergência com as cortinas penduradas separando cada compartimento. Fiquei sufocado pelo desconforto como se tivesse uma ferida infeccionada na pele e saí bagunçando meu cabelo.

 

Parei em uma loja de conveniência no refeitório para comprar cigarros e uma garrafa de água. Bebendo água fria, olhei em volta do interior movimentado do hospital embora fosse tarde da noite. Vi McQueen saindo do corredor e virando a esquina. Ele olhou ao redor e imediatamente se moveu como se estivesse procurando por alguém.

 

Ele caminhou até uma menina adormecida que estava deitada em uma cadeira de plástico encostada na parede.

 

A essa hora depois da meia-noite, os pais não pareciam estar por perto e ninguém estava com a criança. A menina, que estava toda enrolada como um recém-nascido, dormia enquanto chupava o dedo. Lembrei que, até os sete anos de idade, eu chupava o polegar e meu avô aplicava um remédio amargo para mudar meu hábito. Glenn McQueen olhou para a garotinha que tentava compensar a solidão chupando o dedo, e logo a sacudiu de leve para acordar a criança.

 

— Eu sinto muito por estar atrasado.

 

Em vez da garotinha responder as palavras de McQueen, ela balançou a cabeça.

 

— Vamos lá.

 

Ela esfregou o queixo e sorriu como se estivesse exausta.

 

 

Continua…

 

N/R Quartz: Eu estou devastada, Brasil.

 

Ler Caminhando sobre às águas Yaoi Mangá Online

Este romance conta a história de Ed Talbot, um jovem de vinte e quatro anos que herdou uma dívida com um agiota.
Por acaso, ele acaba se envolvendo no mundo dos filmes pornôs gays amadores dirigidos por “Straight”.
Inicialmente, Ed pretendia se afastar da indústria após gravar apenas um vídeo de masturbação solo, mas sua mentalidade começa a mudar ao conhecer Glenn McQueen.
Glenn McQueen é um homem que comanda dezenas de produtoras de filmes pornográficos. E Ed, sem perceber, acaba se apaixonando por esse homem experiente e libertino.
Nome alternativo: Walk On Waterwow

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