Ler Noite De Caça – Capítulo 208 Online

A Sra. Park, que observava Baek Doha e seu neto, também soltou uma risada baixa, como se não conseguisse acreditar.

— Sempre me surpreendo toda vez que vejo como você consegue ser tão carinhoso com a própria família… Já a mim, trata como se eu fosse algum tipo de intrusa indesejável.

Enquanto colocava um pedaço de carne sobre o arroz do meu prato e do Doyun, Baek Doha respondeu com frieza, voltando-se para a Sra. Park:

— Demita o diretor Han.

O tom era seco, como se estivesse dando uma ordem a um subordinado.

— Tudo bem — ela respondeu.

— Não diga isso da boca pra fora. Se eu não soubesse, seria outra história, mas agora que sei, não posso aceitar. Se a senhora quiser continuar vendo Seolwoo e Doyun, demita o Diretor Han imediatamente.

— Por que você fala de um jeito tão cruel?

A Sra. Park não aguentou e levantou a voz. Doyun parou de comer e começou a observar alternadamente o pai e a avó. Baek Doha, do outro lado da mesa, lançou um olhar gélido para a Sra.Park – um olhar que ele nunca mostrou para mim.

— Considere-se com sorte por eu não ter atirado no diretor Han naquele dia.

A Sra. Park tremeu de raiva. Doyun ficou assustado e parecia prestes a chorar. Eu não pude mais ficar calado e me intrometi.

— Baek Doha! O que você pensa que está fazendo, falando assim na frente do nosso filho?

Sem querer, minha voz saiu mais firme do que eu esperava. Na cozinha silenciosa, meu tom cortante reverberou com força.

— Demitir ou não o Diretor Han é decisão da sua mãe. Você não tem autoridade para dar esse tipo de ordem! Além disso, se não fosse pela ajuda dele, as coisas teriam terminado muito pior naquele dia. E se for por causa do passado… eu já superei!

— Mas eu não superei.

— Fui eu que fui a vítima, e estou dizendo que superei!

— Mas eu não consigo. De forma alguma.

Daquele jeito, a discussão não teria fim.

— Chega! Parem com isso. O diretor Han já foi demitido.

A Sra. Park então pousou os talheres com força sobre a mesa, empurrou a cadeira para trás e se levantou. Caminhou direto até a sala, pegou o casaco que havia deixado no sofá e seguiu determinada em direção à porta. Eu me levantei rapidamente e a segui.

— Espera, sogra…

— Filho mal educado….

A Sra. Park rangeu os dentes enquanto resmungava insultos.

— Me desculpe…

— Pelo quê? Você não tem que se desculpar. Ele sempre foi assim, não se preocupe. Sempre viveu desse jeito, eu estou bem, então não brigue com o Doha por causa disso. Se a situação fosse ao contrário, você perdoaria o Diretor Han? Provavelmente, também teria cortado relações para sempre. Com a personalidade de Doha, só o fato de ele ainda me receber em sua casa e manter contato, é apenas por sua causa.

Fiquei em silêncio. A Sra Park então, deu dois tapinhas no meu ombro.

— Estou indo.

Quando me despedi, pedindo que ela fosse com cuidado, ela sorriu e se virou. Fiquei parada no jardim escuro até ouvir o som do carro dela saindo. Depois de um tempo, entrei em casa e ouvi Baek Doha e Doyun conversando.

Ele o segurava no colo, tentando acalmá-lo com carinho. O pequeno, ainda assustado, devia estar se aconchegando no colo do pai.

— Papai… quem é o diretor Han?

— Eu detesto esse homem. Foi aquele desgraçado que machucou a mamãe.

— Então o Doyun também não gosta dele. O Doyun odeia todas as pessoas que fazem a mamãe sofrer.

— Eu também odeio.

Doyun se remexeu e se aconchegou no peito do pai, murmurando meio triste.

— Papai, eu amo a mamãe. Se a mamãe não estiver aqui, o Doyun não consegue viver.

— O papai também sente o mesmo.

Baek Doha abraçou o filho pequeno, que era tão parecido com ele, e acariciou as costas do menino com sua grande mão enquanto encarava o vazio. As palavras da Sra Park me vieram à mente.

⟨Se fosse o contrário, você iria perdoar?⟩

‘Se alguém como o diretor Han tivesse arrastado Baek Doha para as montanhas para enterrá-lo vivo, se tivesse tentado machucá-lo… Eu também não teria conseguido perdoar essa pessoa. Talvez eu também tivesse reagido como Doha.’

Enquanto observava em silêncio os dois homens que eu amava, caminhei discretamente em direção à cozinha. Baek Doha e Doyun me olharam fixamente.

— Doyun, vamos terminar de comer? Senhora, desculpe incomodar, mas poderia esquentar a sopa, por favor? Já esfriou.

Sentei-me novamente no meu lugar e entreguei a tigela de sopa morna à empregada. Só então Doyun saiu do colo do pai e voltou ao seu lugar. Ele fez questão de pegar uma colher cheia de arroz coberto com feijões e enfiou tudo na boca de uma vez, como se quisesse mostrar que conseguia.

— Nosso Doyun come até feijão direitinho, hein?

Ao elogiá-lo, a criança abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Mamãe, eu te amo!

Era uma frase que eu nunca me cansava de ouvir, nem depois de centenas de vezes. Eu também sorri radiante e respondi ao meu filho:

— A mamãe também ama muito o nosso Doyun.

E então disse ao meu marido:

— E eu amo você também, Baek Doha.

— Papai, eu te amo!

Com a enxurrada de declarações de amor minhas e de Doyun, até Baek Doha não resistiu e, finalmente, esboçou um sorriso, desfazendo a expressão séria.

***

— “Tto-Baek”, “Baektto”. Sabe o que isso significa?

Certa tarde, enquanto tomava chá com o secretário Park, fiz essa pergunta do nada enquanto checava uma mensagem no celular.

— O que quer dizer?

— “Tto-Baek” de “De novo o CEO Baek”, e “Baek-ttôrai” é algo como “Baek maluco”. São apelidos para o CEO Baek ataca novamente. Viraram memes populares na internet. Hahaha…

Não consegui conter a gargalhada. “Tto-Baek” eu já tinha ouvido, mas “Baek-ttôrai” era novidade. Achei que estava rindo de forma meio inadequada com alguém na minha frente, então pedi desculpas ao secretário Park.

— Ah, me desculpe.

— Não se preocupe, é engraçado, não é? A sonoridade gruda na língua. Parece até que fizeram rima de propósito. Tto-Baek, Baek-ttôrai. E, se parar pra pensar, combina bem com o presidente, não acha?

Não aguentei e comecei a rir de novo. O próprio secretário Park contou que também caiu na risada na primeira vez que viu os apelidos. Depois de rir bastante, finalmente me acalmei. Minha garganta estava seca, então fui tomar um gole de chá, nesse momento, o secretário Park deu uma mordida no biscoito e continuou:

— O nosso CEO Baek está com a popularidade nas alturas depois do caso de agressão com Han Munwoo. Virou uma superestrela. Provavelmente é o Alfa real mais famoso do mundo!

— Se vier à tona aquele caso do passado em que o Doha entrou atirando em uma festa dos Alfas Reais, vai ser ainda mais bombástico.

— Esse caso jamais pode ser revelado. Envolve o orgulho dos Alfas Reais. Nem era uma festa social comum… era uma orgia coletiva onde as coisas deram errado. Se isso vier à tona, será um desastre. Por isso que naquela época, até as vítimas fizeram questão de enterrar o assunto.

De fato, se aquilo fosse exposto, os únicos que sairiam humilhados seriam os próprios Alfas Reais – afinal, foi uma tentativa de sequestro e estupro coletivo contra mim, que no futuro me tornaria cônjuge de Baek Doha. A reação que ele teve foi totalmente justificada. Claro, como sempre, ele exagerou na dose, mas mesmo assim…

Todos aqueles Alfas Reais foram subjugados por um único Alfa Real, então, com que orgulho sairiam espalhando isso por aí? São do tipo que só sobra o ego – o resto é cadáver.

Ainda assim… é engraçado. “Ttobaek”, “Baektorai”? Só rindo mesmo.

— Mas Doha sabe desses apelidos?

— Claro que sabe. O representante lê pessoalmente todas as matérias que saem sobre ele e sobre o senhor Seolwoo. Quando vê um boato absurdo como antes, liga direto para o veículo de imprensa e exige que tirem do ar.

— Ele não fica ofendido?

— Ele se diverte bastante, na verdade. Mas tem um critério curioso: adora as matérias que falam mal dele, mas não suporta nenhuma crítica ao senhor Seolwoo. Se sai alguma notícia negativa sobre você ou sobre o passado do senhor Seolwoo, manda apagar imediatamente. Aposto que já teve internauta recebendo intimação processual em casa só por comentar algo ruim sobre o Seolwoo.

Fiquei sem palavras. Como sempre, ele vai ao extremo. E pensar que faz isso pessoalmente, em vez de delegar ao secretário…

— Ah, a partir de hoje, o professor de inglês será outra pessoa. Uma moça chamada Maria vai assumir.

— O quê? E o William?

— O presidente o demitiu.

— Por quê?

Por mais que eu pensasse, não havia nenhum motivo plausível para que ele fosse demitido. William era um beta, e durante as aulas nunca houve qualquer problema.

— O presidente disse que o conteúdo da aula do William era ‘impróprio’.

Ao dizer isso, o secretário Park tirou um tablet da bolsa e me mostrou o trecho da aula que o Baek Doha havia considerado ofensivo.

Era uma besteira.

“You are beautiful.”

William me dava uma frase com um adjetivo, e eu respondia com outro, usando a mesma estrutura. Eu respondi com um adjetivo que eu conhecia:

“You are handsome.”

William havia me elogiado dizendo que eu era bonito, então eu retribuí chamando-o de bonito também. Só isso.

Franzi a testa. Agora entendi por que o Baek Doha achou aquilo inapropriado.

— Eu entendo por que o presidente achou essa parte problemática…

O secretário Park fez uma pausa e soltou um breve suspiro.

— Mas não dava para explicar esse motivo diretamente ao William, certo? Então eu disse que o senhor Seolwoo preferia uma professora mulher.

— Fez muito bem.

Foi realmente a melhor decisão. Se tivessem dito a verdade, William provavelmente chamaria Baek Doha de maluco. Melhor eu ser o mal interpretado da vez do que lidar com esse tipo de situação.

— Me desculpe.

Pedi desculpas também ao secretário Park. Ele não merecia esse fardo. Era mesmo difícil trabalhar com um patrão tão fora da casinha.

— Olha, o presidente pode até ser um pouco exigente, mas entre todos os alfas reais que eu já servi, é o mais educado. Sem falar que sempre me dá uma boa bonificação. Além disso, o Sr Seolwoo também é extremamente gentil comigo. Onde mais eu encontraria um emprego tão bom assim?

— Se pensa assim, fico aliviado.

Enquanto conversava com o secretário Park, o horário da aula particular de inglês se aproximou. A partir de hoje, a nova professora seria Maria. Naturalmente, ela também era uma beta, casada, com três filhos. Uma professora totalmente sem problemas.

Após o término da aula de inglês, enquanto eu finalmente respirava um pouco, Choi Cheolmin veio a minha casa. Ele tinha perguntado antes: “Quer que eu leve alguma coisa quando for?” E eu respondi que estava com vontade de comer tteokbokki e frituras daquele lugar de comida de rua que costumávamos visitar depois do cursinho, e foi isso que ele trouxe.

Sentamos na sala de estar, um de frente para o outro, comendo tteokbokki e frituras como duas crianças, enquanto conversávamos.

— Sua vida é mesmo cheia de reviravoltas, hein, hyung. Você casou com um alfa real, subiu na vida… era para estar vivendo tranquilo, e olha só o que aconteceu. Quando olhei para sua cara, parecia ter sido espancado. Fiquei chocado quando li aquela notícia na internet.

Ele se referia ao boato de uma reportagem maldita, escrita por algum jornalista de quinta, dizendo que Baek Doha tinha me espancado e deixado meu rosto deformado.

— O Doha jamais faria algo assim comigo.

— Não é? A gente sabe. Pode até bater em outros caras, mas em você ele nunca encostaria um dedo.

Sorri enquanto mastigava mais um pedaço de tteokbokki. Estava tão apimentado que comecei a suar, mas o sabor era tão bom que não conseguia parar de comer.

— Me disseram que você ficou bem ferido. As cicatrizes… estão melhores?

— Estão, sim. Não foi nada demais.

Respondi com naturalidade, e não era fingimento. Eu realmente estava bem. Mesmo depois de ter sido esfaqueado, de ter tido várias convulsões e ficado entre a vida e a morte… no fim das contas, tudo parecia distante, como se não tivesse sido grande coisa. Eu estava inteiro, Baek Doha também não se feriu gravemente, e tudo tinha acabado bem.

— Hyung, olha… seu marido é mesmo uma pessoa muito boa. Viva bem com ele.

Soltei uma risada com o comentário repentino de Cheolmin.

— Do que você está falando de repente?

— O hospital onde minha mãe se trata é o Hospital Universitário A. Parece que vão oferecer tratamento gratuito lá agora. Acho que foi seu marido que conversou com a direção para que minha mãe pudesse receber esse benefício.

O Hospital A era onde Kim Woobin trabalhava. Também foi o lugar onde eu tinha ficado internado recentemente. A revelação me pegou completamente de surpresa. Eu realmente não fazia ideia. Baek Doha nunca comentou nada comigo.

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Continua…